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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, dezembro 15, 2014

manifestações em defesa da igualdade racial e contra o racismo. Moradores de Atlanta, Nova York, Boston, São Francisco e de Washington realizaram os protestos. Crianças, jovens e adultos, negros e brancos, participaram dos eventos

Marchas e protestos contra o racismo levam norte-americanos às ruas

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Milhares de norte-americanos foram às ruas na noite de ontem (13) em manifestações em defesa da igualdade racial e contra o racismo. Moradores de Atlanta, Nova York, Boston, São Francisco e de Washington realizaram os protestos. Crianças, jovens e adultos, negros e brancos, participaram dos eventos motivados pela morte de afro-americanos por policiais, no estado de Missouri e em Nova York.
Por Leandra Felipe no  Agência Brasil
Em Nova York, onde mais de 30 mil pessoas foram às ruas, de acordo com as organizações que promoveram o protesto, a marcha foi chamada de Milhões Marcham em NYC e percorreu parte da zona sul da Ilha de Manhattan até chegar à sede da polícia na cidade. Com o protesto, organizado pelas redes sociais, a população pediu uma resposta contundente por parte do Estado e a punição dos envolvidos no assassinato dos afro-americanos.
Nas marchas, os manifestantes levavam cartazes com frases “Nenhum mais” e “As vidas dos negros importam”.
Dois casos emblemáticos vêm motivando os protestos nos Estados Unidos. O primeiro deles é uma decisão da Justiça, proferida no começo deste mês, de não “imputar crime” ao policial acusado de assassinar, em agosto, em Fergunson (Missouri), o jovem afro-americano Michael Brown. O segundo diz respeito à morte do afro-americano Eric Garner, assassinado em julho, em Nova York. Vídeos mostraram policiais espancando o afro-americano de 43 anos que morreu estrangulado. No caso de Garner, a Justiça também não levou o julgamento adiante sob a alegação de que não havia provas contundentes contra os envolvidos.
Familiares e defensores de direitos civis alegam que os dois estavam desarmados e que a ação da polícia foi violenta, motivada pelo racismo.
Após os episódios, o presidente Barack Obama tem repetido que é inadmissível que eventos como esses continuem ocorrendo. O discurso, entretanto, não agrada às entidades defensoras dos direitos civis e da luta pela igualdade racial nem analistas sociais do tema.
Para eles, a administração de Obama tem “discurso”, mas pouca ação efetiva na promoção da igualdade racial e da justiça para casos de abuso de autoridade cometidas contra pessoas afro-americanas.
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15/12/2014Geledés Instituto da Mulher Negra

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Três lições que podemos tirar do caso Bolsonaro


