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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, dezembro 29, 2015

Karnal fez uma palestra para estudantes de história, na Universidade Federal de Uberlândia

Karnal: ‘quem lê Veja não está dividido com nada, é absolutamente fascista’

captura de telaEm uma palestra primorosa pelo bom humor e pelo conteúdo, o historiador Leandro Karnal arrancou risos da platéia ao expor de forma jocosa, mas também realista, o leitor da revista Veja, a mais reacionária e segregadora do Brasil.
Karnal fez uma palestra para estudantes de história, na Universidade Federal de Uberlândia, mas é fundamental para os analfabetos políticos que decidiram expor suas ideias sobre a política nos últimos anos. O analfabeto político é, por excelência, um sujeito sem referência histórica, visto que a história é, no mínimo, o ABC da política. Chico Buarque que o diga.
Na palestra Tempo, historicidade e tempo líquido, Karnal falou sobre as obras clássicas e necessárias, assim como obras capazes de ter a reflexão rigorosa sem deixar de lado a beleza da narrativa. Ele passou sobre os significados das transformações tecnológicas, na linguagem e falou sobre a vivência atual no mundo de incertezas.
Também mostrou como o Positivismo, que é muito criticado no Brasil, está mais do que presente, inclusive nas bancas de defesas de teses e dissertações. “Ser positivista é um xingamento que atinge a todas as pessoas. Não obstante, em todas as bancas os temas mais tratados são: erros de redação, falhas da ABNT e erros de data. Nós odiamos o Positivismo, mas as bancas são positivistas”, ressaltou.
Também ironizou as três grandes “teologias do século 20”: o empreendedorismo, a prosperidade e a auto-ajuda.
Um dos destaques foi a análise do discurso da Revista Veja, que entende a história com “um sentido teleológico”. Assim, os recursos persuasivos são “a história nos ensina que não deu certo…”, “a história já provou que….” é sempre uma profecia etc. “A história está conduzindo as pessoas à iluminação”, resumiu Karnal.
Mais à frente, ele disse que respeita historiadores que falam ao grande público, mas são honestos com a história, como Laurentino Gomes. “É o lúdico no sentido da grande massa, enfatiza o anedótico em detrimento do analítico”, diz. Para ele, as pessoas não estão divididas entre ler história de uma forma lúdica ou um texto de Jugen Habermas, autor alemão bastante hermético. E sentenciou: “quem lê a revista Veja não está dividido com nada; é absolutamente fascista, tapado, em qualquer sentido”. E tirou gargalhadas da platéia.
Poderia dizer em que momento estão essas falas sobre a revista Veja, mas você perderia uma bela palestra. Bom programa.(Glauco Cortez)

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