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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 06, 2010

Classe é Classe: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las" (Voltaire)






Dilma defende respeito ao CQC


A equipe do programa humorístico CQC é bem-vinda nas atividades com a participação da nossa candidata à Presidência. Foi isso o que Dilma Rousseff deixou claro ontem (7) durante um ato político com movimentos sociais em Santo André, no ABC Paulista. Sempre controverso, o repórter Danilo Gentili, gravava uma matéria junto ao público quando começou um empurra-empurra.

Dilma percebeu a confusão e logo interveio: “Vou pedir que os companheiros deixem o CQC tranquilamente aqui no plenário. Somos democráticos e queremos eles aqui. Peço que respeitem o CQC”, afirmou.

Em seguida, Dilma pediu aplausos ao CQC e foi atendida. Aliás, nesse momento, ela conquistou admiração da plateia que começou a cantar espontaneamente “Olê, olê, olá, Dilma, Dilma”. E é por estas e por outras que queremos Dilma a primeira mulher a ser presidenta do Brasil!


domulherescomdilma


A tchurma dos Demotucanalhas






AGORA VAI: FHC CONSELHEIRO DE SERRA

O grupo de "notáveis" é composto pelos presidentes do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), do PPS, Roberto Freire, e do PTB, Roberto Jefferson. Também compõem o núcleo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-senador Jorge Bornhausen (DEM), o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Serra e o candidato a vice, deputado Indio da Costa (DEM-RJ), também integram o grupo.

AE - Agência Estado

Esqueceram de citar outros que fazem parte do grupo de "notáveis": Os irmãos Marinho, o Octavinho Frias, e Robeto Civita. E tem os assessores e empregados: Reinaldo Azevedo, Miriam Leitão, Mainardi, Merval Pereira, Eduardo Greff, Dora Kramer, Ali Kamel entre outros menos "notáveis".

doblogdadilma


Este vídeo mostra o plano de SS erra para o Brasil

doesquerdopata


DEM e PSDB apoiam Roriz no DF

Unidos nacionalmente em torno da candidatura de José Serra, DEM e PSDB confirmaram, no final da tarde desta segunda-feira, no Tribunal Regional Eleitoral, a aliança em torno da candidatura de Joaquim Roriz (PSC) ao governo do Distrito Federal. Roriz pode ser impedido de concorrer pela Lei Ficha Limpa. Ele renunciou ao mandato de senador, em 2007, acusado de recebimento de propina.

O presidente do DEM no DF, senador Adelmir Santana, deu a mesma justificativa para a aliança com Roriz. “Não tínhamos opção. E o DEM é um partido muito forte para ficar fora das eleições”, por isso estamos com Roriz, disse.

Até o ano passado, o DEM dava como certa a reeleição do ex-governador José Roberto Arruda. Arruda, no entanto, foi acusado de chefiar um esquema de corrupção conhecido como “Mensalão do DEM”. O ex-governador chegou a ser preso por obstrução da Justiça, teve o mandato cassado e foi expulso da legenda...Vai votar no Serra? Vai levar o partido do panetone e o Roriz junto. Vale a pena apoiar a corrupção?
dosamigosdopresidentelula

O TSE aceita mentiras deslavadas


Serra inscreve-se no TSE como “economista”.
Ministra Cureau: cadê o diploma dele ?

Sra. Procuradora, será só uma questão de  coragem, como diz o Noblat?

Marco Aurélio Mello

Ministra Cureau, ele se apresenta também como “engenheiro” e não é

Segundo a Folha (*), na pág. A4, José Serra protocolou no Tribunal Superior Eleitoral, sob o número 18.245/2010, o registro de sua candidatura a Presidente.

A certa altura, ele jura que tem educação superior completa e é economista.

O Conversa Afiada sugere que a Ministra Sandra Cureau, procuradora do Tribunal Superior Eleitoral, examine essa inscrição com o zelo e o rigor que a caracterizam.

O Serra, prezada Ministra, não tem diploma.

