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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 26, 2014

Charge foto e frase do dia





















































































































FGV - ESTIMA COPA RECORD IMPOSTOS

Que parem de falar coisas sem ter certeza.
Do Tijolaço:
"Com a venda de ingressos esgotada para quase todos os jogos da Copa, imagino que valha a pena insistir num ponto no qual ainda persiste certa desinformação.
A receita gerada pela venda dos ingressos não é isenta de impostos.
As isenções fiscais permitidas pela Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010, decretada pelo Congresso Nacional, que valem para Fifa e seus associados, referem-se à importação de material e equipamentos esportivos usados nos jogos, além de todos os serviços relativos à organização (contratação, hospedagem e despesas com árbitros, por exemplo).
Entretanto, a venda de ingressos não entra nessa conta. Isso está bem claro na lei, nos seguintes capítulos.
§ 3º A isenção de que tratam as alíneas b e c do inciso II do caput não alcança as receitas da venda de ingressos e de pacotes de hospedagem, observado o disposto no art. 16.
§ 3º A isenção de que tratam as alíneas b e c do inciso II do caput:
I – não alcança as receitas da venda de ingressos e de pacotes de hospedagem, observado o disposto no art. 16;
A própria Fifa já deixou bem claro, em nota publicada em seu site, que pagará os impostos referentes à venda de ingressos:
A isenção final dada pelo país-sede à FIFA, no final das contas, nunca é geral e irrestrita. Como exemplo podemos mencionar a cobrança de impostos sobre as vendas de ingressos no Brasil.
Segundo um estudo da Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, a receita agregada à economia brasileira, de 2010 a 2014, com a realização da Copa, deve ficar em mais de R$ 142 bilhões.
A estimativa da FGV é de que a Fifa e as empresas investidoras na Copa deverão pagar R$ 18,3 bilhões em impostos ao Brasil.
Uma parte disso será com a venda de ingressos."

Quem tem ódio de Miguel Nicolelis?

Enquanto Miguel Nicolelis é achincalhado por Veja e seus leitores, as principais publicações científicas do mundo exaltam o seu trabalho

