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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 25, 2012

SARAMAGO: 'TER OLHOS QUANDO OUTROS OS PERDERAM' - O ROMPIMENTO DO GENIAL PORTUGUÊS COM O MODELO REPRESSOR DA CUBA CASTRISTA

Wilman Villar, dissidente que morreu 
depois de greve de fome.

O prisioneiro cubano Wilman Villar, de 31 anos, morreu no dia 19 em Santiago de Cuba, vítima de pneumonia e infecção generalizada em consequência de uma greve de fome que mantinha há 50 dias para protestar contra a pena de quatro anos de prisão a que tinha sido condenado por "desacato e atentado à autoridade".

Militante do movimento União Patriótica de Cuba, Villar foi preso no dia 14 de novembro do ano passado. E o governo de Cuba sequer reconheceu o prisioneiro como dissidente político, alegando que Villar seria um "preso comum", cujo motivo da prisão tinha sido agressão à mulher e resistência às autoridades. Já a Anistia Internacional informou que se tratava de um preso de consciência, detido quando participava de uma manifestação em apoio às Damas de Branco (mulheres de presos políticos). Em 2010, o regime cubano também alegara que outro preso político, Orlando Zapata, era um mero delinquente. Zapata também morreu depois de uma greve de fome.
  
Comandante Raúl Castro
É lamentável o silêncio e a conivência de uma certa esquerda com a violação de direitos humanos em Cuba. É uma espécie de fetichismo que, em nome da "luta anti-imperialista", justifica não apenas a ditadura castrista como também regimes genocidas como os de Gaddafi e Assad. Tal postura deixa a direita com o monopólio da crítica aos regimes stalinistas ou meramente nacionalistas. Essa esquerda ortodoxa é incapaz de se dissociar do bolchevismo e menos ainda de aceitar a crítica à ditadura de partido único feita por Rosa Luxemburgo, Victor Serge, George Orwell, Cornelius Castoriadis e Claude Lefort, entre outros. 
     
Em abril de 2003, quando o escritor português José Saramago rompeu com Cuba, escrevi o seguinte na revista ISTOÉ:

"O livro Ensaio sobre a cegueira, do escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, tem uma epígrafe que diz: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” Em determinado ponto do romance, Saramago fala da “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. Comunista de carteirinha e de velha cepa – ele aderiu ao Partido Comunista Português antes de se tornar escritor, em 1947 –, Saramago sempre defendeu o regime de Cuba e seu comandante-em-chefe, Fidel Castro, de quem era amigo.
O genial escritor português, José Saramago 
rompeu com Cuba em 2003

Na segunda-feira 14, o escritor finalmente abriu os olhos para uma realidade que ele sempre preferiu enxergar sob lentes opacas: num pequeno artigo para o jornal espanhol El Pais, Saramago desanca o regime castrista pela condenação de 75 dissidentes, muitos a penas de 20 a 25 anos de prisão, e pelo julgamento e fuzilamento sumários de três cubanos que tentaram sequestrar uma balsa para fugir para Miami. “De agora em diante, Cuba seguirá seu caminho e eu ficarei. Dissentir é um direito que se encontra inscrito com tinta invisível em todas as declarações de direitos humanos passadas, presentes e futuras. Dissentir é um ato irrenunciável de consciência. Pode ser que a dissidência conduza à traição, mas isso sempre tem que ser demonstrado com provas irrefutáveis”, escreve o português. “Não creio que se haja atuado sem deixar lugar a dúvidas no julgamento recente em que foram condenados a penas desproporcionadas os dissidentes cubanos. (...) Agora, chegam os fuzilamentos. Sequestrar um barco ou avião é um crime severamente punível em qualquer país do mundo, mas não se condena à morte os sequestradores, sobretudo tendo em conta que não houve vítimas. Cuba não ganhou nenhuma batalha heróica fuzilando esses três homens, mas perdeu minha confiança, arrasou minhas esperanças e frustrou minhas ilusões. Até aqui cheguei”, lamentou o escritor.

Nota do militanciaviva
O SAGRADO DIREITO AO  CONTRADITÓRIO, É UMA EXPRESSÃO UNIVERSAL E DIALÉTICA QUE O VERDADEIRO SOCIALISTA PROFESSA E DEFENDE COM RESPONSABILIDADE HISTÓRICA, E COM CORAGEM, SEM TITUBEAR.


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