É espantoso como a
maioria dos paulistanos não tem a capacidade de relacionar a péssima
qualidade de vida em São Paulo ao desempenho dos governantes que elege. O
PSDB chuta-lhes o traseiro há uns 20 anos e eles quase que se desculpam
por oferecê-lo seguidamente, a cada eleição. Muitos filmam o caos em
que vivem pelo celular, guardam de recordação ou publicam no Youtube!
Enchentes, congestionamento humano surreal nas estações do metrô,
trombadinha atacando vítima, traficante vendendo droga, assaltante em
ação… E quando chega na frente da urna, “alguma coisa acontece em seus
corações” e lá vão eles, de novo, no mesmo PSDB! Ser conservador,
reacionário ou um idiota completo em São Paulo, não tem origem na
educação, raça ou nível social. É resultado de uma longa e profunda
convivência com a mídia paulista.
A maioria dos paulistas
não liga para política e políticos porque “tem mais o que fazer”. E
quando não dá pra fugir do assunto, faz cara de esperto e sentencia:
“todos os políticos são iguais; todos roubam”. Vão naquela linha do
“poder que corrompe” etc… Enganam os mais distraídos, já que não querem
ou não têm conhecimento para se aprofundar na questão. Para não se darem
ao trabalho de pensar, comparar candidatos e toda essa chatice, muitos
paulistas vão de “Coca-Cola” – o candidato que conhecem desde a
infância. Neste caso, os “Coca-Cola” são José Serra, Geraldo Alckmin.
Maluf também foi um grande “Coca-Cola”. Íntimos que são de seus
eleitores igualmente “Coca-Cola”, os tucanos paulistas não mudam o
discurso usual “te engano porque você gosta”. Bastou Serra anunciar-se
candidato à prefeitura usando as habituais manobras rasteiras dentro do
próprio partido, para que o paulistano o elevasse imediatamente a
favorito disparado nas pesquisas. E mesmo que o eleitor se esconda da
informação, ela lhe bate na testa há anos: até os marcianos sabem que da
última vez, Serra não governou nem cumpriu mandato algum, focado que
estava em sua eterna escalada rumo ao Palácio do Planalto. Além disso,
largou a prefeitura nas mãos do desqualificado mais oportunista que
gravitava em sua órbita. Kassab tornou-se o pior de todos os prefeitos
que já passaram por esta cidade, na avaliação de seus moradores que… o
reelegeram em 2008!
São Paulo tem muito
pobre que come carne de pescoço e arrota caviar. Este tipo acredita que
enriquecerá “junto” com o patrão. Por isso rouba na balança contra o
freguês. É o tal “negro de alma branca” – que prefere catar as migalhas
que caem do bolso do feitor a almejar igualdade de direitos e
oportunidades para seus semelhantes sociais ou raciais. Acha que
educação para pobre é perda de tempo. Por isso bota seu filho pra
trabalhar o mais cedo possível, traçando-lhe o mesmo destino do pai
desde a adolescência. Acredita em Deus e vai à missa aos domingos. (Mas
admite com seus botões que do lado de fora da igreja, quem dá as cartas é
o Diabo.)
A maioria dos
paulistanos reconhece que viver em São Paulo é cada vez mais
insuportável. Não por culpa dos seguidos governos elitistas do PSDB, é
claro. Mas pelo crescimento desordenado da cidade provocado pela
“invasão de alienígenas nortistas e outras impurezas étnicas – inclusos
aí, filhos, netos e toda a parentada”. Por isso, é comum o cidadão
achar-se no direito de furar qualquer fila: desde a dos
congestionamentos até a dos supermercados. Se viaja enlatado no
transporte coletivo, a culpa do seu desconforto é do passageiro ao lado,
que invadiu “sua” cidade. (Em sua arrogância delirante, torce
secretamente para que surja alguma epidemia que dizime ¾ da população:
basicamente os negros e os nordestinos. Ah, sim, quase esquece:
inclua-se aí os mendigos e os gays.)
Muitos caem na conversa
de uma profissional de telemarketing e acabam assinando um desses
jornalões ou revistas decadentes que ainda circulam por aí. Mas logo no
segundo mês perdem o interesse na leitura: tirando as manchetes de capa,
a página que fala do seu time, quadrinhos e horóscopo (que consomem
numa única sessão no “trono sanitário”) o impresso nem se desmancha. E
mesmo constatando que não tiram proveito algum, mantêm sua assinatura.
Assim, mantêm também a ilusão de serem cidadãos bem informados. E o
ciclo ilusório se completa nas estatísticas das quais fazem parte e que o
dono do jornal empurra aos seus anunciantes.
Esse paulista foi
convencido por idiotas das rádios, jornais e TVs igualmente paulistas,
que é um otário que paga mais impostos hoje do que em outras épocas. Não
lhe passa pela geléia do cérebro que o número garrafal exibido no
impostômetro da rua Boa Vista é fruto da política de aquecimento do
consumo interno que protege nossa economia do vírus neo-liberal – o
mesmo que arrasa metade do planeta. Fizeram-no acreditar também que São
Paulo é a tal “locomotiva” que carrega o Brasil nas costas. Para ele,
“desde o Brasil Império já havia oportunidades para todos de norte a sul
do país – seja nas escolas, seja no mercado de trabalho”. Por isso
odeia os programas sociais do Governo Federal que “sustentam vagabundos
que passam o dia bebendo pinga e jogando sinuca enquanto ele dá um duro
danado”.
O paulistano ama seu
automóvel – embora sempre esteja disposto a trocá-lo por um modelo mais
novo. Adora passear a uma velocidade de 20 km por hora em média durante
1h30 também em média quando se dirige ao trabalho. Xingue sua mãe,
cobice sua esposa, tire sarro do seu time que perdeu de goleada… mas
nunca, jamais risque ou amasse seu carro! Porque, acima de tudo, este é
seu verdadeiro governante. É o fiel parceiro que acomoda o traseiro
daquela mulher-objeto, que está sempre disposta a deixar-se seduzir
quando o motorista confunde seu joelho com o cambio e acelera em direção
a um motel qualquer. No embalo da última do Teló…
No blog O que será que me dá?
*Mariadapenhaneles