roger reinaldo miguel mainardi
Roger, Reinaldo e Mainardi, os novos PHDs em neurociência do Brasil (Ilustração: Pragmatismo Político)
“Estou muito feliz em ver que o investimento de tantos anos resultou nessa aplicação da Ciência. É assim que a Ciência funciona. É maravilhoso.”
“Estou muito satisfeito em ver que um investimento que o NIH fez em pesquisa básica nos EUA, durante 25 anos, no laboratório do doutor Nicolelis, deu frutos no Brasil, com a pesquisa clínica financiada pelo governo brasileiro. A Ciência é global”
“Estou muito encantado, porque uma quantidade muito grande de gente, num evento esportivo, vai poder ver, pela primeira vez, uma demonstração do que a Ciência é capaz de fazer e dar esperança para milhões de pessoas no mundo todo”
As falas acima são de Francis Collins, um dos cientistas responsáveis pelo revolucionário Projeto Genoma Humano, que em 2001 fez o mapeamento do DNA e descortinou infinitas possibilidades para a Ciência. Ele atualmente é diretor do National Institute of Health (NIH), órgão financiador de pesquisas biomédicas ligado ao governo americano, que faz dele o responsável por um orçamento de US$ 38 bilhões. No mês passado, Collins veio ao Brasil para conhecer de perto uma das pesquisas financiadas por seu instituto: o Projeto Andar de Novo comandado pelo neurocientista Miguel Nicolelis. Com uma equipe formada por cientistas do mundo inteiro, o objetivo do brasileiro é devolver mobilidade para paraplégicos através de uma neuroprótese, conhecida como exoesqueleto.
Mas parece que alguns compatriotas de Nicolelis não concordam com Francis Collins. Pessoas do alto gabarito de Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Roger do Ultraje a Rigor, estão em franca campanha contra o resultado de 30 anos de estudos do professor.
Vejamos o que os nossos PHDs em neurociência têm a dizer. Primeiro vamos com Mainardi e a resposta à queima roupa do cientista:
mainardi nicolelis
Direto de seu laptop em Veneza, Diogo debocha do resultado do árduo trabalho do único brasileiro cotado para receber o prêmio Nobel. De quebra, pra engrossar mais uma vez seu declarado desprezo pelo Brasil, Diogo renega as incontestáveis contribuições de Santos Dumont para a aviação. O ex-colunista de VEJA ignora as diversas etapas de construção do conhecimento científico, em que grandes descobertas são feitas coletivamente ao longo do tempo. É o que o neurocientista tentou explicar para Mainardi.
Depois de Mainardi, foi a vez de Reinaldo Azevedo provocar Nicolelis:
reinaldo2
A contribuição significativa de um brasileiro para a Ciência parece realmente incomodar a nova comunidade científica emergida da inteligência vejiana.
Mas se Nicolelis é achincalhado na revista VEJA, na britânica Nature – uma das mais antigas e importantes revistas científicas do mundo – seu projeto vem sendo acompanhado atentamente desde os primeiros resultados e, nesse mês, foi destaque de capa.
Mas não acabou. Ainda temos mais um gênio da raça para botar o dedo nessa cumbuca. A cereja do bolo não veio de nenhum articulista da VEJA, mas de um leitor assíduo. Roger, autor de Marilou e feliz proprietário de um elevadíssimo QI, chamou o cientista para a briga no Twitter em junho do ano passado. Depois de ser confundido com Lobão por Nicolelis, o roqueiro se enervou:
“Estimulei o pensamento e diverti milhões no meu país. Não gastei milhões num robô com tecnologia arcaica”
Munido dessas convicções, Roger mostra-se um dos líderes da campanha anti-Nicolelis nas redes sociais. Essa semana, diante da curtíssima exibição do exoesqueleto na abertura da Copa, o vocalista decretou o fiasco do Projeto Andar de Novo:
roger1
Nicolelis e sua equipe ajudaram paraplégicos a voltarem a andar, mas Roger considerou pouco prático o uso de uma tábua cuja função era meramente decorativa. A reparação científica do roqueiro, de fato, “divertiu milhões em seu país”.
Você deve estar se perguntando por que Nicolelis está sofrendo essa perseguição. É que nas cabeças brilhantes dos nossos cientistas de ocasião, o sucesso do exoesqueleto seria contabilizado como uma vitória de Lula e Dilma, e não do Brasil, dos brasileiros e da comunidade científica mundial. Assim como o governo americano, o Brasil fez alto investimento no projeto: R$33 milhões. Não fez mais do que a obrigação. Mesmo assim, oposicionistas desejam minar qualquer possível ganho político que o governo venha a ter com o sucesso do projeto. Mesmo que para isso seja necessário vandalizar essa importante contribuição do país para a humanidade. É o famoso viralatismo brasileiro, misturado com campanha política em ano de eleição.

*pragmatismopolitica

REFORMA POLÍTICA JÁ

quarta-feira, junho 25, 2014

Andy Warhol e Pelé


A amizade entre Andy Warhol e o jogador de futebol Pelé começou em 1977 e está registrada nos Diários de Andy Warhol. Leia algumas passagens:
Quarta-feira, 13 de julho, 1977. De táxi até a Rockfeller Plaza para ir ao escritório da Warner Communications ver Pelé, o jogador de futebol que está sendo fotografado para Interview. Ele é adorável, lembrou que me encontrou uma vez no Regine’s. Estávamos no trigésimo andar. Ele te uma cara engraçada, mas quando sorri fica lindo. Ele tem o seu próprio escritório lá e estão fabricando camisetas e chapéus e histórias em quadrinhos.
Andy Warhol
Primeiro uma conversa…
Warhol e Pelé
Em seguida algumas poses…
andy-warhol-aula-g1
E o resultado!
warhol_pele2
Terça-feira, 27 de setembro de 1977. Ahmet Ertegun telefonou convidando para o jantar em homenagem a Pelé. Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes.