Atoleiro racista
Um jornal compartilha no Facebook matéria em que as ministras Eleonora Menicucci (Política para Mulheres) e Idelli Salvatti (Direitos Humanos) manifestam repúdio ao comentário do deputado Jair Bolsonaro (PP) de que não estupraria a deputada e ex-ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT), porque ela “não merece”.
O comentário mais popular aparece logo em cima, com quase quatro mil curtidas, e diz “Sou mulher e não me senti atingida, humilhada e reduzida em nenhum momento. Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Me sinto diminuída sim, quando essa Maria do Rosário defende bandido.”
Respiro fundo e clico para ver os demais. O nível não melhora e a barra lateral agora parece infinita. Ok, vamos lá, o que podemos aprender com essa história:
1. Nunca, jamais, sob hipótese alguma, leia comentários de notícias no Facebook. Faz mal, é sério.
2. Piadinha com estupro não tem graça, não é irônica, não é liberdade de expressão. É covarde. O que o deputado parece não compreender – e aparentemente, nem seus 400 mil eleitores – é que você falar que uma mulher merece ou não ser estuprada reforça a violência, como se em algum caso estupro fosse legítimo. Quando ela é feia, por exemplo, segundo Bolsonaro.
E, sinceramente, a última coisa que nós mulheres precisamos, senhor deputado, é de qualquer tipo de comentário leviano que reforce a cultura do estupro. Você não andou fazendo o dever de casa, mas eu te ajudo aqui: 50 mil mulheres são estupradas por ano e a cada 12 segundos uma mulher sofre algum tipo de violência. Quando o parlamentar “ironiza” que “não estupraria porque ela não merece”, ele não está se defendendo de uma suposta ofensa dela, mas está defendendo os milhares de estupradores que tem por aí. Porque em alguns casos, segundo ele, mulher merece sim ser estuprada.
Quais as implicações de um parlamentar, que tem um lugar de fala privilegiado, que supostamente representa centenas de milhares de brasileiros, fazer uma alegação dessas? É legítimo que ele promova a violência se ele tem um mandado e representa uma parcela da população? Bolsonaro passou dos limites. Mais uma vez. Como disse a ministra Menicucci, “É inaceitável que um deputado utilize seu posto para liderar um discurso de ódio a um crime que atinge, humilha e reduz as mulheres”.
3. Por que a autora do comentário no Facebook deveria se sentir atingida, humilhada e reduzida com o que Bolsonaro disse? Primeiro, porque ela poderia ter sido e, infelizmente, ainda pode ser uma dessas 50 mil mulheres. A violência de gênero tem um público específico do qual ela, suas filhas e irmãs fazem parte. Você pode até não concordar com a agenda da Maria do Rosário e com o que ela defende, mas entenda que ninguém merece ser estuprada. Nem você, nem ela, nem ninguém. Solidariedade mandou um abraço.
Categorizar mulheres de acordo com um determinado padrão e definir quem merece e quem não merece ser estuprada é covarde, cruel e criminoso. Concordar, defender ou mesmo se omitir faz de você cúmplice. Parece que a internet está cheio deles…
15/12/2014Geledés Instituto da Mulher Negra


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Durante anos, a comunidade da Avaaz tem lutado pelos direitos das mulheres e de minorias -- para construir um país progressista e que respeite o indivíduo e os direitos humanos, precisamos agir sem medo contra tipos como o Bolsonaro. Juntos conseguiremos.

Bolsonaro: a gota d'água -- faltam 24 horas!

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200 mil assinaturas e crescendo! Vamos chegar a 300 mil antes do encontro do Conselho de Ética que acontecerá nesta terça-feira -- encaminhe para todos:


Caros amigos,
 

Assine a petição
O deputado Jair Bolsonaro voltou a ofender a também deputada Maria do Rosário no plenário da Câmara. Ele disse: "só não te estupro porque você não merece"! Mas se agirmos rápido, podemos garantir que a impunidade não acoberte ele e outros parlamentares que propagam este tipo de discurso de ódio que tanto envenena a nossa democracia.

As palavras de Bolsonaro não atingem apenas vítimas de estupro e as famílias dessas vítimas -- elas promovem a cultura do estupro que violenta todas as mulheres. Não é a primeira vez que Bolsonaro gera tanta polêmica com suas frases misóginas, homofóbicas e racistas, mas essa pode ser a gota d'água. Deputados já pediram ao Conselho de Ética a cassação de Bolsonaro, mas precisam de apoio popular para isso se concretizar!

Vamos apoiar urgentemente a petição de Cristian, um membro da Avaaz que iniciou o movimento para impedir que Bolsonaro saia impune e que está bombando nas redes -- já são mais de 160 mil assinaturas em apenas alguns dias! Clique abaixo para se juntar e contar a todos -- se chegarmos a 500 mil assinaturas, faremos uma entrega da petição na frente do Congresso Nacional e diante de toda a imprensa:

http://www.avaaz.org/po/petition/Conselho_de_Etica_da_Camara_dos_Deputados_Cassacao_do_Deputado_Jair_Bolsonaro_PPRJ/?bYowmeb&v=50021

Se o Conselho de Ética não cassar o mandato do deputado por quebra de decoro parlamentar, o recado que ficará para o Brasil será: "se a mulher merecer, podem estuprar." Não podemos ser permissivos com esse comportamento. Imunidade parlamentar é pra proteger parlamentar corajoso e não acobertar apologia a crime.

