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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, dezembro 20, 2012
Alô, alô golpistas:
Lula na Vila Euclides. Lembra?
Aqui, Lula, suspende uma greve. E anuncia: depois vamos agir com “força total”.
O Conversa Afiada atende a sugestão do amigo navegante Historiador, nesse momento em que a elite se preparara para dar o Golpe do Supremo – clique aqui para ler por que o Lula vai para as ruas.
Com a estratégia, Lula reassumiu o sindicato.
E, depois, a Presidência.
Se for preciso, volta.
Com a estratégia, Lula reassumiu o sindicato.
E, depois, a Presidência.
Se for preciso, volta.
A solidariedade lhe é familiar
Depois de pegar em armas contra a
ditadura, Genoino pode voltar à prisão em plena democracia. Mas encontra
na família e nos amigos energia para defender sua história
Rioco e Genoino, na casa do Butantã, onde vivem desde os anos 1970 (Foto: Gerardo Lazzari/RBA) |
Rioco Kayano foi presa em abril de 1972. Caiu nas mãos da repressão à
Guerrilha do Araguaia pouco depois de se hospedar em Marabá (PA). O
cerco se fechava. A operação contra 70 guerrilheiros teria reunido até
10 mil soldados. José Genoino a conheceu em 1968, das reuniões do PCdoB.
E, se a vida na clandestinidade os afastou, a cadeia os uniu. Genoino
assistiu à final da Copa de 1970, Brasil 4 x 1 Itália, na casa de Rioco.
Embarcou para o sul do Pará no dia em que a seleção brasileira voltou
do México. Os tricampeões desfilavam no Anhangabaú, em São Paulo, e ele
tomava um ônibus para Campinas (SP), depois Anápolis (GO), Imperatriz
(PA), selva. Preso no mesmo mês que a companheira, avistou-a na prisão.
Estavam em diferentes salas de tortura e olharam-se acidentalmente
através de um espelho – temendo pelo que teriam de suportar. Passaram a
trocar mensagens de amor. Casaram-se em 1977, quando ele foi solto.
Quando embarcaram para a luta armada, não imaginavam que em menos de uma
década o regime autoritário passaria por uma abertura gradual – e
“segura” para os golpistas de 1964. Preso numa cela em Carolina do
Norte, tendo agora como sonho imediato um pouco de água para abrandar a
secura provocada pela malária e pelos choques elétricos, como poderia
supor que em 1980 seria o sétimo filiado do diretório do Butantã de um
partido legalizado e apto para a disputa e pelo qual seria eleito
deputado federal em 1982?
Tampouco cogitaria eleger um operário presidente da República 20 anos
depois. Muito menos que cairia numa emboscada diferente e, em plena
democracia, seria condenado, por acusações não provadas de corrupção
ativa e formação de quadrilha, a seis anos e 11 meses de prisão.
Resultado de uma trama conduzida com astúcia por políticos, juízes e
setores da imprensa, o julgamento do “mensalão” dará ainda muito assunto
para a história. Enquanto isso, Genoino e sua família cerram novas
fileiras. Quarenta anos depois de cair na guerrilha, as armas de Rioco
para enfrentar o cerco ao marido são outras. Paciência e bordado; a
solidariedade dos amigos; a presença silenciosa e protetora do filho
Ronan, de 29 anos; os escritos e a fé da filha Miruna, de 32, e da
enteada Mariana, de 27, que mora em Brasília e tinha 14 quando foi
apresentada a Rioco e aos irmãos. O pai tinha medo, esperou que ela e
eles crescessem. “Quando veio essa situação foi muito difícil. Mas a
Mariana é um ser humano sensacional, que até me emociona”, diz Miruna.
Eles passarão, eu passarinho. A frase de Mário Quintana, dita em carta por Genoino no dia de sua condenação, é o fio condutor do bordado coletivo de Rioco (Foto:Gerardo Lazzari/RBA) |
Rioco, aposentada há cinco anos, participa de grupos de pintura e bordados. No dia 9 de outubro, viu o marido despedir-se do cargo de assessor do Ministério da Defesa, após a condenação no Supremo Tribunal Federal, com uma carta. Na mensagem, aberta com a frase “Eles passarão, eu passarinho”, de Mário Quintana, o ex-presidente do PT afirma: “Reservo-me o direito de discutir a sentença que me foi imposta. Uma injustiça monumental foi cometida”.
Rioco levou o passarinho de Quintana para o bordado. “Eu digo para os
meus filhos que cada um tem de desenvolver a sua arma para lidar com a
situação. A arma do Genoino é a fala. A Miruna escreve. O Ronan recorre
ao silêncio. E eu pinto e bordo”, define. A escrita de Miruna em apoio
ao pai, “A coragem é o que dá sentido à liberdade”, correu mundo tão
logo o STF proferiu a sentença.
