Safatle: SP é com “F” de Fascismo
Saiu na Folha (*) excelente artigo de Vladimir Safatle sobre a “Escala F”, de Fascismo e a pesquisa do Datafalha que mostrou como tucanos e petistas de São Paulo aprovaram – com incontido entusiasmo ! – o Massacre da Cracolândia.
(A aprovação ao Massacre de Pinheiro deve ser ainda maior.)
Trata-se de leitura indispensável, especialmente num Estado que se considera vencedor da Guerra da Secessão de 1932 e há 17 anos se deixa governar por políticos que se especializam em vender o patrimônio público (Ciro Gomes explicou o papel do Padim Pade Cerra na venda de São Paulo) e assegurar “reintegração de posse”.
Essa é uma especialidade dos tucanos de São Paulo.
É assim com a Cutrale, Naji Nahas, o ramo imobiliário de Pinheirinho e da Cracolândia: duco, non ducor.
Diz Safatle (que não deve durar muito na Folha (*). Já, já o Cerra pede a cabeça dele):
(A aprovação ao Massacre de Pinheiro deve ser ainda maior.)
Trata-se de leitura indispensável, especialmente num Estado que se considera vencedor da Guerra da Secessão de 1932 e há 17 anos se deixa governar por políticos que se especializam em vender o patrimônio público (Ciro Gomes explicou o papel do Padim Pade Cerra na venda de São Paulo) e assegurar “reintegração de posse”.
Essa é uma especialidade dos tucanos de São Paulo.
É assim com a Cutrale, Naji Nahas, o ramo imobiliário de Pinheirinho e da Cracolândia: duco, non ducor.
Diz Safatle (que não deve durar muito na Folha (*). Já, já o Cerra pede a cabeça dele):
Escala F
Na década de 50, o filósofo
alemão Theodor Adorno (1903-1969) uniu-se a um grupo de psicólogos
sociais norte-americanos para desenvolver um estudo pioneiro sobre o
potencial autoritário inerente a sociedades de democracia liberal, como
os Estados Unidos.
O resultado foi, entre outras
coisas, um conjunto de testes que permitiam produzir uma escala
(conhecida como Escala F, de “fascismo”) que visava medir as tendências
autoritárias da personalidade individual.
Por mais que certas questões de
método possam atualmente ser revistas, o projeto do qual Adorno fazia
parte tinha o mérito de mostrar como vários traços do indivíduo liberal
tinham profundo potencial autoritário.
O que explicava porque tais
sociedades entravam periodicamente em ondas de histeria coletiva
xenófoba, securitária e em perseguições contra minorias.
O que Adorno percebeu na
sociedade norte-americana vale também para o Brasil. Na semana passada,
esta Folha divulgou pesquisa mostrando como a grande maioria dos
entrevistados apoia ações truculentas como a internação forçada para
dependentes de drogas e intervenções policiais espetaculares como as que
vimos na cracolândia.
Se houvesse pesquisa sobre o
acolhimento de imigrantes haitianos e sobre a posição da população em
relação à ditadura militar, certamente veríamos alguns resultados
vergonhosos.
Tais pesquisas demonstram como a idealização da força é uma fantasia fundamental que parece guiar populações marcadas por uma cultura contínua do medo.
É preferível acreditar que há
uma força capaz de “colocar tudo em ordem”, mesmo que por meio da
violência cega, do que admitir que a vida social não comporta paraísos
de condomínio fechado.
Sobre qual atitude tomar diante
de tais dados, talvez valha a pena lembrar de uma posição do antigo
presidente francês François Mitterrand (1916-1996).
Quando foi eleito pela primeira
vez, em 1981, Mitterrand prometera abolir a pena de morte na França.
Todas as pesquisas de opinião demonstravam, no entanto, que a grande
maioria dos franceses era contrária à abolição.
Mitterrand ignorou as
pesquisas. Como se dissesse que, muitas vezes, o governo deve levar a
sociedade a ir lá aonde ela não quer ir, lá aonde ela ainda não é capaz
de ir. Hoje, a pena de morte é rejeitada pela maioria absoluta da
população francesa.
Tal exemplo demonstra como o
bom governo é aquele capaz de reconhecer a existência de um potencial
autoritário nas sociedades de democracia liberal e a necessidade de não
se deixar aprisionar por tal potencial.
VLADIMIR SAFATLE
Ainda na pág. 3 da Folha (*), observa-se metamorfose que está a desafiar Físicos e Biólogos mundo afora.
