Aposentado morre congelado por não poder pagar conta de energia elétricainShare
Um aposentado de 86 anos foi encontrado morto por congelamento dentro de seu carro na cidade de Flint, Michigan, EUA. John Morgan, ex-metalúrgico da indústria automobilística, morreu poucos dias após a companhia Consumers Energy ter cortado o fornecimento de energia elétrica por uma conta atrasada de $291 dólares.
De acordo com alguns amigos e vizinhos, Morgan usava a eletricidade de sua casa para recarregar a bateria de seu carro. Quando a energia foi cortada ele perdeu o aquecimento tanto de um quanto do outro, e provavelmente estava tentando se aquecer no veículo quando não resistiu. A autópsia confirmou as causas da morte por hipotermia e problemas de pulmão e coração.
De acordo com alguns órgãos de imprensa, quando a polícia chegou para recolher o corpo de Morgan os oficiais se depararam com um aviso de corte de energia logo na porta. Um representante da empresa justificou a ação dizendo que eles chamaram em sua casa mas que ninguém respondeu, e que não sabiam que Morgan era idoso.
No entanto, os vizinhos contestam esta alegação, dizendo que John morava naquela casa – que ele mesmo construiu – desde 1955, e que a empresa estava mandando as contas para a mesma pessoa por quase seis décadas.
Mas não é a primeira vez que algo assim acontece. Em 2009 o aposentado Marvi Shur, de 93 anos, da cidade de Bay City, morreu congelado depois que um redutor de consumo foi instalado no seu padrão de energia elétrica, e isso apesar de uma lei já ter proibido o corte de energia a idosos no período de inverno.
Esta morte desumana apenas evidencia a indiferença das empresas de energia elétrica e o caráter antisocial de sua ganância por lucros cada vez mais elevados. A Consumers Energy, companhia que matou John Morgan, cortou serviços básicos de 107.083 domicílios no ano de 2007. Em 2011 ela cortou gás e eletricidade de mais de 164.634 domicílios, o que representa um aumento de 50%.
Steve Walker, diretor do Departamento de Recursos de Ações Comunitárias, afirmou que os recursos do governo para evitar cortes de energia e dar assistência aos mais pobres se tornaram escassos nos últimos anos. Alguns programas já nem existem mais. Interrogado pelo jornalista Lawrence Porter da World Socialist Web Site se ele ficou surpreso pela morte de Morgan, ele respondeu: “Sabendo do que eu sei sobre a dimensão desta crise eu diria… eu estou chocado, mas não surpreso.”
Carro no qual John Morgan morreu congelado
Glauber Ataide
Índia: milhões em greve geral
Mobilização foi convocada pelas onze principais centrais sindicais do país, paralisando bancos, transportes e amplas áreas. Pode ter sido a maior greve geral já registada na história.
A greve geral realizada na Índia esta terça-feira pode ter sido a maior greve geral já registada na história do capitalismo. Como sempre, a imprensa tenta minimizar a participação e as consequências, mas as primeiras informações já nos permitem ter uma ideia da força da mobilização.
A greve geral foi convocada pelas onze principais centrais sindicais do país, paralisando bancos, transportes e amplas áreas, em particular os estados de Kerala, West Bengal, Andhra Pradesh e Tripura.
A população da Índia, de 1,2 bilhão, tem todos os motivos para desenvolver uma greve dessa envergadura, já que, mesmo após a vitória na luta anti-colonial derrotando o império britânico, a independência do país não conseguiu tirar a maioria da população da miséria em que vive. Mesmo o reacionário governo de Manmohan Singh é obrigado a reconhecer que é uma vergonha nacional a existência de nada menos que 60 milhões de crianças sub-nutridas.
Os trabalhadores lutam pela melhoria das suas condições de vida. Levantam reivindicações como a elevação do salário mínimo para 20 mil rupias, pelo direito ao trabalho, pela efetivação dos 50 milhões de trabalhadores temporários
Segundo sindicalistas, o centro financeiro do pais, Mumbai, foi completamente paralisado e até os taxistas aderiram à greve. Ninguém sabe ainda quantos milhões aderiram à greve, mas, para se ter uma ideia, basta lembrar que na greve geral de 2010 foram 100 milhões. E que nas últimas duas décadas, esta é a 14ªa greve geral.
