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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, julho 23, 2012

BRASIL X ARGENTINA. POR QUE NÃO USAR DIVISAS LOCAIS PARA CONSOLIDAR O MERCOSUL?

 



O La Nación informa que o Brasil acaba de liberar a entrada de 6500 veículos fabricados pela FIAT em Córdoba, que estavam retidos na fronteira. Já que o problema de Cristina Kirchner é economizar dólares para fazer frente aos seus compromissos externos, o governo brasileiro poderia retomar – de fato – a velha proposta de receber em pesos as vendas brasileiras para a Argentina, e pagar, aqui, em reais, aos exportadores. Com isso, quem sabe, acabam as barreiras argentinas aos produtos argentinos na fronteira, esvazia-se o discurso deles com relação aos superávits brasileiroa, e acaba o principal obstáculo para a consolidação do Mercosul. Os pesos obtidos com a exportação de produtos brasileiros poderiam ser usados para pagar aos argentinos por serviços de turismo, de reparo de navios, ou pelo potássio que a Vale vai tirar, a partir de agora, do Projeto Rio Colorado. O Brasil não está propriamente desesperado para botar a mãos nos dólares argentinos. Temos 375 bilhões de dólares no banco. Do jeito que está, a única coisa que temos conseguido é eliminar vagas em nossas indústrias e aumentar a compra de produtos chineses, dos dois lados da fronteira.


Record denuncia negócios
do dono do Globope

A reportagem do Domingo Espetacular mostrou como Montenegro ganhou bilhões de reais com negócios suspeitos com a exploração particular de um serviço público.
PHA

A Foto do Mico do Coiso

Foto: Marcos Alves -

Entidades de Direitos Humanos pedem providência para as ações da polícia em São Paulo

No BlogProg SP

Mensalão: verdades e mentiras

Em junho de 2005, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acusou o PT de “pagar mesada” a mais de 100 deputados da base aliada para que estes votassem a favor do governo no Congresso Nacional. Segundo ele, a “compra de votos” era feita com dinheiro público. Jefferson batizou o suposto esquema de “mensalão” e disse que o “cabeça” era o então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu.
As denúncias de Jefferson jamais foram comprovadas. Nem ele, nem as três CPIs que trataram do assunto, nem o Ministério Público Federal, nem a Polícia Federal, nem as dezenas de investigações paralelas da imprensa e dos órgãos de fiscalização conseguiram reunir elementos que sustentassem as acusações.
Apesar disso, os adversários do PT (Folha, Veja, Demóstenes e cia.) mantiveram a farsa. E há sete anos repetem diariamente, a seus leitores e eleitores, que o “mensalão” existiu, que o PT é uma “organização criminosa”, que o governo Lula foi o “mais corrupto da história” e que José Dirceu era o “chefe da quadrilha”.
Contra a farsa, a mentira e a ficção, nossa arma mais poderosa são os fatos.
1. O PT pagou mesadas a parlamentares da base aliada.
MENTIRA
Fatos: O PT ajudou partidos aliados a quitar dívidas de campanha nos estados, relativas às eleições de 2002 e 2004. Em alguns casos, conforme assumido publicamente em entrevistas e depoimentos, a ajuda não foi declarada à Justiça Eleitoral. Nunca houve pagamentos mensais.
2. O dinheiro era para comprar votos de deputados da Câmara Federal.
MENTIRA
Fatos: Nem Roberto Jefferson, nem as investigações posteriores, nem a denúncia do Ministério Público ao STF conseguiram estabelecer ligações entre as datas dos depósitos bancários e as votações na Câmara. Pelo contrário: existem datas em que os saques coincidem com derrotas do governo em votações importantes.
3. Houve desvio de dinheiro público.
MENTIRA
Fatos: As transferências para que aliados quitassem dívidas de campanha, que a mídia chama de mensalão, não envolveram dinheiro público. O dinheiro veio de empréstimos feitos junto aos bancos privados Rural e BMG. Por absoluta inconsistência, a acusação de desvio de dinheiro público contra os principais nomes do processo, entre eles José Dirceu, já foi derrubada no STF.
4. Para “bancar o esquema”, o BMG recebeu benefícios do governo.
MENTIRA
Fatos: Todas as instituições de fiscalização e controle, entre elas o TCU (Tribunal de Contas da União), atestam que não houve qualquer favorecimento ao BMG.
5. O “mensalão” foi o “maior esquema de corrupção da história do Brasil”.
MENTIRA
Fatos: Não houve “mensalão” e não houve esquema de corrupção. Se houvesse, estaria longe de ser o maior da história. O livro A Privataria Tucana, lançado no final do ano passado, fala em falcatruas de bilhões de dólares ocorridas durante as privatizações do governo FHC. O livro está fartamente documentado e virou best-seller, apesar de a mídia e seus articulistas fazer de conta que o livro não existe.
No Tatianeps
*comtextolivre

