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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, julho 07, 2013
Contra as tramóias da direita: sustentar a Dilma Roussef
Seria grande irresponsabilidade e vergonhosa traição de nossa parte, entregar à velha e apodrecida classe política aquilo que por dezenas de anos temos construido, com tantas oposições: um novo sujeito histórico, o PT e partidos populares, com a inserção na sociedade de milhões de brasileiros. Esta classe se mostra agora feliz com a possibilidade de atuar sem máscara e mostrando suas intenções antes ocultas: finalmente, pensa, temos chance de voltar e de colocar esse povo todo que reclama reformas, no lugar que sempre lhe competiu historicamente: na periferia, na ignorância e no silenciamento. Aí não incomoda nem cria caos na ordem que por séculos construimos mas que, se bem olhrmos, é ordem na desordem ético-social.
Esta pretensão se liga a algo anterior e que fez história. É sabido que com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste europeu em 1989, o Presidente Reagan e a primeira ministra Tatscher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado, tido como ineficiente e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso visava-se a chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado no qual tudo, mas tudo mesmo, da religião ao sexo, vira mercadoria. E conseguiram. O Brasil sob a hegemonia do PSDB se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos que foram maléficos ao interesse geral.
Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grandes maiorias da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos. O mesmo poderá acontecer com Portugal, com a Espanha e com a Itália.
A crise econômico-financeira de 2008 instaurada no coração dos países centrais que inventaram esta perversidade social, foi consequência deste tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância (greed is good), como não se cansa de acusar o prêmio Nobel de economia Paul Krugman. Para ele, estes corifeus das finanças especulativas deveriam estar todos na cadeia como criminosos. Mas continuam aí faceiros e rindo.
Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macro-economia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político especialmente, aquele ligado ao poder de Estado a partir do qual garantia seu enriquecimento fácil. Especialmente a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados, está empenhada fevorosamente neste empreitada de volta ao velho status quo.
Por isso, as demonstrações devem continuar na rua contra as tramóias da direita. Precisam estar atentas a esta infiltração que visa a mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas.
Dai, repetimos, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e o oposição para juntas novamente esvaziar o clamor das ruas e manterem um status quo que prolonga benefíciois compartilhados.
Inteligentemente sugeriu o analista politico Jeferson Miolo em Carta Maior (07/7/2013):”Há uma grave urgência política no ar. A disputa real que se trava nesse momento é pelo destino da sétima economia mundial e pelo direcionamento de suas fantásticas riquezas para a orgia financeira neoliberal. Os atores da direita estão bem posicionados institucionalmente e politicamente…A possibilidade de reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar sua enorme energia mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do país aulas públicas, espaços de deliberação pública e de participação direta para construir com o povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o sistema político, a taxação das grandes fortunas e do capital, a progressividade tributária, a pluralidade dos meios de comunicação, aborto, união homoafetiva, sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma urbana, reforma republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do povo brasileiro, para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma”?
Desta forma se enfrentarão as articulações da direita e se poderá com mais força reclamar reformas políticas de base que vão na direção de atender a infra-estrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.
Leonardo Boff não é filiado ao PT, é teólogo e escritor, da Comissão da Carta da Terra
*GorettiB.
A ponte do tucano Alckmin caiu...e matou 4
Na segunda (1º), caiu um dos pilares de sustentação de concreto da ponte
que está sendo construída sobre o rio Piracicaba
, em Piracicaba (São Paulo) que faz parte do anel viário da cidade .
Dez funcionários da obra e um guindaste caíram no rio, 4 morreram e um
continua desaparecido.
Este foi o segundo acidente na obra desde maio, quando dois funcionários ficaram feridos e pendurados a 15 metros do chão após o rompimento de um cabo de sustentação.
A imprensa noticiou o caso em letras miúdas, sem dar destaque que, a
obra é governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) . A
Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp),não deu
nenhuma declaração sobre o acidente. Bombeiros e a Policia Militar que
trabalham no local do acidente afirmam que receberam ordens de São
Paulo para não dar entrevistas sobre o acidente.
A obra faz parte do contrato de concessão da Rodovias do Tietê e está
orçada em R$ 79 milhões.A empresa responsável pelas obras para
construção do anel viário de
Piracicaba - a Construtura Tardelli - já recebeu 40 autuações e quatro
embargos desde setembro do ano passado.
