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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 05, 2011

O conflito de interesse é um conjunto de condições nas quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser influenciado indevidamente por um interesse secundário.


Os guardiões da inflação
Carta Maior - 02/10/2011

Como o mercado financeiro está percebendo que o BC vai continuar reduzindo a Selic, está fazendo um verdadeiro terrorismo inflacionário para manter a Selic elevada. Não vai adiantar. O governo vai reduzir a Selic. Com isso sobrarão recursos para ampliar as ações de governo em áreas como educação, saúde e infraestrutura. O governo tem outra preocupação, que é o impacto da crise afetando a atividade econômica. O artigo é de Amir Khair.

Amir Khair

Enquanto os Estados Unidos e a Europa se debatem para tentar escapar da estagnação, aqui a discussão sobre a economia põe de um lado os guardiões da inflação e de outro os desenvolvimentistas.

São duas posições em debate. A dos guardiões da inflação, liderada pelo mercado financeiro, vê inflação crescente devido ao excesso da demanda em relação à oferta. Para combater a inflação advogam a redução do consumo via elevação da Selic. Se o Banco Central (BC) não manter a Selic em nível elevado, perde a credibilidade e não ancora as expectativas dos formadores de preços, etc.

Para essa corrente o país não pode crescer acima de 3,5%, pois fatalmente seria rompido o teto da meta de inflação de 6,5%, gerando o descontrole dos preços.

Os guardiões da inflação fazem uma verdadeira chantagem inflacionária, para pressionar o BC a manter a Selic elevada. É o seu lucro em jogo e desfilam argumentos para mostrar que há ameaça de inflação no horizonte, pois: a) os preços dos serviços caminham para crescer 8% a 9% neste ano; b) o reajuste salarial de algumas categorias de trabalhadores está sendo feito acima da inflação passada; c) o novo salário mínimo vai aumentar o consumo e; d) os preços das commodities não vão cair, pois a China continuará a ter crescimento forte, demandando produtos.

A outra posição defendida pelo governo é de que não há ameaça de inflação, pois a crise está derrubando os preços internacionais, o que acaba por manter os preços internos sob controle. Nessa situação, a Selic pode cair para um nível inferior ao atual, sem maiores problemas para a inflação. Essa corrente defende que é possível manter a inflação dentro do limite da meta, com um crescimento ao nível de 4,5% a 5,0% e defende estímulos à economia.

A razão parece estar com o governo quanto às perspectivas de inflação.

Em setembro as cotações das commodities tiveram o pior desempenho desde outubro de 2008, ápice da crise financeira com a quebra do Lehman Brothers. A crise na zona do euro pode se transformar em nova crise bancária e a ameaça de recessão na Europa e EUA pode pôr fim a um ciclo exuberante de demanda aquecida e preços estratosféricos. Tudo dependerá em grande parte da China, a grande consumidora, e uma ampla pesquisa feita entre investidores pela Bloomberg apontou que a economia chinesa vai desacelerar nos próximos anos e avançar a um ritmo de 5%.

De modo geral, os produtos agrícolas foram mais castigados que a média das commodities. Em setembro, o índice CRB, que acompanha também matérias-primas metálicas e energéticas, caiu 10,69%, o maior tombo desde outubro de 2008. Isso é importante, especialmente para os países emergentes onde o custo da alimentação prepondera no orçamento doméstico e a inflação depende mais da evolução dos preços dos alimentos. No Brasil alimentos e bebidas respondem por 23,4% do IPCA.

Apesar desta tendência declinante de preços, fato é que prever inflação está sujeito a erro que é tanto maior quanto maior o período que se quer prever. Tanto o mercado financeiro quanto o BC prevêem inflação acima da meta de 4,5% neste e no próximo ano. É puro chute. Essas previsões falham mesmo para um mês à frente, como ocorreu no terceiro trimestre de 2010, quando o mercado financeiro previu inflação de 0,4% em cada mês e ela foi zero. Fato é que se a crise for da intensidade que está se manifestando, pode ocorrer até deflação surpreendendo os guardiões da inflação.

