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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 01, 2012

Cuba resiste, mas precisa de ajuda

Por Denise Queiroz 
                                                                  

A mídia nativa deu destaque, com horas de cobertura eletrônica e muitas páginas nos impressos ao Furacão Sandy, quando este chegou ao "primeiro mundo" americano, então já rebaixado pelos cientistas à categoria de ciclone. Pouco se soube de antes, quando ainda era furacão e o fenômeno atingiu a América Central, embora os danos lá tenham sido humanamente mais arrasadores do que as imagens - exibidas à exaustão - sobre sua chegada a Nova Iorque. 

Os estragos em Cuba preocupam inclusive a ONU, conforme se vê neste link, reproduzido pelo Correio do Brasil a partir da BBC. No Cuba Debate, há notícia de que "En los últimos días Cuba ha recibido mensajes solidarios y ofertas de ayuda desde Nicaragua, China, Uganda, Colombia, Panamá, Alemania y Francia, entre otras naciones. (link) Asimismo, Venezuela anunció la creación de un puente aéreo y marítimo de solidaridad con Cuba y Haití, ante los estragos del huracán, cuyos fuertes vientos, lluvias y penetraciones del mar causaron daños de grandes magnitudes." De efetivo, além dos esforços governamentais, a ajuda que chega da Venezuela.

Toda solidariedade ao povo americano, que incontestavelmente teve a vida afetada, mas é mais que óbvio que o dano causado naquele país, mesmo com alguma dificuldade, será reparado. O que não se pode dizer de Cuba - que por causa do embargo sobrevive no limite - e dos outros países da América Central.

Mais uma vez fica evidente que a cobertura midiática preconiza os danos financeiros em detrimento do humano. Mas como diz o presidente Raúl Castro, Cuba resiste! 
 
*Tecedora
 
 