Crise no meio de uma guerra civil e do ascenso operário
A greve geral é, nos factos, a comprovação da existência de uma crise revolucionária no momento em que ela se desenvolve. Cria uma situação de dualidade de poderes onde o governo não governa, os políticos não podem fazer politicagem e as armas do aparelho repressivo do estado, mesmo sendo utilizadas, não conseguem reprimir a rebelião momentânea. Enquanto dura, são os 99% que impõem a sua vontade, demonstrando a impotência dos 1% de capitalistas.
A greve geral deste dia 28 ocorre num pais que vive uma guerra civil escamoteada, onde a guerrilha maoísta domina amplas áreas do pais e os confrontos armados são constantes. Um país com milhares de etnias em franca rebelião com o que chamam de “centro”, o governo, como é o caso de Caxemira, região onde os protestos são permanentes.
A população da Índia está cansada da visceral corrupção do país, encarnada no governo de Manmohan Singh. Mesmo que a imprensa mundial diga que a economia indiana cresce, no quotidiano o que se vive é um processo inflacionário que deteriora as condições de vida de uma população paupérrima
Nesse sentido, a greve geral não é apenas um poderoso movimento por melhorias nas condições de vida, mas também um violento soco no estômago do governo.
O recente desenvolvimento de setores económicos criou também o mais jovem proletariado do planeta. Uma força composta de jovens, que não estão amordaçados pelas burocracias que infestam os sindicatos. Um proletariado que, a exemplo do chinês, se constituiu num dos mais poderosos do globo e que ensaia os seus primeiros passos. A Índia é, hoje, o país mais jovem da terra.
A greve geral abriu, certamente, um novo período da luta dos trabalhadores indianos. No momento em que se vive um poderoso ascenso do movimento operário mundial, com as revoluções do mundo árabe, a mobilização que se desenvolve na China e com a resistência dos trabalhadores europeus e americanos, não será novidade se o jovem proletariado indiano se levantar para derrubar o governo de Singh. Avançando, assim, naquela que, junto com a chinesa, promete ser uma das mais significativas revoluções da história moderna. Definitivamente, devido ao lugar que a China e a Índia passaram a ocupar na atual divisão mundial do trabalho, as revoluções que estão em marcha nesses dois países provocarão as mudanças mais radicais na história deste século.
Resta lembrar também que a revolução, em marcha na Índia, ocorre num país onde, na prática, o aparelho de estado e, comparativamente fraco, não dispondo de tantos recursos para controlar e reprimir com mão de ferro todas as rebeliões no pais. O melhor exemplo disso é que, em apenas alguns anos, a guerrilha maoísta passou a ser o governo, na pratica, de vastas áreas do país.
Acampamento de sem-tetos revela desigualdade social nos EUA
“A maioria das pessoas pensa que alguém se torna sem-teto porque é viciado em drogas ou em álcool. Não é verdade. Elas se tornam isso ou pioram depois que se tornam sem-tetos.” (Alanna, 23 anos, norte-americana sem-teto)
Situado em região arborizada, fora da vista da rodovia principal da cidade de Ann Arbor, Michigan, o acampamento Take Notice é sintomático do agravamento das desigualdades sociais nos EUA e do completo colapso do sonho americano. As histórias de seus habitantes é um retrato devastador da insegurança social encontrada por milhões de pessoas nos EUA.
Rick, 50, por exemplo, explicou à equipe de reportagem do World Socialist Web Site que visitou o local que ele era um bombeiro hidráulico até 2008, quando o setor da construção civil quebrou. Depois da devastadora queda de sua renda ele foi preso por não conseguir pagar pensão alimentícia de seus dois filhos em 2010. Em agosto, sem perspectiva de trabalho e não querendo ser um peso para sua família, ele decidiu se mudar para Ann Arbor e viver no acampamento. Ele iniciou sua viagem de 241 km de bicicleta, mas depois que ela quebrou teve que ir pegando caronas até chegar ao seu destino.