De acordo com o superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) no estado de São Paulo (SP), Luiz Antonio Medeiros, que passou
essa informação em coletiva a imprensa, as multas foram aplicadas entre
setembro e o final de junho
Um erro na análise do solo onde está sendo construída a ponte do anel
viário de Piracicaba foi apontado como a possível causa do acidente,
segundo o laudo preliminar divulgado pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de
Piracicaba
Ainda de acordo com informações do MPT, em setembro de 2012 foi aberto
inquérito contra a construtora responsável pela obra, a Construtora
Tardelli, que chegou a ser embargada devido ao risco de soterramento e
uso impróprio de andaimes, na ocasião
"O fato não é uma fatalidade. Tudo indica que houve falha na engenharia
da empresa, o que é de extrema gravidade. Nossa preocupação agora é
apurar quem são os responsáveis pelo acidente. Eles devem pagar e
responder criminalmente. Enquanto isso, queremos garantir apoio aos
familiares, inclusive, o amparo financeiro", afirma o superintendente Luiz Antonio Medeiros.
Durante
a vistoria, Medeiros citou a possibilidade do pedido de um processo que
impeça a concessionária Rodovias do Tietê, responsável pelas obras, de
continuar o trabalho. "Podemos sugerir, por meio do Ministério, que uma
nova licitação seja aberta com foco na contratação de outra empresa para
a realização das obras. A tragédia poderia ser ainda maior, caso a
pilastra aguentasse até o final do trabalho e despencasse, após
liberada, com diversos carros", afirma.
A mesma concessionária responde por obra semelhante na rodovia Régis
Bittencourt, que passará por rigorosa vistoria. "Uma empresa que recebe
40 autuações em apenas uma obra deve passar por inspeção. Ainda mais
quando é responsável pela construção de pontes em diversos pontos do
Brasil. Todos os canteiros serão fiscalizados, mas o trabalho na rodovia
Régis Bittencourt terá foco maior por ser muito semelhante ao de
Piracicaba".
Enquanto isso, o prefeito de Piracicaba Gabriel Ferrato (PSDB) e o
governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), não tocam no assunto. A
imprensa, aliada dos dois políticos, ajuda no silêncio. Nunca citam os
nome dos dois.
*osamigosdopresidenteLula
FHC e a CIA: Escandalize-se à vontade Homer Simpson
Em
tempos de arapongagem explícita nada como republicar a denúncia de
Sebastião Nery sobre as relações carnais entre o Farol de Alexandria e a
Cia. Nem é preciso muito esforço para imaginar o que teria ocorrido em
certas mídias travestidas de patrioteiras.
Escandalize-se à vontade Homer Simpson
FHC, Fundação Ford , Cia ... (Tá explicado porque FHC ganha tantos títulos nos EE.UU?)
GilsonSampaio
A postagem Revelada gravíssima sabotagem dos EUA contra Brasil com aval de FHC e morte de um Brasileiro
foi campeão de acessos no dia de hoje. Isto posto, resolvi colocar a
disposição dos leitores a escabrosa relação de FHC e a Fundação Ford
logo depois do AI-5.
por Sebastião Nery da Tribuna da Imprensa
“Numa
noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no
Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante
da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma
ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”.
Esta
história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está
contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do
possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova
Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de
1969″ era fevereiro de 69.
Fundação Ford
Há
menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e
jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início
financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de
novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo
assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido
presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e
notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para
fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total
do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo,
sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800
mil a um milhão de dólares.
Agente da CIA
Os
americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique
já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua
grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado
de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em
que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais
atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros
países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado
na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se
tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer
“conferências” em universidades norte-americanas e européias.
Era
“um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da
CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
Quem pagou
Acaba
de chegar às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo,
indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de
Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA na
guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders
(editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem
“pagava a conta” era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros)
entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para
resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550
páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
“Consistente
e fascinante” (”The Washington Post”). “Um livro que é uma martelada, e
que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA”
(”Spectator”). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e
sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (”The Times”).
Milhões de dólares
1
– “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações
autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o
tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos…
permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de
programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de
trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas”
(pág. 153).
2 – “O uso de fundações
filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas
para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década
de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A
CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e
financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura
correta na guerra fria” (pág. 443).