 GRILAGEM DE TERRA E DA MÍDIA SE ESPELHAM E SÃO O ESPELHO DA DESIGUALDADE NO BRASIL

Reforma agrária no ar
Eduardo Sales de Lima da Redação
Para Silvio Mieli, jornalista e professor da faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), a concentração de poder nos meios de comunicação é um espelho da concentração fundiária. “Os primeiros grilaram terras públicas ou compraram terras de grileiros. Os últimos se apossaram do espectro eletromagnético por favorecimentos políticos e pelo poder econômico, ou ambos os casos.”
A opinião do jornalista soma-se às recentes manifestações pela democratização na comunicação no Brasil, como a que ocorreu no dia 15 de outubro, em frente ao hotel Renassaince, onde estava ocorrendo um encontro da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Na ocasião, representantes do Coletivo Intervozes e do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), entre outras organizações, levantaram cartazes denunciando abusos praticados por emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas.
Aliás, uma das conclusões do recente estudo do pesquisador Tiago Cubas, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera/Unesp), “São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009”, vai justamente nessa direção. A de que a mídia corporativa totaliza a visão das relações capitalistas no campo; daí estereotipa e não aceita sujeitos e modos de produção alternativos.
Na entrevista a seguir, Silvio Mieli analisa a atual conjuntura de luta pela democratização da comunicação no Brasil.
Brasil de Fato- Há tempos existe a violência física cometida pelo poder público ou privado sobre os sem-terras, por meio de policiais e seguranças. A cobertura mídia tradicional aborda tais ocorrências de forma tendenciosa. Por que a violência contra o pobre é tão naturalizada e até ignorada pela mídia corporativa até hoje?
Silvio Mieli - Em primeiro lugar é preciso lembrar que a mídia é ultraconservadora. O conservador acha natural que 1 bilhão de pessoas passem fome no mundo. Também passa a ser natural — e típico dos conservadores — que se use de violência contra aqueles que querem sair dessa situação. Como diz o filósofo Giorgio Agamben, a mídia gosta de pessoas indignadas, porém passivas. Os grandes jornais não terão nenhum prurido em mostrar crianças famintas num lixão qualquer da vida, mas reprovarão veementemente qualquer ação direta para corrigir essa injustiça. Ora, o mesmo modelo de concentração fundiária se espelhou para os meios de comunicação no Brasil. Os primeiros grilaram terras públicas ou compraram terras de grileiros. Os últimos se apossaram do espectro eletromagnético por favorecimentos políticos e pelo poder econômico, ou ambos os casos. É por essas e outras que o sistema é capaz de tudo quando se trata de discutir a propriedade da terra ou de um meio de comunicação. Não por acaso o slogan da democratização dos meios de comunicação nos anos 1980 era: Reforma Agrária no Ar. Na terra como na mídia estamos lidando com os mesmos problemas: a questão da propriedade, o seu uso social e quais modelos de desenvolvimento devem ser colocados em prática.
Em termos práticos, que tipo de relação existe entre os jornais locais (e os nacionais) e o agronegócio para tratar os camponeses pobres sempre de forma criminosa?
Todas as famílias que monopolizam os meios de comunicação no Brasil são (direta ou indiretamente) grandes proprietários de terra. A família Saad (grupo Bandeirantes), que recentemente também entrou no ramo da mídia impressa, é de grandes pecuaristas, Octávio Frias (pai) era um dos maiores granjeiros do país.Portanto, além do servilismo ao poder, existem interesses diretos no setor. Muitos políticos, mesmo os que se acham muito poderosos, viraram office-boys das grandes corporações. Quanto aos grandes veículos de comunicação, transformaram-se em promoters de eventos dessas grandes empresas.
Após a chamada “redemocratização” (pós-ditadura), qual tem sido o peso das mídias (locais e nacionais) no processo de naturalização da violência aos pobres e sem-terras e no entrave à reforma agrária?
Costumo dizer que a mídia não é o 4o. poder, mas o 5o elemento. Temos a água, terra, fogo, ar e… os meios de comunicação. Vivemos imersos neles. Daí a importância da qualidade do que se produz nesse meio. Mas no nosso caso brasileiro, será que podemos falar realmente de “redemocratizacão” se, dentre tantos problemas herdados da ditadura, o acesso aos meios é tão limitado ? Eis uma outra dimensão da vida nacional que vive num estado de exceção permanente. A ditadura configurou um modelo comunicacional que, mesmo findo o regime militar, continua de pé. É só pesquisar o papel da mídia corporativa nos últimos grandes embates relativos às questões ambientais e agrárias para verificar como se comportam (Raposa Serra do Sol, MP 458, Código Florestal, Belo Monte…). (Texto integral)
*educaçãopolitica 

quarta-feira, outubro 31, 2012

Collor diz estar comprovado que procuradores vazaram dados sigilosos para 'Veja' 



 

Em discurso nesta terça-feira (30), o senador Fernando Collor (PTB-AL) voltou a acusar jornalista da revista ‘Veja’ de terem ligações estreitas com a quadrilha comandada por Carlinhos Cachoeira. O senador também disse que já está comprovado que membros do Ministério Público Federal (MPF) vazaram informações sigilosas dos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo para a publicação, que classificou como “folhetim semanal”.
- Não há mais dúvidas de que são verdadeiras as informações sobre vazamento de inquéritos que corriam em segredo de justiça – afirmou Collor.
Segundo Collor, o jornalista Policarpo Junior, “o grão vizir da chumbetagem da revista Veja”, é um empregado de Carlinhos Cachoeira. Juntos com outros funcionários da revista, disse Collor, Policarpo fornecia à quadrilha de Cachoeira “toda espécie de serviços e informações” e recebia parte dos lucros da organização.
- Esse fato, inclusive, é fartamente demonstrado nos diálogos das inúmeras interceptações telefônicas em que Policarpo Junior aparece como um dos interlocutores - lembrou.
Para o senador, será “fora de propósito” se os profissionais da revista envolvidos com a quadrilha não forem convocados para depor na CPI do Cachoeira. Ele disse apoiar a prorrogação dos trabalhos da CPI mista para ampliar as investigações.
No Agência Senado

