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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sábado, outubro 27, 2012
O silêncio do povo
(Vá às urnas, Ministro!)
Raul Longo
Dos
anos da ditadura militar restaram-me silêncios inesquecíveis. Primeiro
foi o silêncio das ruas do bairro onde, ainda menino, morava com meus
pais. No rádio falava-se em revolução, mas ao invés de exaltações o que
vi e ouvi nas ruas foi um grande silêncio temeroso, contrastando com
galhofas e pegadinhas tradicionalmente empregadas em todo 1º de Abril
de anos anteriores a 1964.
Um
silêncio não sem razão, pois além de não ter graça nenhuma a mentira
pregada naquele 64 durou ¼ de século em que calou muitos outros
silêncios que até hoje ecoam em meus ouvidos pela lembrança de vozes
que nunca mais ouvirei. Eram vozes queridas e mesmo as que sobreviveram
nunca mais voltaram a ser tão alegres e desinibidas. Algumas até se
tornaram irrecuperavelmente soturnas.
Depois,
as mesmas rádios, as tevês, revistas e jornais falavam tanto de um
milagre econômico e da obrigação de se amar o país que comecei a ouvir
vozes estranhas em diversas daquelas bocas a princípio caladas. Não
eram vozes naturais e soavam como reprodução mecânica das máquinas de
divulgação de um progresso que eu não conseguia ver nas ruas, pois o
que via eram levas de silenciosos miseráveis a constituir favelas e
periferias, vindos dos interiores para construir pontes, viadutos,
túneis, estradas e metrôs.
Então,
bem tentei lembrar o sacrifício daqueles silenciados pela espoliação e
do custo daquele duvidoso progresso financiado e em benefício de
minorias nem sempre nacionais, mas que algum dia todos teríamos de
pagar. E onde tocava no assunto, eu era silenciado.
Assim
percorri o país, mas mais do que o silêncio que a mim impunham
doíam-me aqueles outros precedidos de urros e gemidos. Os silêncios
impostos pela morte, pelo desaparecimento ou pelo exílio. Quantas
dessas vozes perdi por todo o Brasil!
Mas
no decorrer da ditadura militar escutei dois silêncios que ainda mais
me impressionaram. Um deles foi quando cheguei a um comício do
“Movimento pelas Diretas Já” no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A
passarela de pedestres sob o Viaduto do Chá transformada em palanque
por Teotônio Vilela, Franco Montoro, Ulisses Guimarães, Mário Covas,
Brizola, Fernando Henrique Cardoso e outros mais.
Sobre
o viaduto e de um lado a outro do amplo vale, desde a Av. São João até
o início da Av. 9 de Julho, a maior multidão que até então eu já vira
reunida. Ouvimos o Lula dizer que se algum daqueles da passarela
aceitasse mais uma eleição indireta no Brasil, estaria traindo a todos
nós que ali escutávamos não somente ao líder sindical, mas a todos
demais políticos num silêncio oceânico. Um silêncio impossível em
tamanho agrupamento de pessoas, mas real e consistente.
De
fato fomos traídos e as vozes da mídia mais tarde nos convenceram ter
sido melhor assim, para depois nos empulharem com elogios a um “caçador
de marajás” e, ainda outra vez, com um poliglota a nos ludibriar em
diversos idiomas. Até aprendermos a ouvir em nosso silêncio, nossas
próprias vozes.
Já
o silêncio do povo durante a ditadura militar que recordo agora, é
mais pessoal e bem anterior, quatro anos depois daquele do primeiro 1º
de Abril silencioso que experimentei na vida. Não lembro o mês exato em
que se deu, mas recordo vivamente quando a cavalaria entrou na Praça
da Sé em meio ao nosso protesto contra o acordo MEC-USAID que, conforme
prevíramos, trouxe o sistema de educação pública do Brasil ao estado
calamitoso a que chegou.
