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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 04, 2012

Erundina: “Política se faz com símbolos”

Veja a seguir a edição do vídeo da entrevista com a deputada federal Luiza Erundina (PSB), produzido pelo Fora do Eixo, e realizada por este blogueiro sujo e pelo colega Sérgio Amadeu. Com esta entrevista, lançamos a TV Fórum. A ideia é que a cada semana seja realizado um programa com pelo menos uma hora de duração ao vivo.
 
 
*comtextolivre

A DIireita se assanha contra o Mercosul

Em artigo famoso, Assis Chateaubriand qualificou, há 60 anos, os industriais de São Paulo de seu tempo, reunidos na FIESP e no Centro das Indústrias do Estado, como os fazedores de crochê. A FIESP decidiu contratar o ex-embaixador Rubens Barbosa como seu pensador político e porta-voz corporativo ao mesmo tempo. O diplomata, conhecido por sua posição francamente neoliberal, vem combatendo, com irritante insistência, a política externa brasileira, mesmo que o Itamaraty, sob o chanceler Antonio Patriota, tenha deixado de ser o que foi sob o governo Lula.
Barbosa acusou, ontem, sábado, a Argentina de estar destruindo o Mercosul, ao transformá-lo em instrumento político, em detrimento de sua natureza comercial, e criticou a inclusão da Venezuela no bloco. Talvez porque os grandes empresários de São Paulo, desde sempre, se nutrem do Estado, ele não atacou diretamente o governo brasileiro, nestas declarações mais recentes. O ex-embaixador em Londres e Washington – durante o governo Fernando Henrique - está sendo coerente com a sua posição ideológica e seu alinhamento conhecido aos interesses das grandes finanças. Mas, pelo que parece, está prestando mau serviço à indústria de São Paulo, que tem, na Venezuela, um excelente mercado comprador. Só no ano passado, exportamos US$ 4 bilhões e 591 milhões, e importamos US$ 1 bilhão e 270 milhões, e o superávit comercial com aquele país de US$ 3 bilhões e 321 milhões.
Como está sendo costumeiro, no Brasil – a exemplo dos Estados Unidos – os altos funcionários do Estado se tornam consultores de grandes negócios, tão logo se aposentam. Esse foi o caminho de Rubens Barbosa que, além de chefiar seu escritório de consultoria, tornou-se presidente do Conselho Superior do Comércio Exterior da Fiesp. Mas, como vemos, seu ódio ao governo venezuelano, chefiado por Chávez, levou-o a essas declarações, que contrariam os interesses dos exportadores paulistas.
A manifestação de Rubens Barbosa confirma a orquestração da direita, nacional e internacional, contra a entrada, automática – diante da ausência do Paraguai – no Tratado do MERCOSUL. Ora, daqui a poucos meses serão realizadas eleições presidenciais na Venezuela e, conforme as pesquisas, o presidente Chávez, debilitado pela enfermidade, talvez possa ser derrotado pelo seu oponente, Henrique Capriles. Se isso ocorrer, o novo presidente poderá, se quiser, deixar o Mercosul e alinhar-se totalmente aos Estados Unidos. Não há nada, portanto, para que Rubens Barbosa faça do episódio uma tragédia.
O novo governo paraguaio ameaça deixar o Mercosul, mas o povo paraguaio não o acompanha, se dermos crédito aos comentários dos leitores dos jornais. O diário Última Hora, de Assunção, em seu lúcido editorial de ontem, recomenda a Federico Franco, e a seu chanceler, moderar a linguagem e buscar bom entendimento com os vizinhos. Com quase unanimidade, seus leitores responsabilizam os golpistas do Parlamento pelas medidas tomadas pelos países vizinhos.
Os oligarcas do Paraguai ameaçam deixar a Unasul e o Mercosul, e isolar-se – e esse é um direito do país -, mas é improvável que o povo os acompanhe. O Paraguai sabe que terá de se entender com os vizinhos, mesmo porque depende dos portos de Buenos Aires e de Paranaguá para o seu comércio internacional.
Os mais extremados sonham com uma aliança descarada com os Estados Unidos e a transformação do país em uma espécie de Israel, a ser armado e financiado pelo dinheiro americano. Outros falam em uma associação do país com a China. É claro que não podemos subestimar os ardis dos norte-americanos, que gostariam de transformar o Paraguai em uma base militar contra a América do Sul.
Mas, como disse, certa vez, o então governador Tancredo Neves a um embaixador norte-americano, o Brasil – apesar dos quislings e vassalos dos estrangeiros - é bem maior do que o Vietnã. 
*comtextolivre

terça-feira, julho 03, 2012

Golpes e a pedagogia do Mercosul

Por Gilson Caroni Filho, no sítio Carta Maior:

Ao decidir suspender o Paraguai e incorporar a Venezuela como membro pleno do Mercosul, Brasil e Argentina sinalizaram para o aprofundamento do conceito de democracia na América Latina. Uma decisão que nos compromete no fluxo da vida, pela responsabilidade que criamos em relação a novas possibilidades de presente e futuro.

