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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, janeiro 19, 2012
Em e-mails, PanAmericano negociou doação irregular ao PSDB
Uma troca de e-mails entre diretores do PanAmericano dá indícios de que o banco pode ter feito doações irregulares para a campanha eleitoral do PSDB em Alagoas em 2010. Os e-mails foram encontrados pela Polícia Federal nos arquivos apreendidos na sede da instituição, que pertencia ao empresário e apresentador Silvio Santos e foi vendida ao BTG Pactual após a descoberta de um rombo de R$ 4,3 bilhões no patrimônio do banco.
Neles, diretores do PanAmericano avaliam uma suposta proposta feita pelo governo de Alagoas para negociar uma dívida do Estado com o banco em troca de uma "taxa de intermediação" de 25% sobre o valor devido - retorno que poderia ser pago por meio de doação para a campanha do partido (veja reprodução abaixo).
A dívida de Alagoas com o PanAmericano data de 2006. Entre os meses de fevereiro e dezembro daquele ano, o Estado recolheu, via folha de pagamento, parcelas de empréstimos consignados feitos por servidores, mas não repassou os valores aos bancos. Naquela época, Alagoas era governada por Luís Abílio de Sousa Neto (PDT), que assumiu em março de 2006, quando o então governador Ronaldo Lessa (PDT) licenciou-se para concorrer ao Senado. Em valores históricos, a dívida de Alagoas com a instituição era de R$ 2,7 milhões. Com a correção monetária, somava R$ 3,3 milhões em agosto de 2010.
Até meados daquele ano, com as finanças de Alagoas em crise, nenhuma negociação estava em curso. Mas e-mails trocados entre o então presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, seu diretor financeiro, Wilson Roberto de Aro, e o gerente de consignado, Luiz Carlos Perandin, sugerem que havia uma proposta em avaliação.
Em um desses e-mails, Aro questiona Palladino se pode "tocar o acordo abaixo". O acordo a que ele se refere é esmiuçado em um e-mail de Perandin encaminhado a Aro, no qual ele detalha uma suposta proposta para a liquidação da dívida apresentada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas, Luiz Otávio Gomes.
No e-mail, Perandin afirma que "na reunião realizada ontem (16 de agosto de 2010) a pedido do governo de Alagoas, o Dr. Luiz Otávio Gomes, secretário de Estado, ratificou que a única forma de liquidarem o débito é efetuar o pagamento na forma abaixo, ou seja, retorno de 25% sobre o principal e devolução integral da correção monetária".
Conforme o relato de Perandin, o pagamento seria feito em quatro parcelas de R$ 827,1 mil e o retorno pela intermediação custaria ao banco 25% do total da dívida - ou seja, R$ 678,5 mil -, além da devolução da correção monetária, o que totalizaria R$ 1,27 milhão, também dividido em quatro parcelas. Perandin ainda afirma, no e-mail, que "em resumo, de um crédito de R$ 2,7 milhões (valor histórico) vamos receber R$ 2,03 milhões" e que "o pagamento do retorno poderá ser a título de doação para campanha do PSDB mediante recibo ou emissão de nota fiscal por empresa que será indicada pelo secretário". Ao fim do e-mail, o gerente de consignado afirma que, para não expor a empresa na operação, uma alternativa seria efetuar o pagamento "através de notas fiscais emitidas por terceiros sem vínculos de negócios com as empresas do grupo".
As trocas de e-mails sobre a possibilidade de o PanAmericano receber os valores devidos por Alagoas começaram em 10 de agosto de 2010 e se estenderam até o dia 23 do mesmo mês. Nos arquivos encontrados pela PF não há e-mails que comprovem que o acordo entre o banco e o governo do Estado foi fechado e nem e-mails enviados por Luiz Otávio Gomes.
Procurado pelo Valor, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "tem total confiança no secretário e que todas as contas do governo estão abertas". A assessoria afirmou ainda que não há nenhum e-mail do secretário enviado a nenhum dos diretores do PanAmericano e que grande parte do problema dos empréstimos consignados está resolvido.