Dispersamos
e como muitos outros me enfiei pela Rua Direita com o galope dos
cavalos atrás. A intenção era me meter nas Lojas Americanas,
aproveitando a saída para a Rua José Bonifácio do outro lado para dali
alcançar algum ponto de menor concentração policial. No entanto, uma
multidão encostada às grandes portas do magazine impedia a entrada.
Não
havia tempo para pensar e me joguei no meio das pessoas, mas não foi
preciso empurrá-las porque me abriram espaço tão imediatamente quanto o
fecharam. No último segundo algo dolorido me desequilibrou, ainda
assim varei aquele estreito vão pelo recuo aos lados da densa cortina
de gente e, na dor e no susto do outro lado, num instantâneo olhar
atrás, já me levantando depois de cair no piso da loja, só vejo as
costas de homens e mulheres num severo silêncio ressaltado pelo tinir
irritado dos cascos do cavalo sobre o asfalto da rua. Se não me falha a
memória a Rua Direita ainda não era calçada de pedras, mas já exclusiva
aos pedestres.
Mais
tarde, pela imagem de chapa de raio-X, um médico me advertiu sobre os
dias em que me seria dificultoso e dolorido respirar e dormir, por
causa de uma costela trincada. Fiquei imaginando o esforço do soldado
da PM a se dobrar sobre o cavalo na tentativa de me derrubar com sua
“Fanta”, como então se apelidou um cassetete mais extenso por analogia
com o único refrigerante de litro então comercializado.
Evidente
que não há nada de refrescante numa lambada de cassetete, mas a cada
ardor da primeira trinca de ossos em meus ouvidos ecoava o orgulho por
aquele silêncio da multidão a afrontar e barrar a afoiteza do cavalo.
Naquele silêncio muitas vezes me compenetrei do sentido dos tantos
demais silêncios muito mais sofridos de meus companheiros dos tempos da
ditadura.
Hoje
ouço o tropel efusivo da mídia pela condenação daqueles que sempre
lutaram contra tantos outros acordos espúrios e lesivos à pátria, como
antes ouvia os mesmos veículos de informação e jornalistas
silenciarem-se a estes acordos. Fosse à ditadura, aos tempos do
“Caçador de Marajás” que a própria mídia nos levou a eleger ou à era do
poliglota fraudulento.
Mas
também ouço o silêncio da multidão gritado nos resultados do primeiro
turno destas eleições municipais e das pesquisas do segundo a se
realizar no próximo domingo.
Ouço
as acusações de entidades e organismos que se calaram aos tantos
crimes contra o país, engavetados por quem deveria apontá-los e
absolvidos pelos que devendo condenar se resumiram em sentenças de pena
de férias em Miami, Paris, Roma ou qualquer outro nicho turístico
internacional.
Ouço
os pronunciamentos dos mesmos Ministros da Suprema Corte que
viabilizaram a fuga de escroques e estupradores, agora fundamentados em
indícios, indisposições e ilações de personagens comprovadamente
desqualificados.
Pergunto-me
como se comportarão esses mesmos juízes quanto aos documentos e provas
reproduzidas no livro de maior vendagem da história de nossa
literatura: “A Privataria Tucana”. Como se pronunciarão e a que
condenarão os acusados pelo mesmo crime de Caixa 2 praticado a cada
eleição por todos os partidos políticos do país?
Ouço
também um eco recente da voz do Ministro Joaquim Barbosa desafiando
seu colega Gilmar Mendes a ir às ruas. Então Barbosa se referia ao
burburinho contra a leniência de Mendes aos crimes financeiros do
megaespeculador Daniel Dantas, financista dos projetos do anterior
governo neoliberal.
Por
fim, me pergunto: com qual silêncio as ruas receberão os magistrados
brasileiros se mais uma vez comprovarem o acentuado e vergonhoso
desnível da balança do Poder Judiciário Brasileiro?
Barbosa apostou no alarido das ruas contra Gilmar Mendes, mas ao contrário de outros povos é em silêncio que o brasileiro tem comprovado a ilegitimidade e destituído poderes abusivos e inaptos.