Nessa discussão cada lado tem seus argumentos, mas o que chama a atenção é que ambos os lados usam a Selic para defender sua posição e ela não tem nada a ver com o problema, pois não altera o preço dos serviços, não altera a oferta de crédito, nem o valor das prestações, não influi sobre os preços internacionais e pior, desestimula a oferta ao inibir os investimentos das empresas, sendo esse importante fator de equilíbrio entre oferta e demanda. Em vez de atenuar a inflação a Selic a agrava.

Assim, tem-se uma falsa discussão. A inflação pode subir ou cair? Pode. A crise pode reduzir os preços internacionais? Pode. E a Selic, o que tem a ver com isso? Nada, absolutamente nada.

Se não tem a ver com isso, porque é a mais alta do mundo há tanto tempo? É porque predomina no País o rentismo, que é o ganho fácil, sem risco, em cima do governo federal, que paga os juros de quem aplica em, seus títulos, que têm taxas de juros balizadas pela Selic.

Quer dizer que a inflação segue seu caminho próprio, independente da Selic e ainda independente do nível de crescimento? Sim. O crescimento se dá pelo estímulo ao consumo e, também, pelo estímulo ao investimento para aumentar a oferta interna de produtos e serviços. É essa oferta que irá atender junto com a oferta internacional o mercado, suprindo suas necessidades. Se os preços internacionais estiverem em queda, a inflação estará em queda. Se, ao contrário, estiverem em ascensão, teremos pressão inflacionária. Mas a pressão inflacionária não se combate com a redução da atividade econômica, mas sim com, a elevação da oferta. É esse o caminho virtuoso do crescimento.

A realidade é que a inflação está há vários anos conduzida pelos preços internacionais. Seu efeito sobre os mercados internos é marcante para as economias abertas, como é o nosso caso. Estamos sob a égide da globalização. Cada empresa compete com empresas de vários países. Não são as empresas domésticas que definem os preços, mas o mercado externo. Se uma empresa tenta vender seu produto acima do preço da concorrência fatalmente irá sofrer a perda de posição no mercado, sendo forçada a praticar o preço que possa concorrer com os produtos similares ou substitutos.

Segundo o relatório de inflação do Banco Central de setembro é provável que a inflação fique dentro da meta neste ano, com o risco de 45% (?) de probabilidade que possa ultrapassá-lo, dependendo da magnitude da crise internacional.

Face à crise o BC reduziu a previsão de crescimento deste ano de 4,0% para 3,5%, nível abaixo da média do crescimento mundial prevista em 4,0% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e bem abaixo do crescimento dos países emergentes de 6,4%.

O governo ainda objetiva alcançar o crescimento entre 4,0% e 4,5% e prevê crescer 5,0% em 2012. Para isso vai precisar ativar a economia, pois a crise já começou a afetar todos os países.

Mas, como o mercado financeiro está percebendo que o BC vai continuar reduzindo a Selic, está fazendo um verdadeiro terrorismo inflacionário para manter a Selic elevada. Não vai adiantar. O governo vai reduzir a Selic. Com isso vão sobrar recursos fiscais para ampliar as ações de governo em áreas chaves como educação, saúde e investimentos em infraestrutura.

O governo tem outra preocupação, que é o impacto da crise afetando o nível da atividade econômica. Os principais indicadores da atividade apontam para forte desativação da economia com ampliação do desemprego e tensão social decorrente. Tem-se a nona queda seguida do índice de confiança da indústria, atingindo o menor patamar desde agosto de 2009 e as perspectivas do setor seguem em tendência de piora.

Diante disso, o governo pretende estimular a economia e reduzir a Selic que está inibindo os investimentos das empresas e danificando o desempenho fiscal.

Creio que será possível ter uma inflação dentro da meta. Basta que a inflação média mensal no último quadrimestre fique em 0,49%. A possibilidade de isso ocorrer é grande. No segundo quadrimestre a inflação média mensal foi de 0,29%. Caso se mantenha nesse nível, a inflação neste ano poderá ficar em 5,6%. Caso vá para o nível ocorrido em agosto de 0,37%, a inflação atingiria 6,0%.
Vê-se que é possível ter uma inflação dentro do limite da meta e, mesmo que ultrapasse, está na hora de pisar no acelerador face aos impactos da crise que está crescendo e reduzir firmemente a Selic. Os guardiões da inflação que busquem novas fontes de lucro, pois a mamata da Selic vai acabar.

