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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 27, 2012

STF busca pretexto para o golpe

Crônicas do Motta

Nunca fui de ir atrás das chamadas teorias conspiratórias. Mas muitas coisas que acontecem vão além do que sugere a sua aparência inocente. Por trás delas existem, muitas vezes, intrincadas redes de intenções que não podem ser reveladas aos mortais comuns.

O caso do julgamento desse tal mensalão é um exemplo desse jogo de sombras chinesas. Se os juízes estivessem lá apenas fazendo o seu trabalho, lendo o processo, analisando as provas e julgando os réus à luz das leis, não teria por que desconfiar de nada.

Ocorre, porém, que desde o início esse processo dá margem para que a gente desconfie de que, por trás dele, se esconde um mundo inteiro de aberrações, a começar pela estranha e suspeita coincidência de datas entre o desenrolar do julgamento e a campanha eleitoral.

Nem vou falar das acrobacias dos ministros para justificar seus votos condenatórios: pessoas muito mais qualificadas já mostraram o absurdo e o risco para o país inteiro dessas decisões.

O que me chamou a atenção sobre as segundas intenções desse julgamento foram as manifestações de alguns juízes, simples e desnecessárias provocações ao PT, à atividade política em geral, e aos poderes executivo e legislativo em particular.

Tudo isso, somado a uma cobertura "jornalística" sem paralelo na história do país, nos leva a concluir que há algo a mais no ar do que os habituais aviões de carreira.

Juntando os fatos, cada um pode chegar à conclusão que quiser.

Eu, por mim, acho que ninguém em perfeito uso de suas faculdades mentais faz provocações sem esperar que o ofendido não reaja a elas.

Portanto, uma dedução lógica é que os ministros supremos, ao montarem esse circo de horrores que foi o julgamento do tal mensalão, simplesmente pretendiam fazer com que o legislativo e o executivo, vilipendiados, criminalizados, tratados como a escória das instituições, reagissem às ofensas.

Para, na sequência, receberem a devida punição de um judiciário impoluto, o único dos poderes que restou para salvar o país do mar de corrupção no qual afunda, por obra e graça de políticos que agem como "quadrilheiros", mafiosos, bandidos cujo único propósito é assaltar os cofres públicos.

Em outras palavras, e para concluir esse tétrico exercício de hipóteses, o Supremo Tribunal Federal espera apenas uma palavra qualquer mais dura, mais enfática, sobre o absurdo de todo o processo, da presidente da República, de algum de seus ministros, ou dos presidentes da Câmara dos Deputados ou do Senado, para dar a senha para o golpe.

O motivo?

Simples, pode ser algo como "eles estão pregando a ruptura institucional, não respeitam a independência dos poderes."

Ou uma frase similar, escrita no roteiro de um filme velho, que muita gente já viu.

*esquerdopata

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