3 – “A
liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de
dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos
Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou
amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o
financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).
FHC facinho
4
– “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o
tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia
limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág.
123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não
apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na
Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras
regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no
Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no
Brasil” (pág. 119).
6 – “A ajuda financeira
teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra
cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria:
conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana”
(pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.
(*) Publicado na Tribuna da Imprensa de 09 de fevereiro de 2008
*GilsonSampaio
O “problema” dos seios desnudos
Por Nikelen Witter*, Biscate Convidada
*Nota Inicial: Neste texto não comentarei sobre o Femen. Existem vários textos excelentes (esse, por exemplo)
sobre a organização, portanto, não pretendo repetir aqui o que já foi
dito. Some o fato de que não sinto, como feminista, qualquer tipo de
empatia ou afinidade com o referido grupo. Feita a nota inicial, segue o
baile.
Desde que o Movimento Marcha das Vadias (leia sobre a Marcha aqui no nosso clube)
começou, tenho ouvido constantemente críticas às mulheres que mostram
SEUS seios (pronome possessivo destacado) nos protestos. Os comentários
vão desde o tradicional: “como querem respeito se não se dão ao
respeito?”; até os que são colhidos do próprio feminismo e que envolvem a
objetificação da mulher ou que acusam as manifestantes de mostrarem os
seios para terem a atenção da mídia. Eu poderia elencar a cansativa
lista de contra-argumentos sobre estes comentários. Cansativa porque já
foram repassados centenas de vezes, ao menos para quem costuma manter-se
informado. Também poderia dizer que mesmo que todas estas críticas
tivessem fundo de verdade, ainda não teriam razão de ser. Isso porque o
corpo exposto nos protestos não pertence aos tais críticos e, portanto,
eles nada tem a ver com a decisão das DONAS dos seios de mostra-los ou
não.
Por isso a minha opção foi ir à raiz de todos estes comentários e olhar
para eles com um olhar infantil, com uma pergunta de criança de 3 ou 4
anos: por quê? Por que não?
As mulheres não podem mostrar seus seios em público.
Por quê?
É feio para uma menina se “expor”.
Por quê?
É coisa de vadia.
Por quê?
É ruim.
Por quê?
Porque os homens ficarão pensando bobagens.
Por quê?
Porque homens são assim.
Por quê?
Ah, é assim!
Por quê?
Se você é inteligente, com certeza percebeu onde todos estes porquês
batem. Eles se chocam contra uma imensa parede cultural restritiva dos
direitos das mulheres. As desculpas que vão desde a moralidade – que é
histórica e temporal, portanto, de validade sempre limitada – até a
total e descabida desconstrução do masculino, transformado em “besta
selvagem e irracional”. No fim disso está: “mulheres mantenham-se
escondidas, fechadas, se guardem para os que podem protegê-las, pois
todos os homens não prestam”. O raciocínio todo é retrógrado e fere as
mulheres e aos homens. Limita ambos a papéis restritos, impõe formas de
comportamento, cerceia uma reivindicação que pertence à raiz da luta
contra o patriarcado: o corpo das mulheres pertence as mulheres.
Parece uma reivindicação tola? Óbvia? Um pouquinho de história e
antropologia resolve isso. A bíblia permite aos homens vender suas
filhas e também as esposas. Caso você não saiba os livros que compõe a
bíblia pertencem a épocas diferentes e foram escritos de acordo com o
que interessava a tal época, ou seja, não desceram do céu. Por conta
disso, em alguns trechos, as filhas e esposas poderiam ser repudiadas,
expulsas, prostituídas ou condenadas ao apedrejamento caso fossem
desobedientes. O mandamento que fala em não cobiçar a mulher do próximo
trata as mulheres como coisas. Aliás, o velho testamento é cheio disso.
Mas não pense que isso se restringe à mitologia judaico-cristã. Os
romanos proibiam os direitos às mulheres porque consideravam que se
tornariam perigosas caso tivessem direitos. Aí você pergunta: perigosas
por quê? Perigosas como? Os romanos também proibiram as mulheres de
falarem nas ruas, de dizerem o que pensavam. Por quê? (Leia Deusas e Adivinhas,
de Santiago Montero). Ao longo da História as mulheres foram tratadas
como o outro, o intruso, o macho defeituoso, a subespécie, a coisa
incompreensível, o incontrolável a ser controlado, o incapaz a ser
desacreditado (leia Inventando o Sexo, de Thomas Laqueur). Foram
vistas como pertence, como coisas, como parte daquilo que os homens
trocavam, se desfaziam, possuíam, punham sua marca. Por quê? O que
assusta tanto?
