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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Vada a bordo, Serra Schettino!

Deu no Estadão:
Serra comunica ao PSDB que está fora da disputa à Prefeitura de São Paulo
Depois de meses de pressão para que entrasse na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) reuniu o seu grupo de aliados mais próximos e informou em tom solene que não será candidato na eleição municipal deste ano.
Embora, em se tratando do que Serra diz, a única verdade que se pode afirmar conter no que fala é a de que é falsa cada palavra, talvez se possa comparar sua atitude com a do capitão italiano do Costa Concórdia, o transatlântico naufragado nas costas da Itália.
Não importa que Alckmin e Aécio esfreguem as mãos diante da possibilidade de que ele, candidato, perca e afunde. A nau tucana aderna em São Paulo, seu porto seguro, Kassab procura desesperadamente um colete salva-vidas petista, reina a confusão a bordo do Tucanic.
E o capitão do Tucanic, embora estropiado depois de ter apanhado de um “poste” – não é, Montenegro? – diz que vai descer à terra para apreciar o naufrágio sem molhar os pés. Entrega a Alckmin o supremo comando e diz: “carregue seu candidato”.
Infelizmente, Fernando Henrique Cardoso não tem a estatura moral daquele capitão da guarda costeira italiana e não pode dar um grito: Vadda a bordo, catzo!
Alckmin, reinando sobre os destroços, dirá que que os salvados do naufrágio são só seus.
E a elite paulista, tão orgulhosa e soberba com os pobres, irá negociar os despojos com Minas, numa antítese de Borba Gato e Raposo Tavares.
Parte dela, é claro, porque a São Paulo que sabe ler no seu brasão o latim “non ducor, duco”, o “não sou conduzido,conduzo”, não se afogará como o tucanato. Mesmo que seja num cruzeiro de luxo.
*Tijolaço

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