Além disso, informou que os servidores já não têm seus nomes negativados nos serviços de proteção ao crédito e mais de 60% da dívida do Estado com os bancos foi paga até o fim de 2010. A assessoria não soube informar, no entanto, se o restante da dívida foi pago durante o ano passado.
A Polícia Federal em São Paulo, que deve concluir em breve o inquérito que apura fraudes contábeis e crimes contra o sistema financeiro nacional no PanAmericano, encaminhou os arquivos contendo as trocas de e-mails à superintendência de Alagoas. A PF alagoana abriu um inquérito policial específico para apurar indícios de doações irregulares para campanha eleitoral. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PF no Estado informou que não comentaria sobre o inquérito.
Fonte: Valor Econômico
A dívida de Alagoas com o PanAmericano data de 2006. Entre os meses de fevereiro e dezembro daquele ano, o Estado recolheu, via folha de pagamento, parcelas de empréstimos consignados feitos por servidores, mas não repassou os valores aos bancos. Naquela época, Alagoas era governada por Luís Abílio de Sousa Neto (PDT), que assumiu em março de 2006, quando o então governador Ronaldo Lessa (PDT) licenciou-se para concorrer ao Senado. Em valores históricos, a dívida de Alagoas com a instituição era de R$ 2,7 milhões. Com a correção monetária, somava R$ 3,3 milhões em agosto de 2010.
Até meados daquele ano, com as finanças de Alagoas em crise, nenhuma negociação estava em curso. Mas e-mails trocados entre o então presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, seu diretor financeiro, Wilson Roberto de Aro, e o gerente de consignado, Luiz Carlos Perandin, sugerem que havia uma proposta em avaliação.
Em um desses e-mails, Aro questiona Palladino se pode "tocar o acordo abaixo". O acordo a que ele se refere é esmiuçado em um e-mail de Perandin encaminhado a Aro, no qual ele detalha uma suposta proposta para a liquidação da dívida apresentada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas, Luiz Otávio Gomes.
No e-mail, Perandin afirma que "na reunião realizada ontem (16 de agosto de 2010) a pedido do governo de Alagoas, o Dr. Luiz Otávio Gomes, secretário de Estado, ratificou que a única forma de liquidarem o débito é efetuar o pagamento na forma abaixo, ou seja, retorno de 25% sobre o principal e devolução integral da correção monetária".
Conforme o relato de Perandin, o pagamento seria feito em quatro parcelas de R$ 827,1 mil e o retorno pela intermediação custaria ao banco 25% do total da dívida - ou seja, R$ 678,5 mil -, além da devolução da correção monetária, o que totalizaria R$ 1,27 milhão, também dividido em quatro parcelas. Perandin ainda afirma, no e-mail, que "em resumo, de um crédito de R$ 2,7 milhões (valor histórico) vamos receber R$ 2,03 milhões" e que "o pagamento do retorno poderá ser a título de doação para campanha do PSDB mediante recibo ou emissão de nota fiscal por empresa que será indicada pelo secretário". Ao fim do e-mail, o gerente de consignado afirma que, para não expor a empresa na operação, uma alternativa seria efetuar o pagamento "através de notas fiscais emitidas por terceiros sem vínculos de negócios com as empresas do grupo".
As trocas de e-mails sobre a possibilidade de o PanAmericano receber os valores devidos por Alagoas começaram em 10 de agosto de 2010 e se estenderam até o dia 23 do mesmo mês. Nos arquivos encontrados pela PF não há e-mails que comprovem que o acordo entre o banco e o governo do Estado foi fechado e nem e-mails enviados por Luiz Otávio Gomes.
Procurado pelo Valor, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "tem total confiança no secretário e que todas as contas do governo estão abertas". A assessoria afirmou ainda que não há nenhum e-mail do secretário enviado a nenhum dos diretores do PanAmericano e que grande parte do problema dos empréstimos consignados está resolvido.