*Danclads 

“Aquela bosta do nordeste”, diz jornalista do SporTV


Por Revista Fórum
“Aquela bosta do nordeste”, diz jornalista do SporTV

Uma petição pública pede que a Procuradoria Geral da República instaure um processo criminal e que o canal demita Eduardo Bueno
Por Redação
Na última quinta-feira (19), durante a exibição do programa “Extraordinários”, do canal a cabo SporTV, o jornalista Eduardo Bueno, ao falar sobre a região do nordeste, se referiu como “aquela bosta”. Uma petição online foi lançada para que a Procuradoria Geral da República instaure um processo criminal contra o profissional.
Ainda que, posteriormente o comentário que criou um mal estar entre os presentes, visto que entre eles estava Xico Sá, que é nordestino, Bueno tenha justificado que foi uma brincadeira, o comentário tem repercutido negativamente na rede e Eduardo Bueno está sendo acusado de preconceito.
Na Petição Pública, que leva o título de “Mais uma gressão a nordestinos feita por Eduardo Bueno”, pede-se a demissão do jornalista e que os cidadãos nordestinos ficaram “extremamente chocados” com as declarações feita em rede nacional.
A seguir, confira o momento em que Eduardo Bueno chama o nordeste de “aquela bosta”:


*Fórum

Um policial militar em defesa da legalização das drogas

Tenente da PM na Bahia, Danillo Ferreira é porta-voz da LEAP no Brasil, organização internacional que reúne juízes, promotores, agentes penitenciários contra a proibição do consumo de entorpecentes
por Renan Truffi —
Apreensão de drogas
Para tenente Danillo Ferreira, da Polícia Militar na Bahia, guerra às drogas é "enxugar gelo”
Ter que sair às ruas por pouco mais de três anos para prender traficantes e combater os pontos de venda de drogas fez o tenente Danillo Ferreira, de 28 anos, da Polícia Militar na Bahia, refletir sobre o seu papel como agente do Estado na guerra contra as drogas. “Todo policial sabe que a gente enxuga gelo nessa questão”, resume, antes de completar com uma conclusão sobre o assunto: “É impossível proibir o consumo de qualquer tipo de substância em uma democracia”.
Apesar de ser policial militar, Danillo Ferreira tornou-se, há um ano, porta-voz da Law Enforcement Against Prohibition (LEAP) no Brasil, uma organização internacional que reúne juízes, promotores, policiais e agentes penitenciários a favor da legalização de todas as drogas, com o objetivo de reduzir o número de mortes e impedir o desenvolvimento de estruturas criminosas que nascem com o tráfico.
“(O patrulhamento) Foi uma das fontes de convencimento de que essa atual política contra drogas é ineficiente. Hoje você prende um traficante e todo o estoque dele. Digamos que ele saia depois de um mês. Em algumas semanas, ele consegue ter o mesmo estoque de novo. Que empresa, economicamente falando, consegue reaver todo seu estoque dentro de um mês? Você olha isso e pensa: ‘Estou lidando com algo que não tem controle’. É algo irracional o que estamos fazendo. O que aquilo está gerando? Tem gerado toda uma estrutura criminosa necessária para resistir à repressão. Você tem tráfico de armas, aliciamento de menores”, argumenta.