Bolsonaro foi longe demais -- ele tem sido o bastião do conservadorismo e da extrema-direita do país, e a voz de um tempo sombrio que o Brasil não quer mais viver. Ele tem lutado contra a comunidade LGBT, já declarou publicamente que espancaria o próprio filho se ele fosse gay, já fez acusações racistas que poderiam tê-lo levado à prisão se não fosse a imunidade parlamentar e, sem titubear, propaga um discurso delirante de que os militares deveriam tomar o Brasil novamente, ignorando as mortes, tortura e estupros que a ditadura promoveu durante anos.

Mas agora que a oposição não está mais em silêncio é hora de agir contra essa impunidade -- assine já e espalhe para todo mundo:

http://www.avaaz.org/po/petition/Conselho_de_Etica_da_Camara_dos_Deputados_Cassacao_do_Deputado_Jair_Bolsonaro_PPRJ/?bYowmeb&v=50021

Durante anos, a comunidade da Avaaz tem lutado pelos direitos das mulheres e de minorias -- para construir um país progressista e que respeite o indivíduo e os direitos humanos, precisamos agir sem medo contra tipos como o Bolsonaro. Juntos conseguiremos.

Com esperança e determinação,

Michael, Diego, Carol, Rosa, Débora, Oli e toda a equipe da Avaaz


MAIS INFORMAÇÕES

Conselho de Direitos Humanos pede para PGR investigar Bolsonaro (G1)
http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/conselho-de-direitos-humanos-pede-para-pgr-investigar-bolsonaro.html 

Jair Bolsonaro repete insulto a deputada Maria do Rosário: ‘Só não te estupro porque você não merece’ (Extra)
http://extra.globo.com/noticias/brasil/jair-bolsonaro-repete-insulto-deputada-maria-do-rosario-so-nao-te-estupro-porque-voce-nao-merece-14781338.html 

Quatro partidos pedem ao Conselho de Ética a cassação de Bolsonaro (G1)
http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/pt-pc-do-b-psb-e-psol-acionam-bolsonaro-no-conselho-de-etica.html

Jair Bolsonaro repete que não "estupra" Maria do Rosário porque ela "não merece" (Zero Hora)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/12/jair-bolsonaro-repete-que-nao-estupra-maria-do-rosario-porque-ela-nao-merece-4659789.html 

"Não estupro porque você não merece", diz Bolsonaro a Maria do Rosário (EXAME)
http://www.istoe.com.br/reportagens/395929_NAO+ESTUPRO+PORQUE+VOCE+NAO+MERECE+DIZ+BOLSONARO+A+MARIA+DO+ROSARIO 

A desmilitarização das polícias militares estaduais é uma das recomendações aprovadas pela Comissão Nacional da Verdade

A desmilitarização das polícias militares estaduais é uma das recomendações aprovadas pela Comissão Nacional da Verdade para prevenir a ocorrência de violações aos direitos humanos. Alinhada a essa recomendação está a Proposta de Emenda à Constituição 51/2013 apresentada por mim no Senado, que prevê uma reforma estrutural na segurança pública brasileira - um debate extremamente atual e reivindicação de diversos movimentos sociais.

A desmilitarização não significa o enfraquecimento da Polícia Militar, mas sim uma reforma profunda para melhorar as condições de trabalho dos atuais policiais civis e militares, dando maior autonomia para o policial, acompanhada de maior controle social e transparência. Essa transformação, evidentemente, deve ser acompanhada de valorização destes profissionais, inclusive remuneratória.

Temos um modelo policial herdado da ditadura militar. O problema é estrutural e faz com que nossas polícias trabalhem a partir de uma lógica militarizada, excessivamente violenta, tratando os cidadãos não como sujeitos de direitos a serem protegidos, mas a partir da lógica da guerra contra o inimigo. E este modelo acaba se voltando contra todos.