*Oterrordonordeste
STF busca pretexto para o golpe
Crônicas do Motta
Nunca fui de ir atrás das chamadas teorias conspiratórias. Mas muitas
coisas que acontecem vão além do que sugere a sua aparência inocente.
Por trás delas existem, muitas vezes, intrincadas redes de intenções que
não podem ser reveladas aos mortais comuns.
O caso do julgamento desse tal mensalão é um exemplo desse jogo de
sombras chinesas. Se os juízes estivessem lá apenas fazendo o seu
trabalho, lendo o processo, analisando as provas e julgando os réus à
luz das leis, não teria por que desconfiar de nada.
Ocorre, porém, que desde o início esse processo dá margem para que a
gente desconfie de que, por trás dele, se esconde um mundo inteiro de
aberrações, a começar pela estranha e suspeita coincidência de datas
entre o desenrolar do julgamento e a campanha eleitoral.
Nem vou falar das acrobacias dos ministros para justificar seus votos
condenatórios: pessoas muito mais qualificadas já mostraram o absurdo e o
risco para o país inteiro dessas decisões.
O que me chamou a atenção sobre as segundas intenções desse julgamento
foram as manifestações de alguns juízes, simples e desnecessárias
provocações ao PT, à atividade política em geral, e aos poderes
executivo e legislativo em particular.
Tudo isso, somado a uma cobertura "jornalística" sem paralelo na
história do país, nos leva a concluir que há algo a mais no ar do que os
habituais aviões de carreira.
Juntando os fatos, cada um pode chegar à conclusão que quiser.
Eu, por mim, acho que ninguém em perfeito uso de suas faculdades mentais
faz provocações sem esperar que o ofendido não reaja a elas.
Portanto, uma dedução lógica é que os ministros supremos, ao montarem
esse circo de horrores que foi o julgamento do tal mensalão,
simplesmente pretendiam fazer com que o legislativo e o executivo,
vilipendiados, criminalizados, tratados como a escória das instituições,
reagissem às ofensas.
Para, na sequência, receberem a devida punição de um judiciário
impoluto, o único dos poderes que restou para salvar o país do mar de
corrupção no qual afunda, por obra e graça de políticos que agem como
"quadrilheiros", mafiosos, bandidos cujo único propósito é assaltar os
cofres públicos.
Em outras palavras, e para concluir esse tétrico exercício de hipóteses,
o Supremo Tribunal Federal espera apenas uma palavra qualquer mais
dura, mais enfática, sobre o absurdo de todo o processo, da presidente
da República, de algum de seus ministros, ou dos presidentes da Câmara
dos Deputados ou do Senado, para dar a senha para o golpe.
O motivo?
Simples, pode ser algo como "eles estão pregando a ruptura institucional, não respeitam a independência dos poderes."
Ou uma frase similar, escrita no roteiro de um filme velho, que muita gente já viu.
*esquerdopata
Kassab antecipa salário. Cadê o TRE?
Por Altamiro Borges
Na coluna Painel da Folha, a jornalista Vera Magalhães
publica hoje uma pequena notinha sobre a antecipação dos salários dos 230 mil
servidores da prefeitura de São Paulo. Antes de reproduzi-la, não custa
perguntar: caso a presidenta Dilma Rousseff adotasse a mesma medida na véspera
do segundo turno das eleições em 50 importantes municípios brasileiros a mídia
demotucana não faria um baita escândalo? A Folha serrista não daria uma manchete
garrafal? Feito o singelo questionamento, reproduzo a notinha:
Por que a América Latina é um território vigiado
Por Romina Lascano
O
conflito geoestratégico com a China, o futuro da América Latina e o
interesse de Washington na região são o miolo do novo livro da analista
Telma Luzzani, Territorios Vigilados, recentemente apresentado em Buenos
Aires, que deixa claro como opera a rede de bases militares
estadunidenses na América do Sul.
Segundo a autora, a ideia do livro foi amadurecendo pouco a pouco até que, em 2008, escreveu uma nota sobre a reativação por parte dos Estados Unidos da IV Frota do Comando Sul para patrulhar os Oceanos Pacífico e Atlântico.