O neogolpismo e a velha mídia

As viúvas de abril de 64 mostram as unhas: após 'bronca' de Dilma, militares endurecem reação ao governo

Número de assinaturas em manifesto militar com críticas a ministras da presidente saltou de 98 para 235; Planalto decidiu punir quem aderiu ao documento.

As viúvas de abril de 64 mostram as unhas...
BRASÍLIA - Não será fácil para os comandantes militares resolverem o imbróglio criado pela presidente Dilma Rousseff que decidiu punir todos os militares que assinaram o manifesto "Alerta à Nação - eles que venham, por aqui não passarão", que endossa as críticas a ela por não ter censurado suas ministras que pediram a revogação da lei de anistia. No novo documento os militares dizem ainda que não reconhecem a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim. Inicialmente, o manifesto tinha 98 assinaturas e na quinta-feira, após terem tomando conhecimento da decisão de puni-los, o número de seguidores subiu para 235. Agora são três os generais de exército da reserva que assinam o manifesto e um deles é o ex-ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Valdésio Guilherme de Figueiredo, adicionando um ingrediente político à lista, não só pelo posto que ocupou,mas também como antigo integrante da Corte Militar, tem pleno conhecimento de como seus pares julgam neste caso.

Nessa quinta-feira, 1º, o Ministério da Defesa passou o dia discutindo com que base legal os militares podem ser punidos. Nova reunião foi convocada pelo ministro Celso Amorim e os comandantes militares. Mas há divergências de como aplicar as punições. A Defesa entende que houve "ofensa à autoridade da cadeia de comando", incluindo aí a presidente Dilma e o ministro da Defesa. Amorim tem endossado esta tese e alimentado a presidente com estas informações. O ministro entende que os militares não estão emitindo opiniões na nota, mas sim atacando e criticando seus superiores hierárquicos, o que é crime, de acordo com o Estatuto dos Militares.
Só que, nos comandos, há diferentes pontos de vista sobre a lei 7.524, de 17 de julho de 1986, assinada pelo ex-presidente José Sarney, que diz que os militares da reserva podem se manifestar politicamente e não estão sujeitos a reprimendas. No artigo primeiro da lei está escrito que "respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público".
Esta zona cinzenta entre as legislações, de acordo com informações obtidas junto a militares, poderá levar os comandantes a serem processados até mesmo por "danos morais", quando aplicarem a punição de repreensão, determinada por Dilma. Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve. Há quem acredite que o assunto deva ser resolvido de uma outra forma, a partir de uma conversa da presidente  com os comandante militares, diretamente, para que fosse costurada uma saída política para este imbróglio que, na avaliação da caserna, parece não ter fim, já que a determinação do Planalto é de que todos que já assinaram e que venham ainda a aderir ao manifesto sejam punidos.

Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo

O poder do fraco

Por um Estado laico, contra uma "república evangélica": religião e política nos limites da democracia


*OPensadordaAldeia

Bullying é a tentativa de destruir no outro aquilo que nos incomoda por dentro


Bullying é a tentativa de destruir no outro aquilo que nos incomoda por dentro

por Patricia Gebrim

As redes sociais acabam por facilitar o nosso reencontro com o passado. Ao menos é o que tenho vivido nos últimos dias, quando antigos colegas de escola criaram um grupo em uma rede social e estão marcando um reencontro após mais de duas décadas se terem passado.

Mensagens começaram a surgir. Fotos, lembranças... Impossível não recordar os velhos tempos! De repente ressurgem antigos apelidos e memórias que andavam soterradas sob as infinitas solicitações do dia a dia.

Tudo isso me fez pensar em um tema que, embora não seja atual, apenas recentemente tenha conquistado seu lugar: bullying.