A Comissão Nacional da Verdade, ao esclarecer o passado sombrio da ditadura militar, traça um caminho de reformas rumo à consolidação do Estado democrático de direito.

O Congresso Nacional deve agora se debruçar sobre o Relatório e iniciar um amplo processo de negociação para aprovar as recomendações de alteração legislativa aprovadas pela Comissão.

#PEC51JÁ


*LindenbergFarias




A CBF tem que acabar

Futebol e agronegócio: o modelo subalterno e colonialista


A CBF tem que acabar

A inépcia brasileira para tornar-se mais do que um mero fornecedor de matéria-prima vai da economia ao futebol. Saiba por que uma reforma na CBF é fundamental para resolver esse problema 
Alexandre Versignassi e Guilherme Pavarin
O porto de santos é a cafeteira do mundo: um terço do café tomado na Terra passa por ali,numa jornada que começa nas fazendas do Brasil e termina nas xícaras de Madri, Milão, Moscou, Kiev... Não só nas xícaras. O maior comprador do nosso estimulante preto, ao lado dos EUA, é a Alemanha. Mas eles não tomam tudo. Revendem uma parte razoável, porque é um negocião: os alemães pagam mais ou menos R$ 400 em cada saca de 60 quilos e reexportam para o resto da Europa por R$ 800. Sem industrializar nada, só revendendo café "cru" mesmo, do jeito que ele sai das roças daqui. Não é malandragem, é logística: eles podem fazer isso graças à sua malha ferroviária cheia de tentáculos, veias e artérias. Reexportar dali para o resto da Europa é fácil. Num ano típico, os caras importam18 milhões de sacas e revendem 12 milhões. Isso faz da Alemanha o terceiro maior exportador de café do mundo, atrás apenas do Brasil e do Vietnã. Tudo sem nunca ter plantado um pé de café.
Tem mais. Das 6 milhões de sacas que ficam dentro da Alemanha, uma parte vai para Schwerin, uma cidadezinha de conto de fadas perto da fronteira com a Dinamarca. Por lá, os grãos brasileiros reencarnam na forma de cápsulas de Nespresso. E ganham preços que até outro dia só eram praticados no mercado de outro estimulante - branco. Um quilo dessas cápsulas acaba saindo por R$ 400 no varejo, quase 70 vezes o quilo do café cru. 70 X 1 para a Alemanha.
No futebol é parecido. Exportamos o material cru, os atletas jovens, e importamos o produto acabado - não exatamente os jogadores, porque quando eles voltam geralmente estão é acabados mesmo. O que a gente compra é o espetáculo. Por mais que ninguém torça de verdade por um Real Madrid ou por um Bayern, todo mundo entende que o futebol para valer está lá fora, e que o Campeonato Brasileiro, na prática, é só uma série B do futebol mundial.
Um segunda divisão que alimenta a primeira com uma voracidade extrativista. O Brasil é o maior exportador mundial de jogadores, ao lado da Argentina. Vende por volta de 1.500 atletas/ano. Não faz sentido. Guido Mantega à parte, ainda estamos entre as dez maiores economias do planeta, à frente de destinos futebolísticos consagrados, como a Espanha e a Itália. Mesmo assim, nosso futebol não tem força econômica para reter pé-de-obra, e não para de ceder atletas para Madri, Milão, Moscou... E Kiev. Até para a Ucrânia, que tem um PIB menor que o da cidade de São Paulo, a gente perde jogadores. Entre os atletas menos estrelados é pior ainda. Se o cara não consegue vaga nos times grandes daqui, qualquer tralha leva: Chipre, Malta, Bulgária... Em 2013, 20 foram para o Vietnã, e dois ajudaram a engrossar a população das Ilhas Faroe, que tem 50 mil habitantes e PIB menor que o de Matão, uma cidade no interior de São Paulo (R$ 5 bilhões).
