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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 09, 2015

A carta do vice-presidente Michel Temer à presidenta Dilma Rousseff pode ser mais um obstáculo

Carta de Temer a Dilma revela golpismo e ameaça a instituições

Orlando Silva (PCdoB-SP) critica Temer, mas diz que foco é derrotar o golpe na comissão e no plenário. Jean Wyllys (Psol-RJ) chama conduta de vice de "cinismo" e diz que carta foi para a mídia, não para Dilma

ABR / DIVULGAÇÃO
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Jean Wyllys e Orlando Silva: carta de Temer é inspirada em tentativa de aprofundar a crise política
São Paulo – A carta do vice-presidente Michel Temer à presidenta Dilma Rousseff pode ser mais um obstáculo para dar celeridade à instalação da comissão especial na Câmara Federal que vai analisar o processo de impeachment. É o que se depreende da manifestação do deputado Orlando Silva (PCdoB) há pouco no twitter.
“Errado atacar Michel Temer. Não vamos nos dispersar. O foco deve ser eleger a comissão especial e derrotar a oposição na comissão e no Plenário”, afirmou Silva. “A crise política pode se converter em crise institucional. Rezo todo dia para a presidenta ter um comitê de crise amplo, além do PT”, disse.
O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) escreveu um post no Facebook sobre a manifestação do vice-presidente, que supostamente vazou para a imprensa: “A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo contrário, é 'bombástica' no estilo, conteúdo e formato, exatamente como aquelas em geral abertas para a imprensa. Leiam e percebam a construção do texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo”, escreveu.
“A luta interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil”, afirma ainda Wyllys, em relação à divisão do partido no apoio ao governo.
Leia a íntegra da carta de Jean Wyllys:
O golpe da carta (temos algo a Temer?)
A carta que "vazou" para a imprensa teria sido escrita, supostamente, do vice-presidente Michel Temer para a presidenta Dilma Rousseff, um documento "confidencial e pessoal". Mas, vejam só, macacos velhos na comunicação nunca viram uma carta pessoal feita para ser manchete se o objetivo não fosse esse. A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo contrário, é "bombástica" no estilo, conteúdo e formato, exatamente como aquelas em geral abertas para a imprensa. Leiam e percebam a construção do texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo!
O vice-presidente, um velho operador político do PMDB que estes anos todos foi muito bem pago pelo poder público para atuar como garantia da coligação desse partido com o PT (coligação cujo custo o PT está pagando), acha que ninguém vai perceber que, se o problema dele fosse a "desconfiança" da chefe Dilma com relação a ele e ao PMDB, seu partido, ele deveria ter enviado essa carta há uns bons anos, né não? Ela está chegando muito atrasada porque tem, na verdade, outro objetivo: deixar bem claro que Temer está disposto a assumir a Presidência. É uma mensagem para a bancada do PMDB no Congresso, para a oposição de direita que poderia compor um governo de transição com ele, para os jornais, para os mercados e, talvez, para o próprio PT, que entenderá que o preço para evitar tudo isso será caro, muito mais caro ainda do que foi, até agora, a "lealdade" dos seus supostos aliados.
Percebam que Temer "corta na carne" e cita negativamente Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, que se aproximou do governo do PT e se coloca cada vez mais frontalmente contra Eduardo Cunha (PMDB), desde que o presidente da Câmara tentou cortar suas asas no seu reinado. A luta interna do PMDB — desesperados brigando pelo queijo — está afundando o Brasil!
O jornal O Globo, insuspeito de governismo, admitiu pela boca de Waack que o governo está "destruindo o que há de base jurídica para o impeachment". Mas a questão não é essa: esse impeachment não tem a ver com as pedaladas fiscais (e muito menos com os verdadeiros defeitos desse governo, que provocaram sua perda de popularidade); não é isso que o motiva, mas apenas uma luta pelo poder protagonizada por uma facção política que despreza a democracia, liderada por um bandido com contas na Suíça. Em entrevista nessa segunda-feira, Cunha disse que o Brasil passa por um problema grave e relacionou isso com o fato de que há "crises internas nos partidos". Essas crises internas (a luta descontrolada pelo poder que ele, Temer e outros protagonizam) estão passando por cima das instituições, da Constituição e das regras de jogo democráticas.
Será que, depois de chantagear o governo do PT para evitar sua cassação no Conselho de Ética da Câmara, ele resolveu chantagear os próprios parlamentares do PMDB que estão se dividindo quanto à ideia de emplacar um impeachment a qualquer custo? (leia-se: um golpe branco, pressionado pelo poder das grandes corporações e do grande capital).
O cenário político inspira estado de alerta para movimentos sociais, ONGs, associações políticas, sindicais e para a população em geral. Precisamos ficar atentos à manutenção inegociável das instituições democráticas. Não se trata de defender o governo Dilma, que é indefensável por muitos motivos. Trata-se de defender a democracia e de impedir que a quadrilha que já tomou o parlamento, impondo uma agenda conservadora e fascista de retrocesso civilizatório e perda de direitos, tome totalmente o poder institucional e nos afunde num período sombrio e perigoso no qual todas as liberdades e todas as conquistas sociais do Brasil pós-ditadura podem estar em perigo.
*RBA

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