Uma Economia de Loucos (Joe Alexopoulos)


PF prende suspeitos de criarem igreja para 'lavar' R$ 400 milhões

 

igreja
Isenção fiscal  concedida às igrejas
ajudou no golpe da lavagem
A PF (Polícia Federal) prendeu hoje (31) em São Paulo e também nas cidades paulistas de Atibaia e Valinhos seis suspeitos de terem criado uma igreja evangélica para “lavar” dinheiro e sonegar impostos. A Justiça expediu 12 mandados de busca e apreensão.

As autoridades policiais e fiscais estão mantendo sob sigilo os nomes dos suspeitos e da igreja. Os suspeitos ostentam sinais de riqueza. Um deles é colecionador de carros antigos.


A polícia começou a investigar as irregularidades quando foi informada de que uma pequena igreja estava fazendo grande movimentação financeira. Estima-se que as fraudes causaram prejuízo de R$ 150 milhões por ano à União e ao Estado de São Paulo.


Nota da PF informou que os suspeitos criaram uma igreja por se tratar de uma instituição que desfruta de imunidade tributária, “o que diminuiria as probabilidades de fiscalização, na visão dos integrantes do grupo”.


Os suspeitos mantinham empresas de fachada para enviar dinheiro ilegalmente ao Exterior. Eles também montaram um esquema para, com ajuda de servidores públicos, obter vantagens de empresas devedoras do fisco estadual.


Se condenados, os suspeitos poderão ficar na cadeia até 28 anos pelos crimes contra o sistema financeiro, subtração de processos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação e quadrilha, falsidade ideológica e sonegação fiscal.


Com informação do UOL, entre outras fontes. 


Bastam R$ 418 para criar uma igreja e ficar livre de impostos.

novembro de 2009


PF aponta indícios de lavagem na compra da TV Record.

junho de 2012


Isenções fiscais da Igreja.

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz2AujEZyiO
Paulopes

Charge e foto do Dia




A Globo está com medo


 


Certo faz a RBS que todo ano desova um ventríloquo para ocupar algum cargo político e, através dele, fazer às vezes de porta-voz do grupo mafiomidiático sulista. 

Já se foram Antônio Britto, Yeda Crusius, Afonso Motta, Ana Amélia Lemos, e, ensaiando, Lasier Martins. Sem contar os amestrados contratados para defender os interesses da empresa. Não podemos esquecer a retribuição aos homens do prof. Cardoso que, quando este foi apeado do poder, trouxe para a folha de pagamento dos Sirotisky Pedro Parente e Pérsio Arida. 

A lei de médios serve para impedir a propriedade cruzada. 

Por exemplo, a RBS. Tem rádio, jornal, tv, tv a cabo, internet, imobiliária, shopping, empresa de eventos, e lavanderia nas Ilhas Cayman. 

O jornal publica, de manhã o rádio repercute, ao meio dia a tv cita os antecedentes e solta mais uma vírgula. Todos pertencentes ao mesmo grupo. 

Pior, os velhos grupos de mídia não costumam citar uns aos outros. 

Jamais se vê fotos dos a$$oCIAdos doInstituto Millenium nos veículos concorrentes. 

Há sempre uma cortina de silêncio encobrindo a safadeza e textos laudatórios para engrandecer as parcerias. 

Em comum, os grupos mafiomidiáticos brasileiros têm com os argentinos a participação auspiciosa nas ditaduras recentes em ambos os países. 

O Grupo Clarin e os Grupos Brasileiros tiveram participação vantajosa, tanto em preparem o caminho como para ajudarem a justificar o injustificável. Não é mero acaso que a Folha de São Paulotenha batizado a ditadura de ditabranda

Com efeito, para ela, que emprestou carros para conduzirem clandestinamente os presos políticos para serem torturados, mortes e desovados em valas comuns, foi muito branda. 

Mais branda ainda foi a justiça que até agora não permitiu o julgamento dos crimes da ditadura.

