Leitura obrigatória para o senador do DEM,antes que acabe, Demóstene Torres. Viu, senador, como V.Exa. estava errado?
Cotistas se dão bem na sua maior prova: a carreira
Nove em cada 10 formandos beneficiados por reserva de vagas estão no mercado de trabalho. Seis, na sua área de formação
POR MARIA LUISA BARROS
Rio - Oito anos após o início do programa de reserva de vagas no ensino superior para negros e estudantes da rede pública, ex-cotistas estão se saindo muito bem na prova mais importante: a carreira profissional. Sete em cada dez estudantes que ingressaram na universidade pelo sistema de cotas já conquistaram uma vaga no mercado de trabalho, sendo seis deles na sua área de formação. Dois se preparam para concursos e apenas um não conseguiu emprego após a formatura.
Os dados inéditos fazem parte da primeira pesquisa feita, no ano passado, pela Universidade do Estado do Rio (Uerj), com 20% dos 4.280 ex-cotistas. O levantamento coordenado pela Sub-reitoria de Graduação revelou que 90% dos cotistas pioneiros não pensam em parar os estudos. Entre os egressos, 67% já concluíram cursos de pós-graduação e 39% frequentam mestrado, como Bruna Melo dos Santos, 30 anos.
As amigas Ana Paula Ferreira de Melo, 27, e Camila Rodrigues de Souza, 26, trilharam o mesmo caminho, fazendo as duas faculdades. Ana Paula é professora das redes municipal e estadual do Rio e Camila trabalha como arquivista na iniciativa privada.
“Vejo nos meus alunos que a maioria não sonha. Tento servir de exemplo”, diz Ana, que também comprou apartamento. “Estudávamos muito porque a cobrança era maior em cima da gente. Não queríamos que ninguém dissesse que jogamos fora a oportunidade”, conta Camila.
Beneficiados por cota se formam mais que os outros
Formada na primeira turma de cotistas da Uerj, em março de 2007, a dentista Priscila Seraphim, 26 anos, é a prova de que, às vezes, basta uma oportunidade. Ela se divide em três clínicas odontológicas e o curso de especialização. Durante a faculdade, Priscila contou com a ajuda da aposentadoria da avó para custear R$ 2 mil por semestre com o material da aula prática, livros, roupa branca, alimentação e transporte: “Havia livros que custavam R$ 300 e não tinha para todos na biblioteca”.
Como ocorreu com Priscila, a Sub-reitoria de Graduação da Uerj identificou que a maior dificuldade dos cotistas era permanecer até a formatura. Por isso ampliou a assistência estudantil. Além da bolsa-auxílio de R$ 300 e de oficinas de reforço escolar, a universidade passou a fornecer livros, calculadoras e kits básicos para alunos de Medicina e Odontologia, que incluem instrumentos como estetoscópio e material para aulas em laboratório.
Como tartarugas da fábula, cotistas começam em desvantagem, mas podem ser os primeiros na linha de chegada, incentivados pela determinação que os leva a seguir sempre em frente. Eles se formam mais (25,9%) do que os não-cotistas (20,5%). “Agarram com unhas e dentes a oportunidade e fazem melhor uso do dinheiro público, já que não abandonam o curso”, reconhece a sub-reitora Lená Menezes.
Os dados inéditos fazem parte da primeira pesquisa feita, no ano passado, pela Universidade do Estado do Rio (Uerj), com 20% dos 4.280 ex-cotistas. O levantamento coordenado pela Sub-reitoria de Graduação revelou que 90% dos cotistas pioneiros não pensam em parar os estudos. Entre os egressos, 67% já concluíram cursos de pós-graduação e 39% frequentam mestrado, como Bruna Melo dos Santos, 30 anos.
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Formada em História, ela está na segunda faculdade, de Arquivologia, que concilia com o curso de mestrado. “Eu só precisava de uma chance de provar que era capaz. Daqui a dois anos pretendo fazer doutorado na Inglaterra”, planeja ela, que agradece aos patrões da mãe, doméstica, pela ajuda nos anos difíceis da faculdade. “Eles me davam vales-alimentação, transporte e até curso de inglês. Foram anjos na minha vida”, conta Bruna, que viu o padrão de vida mudar após os estudos. Ela comprou um apartamento junto com o marido, também ex-cotista, e se mudou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para Irajá, na Zona Norte do Rio, para ficar mais perto do trabalho.As amigas Ana Paula Ferreira de Melo, 27, e Camila Rodrigues de Souza, 26, trilharam o mesmo caminho, fazendo as duas faculdades. Ana Paula é professora das redes municipal e estadual do Rio e Camila trabalha como arquivista na iniciativa privada.
“Vejo nos meus alunos que a maioria não sonha. Tento servir de exemplo”, diz Ana, que também comprou apartamento. “Estudávamos muito porque a cobrança era maior em cima da gente. Não queríamos que ninguém dissesse que jogamos fora a oportunidade”, conta Camila.