De economista ou de engenheiro, outra profissão que ele, em outra candidatura, alegou exercer.

Ele pode até ter estudado economia e engenharia na Bolívia, no Chile, nos Estados Unidos, no Uzbequistão ou na PiGolândia (onde ele é soberano e quase rei).

Mas, não detém um diploma que o credencie a exercer essas profissões no Brasil.

E muito menos a dizer que é “engenheiro” ou “economista”.

Ele se inscreveu em nome da coligação “O Brasil pode Mais”.

O Brasil, de fato, pode mais.

Muito mais.

No Brasil se pode tudo.

O Gilmar Dantas (**), por exemplo, governou o Brasil por dois anos, deu dois HCs em 48 horas a passador de bola apanhado no ato de passar bola, e agora jogou o “ficha limpa” na lata do lixo.

No Brasil tudo é possível.

Mas, até no Brasil não se pode dizer que é “economista” sem diploma de Economia.

Ministra, por que a senhora não pergunta aos órgãos regionais e federais de Economistas se o Serra algum dia se registrou neles ?

Não se registrou, Ministra, porque ele não tem o diploma.

É um caso típico de “falsidade ideológica”, crime previsto no Código Penal, artigo 289:

“Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.”

Ou não se aplica o Código Penal à Legislação Eleitoral ?

Ministra, a sua responsabilidade é altíssima.

Os eleitores brasileiros já se afeiçoaram ao seu estilo rigoroso e isento de aplicar a Lei.

É o que se espera do guardião da Lei.

Por que o notável candidato do “Brasil pode mais” simplesmente não diz que não tem educação superior ?

Qual é o problema ?

O Lula também não tem.

Jesus Cristo não tinha biblioteca, como observou Fernando Pessoa.

O que ele quer ?

Pretextar uma qualificação que não tem ?

Ou persistir numa falsidade ideológica, para não ser punido ao confessá-la ?

Por que o Serra pensa que “pode mais” ?

Sobre o assunto, ler:

Quantos diplomas tem o Serra ? Nenhum. É o caso de impeachment ?

PiG traz de volta prova de que Serra não é economista (nem competente)

Conselho de Economia-SP: Serra não tem registro. Cadê o diploma dele ?

Globo confirma: Serra não tem diploma de economista

Cadê o diploma de economista do Serra? Um diploma que sirva no Brasil ?

Paulo Henrique Amorim

Em tempo: o Conversa Afiada encaminhou este ordinário post aos funcionários do TSE silvana@tse.gov.br e lfelipe@tse.gov.br, no telefone (61) 3316 3535.

(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Clique aqui para ver como um eminente colonista (***) do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista (***) da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

(***) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (****) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(****) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

doconversaafiada


Você votaria em um candidato medroso?

A foto mostra Serra apavorado, horrorizado e amedrontado no braço do eleitor

A foto não é a mesma, mas o candidato tucano José Serra, continua apavorado, horrorizado e amedrontado.Os assessores se joga em cima de Serra tentando “protegê-lo” de uma escada rolante parada, todos imobilizados pelo ridículo da cena.
dosamigosdopresidentelula

O PIG está caindo de PODRE






O PiG na berlinda: A velha mídia está derretendo

Pesquisa aponta que quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa brasileira são tendenciosas. Oito em cada dez brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro, maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula.

- por Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política

Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.

Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.

A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o rádio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.

Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.

A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.

O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.

Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.

A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das(os) namoradas(os).

Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do Governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.

Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.

É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.

Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.

A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.

Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
dotudoemcima

USA quer que os europeus se curvem ao seu imperialismo, a começar pelos mais fracos claro.






A Grécia está batendo um bolão



Só vi agora, até mesmo por que nossa mídia não gosta do assunto. No dia 29 de junho, dia em que a Espanha derrotou Portugal nas Oitavas pela Copa, trabalhadores e estudantes gregos, organizados em sua frente, o PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), fizeram uma greve geral em várias cidades. Pireu, o maior porto grego, ficou paralisado por 24 horas.

Foi boa resposta aos que querem que os trabalhadores paguem por uma crise que não é sua.