Jocelyn, 40, era babá e cuidadora de idosos até ser gravemente ferida em um acidente de carro. Ela tentou voltar ao mercado de trabalho através de um programa chamado WorkFirst, mas diz: “tantos precisam mas tão poucos conseguem. Um único deslize pode ser fatal”. O estigma de ter uma passagem por assalto à mão armada, ela explica, pode impedir alguém de conseguir até aquelas vagas que exigem as mais baixas qualificações técnicas.
Suas dificuldades se multiplicaram quando o apartamento de quatro quartos que ela possuía com seu marido em Romulus, Michigan, foi tomado. Seu relacionamento com seu parceiro, um veterano com múltiplas escleroses, rapidamente se deteriorou. “Tudo foi pelo ralo”, ela diz. “Perdi minha casa. Fui separada por causa de finanças, estresse e contas. Então todos nos separamos e perdi minha família.”
Ao mostrar o acampamento à equipe de reportagem, Jocelyn descreveu como é viver sem água encanada e sem banheiros. “Eu não fui ao banheiro por cinco dias quando cheguei aqui e adoeci por causa disso”. Ela disse que tinha medo de dormir porque os tanques de propano usados para manter as barracas aquecidas podem explodir em um incêndio. Os moradores guardam estes tanques dentro das barracas ao invés do lado de fora porque eles podem ser roubados.
Alanna, 23, que está no acampamento há duas semanas, diz que ela e seu noivo vivam em outro acampamento, em uma barraca com muito mofo. “Ficávamos coçando o rosto todas as noites. Estou tossindo desde outubro.”
O acampamento conta também com pouca comida. Segundo Jocelyn, “comida é algo difícil por aqui. As igrejas trazem alguma coisa mas a gente não tem conseguido muito.”
“Isso é ridículo”, diz Alanna. “Quando estava na escola ninguém me ensinou como fazer finanças ou conseguir moradia. Eles dão aulas de educação sexual mas não de como viver. Eu formei no segundo grau e tentei uma faculdade, mas tive um problema em minha coluna e não posso me rematricular porque devo $1.200 dólares e não consigo financiamento. Eu não tenho passagens pela polícia. Poderia estar no topo do mundo se tivesse oportunidade!”
“Se você precisa de experiência para arranjar um emprego, mas não pode arranjar um emprego para ganhar experiência, então o que você pode fazer? Eu gostaria de voltar para a escola. Quero ser uma cosmetologista, uma assistente social ou uma enfermeira, mas estou encurralada e não sei como sair.”
Grit é um outro morador do acampamento, de idade avançada. Ele agora trabalha como vendedor ambulante do Groundcover News, um jornal relativamente novo da cidade de Ann Arbor que publica histórias de e sobre os sem-tetos. Ex-funcionário da Ford, Grit diz que sua mãe, seu pai, irmãs e tios trabalharam todos na Ford, e que pode mostrar os contra-cheques de sua família remontando à década de 1930.
Jocelyn disse que ficou surpresa ao chegar ao acampamento porque muitos dos sem-tetos são bem mais jovens e bem aparentados do que o velho estereótipo do “vagabundo”. Alanna concordou e disse: “A maioria das pessoas pensa que alguém se torna sem-teto porque é viciado em drogas ou em álcool. Não é verdade. Elas se tornam isso ou pioram depois que se tornam sem-tetos.”
Uma grande contradição é que a cidade de Ann Arbor, que abriga este acampamento, tem uma renda média de $52.711,00 dólares anuais, ligeiramente acima da média nacional. Na cidade também se encontra a Universidade de Michigan, que está listada entre as 20 melhores do mundo. Neste mês a cidade foi escolhida pela revista Kiplinger’s Personal Finance como “A melhor cidade para solteiros no país”. Além disso, ela é com frequência listada em listas do tipo “melhores de”, e foi recentemente incluída nas seguintes: “Melhores cidades na América para se encontrar emprego”, “10 cidades mais escolarizadas”, “10 lugares mais acessíveis para se viver” e “10 melhores lugares para se ter família”. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que caíram abaixo da linha da pobreza no censo de 2010 foi de 20%, que são seis pontos percentuais acima da média nacional.
Glauber Ataide
*AVERDADE