A farda em farrapos
A
Polícia Militar é hoje uma das maiores ameaças à democracia que existem
no país. Resquício da ditadura, atua como guarda pretoriana das elites
mais retrógradas, agindo não para proteger a sociedade, mas de modo a
preservar uma ordem que privilegia os ricos e poderosos.
Seus
membros, formados na concepção de que o mundo se divide entre quem
manda e quem obedece, entre os homens de bem e seus inimigos, ocupam o
lugar que já foi, em tempos idos, daqueles jagunços abrutalhados que
seguiam as ordens dos coronéis enfurnados em seus longínquos e
inexpugnáveis feudos. Hoje, em lugar do rude gibão usam fardas vistosas,
às quais são adicionados coletes à prova de balas, cassetetes high
tech, sprays irritantes, pistolas e munição poderosas, rádios potentes e
viaturas velozes. Impõem, numa população indefesa, não o respeito, mas o
medo - o sentimento mais primitivo que habita o ser humano.
Aqui,
no Estado mais rico da federação, a cada dia que passa a corporação se
desmoraliza mais, se afunda mais em atos de brutalidade gratuita, em
atentados violentos contra a dignidade e os direitos humanos.
A
defesa para essa sucessão de infâmias cometidas nos últimos tempos é
sempre o cumprimento de uma ordem superior. Um argumento sem nenhum
sentido, já que existem muitas maneiras de se cumprir tais obrigações,
várias delas perfeitamente capazes de zelar pela integridade física e
psíquica das pessoas.
Agora, a sociedade se
informa, estarrecida, dos acontecimentos na Bahia, onde os PMs não fazem
uma greve, mas se sublevam, se amotinam contra as autoridades
constituídas, instauram o caos e a destruição.
Tal
episódio não pode ser tolerado. Tem de se constituir em exemplo para
que, no futuro, os aventureiros, fardados ou não, pensem muitas vezes
antes de agir.
Deve, ainda, servir para que as
pessoas que detêm o poder neste país entendam que uma força policial não
pode, em hipótese nenhuma, se julgar acima das leis pelo fato de ser
treinada e armada para matar, e deem um jeito de mudar esse status quo,
antes que seja tarde demais.
Policiais, civis e
militares, são apenas servidores públicos, tem uma função específica,
estão sujeitos a normas e regulamentos, a códigos de conduta, como
quaisquer outros funcionários da máquina estatal.
São
nossos empregados, seus salários saem dos impostos que pagamos com
tantos sacrifícios. Uma farda é apenas um uniforme, não um passaporte
para o arbítrio e a impunidade.
Por fim, uma pergunta ingênua: por que, na cidade de São Paulo, 29 das 30 subprefeituras são comandadas por ex-coronéis da PM?
*GilsonSampaio