Não tome estas perguntas como ingênuas. Não são. Eu não as estou
formulando em tom de coitadinha, de mimimi (como gostam de usar na
internet). Estou formulando estas perguntas como bandeira, como lança,
como ataque! Por quê? Por quê? POR QUÊ?
Mais que tudo: por que você acredita que tem de se dobrar a isso? Seja
homem ou mulher, por que acha que esta é a forma correta de ser e se
comportar? Por que faz coisas e repete ações sem se perguntar por que
faz isso? Por que continua sendo a vaquinha do presépio balançando a
cabeça ao “sempre foi assim”?
Uma das coisas que a História me ensinou foi que nenhum comportamento,
nenhuma forma de ver o mundo, nenhum tipo de construção cultural é
eterno e impermeável à crítica e a mudança. Tudo muda e muda o tempo
todo. O passado nos serve para refletir e entender o presente, não para
engessá-lo, controlá-lo ou limitá-lo.
Os seios desnudos são uma reivindicação de posse. Qualquer seio é,
sendo exibido ou não. Os úteros também são reivindicações de posse, são
nossos, férteis ou não, são nossos! Ponto. Não há margem para discussão.
Assim como são nossas as pernas, os braços, os cabelos longos e soltos,
curtos e curtíssimos, raspados ou moicanos; são também nossas as
tatuagens e a ausência delas. É nosso o grito, a voz que fala, o texto
escrito, a palavra no microfone, o andar na rua, o estudar, o amar quem
quiser, o fazer esportes, o transar quando estiver a fim. Tudo isso, em
algum momento, já foi proibido, disciplinado, limitado, estigmatizado. A
tudo isso, em algum momento, foi nos foi dito “não, vocês não podem!”
Por quê? “Porque vocês são mulheres.” Isto é uma constatação e não uma
resposta. Quem diz que não podemos? Por que não podemos? Pense bem.
Encontre uma resposta que não seja vazia, tola, religiosa, eivada de
preconceito. Pense! Depois responda: por quê? Por que isso te incomoda
tanto? E quando você souber por que te incomoda, eu ainda estarei te
perguntando, como a mais insistente das crianças: por quê? Por quê? Por
quê?
*Nikelen Witter *Feminismo.org.br
OAB vai pedir a cassação de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro
OAB vai pedir a cassação de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro
Por Redação - de Brasíl
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concluiu a denúncia contra Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) por campanha de ódio. A entidade quer que a Corregedoria da Câmara puna os dois por quebra de decoro parlamentar em virtude de divulgação de vídeos considerados difamatórios, o que poderia resultar na cassação de seus mandatos.
Liderando um grupo de mais de vinte entidades ligadas aos direitos humanos, aOAB enviará, na próxima semana, representação ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, contra Feliciano e Bolsonaro. A entidade quer que a Corregedoria da Câmara os processe por quebra de decoro parlamentar em virtude de divulgação de vídeos considerados difamatórios.
Em um dos vídeos, Bolsonaro teria editado a fala de um professor do Distrito Federal em audiências na Câmara para acusá-lo de pedofilia e utiliza imagens de deputados a favor da causa homossexual para dizer que eles são contrários à família.
Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, essas campanhas de ódio representam o rebaixamento da política brasileira. “Pensar que tais absurdos partem de representantes do Estado, das Estruturas do Congresso Nacional, é algo inimaginável e não podemos ficar omissos. Direitos Humanos não se loteia e não se barganha”, disse. Indignado com os relatos feitos por parlamentares e defensores dos direitos humanos durante reunião na sede da entidade, Damous garantiu que “a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB será protagonista no enfrentamento a esse tipo de atentado à dignidade humana”.
Na reunião com a CNDH da entidade dos advogados estiveram presentes, além dos deputados acusados na campanha difamatória, representantes da secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Federal de Psicologia, e ativistas dos movimentos indígena, de mulheres, da população negra, do povo de terreiro e LGBT.
*CorreiodoBrasil
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