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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 09, 2015

O golpe não é contra Dilma, Lula ou o PT. É contra você



: O golpe não é contra Dilma. Não é contra Lula. Não é contra o PT.
O golpe é contra os 54,3 milhões de votos que elegeram a presidenta em eleições livres e limpas. O mandato presidencial a eles pertence. Caso a agressão à soberania popular promovida pelo golpe se concretize, eles é que serão cassados.
O golpe é contra os 42 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média, nos últimos 13 anos. É contra os 22 milhões de cidadãos que deixaram a pobreza extrema para trás. É contra as políticas sociais que praticamente eliminaram a miséria no Brasil. Miséria histórica, atávica, contra a qual os representantes do golpismo pouco ou nada fizeram, quando governavam.
O golpe é contra um processo de desenvolvimento que conseguiu tirar o Brasil do Mapa da Fome. Fome secular, vergonhosa, que os golpistas nunca conseguiram saciar. O golpe é para colocar o Brasil no Mapa da Vergonha.  
O golpe é contra a igualdade e pela desigualdade. Os que apostam no golpe também apostam na desigualdade como elemento essencial para o suposto bom funcionamento da economia e da sociedade. Eles apostam na meritocracia dos privilégios.
O golpe é contra a valorização do salário mínimo, que aumentou 76,5%, nos últimos 11 anos. O golpe é pelos salários baixos para os trabalhadores, pois, para os golpistas, salários reduzidos são essenciais para o combate à inflação e a competitividade da economia.
O golpe é contra a geração de 21 milhões de empregos formais, ocorrida nos últimos 12 anos. Quem aposta no golpe aposta num nível de desemprego mais alto, para reduzir os custos do trabalho. Aposta também na redução dos direitos trabalhistas, na terceirização e na volta da precarização do mercado de trabalho.
O golpe é contra a Petrobras e pela Petrobax. O golpe é contra a política de conteúdo nacional, que reergueu nossa indústria naval e reestruturou a cadeia econômica do petróleo. O golpe é contra a nossa maior empresa e tudo o que ela simboliza. O golpe é pela privatização e pela desnacionalização.
O golpe é contra os programas que abriram as portas das universidades brasileiras para pobres e afrodescendentes. O golpe é contra o ENEM e pelo vestibular. O golpe é pela manutenção da educação de qualidade como apanágio para poucos. O golpe é pela privatização do conhecimento. O golpe é contra as novas oportunidades e pelos antigos privilégios.
O golpe é contra o SUS e o Mais Médicos, programa que leva assistência básica à saúde a mais de 60 milhões de brasileiros que antes estavam desassistidos. O golpe é contra a saúde pública e pela mercantilização da medicina. O golpe é contra médicos cubanos e pacientes brasileiros. O golpe é pela doença que rende lucros. O golpe é uma patologia.
O golpe é contra a política externa ativa e altiva. O golpe é contra a soberania e por uma nova dependência. O golpe é contra o Mercosul e a integração regional. O golpe é para desintegrar a projeção dos interesses brasileiros. O golpe é para nos alinhar aos interesses das potências tradicionais. O golpe é contra o grande protagonismo que o país assumiu recentemente. O golpe é para nos apequenar.
O golpe é contra uma presidente honesta e pelos corruptos. O golpe é contra o governo que mais combate a corrupção. Que multiplicou as operações da Polícia Federal de 7 por ano para quase 300 por ano. Que fortaleceu e deu autonomia real a todas as instituições de controle. Que engavetou o engavetador–geral. O golpe é contra as apurações e pela impunidade. O golpe é contra a transparência e a verdade. O golpe é um engodo ético e moral. O golpe é cínico e hipócrita. O golpe é uma grande mentira.
O golpe é contra o futuro e pela restauração do passado. A única proposta do golpe é o golpe.
O golpe é contra a esperança e pelo ódio, para o ódio. O golpe é intolerante. O golpe é mesquinho.
O golpe é contra a grande nação e pela republiqueta de bananas.
O golpe é contra a democracia. Contra o Brasil.
O golpe é, sobretudo, contra você.
*247