O convite para integrar o LEAP veio depois que Ferreira chamou atenção da juíza Maria Lucia Karam, uma das diretoras da organização, com opiniões publicadas em seu blog, chamado Abordagem Policial. O tenente, que se considera de esquerda, defende em seus textos que “modificar a política de drogas no Brasil é essencial para poupar a energia que as polícias poderiam utilizar para questões essencialmente policiais”. Apesar das opiniões incomuns para um PM, ele garante que nunca foi censurado pela corporação. Pelo contrário, foi convidado para assumir o setor de Comunicação Social da PM para cuidar das redes sociais da polícia militar baiana. Os textos, porém, não agradam toda a estrutura hierárquica.
De origem humilde, Danillo Ferreira trabalhou cortando carne em açougue na adolescência, mas agora cursa Filosofia e não pensa em largar a Polícia Militar. “Quanto a gente fala de legalizar todas as drogas, a questão é que há todo um discurso que tenta impor esse medo: ‘Olha, nós vamos viver numa Cracolândia geral’. Não se trata disso. Trata-se, na verdade, de fazer com que os danos sejam reduzidos. Os EUA, com bilhões de dólares já investidos nesta guerra, não conseguiram (acabar com o tráfico)”, diz. “Repressão não é possível”.
Leia a seguir entrevista com o tenente Danillo Ferreira:
CartaCapital: Quando você ingressou na PM e por quê?
Danillo Ferreira: Eu entrei na PM em 2006, tinha 20 anos. Na verdade, eu entendia muito pouco do universo da segurança pública e das polícias. A minha relação com polícia era a de um cidadão que percebia que havia problemas na atuação, mas que nunca tinha procurado se aprofundar sobre o tema. Embora eu sempre tenha, de algum modo, me identificado com um posicionamento mais à esquerda, de (a entrada na academia) influenciou os meus posicionamentos e entendimentos sobre a questão policial, mesmo que hoje eu tenha até uma nova visão sobre a esquerda. Isso tem mudado pra mim, mas em geral pode ser dito que sou de esquerda.
CC: Por que você quis ser policial?
DF: Eu prestei vestibular para Direito e não passei. Foi quando pintou a possibilidade de fazer a prova da academia da Polícia Militar. Naquela época, tinha afinidades com o Direito. E pela academia eu me tornaria um operador do Direito de uma maneira muito direta, muito pratica. Acabei fazendo concurso e ingressei na polícia.
CC: Você já se considerava de esquerda antes de entrar na PM?
DF: Nas polícias, na verdade, o indivíduo é colocado em diversos dilemas o tempo todo, É questionado sempre sobre contradições morais e éticas não só no ambiente policial, mas na relação entre policial e cidadão. Então, se por um lado já tinha um pensamento progressista antes de entrar na PM, refletir sobre esses dilemas me fizeram ir em busca de pessoas que pensassem a polícia e falassem sobre essas contradições. Depois disso, teve a criação do blog Abordagem Policial, no qual eu acabei dialogando com muitas pessoas, de acadêmicos a policiais de outros estados. Isso também me ajudou muito a me definir em relação a todos esses temas que tocam a segurança pública.
CC: Como é ter essas opiniões dentro da PM? Você já foi questionado pelas coisas que defende ou pelos textos que você publica no blog?
DF: O blog Abordagem Policial começou em 2007, quando eu ainda estava na academia de polícia. Mais do que de esquerda, eu sou blogueiro. Sempre prezei muito pela liberdade de opinião, pelo respeito ao outro. Isso está acima do posicionamento político-ideológico. E, vendo as discussões entre os policiais nos corredores da academia, eu e alguns colegas percebemos que essas assuntos poderiam incluir outros atores nas discussões. Aos poucos, o blog foi crescendo. Na época, acadêmicos estranhavam o fato de que policiais pudessem estar se manifestando na internet, até porque ainda hoje é proibido legalmente. O Código Penal Militar proíbe que o policial militar faça críticas a superiores ou a autoridades políticas. Eu posso votar, mas não posso criticar. Ainda estamos sob essa sombra legal.