Até os 7 X 1, o único patrimônio realmente sólido do futebol nacional era a seleção. Sólido e lucrativo: a CBF faturou R$ 478 milhões com o time nacional em 2013. Só o patrocínio da camisa de treinos do time trouxe R$ 120 milhões. A Alemanha, segunda colocada nesse ranking, só levantou R$ 40 milhões com a dela. A Argentina, com Messi e tudo, R$ 10 milhões.
A CBF ganha dinheiro. Muito. E isso deveria ser bom. Mas não adianta nada, porque gastam quase tudo na própria manutenção da CBF. A primeira medida de José Maria Marin à frente da entidade foi aumentar o próprio salário. Ele passou a ganhar R$ 160 mil por mês, mais um chorinho de R$ 110 mil pelos seus serviços como chefe do COL (o Comitê Organizador Local da Copa). Salário de jogador, só que sem o incômodo de jogar. Ou de trabalhar. De concreto mesmo, o que a CBF fez nos últimos anos foi reformar os três campos da Granja Comari para a seleção treinar. Enquanto isso, a Deutscher Fussball Bund (DFB, a CBF da Alemanha) construiu mil campinhos para crianças e 307 centros de treinamento, para reforçar a formação de jogadores. É o dinheiro da seleção alemã custeando o futuro do futebol alemão. E custou só R$ 105 milhões - menos de um quarto do faturamento da CBF em um ano.
Faturamento que promete secar. Depois dos 7 X 1, o gaúcho de bigode sumiu dos comerciais da Ambev. O Itaú deixou de pedir para o Brasil amarrar o amor na chuteira. Claro: o maior banco da América Latina e a maior cervejaria do mundo, patrocinadores tradicionais da CBF, não podem se dar ao luxo de ligar sua imagem à de um bando de zumbis de olhos vermelhos e expressão de terror na cara. A CBF pode até não ter matado essa galinha dos ovos de ouro. Mas que colocou ela na UTI, colocou.
Junto com o resto do nosso futebol. Os 13 maiores clubes do País somam R$ 4,7 bilhões em dívidas. Tudo fruto de um péssimo gerenciamento, cuja inspiração vem lá de cima, da Confederação Brasileira de Futebol. Por essas, qualquer solução para o esporte passa pelo fim da CBF. Pelo fim do modelo atual, pelo menos. A entidade, hoje, é tão democrática quanto um feudo do século 13. Só existem 47 votantes para a presidência - 20 clubes da série A mais 27 federações estaduais. Ou seja: um colégio eleitoral altamente manipulável, que garante reeleições eternas para quem estiver lá em cima. Num artigo recente para a Folha de S. Paulo, o jogador Paulo André definiu bem a situação: acusou a CBF de explorar de forma ditatorial um bem que pertence a todos os brasileiros, o futebol.
Paulo, que é o líder do Bom Senso F.C., o grupo de atletas que tenta melhorar a administração da bola, aposta na democratização. Isso significa ampliar o número de eleitores para a presidência da entidade, dando direito de voto a todos os jogadores e clubes do Brasil. Não seria a salvação imediata da lavoura, mas representaria um passo fundamental para sairmos da Idade Média no futebol - e, quem sabe, deixarmos de ser mera colônia extrativista de atletas. Se isso acontecer um dia, que sirva de inspiração para a própria economia do País. Porque é dela que as nossas vidas realmente dependem. Chega de goleada.
*GilsonSampaio