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Não esqueça, a Globo é o trombone do rentismo.
Rentismo Significado: princípio que visa ao lucro financeiro pela aplicação de capitais
*GrupoBeatrice

Atitude laica da BBC faz Vaticano explodir em ira

 


A emissora pública de radiodifusão britânica British Broadcasting Corporation (BBC) mudou a forma como se refere aos anos da nossa era e, com isso, acabou sendo vítima da ira do Vaticano, que por meio de seu jornal, L'Osservatore Romano, disparou contra a emissora, chamando a medida tomada de "hipocrisia historicamente insensata".

A datação feita pelos meios de comunicação católicos tradicionalmente se referia aos anos como Antes de Cristo e Depois de Cristo. Portanto estariamos vivendo em 2011 DC. A BBC acabou mudando a forma para Antes da Era Comum e Era Comum (portanto, 2011 EC), para não causar problemas com membros de outras religiões.

A reação feroz do Vaticano não tardou. O jornal afirma que a BBC "pretende" na realidade cancelar "qualquer raiz do cristianismo no mundo". Um exagero que só o papa Bento XVI endossa.

O jornal oficial do catolicismo vai além e ainda prega contra outras religiões e contra a própria ciência, ao afirmar que "negar a função historicamente revolucionária da vinda de Cristo à terra, aceita também por quem não lhe reconhece como filho de Deus, é uma estupidez do ponto de vista histórico, e sabem disso tanto os judeus quanto os muçulmanos".

O despautério segue nas páginas do house-organ religioso: "Muitíssimos não cristãos disseram que não se sentem ofendidos pela datação tradicional antes de Cristo, AC, e depois de Cristo, DC. O que está bem claro é que o respeito a outras religiões é só um pretexto, porque o que se procura é cancelar qualquer raiz de cristianismo da cultura ocidental", esbravejou o jornal, tentando achar pelo em ovo.

O problema é que ele não traz nenhum depoimento de judeus ou muçulmanos, por exemplo, sustentando sua alegação. Os judeus comemoraram recentemente mais uma passagem de ano e, sem dúvida, não estão ligando muito para a forma como o "ocidente cristão" data sua passagem do tempo, muito menos os muçulmanos, mas há uma distância grande em dizer que os membros dessas religiões não se sintam ofendidos com essa imposição da religião cristã.

O reacionário artigo esbraveja contra a ideia porque ela é de "péssimos antecedentes". Citando a Revolução Francesa, o fascismo de Mussolini e erradamente a Revolução Russa, o jornal do Vaticano omite e distorce a história, quando afirma que Lênin mudou a forma de datação após a revolução.

A Revolução Russa simplesmente abandonou o calendário Gregoriano, adotado pela Igreja Ortodoxa, adotando o calendário seguido pelos países ocidentais, justamente o "instituído" pelo Vaticano. É por isso que a Grande Revolução de Outubro é comemorada, na verdade, em 7 de novembro e é por isso que na Rússia, hoje, é o dia 4 de outubro, e não 21 de setembro.

Para a publicação, o momento do "nascimento de Cristo" marca o surgimento da ideia de que todos os seres humanos são iguais, e seria impossível negar o "princípio sobre o qual se fundam os direitos humanos, princípio que até esse momento ninguém tinha mantido e que tem base na tradição cristã".

O maior problema é que não há nenhuma evidência histórica sobre qual foi o verdadeiro momento de "nascimento"
*Onipresente

Mafalda

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg68yxQqD0cCmdp0JWd7bNB6mlAwRF36MVAg6wuxzSynvxEs9wbKoa5VGj7ZY0FSfvXZbrlVHgR1d86irXcqCeF_CIMYO56pMoVTtcbMpN1A5TUXfacaU6IDJNvOPyXYPAO8uc1x-VnoPKA/s1600/Mafalda+-+Humanidade.jpg

TV Calvin

http://www.youtube.com/watch?v=ghanK30r37Y&feature=player_embedded
*HistóriaVermelha

Merval e seu ódio transtornante 

http://www.youtube.com/watch?v=mabcG9LFLRY&feature=player_embedded

Por Brizola Neto, no blog Tijolaço:

Hoje, sou brindado com os ataques do senhor Merval Pereira em sua coluna. Natural, ele se incomoda demais com os políticos que não lhe são sabujos, em busca da “honra” de ser citado pelo lorde, onipresente nas telas, páginas e sons do império Globo.