Além disso, informou que os servidores já não têm seus nomes negativados nos serviços de proteção ao crédito e mais de 60% da dívida do Estado com os bancos foi paga até o fim de 2010. A assessoria não soube informar, no entanto, se o restante da dívida foi pago durante o ano passado.
A Polícia Federal em São Paulo, que deve concluir em breve o inquérito que apura fraudes contábeis e crimes contra o sistema financeiro nacional no PanAmericano, encaminhou os arquivos contendo as trocas de e-mails à superintendência de Alagoas. A PF alagoana abriu um inquérito policial específico para apurar indícios de doações irregulares para campanha eleitoral. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PF no Estado informou que não comentaria sobre o inquérito.
Fonte: Valor Econômico
Extraído do Vermelho
*OCarcará
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.
Juvenal (poeta e retórico romano)
*Aartedoslivrespensadores
Vada a bordo, Serra Schettino!
Deu no Estadão:
Serra comunica ao PSDB que está fora da disputa à Prefeitura de São Paulo
Depois de meses de pressão para que entrasse na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) reuniu o seu grupo de aliados mais próximos e informou em tom solene que não será candidato na eleição municipal deste ano.
Embora, em se tratando do que Serra diz, a única verdade que se pode afirmar conter no que fala é a de que é falsa cada palavra, talvez se possa comparar sua atitude com a do capitão italiano do Costa Concórdia, o transatlântico naufragado nas costas da Itália.
Não importa que Alckmin e Aécio esfreguem as mãos diante da possibilidade de que ele, candidato, perca e afunde. A nau tucana aderna em São Paulo, seu porto seguro, Kassab procura desesperadamente um colete salva-vidas petista, reina a confusão a bordo do Tucanic.
E o capitão do Tucanic, embora estropiado depois de ter apanhado de um “poste” – não é, Montenegro? – diz que vai descer à terra para apreciar o naufrágio sem molhar os pés. Entrega a Alckmin o supremo comando e diz: “carregue seu candidato”.
Infelizmente, Fernando Henrique Cardoso não tem a estatura moral daquele capitão da guarda costeira italiana e não pode dar um grito: Vadda a bordo, catzo!
Alckmin, reinando sobre os destroços, dirá que que os salvados do naufrágio são só seus.
E a elite paulista, tão orgulhosa e soberba com os pobres, irá negociar os despojos com Minas, numa antítese de Borba Gato e Raposo Tavares.
Parte dela, é claro, porque a São Paulo que sabe ler no seu brasão o latim “non ducor, duco”, o “não sou conduzido,conduzo”, não se afogará como o tucanato. Mesmo que seja num cruzeiro de luxo.
*Tijolaço
Serra comunica ao PSDB que está fora da disputa à Prefeitura de São Paulo
Depois de meses de pressão para que entrasse na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) reuniu o seu grupo de aliados mais próximos e informou em tom solene que não será candidato na eleição municipal deste ano.
Embora, em se tratando do que Serra diz, a única verdade que se pode afirmar conter no que fala é a de que é falsa cada palavra, talvez se possa comparar sua atitude com a do capitão italiano do Costa Concórdia, o transatlântico naufragado nas costas da Itália.
Não importa que Alckmin e Aécio esfreguem as mãos diante da possibilidade de que ele, candidato, perca e afunde. A nau tucana aderna em São Paulo, seu porto seguro, Kassab procura desesperadamente um colete salva-vidas petista, reina a confusão a bordo do Tucanic.
E o capitão do Tucanic, embora estropiado depois de ter apanhado de um “poste” – não é, Montenegro? – diz que vai descer à terra para apreciar o naufrágio sem molhar os pés. Entrega a Alckmin o supremo comando e diz: “carregue seu candidato”.
Infelizmente, Fernando Henrique Cardoso não tem a estatura moral daquele capitão da guarda costeira italiana e não pode dar um grito: Vadda a bordo, catzo!
Alckmin, reinando sobre os destroços, dirá que que os salvados do naufrágio são só seus.