A carta não poupa a imprensa: “Você teria coragem de assumir como
profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria
feliz, praticamente em êxtase, em noticiar a tragédia de um político
honrado? Pois os meios de comunicação tiveram coragem de fazer isso tudo
e muito mais. Mas, ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para
lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno
homem possa continuar sua história”. Além de escrever, ela reza. Outro
dia pegou o marido e os filhos e foi para Aparecida (SP). “Tenho muita
fé”, diz. “Até para, diante de uma situação em que você se sente
impotente, poder sentir que está fazendo alguma coisa.”
É dela um dos 100 pares de mãos que já participaram do bordado. “Veio à
cabeça convidar as pessoas que vinham aqui a participar. Foi uma arma
contrapor a algo tão negativo uma coisa bonita”, conta Rioco. “Apareceu
gente que não sabe nem colocar linha em agulha. Esse desejo de que
coisas boas aconteçam traz energia e nos fortalece. Esse pássaro, fênix,
representa um pouco isso. Depois dessa travessia tão difícil o Genoino
vai renascer.”
Genoino diz que a política é algo permanente em sua vida. E nunca pela
metade. “Eu sempre assumi aquilo que era preciso.” Assumiu inclusive
missões que não desejava, como a candidatura a governador de São Paulo
em 2002 – “para dar sustentação à candidatura de Lula no estado” – ou a
presidência do PT em 2003 – “Eu não tinha mandato e era necessário uma
pessoa conhecida na presidência do PT”.
Desde o início de outubro, convive com a missão de reverter os efeitos
de um julgamento que considerou politizado pela Justiça e pela mídia. A
mesma missão vivida por José Dirceu, companheiro de UNE no Congresso de
Ibiúna, em 1968, de clandestinidade, de construção de um novo partido,
que elegeria Lula. Condenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e
formação de quadrilha, também sem apresentação de provas pela acusação,
Dirceu foi considerado líder do núcleo político do “mensalão”, ao lado
de Genoino e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, penalizado com 8
anos e 11 meses.
Quando Genoino recebeu a reportagem da Revista do Brasil e da TVT em sua
casa, no Butantã, em 19 de novembro, estava acompanhado de Rioco e
Miruna. Durante duas horas, falou de sua história, de sua família, da
solidariedade que tem recebido de amigos e de estranhos e da energia que
tem encontrado para defender sua história. Leia os principais trechos
nos links destacados acima.
Paulo Donizete de Souza
Colaborou Talita Galli, da TVT
No Rede Brasil Atual*comtextolivre
Afinal, segue tendência internacional. Desde o golpe que levou Bush Filho ao poder contra Al Gore, há uma tendência de forças de direita se aglutinarem em torno do Judiciário para, sempre que possível, derrogar ou ameaçar a soberania do voto popular. Foi assim em Honduras. Por que não no Brasil?
O STF. Por que não?
Via CartaMaior
Desde
o golpe que levou Bush Filho ao poder contra Al Gore, há uma tendência
de forças de direita se aglutinarem em torno do Judiciário para, sempre
que possível, derrogar ou ameaçar a soberania do voto popular. Foi assim
em Honduras. Por que não no Brasil? Na falta de outros argumentos, ou
votos, a direita brasileira encastelou-se no Supremo.
Flávio Aguiar
Leio,
compartilhando, a indignação dos companheiros com a decisão do STF
invadindo prerrogativas do Congresso Nacional e cassando os mandatos dos
deputados considerados culpados no processo 470. Mais um desmando,
eivado de contradições, sobretudo a do voto decisivo do ministro Celso
de Mello: cassou aqui e agora onde não cassara lá e antes.
A
argumentação de que no meio do caminho foi votada a Lei da Ficha Limpa e
outras leis não cola. O assunto é matéria constitucional, no fim de
contas.
Porém no fim de contas, esse acontecido, bem como o comportamento no Supremo e da mídia em torno não surpreende muito.
Afinal, segue tendência internacional.
Desde o golpe que levou
Bush Filho ao poder contra Al Gore, há uma tendência de forças de
direita se aglutinarem em torno do Judiciário para, sempre que possível,
derrogar ou ameaçar a soberania do voto popular. Foi assim em Honduras.
Por que não no Brasil?
Na falta de outros
argumentos, caminhos ou votos, a direita brasileira encastelou-se no
Supremo. A batalha judicial também é o último esteio da direita
argentina, no que diz respeito à lei contrária à indevida concentração
da mídia.
O difícil de assimilar é que neste
caminho envereda-se por confrontos institucionais inusitados, como este
agora provocado com o Congresso que, no momento (quarta-feira 18) quer
votar mais de 3000 vetos em bloco para votar um único, o dos royalties
do petróleo. Sim, houve a liminar acolhida pelo ministro Fux no meio do
caminho, mas a pedra já estava bloqueando o bom entendimento e abrindo
espaço para a bílis mal-humorada.
Há uma coisa
que chama a atenção nisso tudo. É o despropositado poder da vaidade
humana. Pode-se ler isto tanto na arrogância dos comentários que pedem o
linchamento dos réus, quanto no comportamento desavisado de juízes que
ameaçam a validade de nossa Constituição tão dificilmente conquistada.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
*GilsonSampaio
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