Segundo a autora, a ideia do livro foi amadurecendo pouco a pouco até que, em 2008, escreveu uma nota sobre a reativação por parte dos Estados Unidos da IV Frota do Comando Sul para patrulhar os Oceanos Pacífico e Atlântico.
"O
que me perguntava nessa nota –assinala Telma- é por que razão os EUA
teriam interesse em reativar uma frota semelhante poder de fogo no
território onde, visivelmente, não havia nada que chamasse a uma
guerra”.
"Falei com vários analistas e o resultado dessa nota era que, justamente, nossas riquezas, com os recursos naturais e mais as mudanças que estavam acontecendo no mundo em âmbito econômico e político, tornavam necessário para os Estados Unidos, militarizar a zona, para continuar mantendo seu poder e seu domínio”.
Depois ficou-se sabendo que o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, naquele momento à frente do governo, havia acordado a presença de sete bases militares em seu país. Esse foi o início de uma investigação de vários anos e de um livro que tardou quase dois anos para ser publicado.
Com a colaboração dos jornalistas Emiliano Guido e Federico Luzzani, a autora começou a desenrolar o motivo que levou à instalação e manutenção das bases militares –que passaram de 14 (em 1938) para 30.000 (em 1945), das quais, ao finalizar a II Guerra Mundial, somente permaneceram abertas 2.000- sem conflito bélico à vista. Explica: "Todos os impérios tiveram bases militares. Os países que tem uma frota marítima significativa necessitam de lugares onde abastecer-se, treinar-se, acumular recursos. Então, as bases militares, na realidade, são parte da estrutura militar de uma potência”. "Quando os Estados Unidos converteram-se na maior potência juntamente com a União Soviética, após a II Guerra Mundial, decidem expandir suas bases em função de um projeto de dominação global”.
Segundo a jornalista, em cada período político e, de acordo com as circunstâncias, as bases vão mudando de características: "Uma base tradicional, grande, com muito pessoal é muito cara e é odiosa para o país que tem que alojá-la. Em geral, cria conflitos, traz problemas ambientais”. "Após a queda da União Soviética, os Estados Unidos redesenharam seu poder militar e decidiram em algum lugar deixar as bases tradicionais e, em outros, abrir novas bases ou substituir as que tinham por outras menores, dissimuladas, com pouco pessoal, que é rotativo. Para o governo que as aloja, é fácil convencer aos seus cidadãos de que não se trata de uma base militar...”.
Com relação ao critério empregado para situar as bases, a autora ressaltou que o mesmo é geoestratégico. "Está vinculado à guerra e ao comércio”. E aprofundou em uma das hipóteses de seu livro, o potencial conflito entre os Estados Unidos e a China rumo a 2016: "É somente uma projeção. 2016 será o ano assinalado pelo Banco Mundial como o momento em que, provavelmente, a China superaria aos Estados Unidos como primeira potência econômica do mundo. Os Estados Unidos não vão esperar por 2016 e que isso seja um fato consumado; essas coisas são resolvidas antes que aconteçam. Não sabemos se a China continuará o mesmo esquema expansionista dos Estados Unidos. Vamos rumo a um sistema que ainda não conhecemos”.
"Falei com vários analistas e o resultado dessa nota era que, justamente, nossas riquezas, com os recursos naturais e mais as mudanças que estavam acontecendo no mundo em âmbito econômico e político, tornavam necessário para os Estados Unidos, militarizar a zona, para continuar mantendo seu poder e seu domínio”.
Depois ficou-se sabendo que o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, naquele momento à frente do governo, havia acordado a presença de sete bases militares em seu país. Esse foi o início de uma investigação de vários anos e de um livro que tardou quase dois anos para ser publicado.