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JN acaba de exibir editorial contra a "repressão disfarçada de democracia" que estaria ocorrendo na Argentina, onde foi implantada a "Ley de Medios", e que poderia se alastrar, segundo a Globo, como uma epidemia pelo continente; nesta terça-feira, tanto Rui Falcão como José Dirceu defenderam que a democratização dos meios de comunicação entre na agenda do governo federal

247  Medo.

Esta é a palavra que expressa o sentimento das Organizações Globo a respeito de uma eventual discussão sobre a democratização dos meios de comunicação no País. Na noite desta terça-feira, o Jornal Nacional, ancorado por William Bonner, exibiu ampla reportagem sobre a "repressão disfarçada de democracia", que estaria ocorrendo na Argentina.

Lá, o governo de Cristina Kirchner conseguiu aprovar uma "Ley de Medios", que democratiza os meios de comunicação no País, ao limitar o número máximo de concessões que pode ser detido por grupo econômico. No próximo dia 7 de dezembro, o grupo Clarín, o maior da Argentina, e equivalente à Globo no seu território, terá de se desfazer de parte de suas concessões.

Apresentada por Dellis Ortiz, a reportagem da Globo informa que essa "epidemia", que já teria contaminado Venezuela e Equador, pode se "alastrar pelo continente". Em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Reino Unido, há limites ao número máximo de concessões.

A reportagem da Globo também abordou um seminário no Uruguai onde se debateu a proteção da "imprensa livre na era da internet". Na lógica defendida pelos grandes grupos de comunicação brasileiros, a internet deve ser controlada e não deve haver qualquer limite para a ação dos conglomerados de mídia.

Ao mesmo tempo em que a Argentina implanta sua lei, no Brasil, Rui Falcão e José Dirceu, do PT, têm defendido que o governo encampe o debate sobre a democratização dos meios de comunicação. Segundo a Globo, na Argentina, o governo Kirchner "pressiona até a suprema corte".

Bom, no Brasil, quem coloca pressão sobre o Supremo Tribunal é a própria Globo. Basta lembrar dos 18 minutos do Jornal Nacional sobre o mensalão às vésperas do segundo turno.

do blog Ficha Corrida 
*cutucandodeleve

Deleite Projeto 4 Cantos - - Brasil Pandeiro


Depoimento do servidor expulso da Câmara de Piracicaba

E o Estado laico? E a liberdade de descrença? Parlamento não é templo... Cidadão de Piracicaba é expulso da Câmara Municipal porque não se levantou em louvor durante a leitura da Bíblia 

 

Comentário ao post "Câmara de Piracicaba retira servidor durante leitura bíblica" Depoimento do cidadão que foi expulso por se recusar a ficar em pé para leitura da Bíblia na Câmara de Piracicaba.
A INTOLERÂNCIA DA CÂMARA DE PIRACICABA

No Islamismo, o culto é feito de joelhos, em direção à Meca. No Budismo, sentado, enquanto olhos e bocas permanecem fechados. Mas em outras religiões, fica-se de pé, com cantos e louvores.

