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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 25, 2012

O quê é a Nato?

Cresce o interesse das multinacionais pelos negócios "pobres": reformas, serviços. Tudo é ocasião para privatizar, introduzir códigos fiscais, novas contas bancárias, cartões de crédito.

É preciso liberalizar. E para liberalizar, os seguros tornam-se obrigatórios, pois já não há o Estado ou a autarquia nos bastidores, há só o privado.

Em Italia, por exemplo, em cruz estão agora os taxistas que, ao ler os diários nacionais, vivem em condições próximas daquela de Bill Gates. Aliás, nem se percebe porque continuam a trabalhar, deve ser um vício, como a cocaína.

A conclusão? A mesma dos taxistas dos Estados Unidos, totalmente liberalizados, totalmente compostos por imigrados: pessoas que fugiram dos próprios Países, das condições de inimaginável miséria, para aceitar salários de fome no estrangeiro.

Doutro lado, migrar é uma necessidade, não apenas das pessoas mas dos governos: por isso o primeiro ministro de Portugal e alguns homens do executivo dele convidam os Portugueses a abandonar o País. Tudo tornará mais simples gerir as liberalizações, que serão reduzidas até meros conflitos étnico-raciais, com as vítimas umas contra as outras. Racismo e xenofobia: pode haver acusação pior?

O que é mais simples: controlar um povo ou controlar um conjunto de pessoas com língua, religiões, usos diferentes? Paradoxalmente, a resposta correcta é a segunda, porque neste caso é suficiente a força.

Assim os diários italianos, em vez de tratar da revolta dos forcados (que continua), tratam dos taxistas, autênticos paxás que evadem o fisco, obstaculizam o crescimento, provavelmente lapidam as mulheres infiéis.

Um meu colega do liceu era filho de taxista e não lembro de tamanha riqueza; mas provavelmente disfarçava (e bem, diga-se). 

Estes tons de psico-guerra imperialista contra as corporações não são uma anomalia da propaganda, mas representam um facto natural que tem como objectivo a máxima privatização da sociedade. São a "prática" enquanto a "teoria" pode ser encontrada no Business & Economics Program do Concelho Atlântico, o órgão da Nato.

Nato e governance mundial? Esquisito, não é?
Não, não é: os bombardeiros servem para gerir o business. E com a guerra na Líbia, só para fazer um exemplo, deveríamos já ter percebido isso: bombas e bancos. A sinergia perfeita.

Vamos ver quem são os membros do Concelho Atlântico? E vamos.

Olhaolhaolha: entre os membros do Advisor Group do Business & Economics Program que trata das liberalizações há um italiano, tal Mario Monti.

Ehi, mas não é aquele homem dos bancos? É.
E não é aquele senhor que foi nomeado primeiro ministro sem ser eleito por ninguém? É.
No mesmo País onde os taxistas agora são a vergonha nacional? É.

Coisas estranhas da vida. Mas vamos em frente.

Ian Brzezinski, filho de Zbigniew Brzezinski, irmão do advogado Mark Brzezinski e do jornalista MSNBC Mika Brzezinski. Palavras para quê?

Outros:
Nancy Walbridge Collins, Aspen Institute, Council on Foreign Relations, Foreign Policy Association, Intelligence and National Security Alliance, International Institute for Strategic Studies, Rockefeller Foundation
Caio Koch-Weser, Banco Mundial, Deutsche Bank, World Economic Forum
Angel Ubide, Tudor Investment Corporation
Paula Stern, Stern Group
Jean Lemierre, BNP-Paribas
Rod Hunter, IBM
Paula Dobriansky, Thomson Reuters
Jacob A. Frenkel, American International Group (AIG)
Daniel Vasella, Novartis International AG
Gunter Thielen, Bertelsmann AG
Robert J. Stevens, Lockheed Martin
Martin Senn, Zurich Financial Services
John Wren, Omnicom
Jacob Wallenberg, Investor AB
Martin Sorrell, WPP Group PLC
Stephen A. Schwarzman, The Blackstone Group
Gordon Nixon, Royal Bank of Canada
Rupert Murdoch, News Corporation
Muhtar Kent, The Coca-Cola Company
Thomas Enders, Airbus S.A.S.
Robert E. Diamond, Barclays PLC
Josef Ackermann, Deutsche Bank AG

A lista poderia continuar, mas podemos parar, é já suficientemente claro. Ou seja, não é muito claro o que raio está a fazer a Coca-Cola na Nato, se calhar serve as bebidas.

A moral é que hoje a Nato é uma das maiores organizações de lobby bancárias, com certeza a mais potente, onde o papel principal é desenvolvido por elementos como JP Morgan, Deutsche Bank e Goldman Sachs: pois por cada nome de empresa contido na lista acima é possível efectuar breves pesquisas e descobrir assim a complicada teia de ligações, no fim das quais encontramos os conhecidos do costume.

Não admira, portanto, que Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial e homem Goldman Sachs,  tenha encontrado os membros do Concelho partilhando pérolas de sabedoria, numa reunião "generosamente suportada pela Deutsche Bank".

"Conflito de interesses"? Não entendo, o que significa?


Ipse dixit.
*informaçãoincorreta

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