Com a colaboração dos jornalistas Emiliano Guido e Federico Luzzani, a autora começou a desenrolar o motivo que levou à instalação e manutenção das bases militares –que passaram de 14 (em 1938) para 30.000 (em 1945), das quais, ao finalizar a II Guerra Mundial, somente permaneceram abertas 2.000- sem conflito bélico à vista. Explica: "Todos os impérios tiveram bases militares. Os países que tem uma frota marítima significativa necessitam de lugares onde abastecer-se, treinar-se, acumular recursos. Então, as bases militares, na realidade, são parte da estrutura militar de uma potência”. "Quando os Estados Unidos converteram-se na maior potência juntamente com a União Soviética, após a II Guerra Mundial, decidem expandir suas bases em função de um projeto de dominação global”.
Segundo a jornalista, em cada período político e, de acordo com as circunstâncias, as bases vão mudando de características: "Uma base tradicional, grande, com muito pessoal é muito cara e é odiosa para o país que tem que alojá-la. Em geral, cria conflitos, traz problemas ambientais”. "Após a queda da União Soviética, os Estados Unidos redesenharam seu poder militar e decidiram em algum lugar deixar as bases tradicionais e, em outros, abrir novas bases ou substituir as que tinham por outras menores, dissimuladas, com pouco pessoal, que é rotativo. Para o governo que as aloja, é fácil convencer aos seus cidadãos de que não se trata de uma base militar...”.
Com relação ao critério empregado para situar as bases, a autora ressaltou que o mesmo é geoestratégico. "Está vinculado à guerra e ao comércio”. E aprofundou em uma das hipóteses de seu livro, o potencial conflito entre os Estados Unidos e a China rumo a 2016: "É somente uma projeção. 2016 será o ano assinalado pelo Banco Mundial como o momento em que, provavelmente, a China superaria aos Estados Unidos como primeira potência econômica do mundo. Os Estados Unidos não vão esperar por 2016 e que isso seja um fato consumado; essas coisas são resolvidas antes que aconteçam. Não sabemos se a China continuará o mesmo esquema expansionista dos Estados Unidos. Vamos rumo a um sistema que ainda não conhecemos”.
Nesse contexto, Luzzani analisou a papel da América Latina e ressaltou duas questões importantes. "Uma é que, pela primeira vez, os Estados Unidos têm que deslocar uma presença militar evidente, que, até que aparece a Base de Manta, isso não fazia falta porque havia uma quantidade significativa de governos militares, cuja linha de mando terminava diretamente no Pentágono. E, em segundo lugar, uma escassez de recursos naturais que, em nosso território, é abundante”.
Luzzani também busca desmascarar com seu texto a denominada irrelevância latino-americana. "Outra hipótese que trabalho no livro é o fundamento que diz que a América Latina não tem nenhuma importância para os Estados Unidos. Tento demonstrar que é exatamente ao contrário”. "É tão importante que, em geral, sempre está presente em seus primeiros objetivos sobre o que vai acontecer na região. Sem a América do Sul e a América central, os Estados Unidos não poderiam ser a potência que são”.
A jornalista argumentou que daí provém a necessidade de dominar a região e de separar o Brasil e a Argentina, união que considerou como "um dos piores pesadelos dos Estados Unidos”.
Telma Luzzani explicou que alguns fatos políticos não puderam ser incluídos no livro: "O que aconteceu com [Fernando] Lugo é importante porque eles têm uma base militar, que é a de Mariscal Estigarribia; que no Paraguai exista um governo como o de Lugo ou o de Federico Franco faz uma grande diferença. Nesse sentido, me interessava muito ampliar esse enfoque”.
Antecipou que poderia mudar algum capítulo para aprofundar sobre o processo de paz iniciado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc): "O presidente Juan Manuel Santos surpreendeu muito. A Colômbia sempre foi o país aliado estratégico dos Estados Unidos. A presença do Plano Colômbia justificada pelo narcotráfico, pelo terrorismo, parece que vai por águas abaixo caso avance o processo de paz. Suponhamos que o processo seja um êxito e que o argumento do terrorismo e do narcotráfico se debilitam. Então, não se justificaria semelhante deslocamento militar”.