Uma educação imposta de cima para baixo, desconsiderando as características próprias de cada realidade local, que ignore demandas profissionalizantes e seja tocada por professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?

Boas escolas formam “chatos”. Escolas ruins produzem engrenagens


Leonardo Sakamoto 
Uma educação imposta de cima para baixo, desconsiderando as características próprias de cada realidade local, que ignore demandas profissionalizantes e seja tocada por professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?
Demorei para comentar o anúncio da prefeitura do Rio de Janeiro, que utilizou uma linha de montagem pata falar da educação, mas achei que valeria uma discussão mais ampla.
Estou farto daquele papinho do self-made man cansativo de que professores e alunos podem conseguir vencer, com esforço individual, apesar de toda adversidade, e “ser alguém na vida”.
Aí surgem as histórias do tipo “Joãozinho comia biscoitos de esterco com insetos e vendia ossos de zebu para sobreviver. Mas não ficou esperando o Estado, nem seus professores lhe ajudarem e, por conta, própria, lutou, lutou, lutou (às vezes, contando com a ajuda de um mecenas da iniciativa privada), andando 73,5 quilômetros todos os dias para pegar o ônibus da escola e usando folhas de bananeira como caderno. Hoje é presidente de uma multinacional” – adoro citar essa historinha, pois ela é inventada, mas muito real.
Passando uma mensagem “se não consegue ser como Joãozinho e vencer por conta própria sem depender de uma escola de qualidade e de um bom professor, você é um verme nojento que merece nosso desprezo”. Daí para tornar as instituições públicas de ensino e a figura do próprio professor cada vez mais acessórias é um passo.
Educação é a saída, mas qual educação? Aquela defendida pelo pessoal do “Amigos do Joãozinho”?
Educar por educar, passar dados e técnicas, desconsiderando a sua própria realidade, sem conscientizar o futuro trabalhador e cidadão do papel que ele pode vir a desempenhar na sociedade, é o mesmo que mostrar a uma engrenagem o seu lugar na máquina e ponto final.
Uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar. Pode ser única para cada lugar ou uma grande linha de montagem. Que tipo de educação estamos oferecendo? Que tipo de educação precisamos ter? Para essa tarefa, professores bem formados e remunerados são fundamentais.
Em algumas sociedades, pessoas assim, que protestam, discutem, debatem, discordam, mudam são úteis para fazer um país crescer. Por aqui, são vistas com desconfiança, chamadas de mal-educadas e vagabundas e acusadas de serem resultado de uma educação que não deu certo.
Bom mesmo é quando, da fornada, sai um outro tijolo para o muro, igualzinho ao anterior. E ao anterior. E ao anterior…
escolas
*GilsonSampaio

domingo, dezembro 14, 2014

Bolsonaro choca jornal francês Le Monde: ‘homofóbico, misógino e racista’


Bolsonaro choca jornal francês Le Monde: ‘homofóbico, misógino e racista’
Os insultos do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) à colega Maria do Rosário (PT-RS) ganharam destaque na imprensa internacional
Por Redação
A edição de sexta-feira (12) do jornal francês Le Monde trouxe à tona o episódio envolvendo o deputado federal brasileiro Jair Bolsonaro (PP-RJ) no plenário da Câmara, na última terça-feira (9), ao comentar o relatório da Comissão Nacional da Verdade. Militar da reserva, o parlamentar negou a ocorrência de estupros durante a ditadura e ofendeu a deputada Maria do Rosário (PR-RS), dizendo que não a estupraria porque ela “não merece”.
Homofóbico, racista, atrevido e misógino (que tem ódio ou repulsa ao gênero feminino) foram alguns dos adjetivos utilizados pelo Le Monde. O jornal ressaltou que, em vez de pedir desculpas pela declaração, Bolsonaro fez questão de divulgar o vídeo em suas redes sociais, como se tivesse orgulho do que fez. De acordo com o periódico, o deputado gosta de ser apresentado como um homem que incomoda as pessoas, se diz perseguido pelos partidos e insiste em interpretar uma caricatura.
No jornal norte-americano The Intercept, Bolsonaro foi classificado como “uma vergonha nacional única” no Brasil: “Ele tem uma longa história de racismo revoltante, homofobia e outras formas variadas de fanatismo”. Segundo a publicação, que listou uma série de polêmicas de Bolsonaro, o deputado do PP é a face mais extrema da direita, que tenta arrastar o país à direção oposta à civilidade, ao defender, por exemplo, o uso de tortura para suspeitos de crimes.
Foto de capa: TV Câmara

GLOBO PREGA A ABERTURA DO PRÉ-SAL