E a elite paulista, tão orgulhosa e soberba com os pobres, irá negociar os despojos com Minas, numa antítese de Borba Gato e Raposo Tavares.
Parte dela, é claro, porque a São Paulo que sabe ler no seu brasão o latim “non ducor, duco”, o “não sou conduzido,conduzo”, não se afogará como o tucanato. Mesmo que seja num cruzeiro de luxo.
*Tijolaço
FOME É UM PROBLEMA POLÍTICO
Porquê a fome?
Via Diario LiberdadeAntónio Barata
Silenciosa, mais uma tragédia humanitária está em curso no chamado Corno de África (principalmente no Sul da Somália e no Quénia, podendo vir a alastrar à Etiópia, Sudão e Eritreia).
São 12,4 milhões as pessoas ameaçadas de morte por nada terem para comer senão aquilo que chega a conta-gotas via ONU e que, passadas as primeiras notas de inquietação, foram remetidas para o esquecimento pela comunicação social e a chamada "comunidade internacional", ocupadas com o "combate ao terrorismo" e a "democratização" do Iraque, Afeganistão, Líbia, Irão, Síria, etc. Se é endémica a fome em muitas regiões do Terceiro Mundo, e em particular no Corno de África, a verdade é que, ao contrário do que durante as últimas décadas acontecia, outro tipo de fome tem vindo a alastrar na Europa, Estados Unidos e Japão, o que pode ser atestado pelo aumento em flecha do número de famílias que dependem da ajuda pública de emergência nos países desenvolvidos. Dados deste ano dizem que 15% dos norte-americanos – 46 milhões de pessoas – dependem do apoio alimentar do governo para sobreviver, não sendo a situação nos países da OCDE muito diferente.
Encarada como uma fatalidade, tornou-se hábito atribuir a fome aos caprichos da natureza, à melhoria das condições de vida na China, na Índia e noutros países do Sul – que consomem mais produtos alimentares do que antes – e, onde os há, aos conflitos "regionais e étnicos". É como se as causas da fome fossem conjunturais e não estruturais, consequência da nova divisão do trabalho provocada pela globalização, com a produção da mais-valia situada cada vez mais nos países do Terceiro Mundo e a sua apropriação nos países ricos do Norte; como se ela fosse um problema agrícola e houvesse escassez de alimentos; como se essa suposta escassez estivesse a ser agravada pelo crescimento populacional e de consumo de países como a China e a Índia, as guerras, os maus governos e a corrupção; como se a desertificação e o abandono da agricultura resultassem das alterações climáticas e houvesse uma relação directa entre a perda de colheitas e de gado e a fome.
A ser assim, como explicar que países como os EUA e a Austrália, que ciclicamente sofrem períodos de seca severos, não sofram nessas alturas fomes extremas? As guerras e as calamidades naturais podem certamente agravar os problemas. Mas não passa de uma fraude quererem-nos fazer crer que a fome, a corrupção, o nepotismo, a degradação crescente das condições de vida da maioria da humanidade são uma fatalidade somada à "má governação".
A fome é antes de mais um problema político, uma consequência da concentração de capitais, da apropriação da riqueza a uma escala nunca vista por um punhado cada vez mais reduzido de capitalistas e multinacionais, do excesso de produção e somas enormes de capitais que não encontram colocação na produção de mercadorias e que por isso se deslocam para a especulação e outras áreas financeiras.
A FOME É UM PROBLEMA POLÍTICO
Segundo os dados disponíveis, a produção de alimentos triplicou em relação à dos anos 60; entre 2007 e 2008 o número de pessoas cronicamente subalimentadas ultrapassou os mil milhões, enquanto a produção alimentar mundial cresceu 5%. Como entender este fenómeno curioso de ao aumento da oferta de bens alimentares não ter correspondido um embaratecimento dos bens alimentares nem a redução da fome? E que, pelo contrário, os alimentos se tenham tornado mais caros nos países do Sul e tenha aí surgido a crise alimentar que dura desde há anos em países até há pouco tempo auto-suficientes?