Poema de Lenin


Através do livro de poesias “Um livro vermelho para Lênin” do poeta guerrilheiro Roque Dalton descobri que Lênin teria escrito um poema longo e épico e que não constava em suas Obras Completas. No livro de Dalton, aparece um trecho desse poema. Pesquisando na internet, consegui achar a versão integral traduzida para o espanhol por Waldo Rojas (que partiu da versão em francês de Gregoire Alexinsky).

O poema foi escrito durante a primavera de 1907, ano em que Lênin passou em Selvista, aldeia da Finlãndia. Ali pode descansar um ano e meio da intensa atividade política quase sempre na clandestinidade. Durante sua estadia na aldeia manteve grandes discussões sobre literatura revolucionáría e criação poética com Piotr Al. 

Para ilustrar essas discussões Lênin escreveu em três dias este poema. Esse poema seria publicado na revista de Ginebra Raduga (Arcoiris) dirigida por Piotr Al, mas a publicação se desfez antes de incluir em suas páginas este poema que seria assinada por “Um russo”.

Literariamente não é muito valioso, mas é uma peça importante pra compreender esse grande pensador russo e como ele enxergava a revolução de 1905. Até onde vi, esta é a primeira tradução para o português.

O único poema de Lênin conhecido

Tempestuoso ano aquele. Os Furacões sobrevoavam
o país inteiro. Se desatavam as nuvens carregadas,
sobre nós se precipitava a tempestade, e o granizo e o trovão.

Feridas
Se abriam nos campos e nas aldeias debaixo dos golpes do chicote terrestre.
Estalavam os raios, os relâmpagos retumbavam violência.
O calor queimava sem piedade, os peitos estavam oprimidos
E o reflexo dos incêndios iluminava
as trevas mudas das noites sem estrelas

Transtornados os elementos e os homens,
os corações oprimidos por uma inquietude obscura,
ofegavam os peitos de angústia,
ressecadas as bocas se cerravam.
Mártires aos milhares morreram nas tempestades sangrentas,
mas não em vão sofreram eles o que sofreram, sua coroa de espinhos,
Pelo reino da mentira e das trevas, por entre escravos hipócritas,
eles passaram como as tochas do porvir.
Com traço de fogo, com um traço indelével,
eles gravaram diante de nós a via do martírio,
e na carta da vida, estamparam o selo do opróbio
sobre o jugo da escravidão e da vergonha das correntes…
O frio se intensificava. As folhas murchavam e caíam
E colhidas pelo vento se amontoavam em uma dança macabra.
Vem o Outono cinza e pútrido,
lacrimejante de chuva, sepultado de barro negro.
E para os homens a vida se fez detestável e opaca.
Vida e morte lhes foram igualmente insuportáveis,
Os rondavam sem trégua a cólera e angústia.
Frios e vazios e escuros seus corações como seus lares.
E de repente, a Primavera! Primavera em pleno Outono putrefeito,
A Primavera Vermelha descendo sobre nós, bela e luminosa,
Como um presente dos céus ao país triste e miserável,
Como uma mensageira da vida.

Uma aurora escarlate como uma manhã de maio
Se levantou no céu abafado e triste;
O sol vermelho, cintilante, com a espada de seus raios
Perfurou as nuvens e se dissipou a mortalha da bruma.

Como o fogo de um farol no abismo do mundo,
Como a chama do sacrifício no altar da natureza,
Aceso para a eternidade por uma mão desconhecida,
Conduziu até a luz os povos adormecidos.
Rosas vermelhas nasceram de sangue ardente,
flores de púrpura se abriram,
e sobre as tumbas esquecidas
trançaram coroas de glória.

Atrás do carro da liberdade,
e brandando a bandeira vermelha
fluiam multidões semelhantes a rios,
como o despertar das águas com a primavera.