A carta do vice-presidente Michel Temer à presidenta Dilma Rousseff pode ser mais um obstáculo

Carta de Temer a Dilma revela golpismo e ameaça a instituições

Orlando Silva (PCdoB-SP) critica Temer, mas diz que foco é derrotar o golpe na comissão e no plenário. Jean Wyllys (Psol-RJ) chama conduta de vice de "cinismo" e diz que carta foi para a mídia, não para Dilma

ABR / DIVULGAÇÃO
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Jean Wyllys e Orlando Silva: carta de Temer é inspirada em tentativa de aprofundar a crise política
São Paulo – A carta do vice-presidente Michel Temer à presidenta Dilma Rousseff pode ser mais um obstáculo para dar celeridade à instalação da comissão especial na Câmara Federal que vai analisar o processo de impeachment. É o que se depreende da manifestação do deputado Orlando Silva (PCdoB) há pouco no twitter.
“Errado atacar Michel Temer. Não vamos nos dispersar. O foco deve ser eleger a comissão especial e derrotar a oposição na comissão e no Plenário”, afirmou Silva. “A crise política pode se converter em crise institucional. Rezo todo dia para a presidenta ter um comitê de crise amplo, além do PT”, disse.
O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) escreveu um post no Facebook sobre a manifestação do vice-presidente, que supostamente vazou para a imprensa: “A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo contrário, é 'bombástica' no estilo, conteúdo e formato, exatamente como aquelas em geral abertas para a imprensa. Leiam e percebam a construção do texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo”, escreveu.
“A luta interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil”, afirma ainda Wyllys, em relação à divisão do partido no apoio ao governo.
Leia a íntegra da carta de Jean Wyllys:
O golpe da carta (temos algo a Temer?)
A carta que "vazou" para a imprensa teria sido escrita, supostamente, do vice-presidente Michel Temer para a presidenta Dilma Rousseff, um documento "confidencial e pessoal". Mas, vejam só, macacos velhos na comunicação nunca viram uma carta pessoal feita para ser manchete se o objetivo não fosse esse. A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo contrário, é "bombástica" no estilo, conteúdo e formato, exatamente como aquelas em geral abertas para a imprensa. Leiam e percebam a construção do texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo!
O vice-presidente, um velho operador político do PMDB que estes anos todos foi muito bem pago pelo poder público para atuar como garantia da coligação desse partido com o PT (coligação cujo custo o PT está pagando), acha que ninguém vai perceber que, se o problema dele fosse a "desconfiança" da chefe Dilma com relação a ele e ao PMDB, seu partido, ele deveria ter enviado essa carta há uns bons anos, né não? Ela está chegando muito atrasada porque tem, na verdade, outro objetivo: deixar bem claro que Temer está disposto a assumir a Presidência. É uma mensagem para a bancada do PMDB no Congresso, para a oposição de direita que poderia compor um governo de transição com ele, para os jornais, para os mercados e, talvez, para o próprio PT, que entenderá que o preço para evitar tudo isso será caro, muito mais caro ainda do que foi, até agora, a "lealdade" dos seus supostos aliados.
Percebam que Temer "corta na carne" e cita negativamente Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, que se aproximou do governo do PT e se coloca cada vez mais frontalmente contra Eduardo Cunha (PMDB), desde que o presidente da Câmara tentou cortar suas asas no seu reinado. A luta interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil!
O jornal O Globo, insuspeito de governismo, admitiu pela boca de Waack que o governo está "destruindo o que há de base jurídica para o impeachment". Mas a questão não é essa: esse impeachment não tem a ver com as pedaladas fiscais (e muito menos com os verdadeiros defeitos desse governo, que provocaram sua perda de popularidade); não é isso que o motiva, mas apenas uma luta pelo poder protagonizada por uma facção política que despreza a democracia, liderada por um bandido com contas na Suíça. Em entrevista nessa segunda-feira, Cunha disse que o Brasil passa por um problema grave e relacionou isso com o fato de que há "crises internas nos partidos". Essas crises internas (a luta descontrolada pelo poder que ele, Temer e outros protagonizam) estão passando por cima das instituições, da Constituição e das regras de jogo democráticas.
Será que, depois de chantagear o governo do PT para evitar sua cassação no Conselho de Ética da Câmara, ele resolveu chantagear os próprios parlamentares do PMDB que estão se dividindo quanto à ideia de emplacar um impeachment a qualquer custo? (leia-se: um golpe branco, pressionado pelo poder das grandes corporações e do grande capital).
O cenário político inspira estado de alerta para movimentos sociais, ONGs, associações políticas, sindicais e para a população em geral. Precisamos ficar atentos à manutenção inegociável das instituições democráticas. Não se trata de defender o governo Dilma, que é indefensável por muitos motivos. Trata-se de defender a democracia e de impedir que a quadrilha que já tomou o parlamento, impondo uma agenda conservadora e fascista de retrocesso civilizatório e perda de direitos, tome totalmente o poder institucional e nos afunde num período sombrio e perigoso no qual todas as liberdades e todas as conquistas sociais do Brasil pós-ditadura podem estar em perigo.
*RBA