China propõe aliança estratégica ao Mercosul: um dragão no quintal

 

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Raúl Zibechi
A crise política no Paraguai e suas repercussões na região deixaram a visita do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e a renúncia no principal cargo do Mercosul em um segundo plano da agenda de notícias. A China mostrou que está disposta a jogar pesado, inclusive na principal área de influência dos Estados Unidos.
A polêmica após o golpe no Paraguai, a suspensão do país do Mercosul e o ingresso da Venezuela não conseguem disfarçar as dificuldades do bloco, aflito pelas consequências da crise global e a ascensão da China como potência global. A aliança está parada porque o que convém para uns prejudica outros.
A expressão das dificuldades foi a demissão do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral do Mercosul, na recente cúpula em Mendoza. Em sua carta de despedida trazia uma análise lúcida da realidade atual do bloco.
Observa-se que a crise econômica na Europa e EUA e a ascensão da China geram um enorme fluxo de capital para o sul, que "corroi as relações intra-Mercosul, base principal do processo de integração". A desindustrialização, diz ele, é uma das piores conseqüências e deve ser tratada através dos recursos da exportação de commodities.
Expansão gradual
Em um dos parágrafos mais polêmicos, Pinheiro disse que a Unasul "não pode ser a pedra fundamental para a construção do bloco econômico na América do Sul" porque o Chile, Colômbia e Peru assinaram Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos que impossibilitam a construção de políticas regionais de promoção do desenvolvimento.
Assim, acredita que o bloco regional deve ser formado "a partir da expansão gradual do Mercosul", incluindo Venezuela, Equador, Bolívia, Suriname e Guiana. O último deve ter condições de entrada especiais por conta de seu baixo nível de desenvolvimento e interesse político que têm para a região.
Para avançar, diz o embaixador, o bloco deve aumentar de forma significativa a coordenação política e a cooperação econômica. “A característica central do Mercosul são as assimetrias”, que provocam tensões políticas. Aposta numa forte expansão dos recursos do Fundo para a Convergência Estrutural, para favorecer os menores, que atualmente conta com apenas 100 milhões de dólares anuais.
Talvez o momento mais brilhante de sua carta seja o parágrafo 34: "Em um mundo multipolar em crise, com grandes mudanças no poder, não é de interesse de nenhum bloco e de nenhuma grande potência a criação ou fortalecimento de um novo bloco de Estados, especialmente se forem periféricos. Qualquer grande potência considera mais apropriado negociar acordos com os Estados individualmente, especialmente se eles são subdesenvolvidos, mais fracos econômica e politicamente".
Apenas os membros do Mercosul estão interessados ​​em seu bloco. No entanto, quando foi criado em 1991 não foi projetado como um organismo para apoiar o desenvolvimento, mas como uma união aduaneira para promover o livre comércio. A proposta de Pinheiro é que ele se torne capaz de promover um desenvolvimento regional harmonioso e equilibrado, eliminando assimetrias e construindo uma legislação comum de forma gradual.
Esta mudança é necessária porque as respostas dos países industrializados para a crise são “uma verdadeira suspensão, na prática, dos acordos da OMC negociados na época da hegemonia do pensamento neoliberal. Se o Mercosul não adotar essas medidas, vai sobreviver, mas sempre manco, e não se transformará em um bloco de países capazes de defender e promover os seus interesses neste novo mundo que emergirá da crise que vivemos”. O diagnóstico feito por um dos principais intelectuais do Brasil sugere que o mundo está entrando em um período de crescente protecionismo, daí a necessidade de formar fortes blocos comerciais internos.
China se anima
Wen Jiabao, primeiro-ministro chinês, visitou a região quando ocorreu o golpe no Paraguai. O ponto alto da sua visita ao Brasil, Uruguai e Argentina foi a videoconferência realizada de Buenos Aires na segunda-feira, 25 de junho, com Dilma Rousseff, Cristina Fernandez e José Mujica.
De acordo com a agência Xinhua China, o primeiro-ministro fez três propostas: fortalecer a confiança mútua e a comunicação estratégica com o Mercosul; duplicar o comércio para 2016, chegando a 200 bilhões de dólares; aumentar investimentos e cooperação financeira e tecnológica, promovendo as relações bilaterais no domínio da educação e cultura (Xinghua, 25 de junho de 2012).
A proposta de Wen Jiabao foi interpretada por seus interlocutores como o que realmente é: uma grande aliança estratégica que inclui também um Tratado de Livre Comércio China-Mercosul. A destacar que o Paraguai deveria ser suspenso do Mercosul, uma vez que não tem relações com a China. Dois dias depois, deu uma palestra principal da CEPAL, em Santiago, Chile.
Sua proposta dirigida a América Latina e Caribe consiste em “combater o protecionismo”, “aprofundar a cooperação estratégica” e abrir novos mercados com o objetivo de que o intercâmbio comercial bilateral “supere os 400 bilhões de dólares nos próximos cinco anos” (Xinghua, 26 de junho de 2012). Ele propôs uma cooperação em que a China dará uma contribuição inicial de 5 bilhões de dólares e uma linha de crédito de 10 bilhões, do Banco de Desenvolvimento da China, para a construção de infraestruturas.
Também propôs uma ampla cooperação agrícola e estabelecimento de um mecanismo de reserva alimentar de emergência, de 500 mil toneladas, destinadas a contingências naturais, incluindo a instalação de centros de pesquisas e desenvolvimento em ciência e tecnologia agrícolas.
A oferta parece tentadora no momento em que o Mercosul atravessa grandes dificuldades. A CEPAL elaborou um documento chamado “Diálogos e cooperações aos novos desafios mundiais”, que analisa as possibilidades que se abrem na região para a ascensão da China. Alicia Barcenas, Secretária Executiva da CEPAL, disse no prefácio que a região está enfrentando uma oportunidade histórica de dar um salto em inovação, infra-estrutura e recursos humanos, ou "traduzir os rendimentos dos recursos naturais em várias formas de capital humano, físico e institucional. "
Para dar este salto deve atrair investimento direto da China, que lhe permite diversificar as exportações. Das 40 seções incluídas no documento, uma deve ser especialmente atendida com a participação dos países da América do Sul: em 2030 dois terços da população de classe média vai viver na região da Ásia-Pacífico, em comparação com apenas 21% na Europa e América do Norte.
Consequentemente, a classe média asiática se transformará em “mercado chave para alimentos, confecções de maior qualidade, turismo, remédios, serviços médicos, varejo e artigos de luxo”, o que permitirá que a América Latina diversifique suas exportações e lhes some valor agregado. Acrescenta que a internacionalização do yuan pode beneficiar a região e que a China se tornou seu segundo parceiro comercial.
Por una agenda regional
Dentre as constatações, destacou que a ascensão da China para a região da América do Sul pode ampliar os ciclos favoráveis ​​de comércio que tem vivido desde 2003. “Se não se aproveitar agora, poderá acentuar o processo de reprimarização da exportação, estabelecendo modalidades renovadas do vínculo centro-periferia”.
A CEPAL aponta a necessidade de estabelecer uma "agenda regional de prioridades sincronizadas", que supere as iniciativas unilaterais. Em outras palavras, o que importa é o que ele chama de "desafio interno". Neste ponto decisivo, a análise de Samuel Pinheiro e da CEPAL coincidem plenamente. No entanto, a guerra comercial entre os membros do Mercosul continua sendo um fator desestabilizador.
Muitas vezes, as divisões vão da escala econômica à política. A entrada da Venezuela decidida na cúpula de Mendoza provocou reações encontradas. É o tipo de problema referido por Pinheiro: falta de confiança, falta de visão estratégica, domínio das questões locais sobre as gerais e do curto prazo sobre o longo, além de incapacidade em compreender as mudanças globais. Em outras palavras, é a prevalência de "politicagem". O que está em jogo é muito mais importante e nem todos parecem entender.
Raul Zibechi, jornalista uruguaio, é docente e pesquisador na Multiversidade Franciscana da América Latina, e assessor de vários grupos.
Tradução: Daniela Mouro, Correio da Cidadania.
Retirado de América Latina en Movimiento.
*GilsonSampaio
Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais
Rodrigo Pinto
Da BBC Brasil em Londres