Tudo isto começou com as políticas que os países do Terceiro Mundo foram obrigados a aplicar nos últimos 20 anos a mando do FMI, Banco Mundial e OMC – medidas de "ajustamento estrutural" e dos chamados "incentivos à agricultura" impostas por estas organismos aos países da africanos, asiáticos e sul-americanos, quando da negociação das suas dívidas externas. Daí resultaram a destruição das suas agriculturas, a dependência alimentar e a depreciação das matérias-primas – combinadas com a especulação bolsista em torno dos cereais e outras matérias-primas agrícolas mais a manipulação dos seus preços.
Que as causas da fome são políticas e não outras atestam-no há décadas diversos organismos internacionais. Segundo a FAO, a produção mundial actual de alimentos é bastante para 12 biliões de pessoas. Como o planeta é habitado por 7 biliões, isso significa que não falta comida, pelo que não há nenhuma razão para que uma em cada sete pessoas passe fome. Logo, o problema não é agrícola, de esgotamento de recursos, ecológico ou de população a mais. O problema está na apropriação e na distribuição da riqueza e dos recursos, no facto de os bens alimentares serem apropriados como uma mercadoria cuja função principal não é a satisfação das necessidades humanas, mas as do capital financeiro e da especulação bolsista.
Mesmo na Somália, onde as secas são constantes, não podemos responsabilizar a natureza pela fome. A região foi auto-suficiente até ao final dos anos 60. O que mudou desde então não foi só o meio ambiente, mas o controlo dos recursos naturais, que passou para as mãos das multinacionais e do grande capital. Estes têm vindo a comprar massivamente os terrenos férteis para aí instalar agro-indústrias e especular na área fundiária e nas bolsas. Tem sido isto, e não os desastres naturais, o que por todo o mundo está a expulsar milhares de camponeses das suas terras, reduzindo-se assim a capacidade destes países e regiões para se auto-alimentarem. Por exemplo, enquanto o PAM – Programa Mundial de Alimentos – procura dar de comer às cerca de 12 milhões de pessoas acantonadas nos acampamentos do Sudão, nas terras ao lado (possivelmente muitas delas compradas aos refugiados) os governos do Kuwait, Emiratos e Coreia do Sul produzem alimentos para exportação; ou, como constatava o New York Times em 2002, "na Índia os pobres morrem de fome enquanto apodrecem os excedentes de trigo".
A MALDIÇÃO DO MERCADO LIVRE
Nos anos 80 o FMI e o Banco Mundial impuseram aos países da África, Ásia e América Latina as medidas de ajustamento acima referidas (obrigada a pagar aos seus credores do Clube de Paris, a Somália foi um deles: teve de liberalizar a sua economia e abrir o comércio aos produtos dos países ricos). Em resultado, estes países foram inundados de arroz, trigo, sorgo e milho produzidos pelas multinacionais agro-industriais dos EUA e Europa. Esses cereais, subvencionados por vezes em mais de 50% pelos respectivos governos e, por norma, vendidos abaixo do preço de custo, arruinaram as agriculturas e os comércios locais. Isto conduziu a desvalorizações sucessivas da moeda, à inflação, à monocultura e, por fim, ao abandono dos campos, à migração das populações aos milhares para as cidades e, em consequência, a uma florescente especulação mobiliária.
O actual surto de fome, que é um novo pico na grave crise alimentar iniciada em 2008, tem como causa imediata e visível a contínua subida dos preços dos cereais básicos, particularmente violento no último ano. Na Somália, o preço do milho aumentou 106% e o sorgo 180%. Na Etiópia, o trigo subiu 85%. No Quénia, o milho aumentou 55%.