Não raro, os mandamentos de uma religião são considerados pecados em outras. Algumas crenças proíbem o consumo de álcool. Em outras, como no Catolicismo, o padre, guiando-se pelo exemplo de seu Mestre, celebra a comunhão bebendo vinho. No Judaísmo, os homens são circuncidados, ou seja, cortam uma parte de seu corpo. Em outras religiões, é proibido fazer transfusão de sangue, cirurgia ou até mesmo aparar os cabelos.
Em pé, sentado, de joelhos, em silêncio, com cantos. Quem está certo e quem está errado? Mais do que isso, quem está autorizado a decidir? O padre, o rabino, o pastor? Ou o político?
No dia 29.10.12, este assunto causou lamentável episódio na Câmara de Vereadores de Piracicaba, onde as sessões são iniciadas com a leitura da Bíblia. Nessa data, quando todos os demais se levantaram para o ato, um cidadão escolheu permanecer sentado, em silêncio, de olhos fechados, sem se mover. Por que terá feito isso? Quem será ele? O que será que ele pensa? Qual será sua religião?
Seria um budista que, diante da evocação de Deus, entrou em oração, conforme os mandamentos de sua crença? Seria um muçulmano, que percebeu que todos estavam de costas para a Meca? Seria um judeu, um espírita, um protestante? Seria, um católico, que, como as pessoas que cercavam Jesus durante o Discurso da Montanha ou na Última Ceia, ouviram as Palavras de Deus sentados e quis manter-se na mesma posição em que hoje Jesus, também sentado, está ao lado de seu Pai? Seria, quiçá, um ateu, que, mesmo não querendo participar do ato, permaneceu, com respeito e amor ao seu próximo, em silêncio sem incomodar o louvor de todos os outros?
Ninguém soube, pois ele sequer teve oportunidade de permanecer no recinto. Por ordem do Excelentíssimo Presidente da Câmara, homens da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar ali presentes o expulsaram da chamada Casa do Povo. Será que para esta Casa, povo é apenas o cidadão que tem religião? Mais do que isso, cuja religião cultua Jesus mas não reconhece Maomé, Buda e outras figuras sagradas? Mais ainda, que admite apenas uma forma de cultuar Jesus ou Deus, vale dizer, a sua, de pé?
Na Alemanha Nazista, judeu não podia ficar. Com sorte, era expulso do país; sem sorte, era morto. Será que poderá ficar na Câmara de Piracicaba? Se se submeter à fé alheia, é possível que sim.
Na palestina, duas pessoas podem ser amigas, sócias, colegas de trabalho, marido e esposa, pai e filho. Desde que tenham a mesma religião; do contrário, é comum não tolerarem sequer pisar a mesma calçada.
Gandhi, nascido na Índia e sem renunciar à sua cidadania inglesa, liderou a libertação de sua pátria do domínio britânico sem nunca ter posto a mão em uma arma ou permitido que qualquer de seus seguidores o fizesse. Após alcançar a liberdade de sua terra mãe, pagou caro pelo sonho de um único país para hindus e muçulmanos. Foi assassinado por questão religiosas, que tiraram da Índia o território que deu origem ao Paquistão, e da humanidade, aquele que ficou conhecido como o Mahatma, ou A Grande Alma.
Quando uma pessoa agride outra, seja lá por qual forma for, considera-se que houve uma violência, uma injustiça. Quando a agressão é feita com uso de meios que só uma das partes têm, a violência ganha requinte de covardia. O Excelentíssimo presidente da Câmara, por quem sempre terei incondicional respeito, mandou expulsar-me alegando que a regra estava prevista no regimento da Casa. Regimento que somente ele, por ser vereador, mas não eu ou qualquer outro cidadão, pode criar e modificar. Ou seja, a violência religiosa que sofri foi praticada com base em instrumento que só ele tem. Foi praticada contrariando a Constituição Federal e a Lei de Improbidade Administrativa, na frente de todos, na presença da imprensa, com transmissão ao vivo por rádio e televisão.
São reflexos deste nosso tempo, em que religião é praticada em parlamentos e política é feita em templos, como se nunca tivesse existido a passagem bíblica que diz dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!
Já participei de cultos das mais diversas religiões. Jamais um ato meu atrapalhou qualquer desses eventos, mesmo que eu não concordasse com nada do que via, pois considero que a tolerância e o respeito às diferenças são não só fundamentais para a construção de uma sociedade livre e pacífica, como também uma grande oportunidade de se aprender com o próximo e, quem sabe, ser retirado do erro. E se algum vez, mesmo que na luta por meus direitos, uma só conduta minha for indigna desta cidade, humildemente me retratarei e reverterei a injustiça que tiver praticado, nem que isso exija minha despedida. Por que, então, impedem que eu, em paz e com repeito, permaneça da forma que me parece mais adequado às minhas crenças?
Tenho o mais absoluto respeito pela opção religiosa de cada pessoa, mesmo que com ela não concorde. Gostaria de receber igual tratamento dos demais. Não é esse o mandamento? 'ama o teu próximo como a ti mesmo'?
Em futuras sessões da Câmara Municipal de Piracicaba, é possível que outras pessoas professem sua fé da maneira que lhe parecer mais adequado à sua crença. Ou, talvez, alguém prefira não participar de qualquer manifestação religiosa. Desde que todos sejam respeitados, a mim isso não representará incômodo. Porém, seu Presidente alega que o Regimento proíbe excluir-se das práticas religiosas escolhidas por esta Casa. Sua Excelência terá que escolher lealdade à norma que ele e seus pares podem modificar, ou à Constituição Federal, à Lei de Improbidade Administrativa, à Declaração Universal dos Direitos dos Homens e do Cidadão, à Convenção Interamericana de Direitos Humanos e, mais do que isso, ao respeito que, como cidadão e como cristão, deve a seu próximo. O destino desse Presidente está nas mãos de cada integrante desta Câmara, que por mim serão sempre respeitados.
Se não estão erradas as informações que recebi, soube que alguns vereadores discordam da postura adotada por Sua Excelência e foram, na sessão, exortados por seus pares. Aos dissidentes, minha solidariedade. A todos, o meu incondicional respeito.
Eu poderia ter inciado este texto falando sobre minha fé. Mas se ela contrariasse a sua, você teria lido até o fim?