Imagem: Agencia Brasil

Os super-ricos brasileiros detêm o equivalente a um terço do Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas do país em um ano, em contas em paraísos fiscais, livres de tributação. Trata-se da quarta maior quantia do mundo depositada nesta modalidade de conta bancária.
A informação foi revelada este este domingo por um estudo inédito, que pela primeira vez chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos.
O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os super-ricos brasileiros somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) em paraísos fiscais.
O estudo cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor.
Em 2010, o Produto Interno Bruto Brasileiro somou cerca de R$ 3,6 trilhões.
'Enorme buraco negro'
O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais.
Henry estima que desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões para US$ 9,3 trilhões a "riqueza offshore não registrada" para fins de tributação.
A riqueza privada offshore representa "um enorme buraco negro na economia mundial", disse o autor do estudo.
"Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm ofrecendo este serviço"
John Christensen, diretor Tax Justice Network
Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países como México, Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais.
John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou à BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, pára enviarem seus recursos ao exterior.
"Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros", afirma.
"Isso aumentou muito nos anos 70, durante as ditaduras", observa.
Quem eniva
Segundo o diretor da Tax Justice Network, além dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais (mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos fiscais.
"As elites fazem muito barulho sobre os impostos cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos", afirma Christensen. "No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de impostos, só posso crer que estejam blefando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo".
Chistensen afirma que no caso de México, Venezuela e Argentina, tratados bilaterais como o Nafta (tratado de livre comércio EUA-México) e a ação dos bancos americanos fizeram os valores escondidos no exterior subirem vertiginosamente desde os anos 70, embora "este seja um fenômeno de mais de meio século".
O diretor da Tax Justice Network destaca ainda que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.
*GilsonSampaio