Cunha vira réu, o que dificultará sua permanência no cargo de presidente da Câmara.


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quando chegava ao Congresso - Givaldo Barbosa / Agência O Globo
BRASÍLIA - O afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara continua no “radar” da Procuradoria Geral da República (PGR), que reúne elementos sobre a suposta atuação do parlamentar para atrapalhar o funcionamento do Legislativo, em especial do Conselho de Ética da Câmara. A instauração do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff – a cartada política mais agressiva de Cunha até agora – “não muda nada” na análise de um pedido de saída do deputado, segundo fontes com acesso às investigações.
Além de continuar reunindo elementos que podem levar a um pedido junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PGR prepara denunciar o deputado pelo crime de evasão de divisas no caso das contas bancárias mantidas na Suíça por meio de trusts e empresas offshore. O grupo de trabalho que auxilia o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também investiga as supostas práticas de corrupção e lavagem de dinheiro no episódio, acusações que ficariam para um segundo momento.
Ele é formalmente acusado de receber US$ 5 milhões em propina a partir de contratos da Petrobras para operação de navios-sonda. O cálculo feito na PGR é que o STF só deve aceitar essa denúncia depois do Carnaval – a terça-feira de Carnaval é dia 9 de fevereiro.
O último dia de trabalho do STF antes do recesso é o próximo dia 18. Se os ministros do Supremo aceitarem a denúncia, Cunha vira réu, o que dificultará sua permanência no cargo de presidente da Câmara.
Até lá, Janot poderá pedir o afastamento de Cunha. Procuradores da República que atuam nas investigações de autoridades com foro privilegiado enxergaram no gesto do deputado de aceitar o pedido de impeachment de Dilma uma tentativa de neutralizar o procurador-geral, de forma a carimbar um eventual pedido de saída como um ato pró-governo.
O grupo de trabalho que auxilia Janot, no entanto, continua reunindo indícios de que o deputado atrapalha o funcionamento do Legislativo, em especial do Conselho de Ética, colegiado que avalia se admite um processo de cassação do parlamentar. A interpretação dos procuradores é que o conselho pode reunir provas úteis às investigações no âmbito do STF. Assim, atrapalhar o colegiado seria o mesmo que obstruir o trabalho da Justiça.
Manobras do presidente da Câmara e de seus aliados já levaram ao adiamento da votação sobre a admissibilidade do processo de cassação do deputado. A votação deve ser retomada na próxima semana.