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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 24, 2012

CONFLITO DE GERAÇÕES: O DIÁLOGO IMPERTINENTE E REVELADOR ENTRE PAI E FILHO SOBRE POLÍTICA E MÍDIA NO BRASIL

Quais são as vozes da classe média?

Essa é uma história real e reveladora da relação entre política e mídia no Brasil. Os nomes das pessoas que viveram essa situação e também alguns detalhes serão preservados porque não faz sentido revelar e também não acrescenta nada ao contexto. O importante é a incrível situação que reflete bem o que acontece no Brasil atualmente.

Temos uma geração de jovens por volta dos 20 anos que vive na internet, mas seus pais na casa dos 40 e 50 sentem um pouco de dificuldade, principalmente aqueles cuja profissão não exigiu conhecimento razoável em informática e computação.

Esse é o caso de Roberto, que tem cerca de 50 anos, e é dono de um pequeno, mas bastante lucrativo mercado em uma cidade média do estado de São Paulo. Além desse mercado, herança dos pais, Roberto administra outros negócios da família, como imóveis e uma loja. Como único filho homem, que nunca quis estudar muito, logo acabou assumindo os negócios da família e, com a morte do pai, acabou tendo responsabilidade sobre as atividades, que não são poucas. Apesar de desistir da faculdade, Roberto nunca se negou ao trabalho, gosta de fazer. Acorda cedo e toca o mercado e outros negócios até à noite.

Roberto há muito tempo assinava a Revista Veja, mas cancelou a assinatura há cerca de três anos quando um dos filhos, Pedro, entrou na faculdade e logo nas primeiras férias em casa disse ao pai que deveria cancelar a assinatura da revista. “Essa revista é idiota, manipula a informação”, disse. Aquele período era um momento especial para a revista Veja, que estava sendo pautada pela relação com Carlinhos Cachoeira, mas ninguém ainda sabia. Roberto, que tinha orgulho do filho na faculdade, resolveu cancelar a revista. E manteve a assinatura da Folha de S.Paulo que não sofreu restrições do filho.

Isso aconteceu há dois ou três anos mais ou menos. Até hoje Roberto recebe a revista Veja em casa, desde que deixou de pagar. “Já liguei duas ou três vezes para a revista para dizer que não precisam mais mandar, mas eles continuam mandando”, disse Roberto, resignado, ao filho no último final de semana.

Isso aconteceu no meio de uma discussão política, quando Roberto decidiu perguntar ao filho em quem ele iria votar nesse segundo turno.

“Vou votar no PT, o candidato é muito melhor que o do PSDB”, disse Pedro.

“Mas como você vai votar no PT? Eu não gosto do PT. Olha a sujeirada do Mensalão, tá todo o dia no jornal, na TV”. Você vai votar no PT ainda?”

“Vou sim pai. O PSDB é muito pior”.

“Eu não vejo nada de errado com o PSDB”

“O José Serra, candidato em São Paulo, é horrível”

“Como horrível? Não existe nada contra ele”, arguiu Roberto.

“Você já ouviu falar do Mensalão tucano, da Privataria Tucana?”

“Não, o que é isso? Não vi nada nos jornais, nem na TV. Mas sei muito bem desses petistas aí que você vai votar”

“É porque todos os jornais que você lê são ruins”

“A é? E qual é bom então? Você reclama de tudo”

“A Carta Capital é uma revista séria”

“Carta o quê? O que é isso? Nunca ouvi falar dessas coisas que você está falando”

“É, mas existem pai!”

“Vocês ficam inventando coisas…”, disse Roberto e encerrou a discussão se afastando. Apesar do final de semana, ele tinha mais o que fazer do que ficar discutindo com o seu filho rebelde.

ps: parece ficção, mas aconteceu esse final de semana.

*Educaçãopolítica

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