A corrupção impede o desenvolvimento do povo brasileiro

SONEGAÇÃO
R$ 1 trilhão em paraísos fiscais Brasileiros ricos detêm a quarta maior fortuna depositada em países onde não pagam impostos, como a Suíça e as Ilhas Cayman. Parte do dinheiro é oriunda da corrupção e saiu ilegalmente do país

MARIANA MAINENTI

Recursos estão aplicados, principalmente, em dólar, euro e franco suíço, considerados portos seguros (Pascal Lauener/Reuters)
Recursos estão aplicados, principalmente, em dólar, euro e franco suíço, considerados portos seguros
O Brasil é o quarto país com mais volume de recursos em paraísos fiscais e não declarados à Receita Federal. Em 2010, nada menos do que US$ 520 bilhões, o equivalente a R$ 1,05 trilhão, estavam depositados em bancos de países que operam à margem da legislação e incentivam a sonegação de impostos. O valor é equivalente a quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrado naquele ano (R$ 3,6 trilhões) e boa parte se refere a desvios por meio da corrupção.

O que esses brasileiros mais ricos mantêm nos paraísos fiscais corresponde a mais de 17 vezes o orçamento que o governo federal tem para executar em 2012 por meio do Plano Brasil Sem Miséria, pelo qual pretende tirar 16 milhões de brasileiros da extrema pobreza até o fim de 2014. Também corresponde a mais da metade de todos os recursos destinados nos quatro anos do mandato Dilma Rousseff ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2, principal instrumento do Executivo para ampliar os investimentos em infraestrutura e levantar o PIB do país.

Os dados foram divulgados ontem pela organização Tax Justice Network, que encomendou o estudo The Price of offshore Revisited ao consultor e ex-economista-chefe da McKinsey James Henry. Trata-se do mais completo mapeamento dos recursos investidos em paraísos fiscais, ou seja, não declarados às autoridades. Para fazer o cálculo, Henry utilizou dados fornecidos pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, o BC dos bancos centrais), pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial, além de governos nacionais.

Desigualdades
A fortuna não declarada pelos brasileiros no exterior só perde para a dos chineses, dos russos e dos coreanos. No total, 100 mil pessoas dos 20 países com maior volume de recursos depositados nas chamadas contas offshore detêm US$ 7,6 trilhões. Outros países latino-americanos, como México, Argentina e Venezuela, também aparecem nessa lista. De acordo com a Tax Justice Network, tratados de livre-comércio como o Nafta, entre Estados Unidos e o governo mexicano, fizeram com que os valores escondidos no exterior subissem vertiginosamente.

Levando-se em conta um universo de 139 nações e 10 milhões de investidores, a soma de recursos nos paraísos fiscais varia de US$ 21 trilhões, pela estimativa mais conservadora, a US$ 32 trilhões, na mais pessimista, o que corresponderia a um total entre US$ 190 bilhões a US$ 280 bilhões em impostos não recolhidos nos países de origem do dinheiro. O autor do estudo classifica a riqueza privada offshore como “um enorme buraco negro na economia mundial”. Henry ressaltou que a desigualdade no mundo é maior do que a estimada nos trabalhos já realizados sobre o tema, uma vez que todos eles não levam em conta tais valores.

Até o fim de 2010, os 50 maiores bancos privados administravam US$ 12,1 trilhões em ativos investidos além das fronteiras dos países de origem dos recursos. O volume era de US$ 5,4 trilhões em 2005, o que significa que “houve um crescimento anual da ordem de 16%” nesse período. Henry apontou que as instituições com maiores depósitos dessa natureza são o UBS, o Credit Suisse e o Goldman Sachs. Mas outras como Bank of America, JP Morgan e Citibank também oferecem o serviço.
“Essas instituições agem, principalmente, abordando as elites de países exportadores de riquezas minerais — inclusive, os africanos — para que enviem recursos ao exterior”, disse o diretor da Tax Justice Network, John Christensen. Além de o dinheiro não ser declarado nos países de origem e nos paraísos fiscais, o governo norte-americano — de onde provém a maioria das instituições administradoras de recursos — também não compartilha informações tributárias. Dessa forma, o trabalho da Receita Federal fica mais difícil.