Em relação à reeleição do presidente venezuelano Hugo Chávez, a autora ressaltou que para os Estados Unidos é uma má notícia e ressaltou que esse país também está rodeado por bases militares norte-americanas. "Há bases que estão a 50 quilômetros da costa venezuelana. Estão também as bases da Colômbia. O modelo venezuelano, o tipo de política que é levado adiante na Venezuela é exatamente o que os Estados Unidos não gostariam que tivesse êxito, porque é totalmente contrário ao que eles disseram por toda a vida que era melhor”.
Na hora de desvelar se a América Latina pode libertar-se do controle norte-americano, Luzzani não deu lugar a dúvidas: "Se pensarmos nas riquezas que temos, creio que, no momento, é muito difícil que deixemos de ser um território vigiado”.
[Territorios vigilados. Como opera la red de bases militares norteamericanas en Sudamérica; Editorial Debate, Buenos Aires, 560 páginas].
Fonte: IrãNews
Tradução: Adital
*Turquinho
GUERRA CIVIL: POLÍTICA DE SEGURANÇA DE GERALDO ALCKMIN E DO PSDB SÓ FUNCIONARIA SE FOSSE SUSPENSO O ESTADO DE DIREITO
Depois de quase 20 anos de governo do PSDB em São Paulo, os índices de assassinatos explodem e está declarada uma guerra urbana entra a Polícia Militar e os grupos organizados de traficantes. Os bandidos que estão matando policiais hoje em São Paulo nasceram quando o PSDB chegou ao poder no estado.
O governador Geraldo Alckmin é um exemplo irretocável da política instalada no estado pelo partido. “Vamos combater com firmeza bandidos, não vão nos intimidar, os bandidos vão para a cadeia”, costuma afirmar semanalmente o governador.
É essa, em resumo, a política de segurança do governo. Esse discurso linha dura do governador funcionaria bem se fosse possível romper o estado de direito e a Polícia Militar tivesse carta branca para matar. Essa é a única maneira capaz de o PSDB ter sucesso no combate a violência. Não é por acaso que o partido elegeu vereadores cujo lema era “bandido bom é bandido morto”.
O problema deixa o partido em uma situação difícil, visto que esse tipo de medida tem pouca chance de prosperar, salvo em um sistema realmente de volta ao terror do estado, como no período ditatorial. Está claro que o PSDB não terá sucesso no combate a violência, mesmo porque a situação só piorou durante quase 20 anos de governo, salvo se mascarar os números da violência.
A Polícia Militar do estado precisa usar menos as armas e mais a cabeça. O governo do PSDB colocou os soldados da PM em uma guerra urbana bastante perversa para a polícia. Uniformizada, ela enfrenta nas cidades criminosos não uniformizados. Tornam-se um alvo fácil.
No pano de fundo não está somente o discurso conservador direitista, incompetência e ignorância política, mas toda uma concepção medíocre e fracassada de que o combate às drogas é uma questão policial. O Brasil precisa discutir outras formas de combate às drogas. O país, por exemplo, combateu e diminuiu o índice de fumantes sem o uso da polícia.
Quantas pessoas morreram pelo uso de drogas na última década? Lembro-me da Cássia Eller, em 2001, mais ninguém. Mas quantas pessoas morreram na guerra civil das drogas esta semana? dezenas, talvez centenas. O país precisa discutir sem preconceito, sem mitos, sem tabus. Não é possível continuar essa guerra. As famílias dos policiais não merecem que eles trabalhem em uma guerra urbana.
Não passa pela cabeça desses gênios do PSDB que é preciso distribuir renda, que o dinheiro precisa chegar na periferia, que precisa sobrar dinheiro público nas escolas. A desocupação do bairro Pinheirinho é a cara da política de segurança do PSDB, desalojar a população pobre para dar o terreno a um especulador. Pobre é bandido. O mapa de votação do primeiro turno em São Paulo deixou claro que a população mais pobre já entendeu isso.
Durante esses anos todos, o partido não foi capaz de estruturar o estado para que os jovens da periferia não fossem aliciados por traficantes. Sem um grande programa educacional e de distribuição de renda, sem uma discussão desapaixonada sobre as drogas, a guerra civil vai continuar.
*Educaçãopolítica
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