Certo colonista (**) da Folha (*) e do Globo (dos dois ! Trata-se de um Mega-Colonista Piguento !), portador de inúmeros chapéus, descreveu certo líder político de Pinheirinho como uma cruza de “Maníaco do Parque” com Jovem Stalin.
Um monstro !
Não fora ele, o “Monstro”, tudo teria sido resolvido por notável empresa particular do ramo imobiliário.
Essa foi exatamente a explicação que, dias depois, o ansioso
blogueiro ouviu de lideranças empresariais e do prefeito (do PSDB) de
São José dos Campos.
Não fossem os líderes comunitários, os moradores de Pinheirinho sairiam dali com a alegria de quem passeia em Disney.
O problema era o Marrom.
Marrom, Valdir Martins, e Guilherme Boulos – outro “Monstro” – escrevem na Folha (*) artigo sensato:
Que diz:
O Pinheirinho está em uma região de expansão imobiliária,
sob um forte assédio das construtoras e incorporadoras de São José dos
Campos
Em setembro, as manchetes dos jornais de São José dos
Campos estampavam a notícia de um acordo para regularizar o bairro do
Pinheirinho. Após sete anos, as 1.600 famílias dessa comunidade teriam a
sua situação de moradia resolvida.
Quatro meses depois, a Polícia Militar de São Paulo
iniciou uma operação de guerra que terminou com o despejo da comunidade,
dezenas de presos e feridos e cinco desaparecidos até o momento.
A ordem partiu da juíza de São José, Marcia Loureiro, que
se revelou uma combatente incansável pelos interesses do proprietário.
Se houvesse um prêmio Naji Nahas, certamente seria ela a ganhadora deste
ano. Contou com a aprovação irrestrita do presidente do TJ, o
desembargador Ivo Sartori.
Ambos pertencem a um tribunal assolado por denúncias de
super-salários e sonegação fiscal por parte de vários de seus
desembargadores. Que moral têm eles para definir o destino de famílias
trabalhadoras?
Encontraram, porém, aliados de primeira hora no
governador e no prefeito de São José, ambos do PSDB e com uma lista de
financiadores de campanha recheada de empreiteiras e especuladores
imobiliários.
O que uniu todos eles foi a prestação de um valioso
serviço ao capital imobiliário. A ocupação representava uma verdadeira
pedra no sapato dos “empreendedores” imobiliários de São José dos
Campos.
Ela está localizada em uma região de expansão
imobiliária, onde ainda restam muitas áreas vazias, sob um forte assédio
de construtoras e incorporadoras. Por isso, o despejo do Pinheirinho
era uma reivindicação antiga do capital imobiliário da região. Além de
liberar a área da ocupação, ela também valorizaria os bairros vizinhos.
Alckmin, o prefeito Cury e os honoráveis magistrados do
TJ não poderiam negar um pedido tão importante de amigos tão valiosos. A
presidenta Dilma, que também teve a sua campanha eleitoral fartamente
financiada por construtoras, poderia ter desapropriado o terreno, mas
não fez isso. As cartas estavam marcadas.
Os editoriais de grandes jornais se apressaram em
condenar os “invasores” e em atribuir o conflito a interesses de
partidos radicais, que teriam contaminado os pobres moradores. É preciso
recordar que a imensa maioria das periferias urbanas brasileiras, pela
ausência de políticas públicas, resultou de processos de ocupação.
Pretendem despejar dezenas de milhões de famílias que vivem em áreas
ocupadas?
Além disso, não é demais lembrar que a ideia de “maus
elementos radicais manipulando uma massa ingênua” foi o argumento
preferido da ditadura militar para desqualificar os movimentos de
resistência. Parte da tese conservadora de que o povo brasileiro é
naturalmente pacato e resignado, só se movendo por influência externa.
A síntese dos disparates proferidos sobre a operação foi
dada pela secretária de Justiça de Alckmin, Eloísa Arruda, para quem a
legalidade está acima dos direitos humanos.
É triste constatar que o que ocorreu no Pinheirinho não
foi um fato isolado. Trata-se de expressão de uma política conduzida
pela especulação imobiliária e por seus amigos no Estado, que coloca a
valorização das terras e os lucros com os empreendimentos acima da vida
humana. Este processo, aliás, tem se tornado cada vez mais cruel, com as
obras da Copa 2014. Infelizmente, outros Pinheirinhos virão.
GUILHERME BOULOS, 29, é membro da coordenação nacional do
MTST (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto), militante
da Frente de Resistência Urbana e da CSP Conlutas
VALDIR MARTINS, o Marrom, 54, líder da comunidade do
Pinheirinho (Movimento Urbano Sem-Teto), é militante da Frente de
Resistência Urbana e da CSP Conlutas
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