Os estandartes vermelhos palpitavam sobre o cortejo,
se elevou o hino sagrado da liberdade
e o povo cantou com lágrimas de amor
uma marcha fúnebre para seus mártires.

Era um povo jubiloso,
seu coração transbordava de esperanças e de sonhos,
todos criam na liberdade que viria,
desde o sábio ancião até o adolescente.

Mas o despertar segue sempre ao sonho.
A realidade não tem piedade.
E à beatitude das fantasias e da embriaguez
segue a amarga decepção.
As forças das trevas se agarravam nas sombras,
arrastando e vaiando o povo. Esperavam.
E repentinamente fundiram seus dentes e suas navalhas,
nas costas e nos calcanhares dos valentes.
Os inimigos do povo, com suas bocas sujas,
Bebiam o sangue quente e puro
quando os inocentes amigos da liberdade
esgotados por penosas caminhadas,
foram pegos de surpresa, sonolentos e desarmados.

Se esfumaram os dias de luz,
os substitui uma série interminável e maldita de dias negros.
A luz da liberdade e os sol se extinguiram.
Um olhar de serpente espreita nas trevas.

Os assassinos sem escrúpulos, os progroms, o lodo das denúncias,
(progrom: assassinato e saqueio de judeus)
são proclamados atos de patriotismo,
e o rebanho negro se regozija
com um cinismo sem freio,

Salpicada com o sangue das vítimas da vingança,
mortas com um pérfido golpe
sem razão nem piedade,
vítimas conhecidas e desconhecidas.

No meio de vapores de álcool, madizendo, mostrando o punho,
com garrafas de vodka nas mãos, multidões de pilantras,
Correm, como um tropel de bestas,
Fazendo soar as moedas da traição,
E bailam uma dança de apaches.

Mas Emilinho, o pobre idiota,
(Yemelia:diminutivo de Yemelian (Emiliano), entre os russos é sinônimo de idiota)
a quem as bombas tornaram mais tonto e assustadiço, treme como um rato,
E em sua festança ajeita com aprumo a insígnia dos Cem Negros.
(Cem Negros:partido czarista, policial, anti-semita e reacionário, precursor russo do nazismo)
A risada lúgubre das corujas e das rapinas noturnas
Ressoam na escuridão das noites, anunciando a morte da liberdade e da alegría,
E um Inverno cruel, com a neve tempestuosa,
Vem do reino dos gelos eternos.
Com suas neves espessas, semelhantes a uma mortalha branca,
O inverno voltou ao grande país.
Atando a Primavera com correntes de gelo,
O frio-verdugo lhe deu morte antes do tempo.
Como manchas de barro, por aqui e por ali, aparecem
As pequenas ilhas negras das aldeias miseráveis sepultadas abaixo das neves.