Beneficiados por cota se formam mais que os outros
Formada na primeira turma de cotistas da Uerj, em março de 2007, a dentista Priscila Seraphim, 26 anos, é a prova de que, às vezes, basta uma oportunidade. Ela se divide em três clínicas odontológicas e o curso de especialização. Durante a faculdade, Priscila contou com a ajuda da aposentadoria da avó para custear R$ 2 mil por semestre com o material da aula prática, livros, roupa branca, alimentação e transporte: “Havia livros que custavam R$ 300 e não tinha para todos na biblioteca”.
Como ocorreu com Priscila, a Sub-reitoria de Graduação da Uerj identificou que a maior dificuldade dos cotistas era permanecer até a formatura. Por isso ampliou a assistência estudantil. Além da bolsa-auxílio de R$ 300 e de oficinas de reforço escolar, a universidade passou a fornecer livros, calculadoras e kits básicos para alunos de Medicina e Odontologia, que incluem instrumentos como estetoscópio e material para aulas em laboratório.
Como tartarugas da fábula, cotistas começam em desvantagem, mas podem ser os primeiros na linha de chegada, incentivados pela determinação que os leva a seguir sempre em frente. Eles se formam mais (25,9%) do que os não-cotistas (20,5%). “Agarram com unhas e dentes a oportunidade e fazem melhor uso do dinheiro público, já que não abandonam o curso”, reconhece a sub-reitora Lená Menezes.
Boçal
Heráclito Fortes, o Mubarak do Piauí
Por Altamiro Borges
“Eu me sinto como o Mubarak, após 28 anos de mandato”, confessou à Folha o ex-senador Heráclito Fortes, do DEM do Piauí. O demo, um dos mais ácidos inimigos do governo Lula e das causas progressistas, entrou em parafuso após a derrota nas eleições de outubro passado. “Ociosidade é algo que nunca tinha experimentado. O começo é meio chocante”, admitiu.
Segundo o jornal, o ex-primeiro-secretário do Senado tirou 90 dias para ficar “de perna pro ar” e estuda convites para atuar em conselhos de administração de algumas empresas. Ele não pretende abandonar a vida política, como fiel representante da direita nativa, mas se ressente da falta do mandato parlamentar.
Filhote da ditadura e serviçal de FHC
A lembrança de Mubarak foi um lapso de sinceridade do ex-senador. Ele sempre teve identidade com ditaduras e atuou como serviçal dos interesses imperiais dos EUA – a exemplo do egípcio derrubado pela revolta popular. Heráclito estreou na política durante o regime militar, sendo oficial de gabinete do vice-governador de Pernambuco, José Antônio Barreto Guimarães (1971-1973), e assessor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de 1973 a 1975, entre outros cargos no período da ditadura.
Em 1978, ele disputou uma vaga de deputado federal pela extinta Arena, o partido dos generais, e ficou na segunda suplência. Com forte senso de oportunidade – para não dizer oportunismo –, Heráclito passou por vários partidos – PP, PMDB e PDT, até chegar ao ex-PFL, que deu origem ao atual DEM. Em 1988, ele foi eleito prefeito de Teresina (PI). Já no reinado neoliberal de FHC, ele virou líder do governo na Câmara dos Deputados, comandando todas as contra-reformas do tucano no Congresso Nacional.
Inimigo raivoso do MST
A partir de 2002, Heráclito Fortes começou a sentir o bafo no cangote. Foi eleito senador num pleito bastante apertado, o que já indicava o início de um novo ciclo político no país aberto com a vitória de Lula à presidência. Em 2006, foi um dos coordenadores da campanha derrotada de Geraldo Alckmin. Como senador, tornou-se uma das vozes mais estridentes contra o governo Lula. Agora, em outubro de 2010, o povo deu o troco e Heráclito ficou num humilhante quarto lugar na disputa para a sua reeleição.
Além de ser um dos chefões da oposição de direita, Heráclito ganhou fama por sua postura raivosa contra as lutas dos trabalhadores. Em 2009, ele apresentou vários requerimentos solicitando a quebra dos sigilos bancário e fiscal do MST, acusando o movimento de ser uma “organização terrorista”. Também fez vários discursos na tribuna contra o sindicalismo, destilando ódio contra as centrais e contrapondo-se às principais reivindicações trabalhistas.
O informante do império
Heráclito virou um dos principais porta-vozes dos interesses dos EUA no Brasil. Segundo documento recentemente vazado pelo Wikileaks, ele chegou a sugerir ao governo ianque que estimulasse a produção de armas no país para conter supostas ameaças da Venezuela na região. Em memorando da diplomacia estadunidense, o então embaixador Clifford Sobel relata os diálogos que teve o parlamentar piauiense, que na época presidia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado.
Segundo o documento, o senador pediu uma reunião “urgente” com Sobel. Na conversa teria se declarado “verdadeiramente preocupado” com uma suposta atividade terrorista no Brasil e com a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ele sugeriu um plano para armar o Brasil e a Argentina contra a suposta ameaça bolivariana, “antes que fosse tarde”, e propôs ainda acionar empresas privadas para mascarar a ação estadunidense. Em outro telegrama, de 2008, Sobel afirma que Heráclito relatou a suposta presença de terroristas numa ONG do Piauí e disse temer a instalação de uma “guerrilha esquerdista” em Rondônia.
*Brasilmostraatuacara