O Abordagem Policial cresceu, acabei sendo chamando pra palestrar. A Unesco fez um estudo e revelou o blog como um dos principais veículos sobre segurança do País (em 2009). E é claro que alguns posicionamentos meus chegam a incomodar policiais de todos os escalões. Tanto policiais da base como coronéis são diametralmente contrários ao que estou dizendo. Ao mesmo tempo, desde que comecei o blog, nunca tive intervenção de nenhum comandante no sentido de que o blog não deveria ser feito ou de que não prosseguisse. No Rio de Janeiro, isso aconteceu com alguns policiais, mas aqui tive essa tolerância por parte dos meus superiores, até tive incentivos em alguns momentos, embora tenha essa questão legal. É algo que está sempre em suspenso: a possibilidade de punição é uma realidade.
CC: Você estuda Filosofia. Pensa em sair da polícia?
DF: É, eu estudo filosofia. A princípio não tem nada que me faça pensar em sair da polícia. Estou prestes a lançar meu primeiro livro. Eu gosto de escrever e só sairia se fosse pra me tornar escritor, mas, como a gente sabe, a vida de escritor no Brasil é difícil.
CC: Como surgiu o convite para o LEAP?
DF: Eu encontrei a LEAP por acaso. Minhas opiniões já se assemelhavam muito com as da organização, então, fiz um cadastro no site e comecei até a escrever mais sobre o tema no blog. Aí a juíza Maria Lucia Karam, depois de ver os meus textos e a repercussão deles, me convidou para ser porta-voz.
CC: Como foi aceitar esse convite? Você teve que pedir autorização da PM por ser uma organização em favor da legalização de todas as drogas?
DF: Eu não pedi autorização a ninguém. Na verdade, essa (legalização das drogas) é uma opinião minoritária não só na polícia, mas na sociedade toda. De alguma forma, a polícia é uma reprodução da sociedade. É bom frisar, claro, que há elementos culturais e organizacionais que potencializam certas condutas. Mas, veja, de certo modo, a polícia é uma reprodução daquilo que a própria sociedade permite que ela seja ou do que ela é. Então, a guerra às drogas ou o culto da guerra às drogas é quase consensual por ideologia ou desconhecimento. A resistência que há na sociedade é a resistência que há na polícia. No blog, 80% dos comentários são contra a legalização. Dizem que é preciso endurecer e etc. Acho que não tem muita diferença entre falar para o meu superior sobre legalização das drogas e falar para a minha mãe, por exemplo. Os dois me olham com o mesmo espanto.
CC: Você chegou a atuar na rua? Por quanto tempo?
DF: Fique entre três e quatro anos na rua, e hoje estou trabalhando nas mídias sociais da PM na Bahia por causa desse destaque com o blog. Em dado momento, um superior me perguntou: ‘É possível fazer algo parecido com a polícia?’ Eu falei que sim e, hoje, embora sejamos a quinta polícia em termos de tamanho, somos a segunda página em número de fãs no Facebook. Só estamos atrás da PM de São Paulo. Até caso de estupro a gente já atendeu na página da PM. Isso tem sido bastante satisfatório.
CC: Você participou de ações contra traficantes e de apreensão de drogas?