Régis B Montero

*Nassif

Câmara de Piracicaba mantém a sua intolerância religiosa

Robson Soares
O diretor Soares parece mandar
mais que o presidente da Câmara
Em tom de desafio, Robson Soares (foto), diretor jurídico da Câmara de Vereadores de Piracicaba (SP), afirmou que aquela Casa vai continuar exigindo que, durante as sessões, as pessoas fiquem de pé durante a leitura de um trecho da Bíblia.

Na segunda-feira (29), em uma demonstração de intolerância religiosa, João Manuel dos Santos (PTB), presidente da Câmara, expulsou o servidor público Regis Montero, que se recusou a ficar de pé quando outro vereador lia a Bíblia, em um episódio que repercutiu em todo o país.


Santos disse que a leitura da Bíblia está no artigo 21 do regimento interno, mas não há nenhuma determinação sobre a postura em que as pessoas devem ouvi-la. A expulsão foi, portanto, uma arbitrariedade.


Além disso, o referido artigo é inconstitucional, segundo Max Fernando Pavanello, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Piracicaba. “A Constituição Federal garante liberdade de religião e crença, sendo que ninguém pode ter direito cerceado (assistir à sessão camarária) por conta da fé que professa, bem como ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, senão em virtude de lei”, disse.


Pavanello argumentou que nem pastores ou padres obrigam os fiéis a ficarem de pé para a leitura da Bíblia e que ninguém é expulso do templo por ficar sentado.


O vereador Santos, depois de afirmar que estava seguindo o regimento interno, tem evitado a imprensa, mas Soares, seu subordinado, tem feito afirmações contundentes, como se fosse ele quem na verdade manda na Câmara.


Montero já assistiu a outras sessões da Câmara e se manteve sentado durante a leitura bíblica, o que, disse, não significa ato de repúdio. “Tenho absoluto respeito pela opção religiosa de cada um”, afirmou. “Só questionei porque estava sendo retirado [do plenário], já que não está no regimento que devo ficar em pé.”


Ele ainda não decidiu se vai recorrer à Justiça contra a intolerância religiosa do vereador Santos, a qual foi  corroborada pelo diretor jurídico Soares em mais de uma ocasião.


Com informação do Jornal de Piracicaba e foto do site da Câmara.


Vereador expulsa servidor por desrespeito à leitura da Bíblia.

outubro de 2012


Religião no Estado laico.
   Intolerância religiosa no Brasil.

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz2AuicP5ry
Paulopes