A fome junto à miséria e ao frio pálido
Por toda parte se protegem nas moradas pestilentas.
Através da planura da neve sem fim,
Através das estepas, sem medida nem limite,
Onde o verão o vento ardente traz consigo um calor tórrido,
Nefastos temporais de neve vão e vêm como brancos pássaros de rapina.
A tempestade uiva como uma besta selvagem e de pele emaranhada,
Precipitando-se sobre tudo que conserve uma gota de vida,
E voa, com estrépito, como uma terrível serpente alada,
Para apagar da face da terra todo rastro de vida.
A tempestade dobra as árvores, quebra os bosques,
Amontoa a neve nas montanhas geladas.
Os animais se protegem em suas tocas.
Desapareceram as veredas e o viajante é engolido sem deixar rastros.
Magros lobos aparecem, famintos,
Erram sobre os passos da tempestade,
Ferozes, à presa se conduzem un aos outros,
Uivam à lua, e todo o vivo treme de espanto.
A coruja ri, o lechy selvagem golpeia as mãos.
(Lechy: espirito do bosque segundo os contos populares russos)
Ébrios, os demônios negros giram en torvelinho
E fazem estalar os ávidos lábios: sentem o cheiro de uma grande matança
E esperam o sinal sanguinolento.
O gelo cobre tudo, morte em todas partes, tudo jaz rígido.
Toda vida parecia esfumada,
Uma fossa comum o mundo inteiro, uma fossa única.
Nem sequer as sombras da vida livre e luminosa.
Mas é ainda cedo para que a noite triunfe sobre o día,
Para que a sepultura celebre sua festa de vitória sobre a vida
Ainda debaixo das cinzas se incuba a faísca.
A faísca que a vida reanimará com seu sopro.
A flor da liberdade quebrada e desonrada
foi pisoteada e morta está para sempre.
Os negros se regozijan ao ver aterrado o mundo da luz,
Mas na terra natal o fruto desta flor já espera no subsolo.
Nas entranhas da mãe o grão milagroso
Misterioso se conserva e invisível;
Há de ser alimentado pela terra, se reanimará na terra,
Para renascer para uma vida nova.
Levará o germe ardente da nova liberdade,
Fundirá a crosta do gelo, a fenderá,
Crescerá e -árvore gigante- iluminará o mundo com sua folhagem vermelha,
O mundo inteiro surgirá a sua luz, e debaixo de sua sombra
congregará a todos os povos.
As armas, irmãos! A felicidade está próxima! Coragem! Ao combate!
Adiante!
Desperta vossos espiritos! Expulsa de vossos corações o medo covarde e servil!
Estreita vossas filas! Todos unidos contra os tiranos e os amos!
A sorte da vitoria está em vossas poderosas mãos de trabalhadores!
Coragem! Este tempo de desgraças passará rápido!
Os levanta como um só contra os opressores da liberdade!
A Primavera chegará … se aproxima … já vem.
A vermelha liberdade, tão bela, tão desejada, caminha até nós!
Autocracia
Nacionalismo
Ortodoxia
Já demonstraram irrefutavelmente suas altas virtudes:
Em seu nome se nos golpeava, se nos golpeava, se nos golpeava,
Até o sangue mesmo se castigava aos mujiks,
(mujiks: campesinos russos)
Se os quebravam os dentes,
Se sepultava aos homens nos presidios, encarcerados,
Se saqueava, se assassinava,
Para nosso bem, segundo a lei,
Para a glória do Czar e para a saúde do Império,
Os servidores do Czar davam de beber aos verdugos,
Com a vodka do Estado e o sangue do povo
Seus soldados regalavam a seus corvos de rapina.
Se dava de beber aos executores das altas ordens,
Se alimentava a seus corvos de rapina
Com os cadáveres ainda tibios dos escravos rebeldes
E com os cadáveres dóceis dos escravos mais fiéis.
Com uma oração ardente, os servidores de Cristo
Regavam de agua benta um bosque de horcas.

Hurra! Viva nosso Czar!
Com seu nó de marinheiro bem ensaboado e bem benzido!
Viva o escudeiro do Czar,
Com seu chicote, seu sabre e seu fusil!
Soldados, afogai vossos remorsos
Em um pequeno copo de vodka!
Disparai, valentes, sobre as crianças e sobre as mulheres!
Matai o maior número possível de vossos irmãos para divertir ao papaizinho.
E se teu própio pai cai sobre tuas balas,
Que se afogue em seu sangue, vertido pela mão de Caim!
Embrutecido pela vodka do Czar,
Mata a tua própia mãe, sem piedade!
O que temes tu?
Não é aos japoneses, a quem tens a sua frente.
Não temes senão a teus próximos, a teus própios familiares,
E eles estão de todo desarmados.
Uma ordem se te dá, valete do Czar.
Sê como antes uma besta de carga, escravo eterno,
Enxuga tuas lágrimas com tua manga
E golpeia o solo com tua testa!