DF: Sim, essa foi inclusive uma das fontes de convencimento de que essa atual política é ineficiente. Os policiais, de maneira geral, sabemNós estamos enxugando gelo. Hoje, você prende um traficante e todo o estoque dele. Digamos que ele saia depois de um mês. Em algumas semanas, ele consegue ter o mesmo estoque de novo. Que empresa, economicamente falando, consegue reaver todo seu estoque dentro de um mês? Você olha isso e pensa: ‘Estou lidando com algo que não tem controle’. É algo irracional o que estamos fazendo. Claro, como policial, minha obrigação é realizar o procedimento adequado, respeitando os preceitos que a lei estabelece. Outra coisa é você refletir sobre o que está acontecendo e quais são as consequências daquilo. O que aquilo está gerando: toda uma estrutura criminosa necessária para resistir à repressão. Você tem tráfico de armas, aliciamento de menores...
CC: Você diz uma coisa interessante no blog. Além das vítimas de aliciamento do tráfico e dos usuários, nós estamos enxugando gelo com a vida de policiais...
DF: Sim. Para que tem servido a guerra às drogas? Para que as classes inferiores da sociedade se trucidem. Então 90% dos PMs são oriundos das classes inferiores e você tem esses policiais sendo responsáveis por um combate infrutífero. Morte só gera degradação e o objetivo, que é impedir o consumo, não é realizado.
CC: O que você acha da nova lei antidrogas?
DF: No começo do governo Dilma, o (ex- secretário Nacional de Justiça) Pedro Abramovay sugeriu: ‘Nós temos que caminhar para evitar que aquele jovem pego com alguma quantidade droga, mas não armado, não seja preso’. Qualquer coisa que não vá na direção da legalização e de evitar a prisão é infrutífero e improdutivo. Nós temos um grande exemplo histórico que é o caso da Lei Seca nos Estados Unidos. O que fazemos hoje é muito semelhante ao que eles faziam no passado. O que temos hoje de organização criminosa é algo que reproduz o que eram as máfias de venda de bebida alcoólica. A nova lei antidrogas não ajuda em nada, só aprofunda esse cenário. Pior, a maioria da população entende até que foi pouco. O consenso geral é de que precisamos de leis mais duras, mais prisão, mais proibição.
CC: No Brasil está crescendo a discussão em torno da legalização da maconha, mas o LEAP defende a legalização de todas as drogas, certo?
DF: Veja, o principio básico é: todo indivíduo tem direito de fazer o que quiser com o seu corpo. Esse é um principio básico. Qual é a grande questão em torno da discussão sobre a legalização das drogas? O dano que a droga gera a terceiros. Então, por exemplo, a maconha é mais fácil de discutir. Eu desafio qualquer policial a dizer em quantas ocorrências alguém sob efeito de maconha estava cometendo qualquer tipo de crime. Eu passei quatro anos e nunca vi. Nesse sentido, aparentemente, a maconha é danosa apenas para quem a usa. Quando a gente fala de legalizar todas as drogas, a questão é que há todo um discurso que tenta impor esse medo: ‘Olha, nós vamos viver numa Cracolândia geral’. Na verdade, o que é preciso é discutir uma política que não incentive as drogas. Não se trata disso, mas de fazer com que os danos que as drogas causam, e todas as drogas causam danos, sejam reduzidos. Então, quando a gente fala que queremos a legalização de todas as drogas, estamos querendo que sejam desenvolvidas políticas para que os danos sejam reduzidos.
Nós temos uma política de sucesso no consumo de tabaco que foi negativada midiaticamente. E aí tem uma grande contradição, porque com o álcool isso não é feito. Nós temos um número avassalador de mortes no trânsito em função do álcool. A política do álcool também está com a mão errada. Os danos não estão sendo reduzidos. Há apenas uma legalização sem controle sobre os danos que o álcool pode gerar. Essa é a questão: o foco precisa ser mudado. Repressão não é possível. Os EUA, com bilhões de dólares já investidos nessa guerra, não conseguiram fazer isso. É impossível proibir o consumo de qualquer tipo de substância em uma democracia. Nem as ditaduras conseguem. Então, é isso: admitir a impossibilidade da repressão e partir para a redução de danos.

CC: Legalizar todas as drogas faria com que a polícia pudesse focar sua atenção em outros problemas?
DF: É claro que uma política desse tamanho não se faz do dia para a noite. Não é baixando um decreto legalizando todas as drogas que todos os problemas serão resolvidos. É preciso caminhar em estrutura de saúde, em estrutura de direcionamento social. Tem uma séria de medidas que são necessárias. O foco é garantir que não precisemos combater armados o consumo de uma substância. A gente acaba criando uma estética, um aparato bélico para a repressão que transforma a estrutura militar. Isso não é só Polícia Militar. Guarda Municipal e Polícia Civil agem da mesma forma. Aí a gente esquece todo aquele trabalho comunitário de aproximação da sociedade com o cidadão, que é o grande insumo da atividade policial. Quanto mais relacionado e intrincado na sociedade, mais o policial tem informações sobre o que necessita para garantir segurança de uma comunidade.
*CartaCapital