Não pude ver na Copa as bandeiras brasileiras em festa, esperando o próximo jogo contra o Uruguai. Mas neste vídeo tive uma sensação parecida. Confesso uma forte emoção ao ver as bandeiras vermelhas empunhadas firmemente por uma multidão que sabe fazer história. Compartilho com vocês.

Minha solidariedade ao povo grego.

USA e a maior e mais lucrativa industria de sua terra






ARMAI-VOS UNS AOS OUTROS.

Via Direto da Redação

Eliakim Araujo

Lunáticos, terroristas e serial killeres de toda espécie devem estar vibrando com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que considerou inconstitucional o controle de armas pelo Estado. Trocando em miúdos, armai-vos uns aos outros e continuem se matando indiscriminadamente.
É a velha e obssessiva cultura americana que é capaz de dar um passo à frente quanto elege um negro para a presidência e retroceder dois quando seu tribunal maior adota uma medida retrógrada como essa.
A decisão da Suprema Corte foi eminentemente política. De um lado, os cinco juizes conservadores votando pela liberação do porte de armas, uma reinvindicação da Smith & Wesson, da ala mais radical do Partido Republicano e de remanescentes da Ku Klux Klan. De outro, os quatro mais progressistas, inclusive Sonia Sotomayor, recentemente nomeada pelo presidente Obama, votando pelo controle de armas, na prática uma tentativa de desarmamento da população civil.
Os juizes se basearam em um dispositivo legal arcaico e em completo desacordo com a realidade atual do país, a Segunda Emenda, introduzida da Constituição dos Estados Unidos, em 1791, que estabelece: “sendo necessária à segurança de um Estado livre uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.
Ora, falar em “milícia bem organizada” nos dias atuais é regredir aos tempos do faroeste americano, uma época abundantemente retratada nos filmes do faroeste americano, quando as platéias de todo mundo prestigiavam os filmes de mocinho e bandido, com o xerife que defendia a incipiente cidade dos assaltos a bancos e diligências, e com os duelos ao sol em que os cidadãos resolviam suas diferenças pessoais à bala, na falta de um sistema judicial organizado.
A questão que se coloca é: armas para se defender ou para matar inocentes? A Suprema Corte certamente não levou em conta a trágica estatística dos massacres que crescem a cada ano nos Estados Unidos. E não resta dúvida que muitos poderiam ser evitados não fosse a facilidade que as pessoas encontram para adquirir armas.
Relembrando (1). Em 2007, na universidade de Virginia Tech, um estudante de origem sul-coreana de 23 anos promoveu um banho de sangue no campus universitário. Trinta e dois mortos atingidos por balas de mais de uma arma, todas adquiridas facilmente em uma loja especializada em uma cidade vizinha.
Relembrando (2). Em abril do ano passado, o professor universitário pernambucano Almir Olimpio Alves, de 43 anos, foi uma das treze vítimas de um massacre praticado por um vietnamita que frequentava o mesmo curso de inglês para imigrantes, em uma cidade do Estado de Nova Iorque. O vietnamita, que se sentia humilhado diante dos colegas porque não conseguia desenvolver o aprendizado da língua, invadiu a sala com duas armas e disparou a esmo.
Tragédias que poderiam ser evitadas não fosse a facilidade com que as pessoas se armam no país que tem uma poderosa indústria de armamentos – e um poderoso lobby no Parlamento - que precisa desovar seus produtos, não importa a que preço.
Uma vitória para associações que existem em vários pontos do país – algumas de caráter extremista - que defendem o direito do cidadão possuir e portar armas. Uma delas, a mais famosa, a NRA (Associação Nacional do Rifle), liderada durante muitos anos pelo falecido ator Charlton Heston, o velho Ben-Hur do cinema.
Nota zero, para a decisão da Suprema Corte dos EUA.