Oh, povo, fiel, feliz
Amado pelo Czar até a morte,
Suporta tudo e obedece até a morte …
E fogo! Chicote! … Golpiai … !
Deus: protege o povo,
Poderoso, majestoso!
Que nosso povo reine, fazendo suar de medo aos czares!
Com sua tropa sem glória Nosso Czar está desencadeado (desprotegido?),
Com sua matilha de servidores desprezados
Os lacaios sujos se festejam
Sem lavar o sangue de suas mãos.
Deus: protege o povo
Durante os dias sombrios!
E tu, povo, protege a Bandeira Vermelha!
Opressão sem limite!
Chicote da polícia!
Tribunais de sentenças súbitas
Como as salvas das metralhadoras!
Castigos e fusilamentos,
Horrível bosque de forcas
Para castigar vossas rebeldias!
Lotadas estão as prisões,
Os deportados sofrem infinitudes,
As selvas desgarram a noite,
os abutres se saciam.
A dor e o duelo
Se estendem sobre o país natal.
Nem uma família alheia ao sofrimento!
Festeja com teus verdugos,
Déspota, teu banquete sangrento,
Roe, Vampiro, a carne do povo,
Com teus cães insaciáveis!
Semeia, Déspota, o fogo!
Monstro, bebe nosso sangue!
Levanta-te, Libertai!
Flameja, Bandeira Vermelha!
Vinga-os, castigai,
Torturai-nos uma última vez!
A hora do castigo está próxima!
Ja chega o tribunal. Saiba disso!

Pela liberdade
Iremos à morte, à morte,
Tomaremos o poder e a liberdade,
E a terra será do povo!
No combate desigual
Cairão vítimas sem nome!
Pelo trabalho livre,
Seus olhares flamejam ameaças.
Se lançam até o céu,
Eterno carrilhão do trabalho!
Golpeia, martelo, golpeia para sempre.
Pão! Pão! Pão!
No combate desigual
caíram vítimas sem nome pela libertação do trabalho.
Seus olhares flamejam ameaças…

Marchai, marchai, campesinos!
Vós não podeis viver sem a terra.
Os expulsaram os senhores,
os oprimirão ainda por muito tempo?
Marchai, marchai, estudantes!
Muitos de vós serão ceifados na luta.
Fitas vermelhas envolverão os ataúdes dos que caírem!

Marchai, marchai, famintos!
Marchai oprimidos!
Marchai humilhados!
Até a vida livre!

O jugo das bestas reinantes é nossa vergonha!
Expulsemos aos ratos de suas tocas!
Ao combate, proletário!
Abaixo todos os males!
Abaixo o czar e seu trono!
Já brilha a aurora da liberdade estrelada
e expande sua chama.
Os raios da felicidade e da verdade
aparecem ante os olhos do povo.
O sol da liberdade
nos iluminará através das nuvens.
O canalha do Czar,
“Debaixo das patas dos cavalos com eles!”,
Dirá a poderosa voz de toque ao rebanho
Glorificando a liberdade.
Destruiremos as abóbadas das prisões.
A justa cólera está rugindo,
A bandeira da libertação
Conduz a nossos combatentes.
Tortura, Okhrana,
(Okhrana:polícia secreta czarista)
Chicote, cadafalso, abaixo!
Desacorrenta-te, combate de homens livres!
Morte aos tiranos!

Extirpemos pela raiz
o poder da autocracia.

Morrer pela liberdade é uma honra,
viver em correntes uma vergonha!
Deitemos por terra a escravidão,
a vergonha do servilismo.

Oh, liberdade, nos dê
a terra e a independência!
 
*SOABrasil

A 23ª edição do Festival Europalia Brasil, a maior bienal multidisciplinar do continente europeu, abre hoje em Bruxelas, Bélgica, e tem como destaque a cultura brasileira.

terça-feira, outubro 04, 2011

Charge do Dia

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PETROBRÁS 58 anos



3 de outubro, completam-se 58 anos da assinatura da lei que criou a Petrobras. Quando Getúlio Vargas, em 1953, estabeleceu o monopólio estatal do petróleo, ninguém podia saber quão proféticas tinham sido as ruas que gritaram “o petróleo é nosso”, que culminou naquele ato presidencial. Hoje, aquela empresa que começou tirando algumas centenas de barris de óleo, é a responsável pela maior revolução econômico-social que já se abriu para o nosso país. E foi ela, não as grandes multinacionais, que a descobriu, a quilômetros de profundidade, sob a rocha salina de nosso oceano. A Petrobras encontrou o pré-sal porque, antes, encontrou o conhecimento, a experiência, os erros e o acertos de uma busca incessante por riqueza para nosso país.
Longa vida e sucesso à empresa que pertence ao povo brasileiro e que há quase 60 anos provoca a ira dos que não querem que o Brasil seja livre e o nosso povo, independente..
*Tijolaço