Claro que na minha época também existia. Eu mesma passei pelo suplício de me deparar com a crueldade alheia, acreditem, embora naquela época não existisse um nome para isso. Como na nossa sociedade “o que não tem nome, inexistente é!”, prosseguiam livremente os atos arbitrários de pura maldade, com a anuência e, muitas vezes, colaboração dos adultos, até mesmo de professores. Em minha meninice eu não me cansava de perguntar o que fazia uma pessoa sentir prazer em ferir outro alguém. Que distorção monstruosa era aquela que se apoderava das pessoas? E que cegueira absurda era aquela que fazia com que tantos assistissem sem interferir?

É interessante pensarmos que nem sempre as vítimas de bullying são aquelas que apresentam alguma característica física diferente ou mais evidente. Na verdade são escolhidas como vítimas aqueles que possuem algum tipo de fragilidade, seja física ou emocional. Cabem aqui os mais sensíveis, os tímidos, os emocionalmente fragilizados; ou os que diferem em algum aspecto, e por seu comportamento diferenciado acabam por “incomodar” seus agressores.

Já os praticantes de bullying, tem um perfil diferente. Sentem prazer de ver e sentir o desprazer do próximo. Buscam a aprovação do grupo a qualquer custo. Fazem uso da fragilidade alheia para se sentirem com um controle e poder que, na certa, há muito escapara de suas mãos na vida. Bullying é um ato consciente, hostil, repetitivo e deliberado que tem um objetivo: ferir os outros e angariar poder através da agressão.

Adultos, envolvam-se

Pensando nisso tudo, me dei conta do quanto nós, adultos, precisamos nos comprometer e ficar presentes juntos aos nossos filhos, não importa o lado que ocupem nesse triste espetáculo que destrói tanta gente.

Se forem eles vítimas de crueldades, se estiverem sendo atacados verbal ou fisicamente, se estiverem sendo excluídos do grupo, se estiverem recebendo ameaças ou sofrendo com gozações, insultos e apelidos maldosos, se tiverem seus pertences roubados ou destruídos... Saiba que estarão se sentindo extremamente sós, confusos, provavelmente acreditando que deva de fato existir algo de errado com eles, algo que justifique tanta agressão. Precisamos nos envolver, ajudá-los a perceber que não merecem aquele tratamento e que não estão sozinhos. Devemos estimulá-los a contar quando tais atos acontecerem e confiar que receberão ajuda dos pais e da escola. Não abandone seus filhos. Não exija que eles resolvam sozinhos essa situação. Feridas assim podem deixar marcas por toda uma vida. Ajude-os. Comprometa-se!

E se forem seus filhos os agressores, não fechem os olhos, eles também precisam de ajuda para lidar com essa distorção que os torna cruéis e destrutivos.

Busque as raízes dessas atitudes, questione, faça com que assumam a responsabilidade por seus atos, não os acoberte. Procure ensiná-los a encontrar dentro deles a parte que pode ser mais amorosa e justa, a parte capaz de respeitar, a parte capaz de perceber a dor que estão causando ao outro. A parte que é capaz de sentir dor quando o outro sofre.

Precisamos ajudar, vítimas e agressores, a se curarem, a reconhecerem tanto sua força quanto a sua fragilidade, a aprenderem que todos nós carregamos em nosso íntimo aquilo que mais incomoda nos outros. Precisamos ajudá-los a reconhecerem e assumirem suas sombras, diferenças e deficiências, sem precisar projetá-las em alguém fora deles, a quem passam a perseguir e querer destruir.

Todo ato de destruição trata-se de uma triste tentativa de matar no outro o que não suportamos em nós mesmos.

Claro que o tempo passa. Aliás, nesta vida, tudo passa. Que bom!

Hoje mesmo olho para trás e mal me reconheço naquela menina tímida e dentuça. Ainda assim, me estendo através do tempo e a pego com carinho no colo enquanto sussurro em seus ouvidos:
- Ei menina... Você não está mais sozinha!

Feliz, ela passa os bracinhos em volta do meu pescoço e seguimos juntas pela vida, com essa espadinha de justiça disfarçada de caneta (ou mouse) em mãos, convidando a todos para uma brincadeira diferente, na qual TODOS, sem exceção, divirtam-se juntos. Na qual o riso de uns não venha à custa da dor ou sofrimento de outros, na qual possamos celebrar juntos a amizade e o companheirismo, aceitando e honrando as diferenças, dando aos nossos companheiros de vida o respeito que todos merecemos ter.

- Quer brincar comigo?
*Mariadapenhaneles

Charge do Dia