Mas são a especulação financeira e o grande capital os principais responsáveis pela situação. Os preços dos alimentos são estabelecidos a milhares de quilómetros dos mercados dos países do Sul, nas bolsas norte-americanas e europeias, principalmente as de Chicago, Londres, Paris, Amesterdão e Frankfurt, e não as economias locais. Num processo decalcado do da especulação imobiliária que levou à actual crise económica, os stocks de cereais e outras matérias-primas estão a ser continuamente vendidos e comprados por bancos, fundos de investimento, capitais de riscos e seguradoras, alimentando a espiral especulativa que provoca a subida dos preços dos alimentos.
Vivemos num mundo de abundância, o que faz com que a produção e o comércio agrícola estejam mais que nunca sujeitos a interesses que nada têm a ver com a alimentação humana. Devido a esta abundância cada vez maior, as grandes multinacionais agro-alimentares estão (muitas vezes a coberto de hipócritas proclamações ecológicas e de defesa da natureza) orientadas para a especulação financeira e a distribuição de dividendos aos seus accionistas, desviando a produção de cereais e de óleos alimentares da alimentação humana para a produção de biocombustíveis, negócio altamente lucrativo devido à procura crescente de petróleo e ao esgotamento das reservas de combustível fóssil. Actualmente, mais de um quarto da produção de milho nos EUA destina-se ao fabrico de etanol. Ou seja, cerca de 150 milhões de toneladas de milho estão a ser desviadas anualmente da alimentação humana para a produção de biocombustíveis. O mesmo se passa no Brasil e um pouco por todo o Terceiro Mundo, fazendo com que o preço dos cereais atinja valões especulativos, o que tem levado alguns estudiosos a dizer que se estão lançadas "as bases de um crime contra a humanidade".
*GilsonSampaio
quarta-feira, janeiro 18, 2012
Ministério das Comunicações investigará se Globo infringiu lei ao veicular cena polêmica
Em nota, o Ministério das Comunicações informou que investigará as imagens veiculadas no domingo, 15, pela Globo durante o programa ao vivo do BBB12. Caso se constate que foi mostrada uma cena de estupro, poderá punir a emissora até com a interrupção da concessão, além de multas e outras sanções. O órgão ainda solicitou à Anatel que investigue o que se veiculou na TV a cabo.
Após a polêmica envolvendo Daniel e Monique, a Globo de início negou que tivesse havido abuso sexual, pois a própria moça afirmara no confessionário que a troca de carícias foi consentida. Com a entrada da polícia no caso, a cúpula da emissora decidiu excluir o participante do programa para que ele pudesse se esclarecer formalmente e por julgar que o comportamento dele fora gravemente inadequado.
A Globo entrou em detalhes na polêmica no Jornal Nacional de terça, 17, e no BBB do mesmo dia, com uma matéria de dois minutos sobre as investigações da polícia e com a leitura de uma nota oficial pelo apresentador Pedro Bial.
Leia a íntegra do comunicado do MC:
"Inicialmente, o Ministério das Comunicações vai identificar se o possível estupro foi veiculado na TV Globo, emissora outorgada concessionária do serviço de radiodifusão de sons e imagens, fiscalizada pelo ministério, ou apenas nos canais de TV por assinatura, fiscalizados pela Anatel, nos termos da Lei Geral de Telecomunicações - LGT.
Já foi solicitada à TV Globo a gravação da programação veiculada nos dias 14 e 15 de janeiro de 2012, para degravação. As imagens serão analisadas e, se estiverem em desacordo com as finalidades educativas e culturais da radiodifusão e com a manutenção de um elevado sentido moral e cívico, não permitindo a transmissão de espetáculos, trechos musicais cantados, quadros, anedotas ou palavras contrárias à moral familiar e aos bons costumes, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem em constrangimento, ainda que seu objetivo seja jornalístico (art. 38, alínea "d" do Código Brasileiro de Telecomunicações - Lei n˚ 4.117/62 - c/c art. 28, item 12, alíneas "a" e "b" do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão - Decreto n˚ 52.795/63), será instaurado Processo de Apuração de Infração neste ministério, cujas sanções cabíveis incluem a interrupção dos serviços (Parágrafo único do art. 63 e multa nos termos do art. 62 do mesmo Código)."
*Terra
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