Rock Latino Americanos


A China






Por que devemos nos armar, ou a receita chinesa

Brahma Chellaney, do Valor Online

O sucesso gera confiança e o sucesso rápido gera arrogância. Em poucas palavras, esse é o problema que tanto Ásia como Ocidente enfrentam com a China, algo que voltou a ser demonstrado no encontro de cúpula do G-20 no Canadá. A ascensão de seu poder político e militar vem encorajando o governo da China a buscar uma política externa mais forte. Tendo pregado anteriormente o lema da “ascensão pacífica”, a China agora começa a tirar as luvas, convencida de que ganhou os músculos necessários.

A abordagem tornou-se mais pronunciada com a crise financeira mundial iniciada no outono setentrional de 2008. A China interpretou a crise como símbolo do declínio da “marca” anglo-americana de capitalismo e do enfraquecimento da força econômica dos Estados Unidos. Isso, por sua vez, fortaleceu sua crença dual – de que seu tipo de capitalismo, guiado pelo Estado, oferece uma alternativa crível e que sua ascendência mundial é inevitável.

nalistas chineses assinalam com regozijo que EUA e Grã-Bretanha – após terem entoado por tanto tempo a canção “liberalize, privatize e deixe os mercados decidirem” – ao primeiro sinal de perigo acabaram encabeçando o movimento de resgate governamental de seus grandes grupos financeiros. Em contraste, o capitalismo guiado pelo Estado proporcionou estabilidade econômica e forte crescimento à China, permitindo-lhe superar a crise mundial.

De fato, apesar das preocupações de sempre sobre o sobreaquecimento da economia, as exportações e vendas no varejo da China estão em expansão e suas reservas internacionais aproximam-se agora de US$ 2,5 trilhões, mesmo com o nível alarmante dos déficits comercial e fiscal dos EUA. Isso ajudou a reforçar a fé da elite chinesa na fusão do capitalismo estatal e da política de autocracia da China.

O maior perdedor na crise financeira internacional, na visão da China, é o Tio Sam. O fato de os EUA continuarem na dependência de a China comprar bilhões de dólares em bônus do Tesouro todas as semanas para financiar o déficit escancarado no orçamento é um sinal da mudança no poder financeiro mundial – que a China se certifica de usar para ter ganhos políticos nos próximos anos.

Os holofotes atualmente podem estar voltados para as mazelas financeiras da Europa, mas na leitura chinesa o quadro mais amplo é o de que o endividamento e déficits crônicos dos EUA simbolizam seu relativo declínio. Agreguem a esse quadro as duas guerras que os EUA travam no exterior – uma das quais vem ficando candente e parece ser cada vez mais impossível de vencer – e o que vem à mente entre os líderes da China é a advertência do historiador Paul Kennedy sobre a “superextensão imperial”.

Com esse pano de fundo, a crescente assertividade da China não é surpresa para muitos. O conselho de Deng Xiaoping – “Esconda suas capacidades e aguarde seu momento” – não parece ser mais relevante. Hoje, a China não se sente tímida em mostrar sua capacidade militar e declarar-se em múltiplos fronts.

Como resultado, novas tensões surgem na relação entre China e Ocidente, o que ficou em clara evidência no encontro de cúpula de Copenhague sobre as mudanças climáticas, onde a China – maior poluidor do mundo, com a maior taxa de crescimento de emissões de gás carbônico – astutamente desviou-se das pressões ao esconder-se atrás dos países em desenvolvimento. Desde então, a China intensificou as tensões ao continuar manipulando o yuan chinês, mantendo um superávit comercial excepcionalmente alto e restringindo a entrada de bens industrializados de empresas estrangeiras em seu mercado doméstico.

Em questões de política e segurança, a China não despertou menos receios. Por exemplo, a expansão do papel naval da China e suas reivindicações marítimas ameaçam colidir com os interesses dos EUA, incluindo a ênfase tradicional dos americanos na liberdade dos mares.

A simples verdade é que as mazelas econômicas e militares dos EUA estão limitando suas opções de política externa perante a China. Os EUA parecem mais relutantes do que nunca em exercitar a alavancagem que ainda possuem para pressionar a China a corrigir políticas que ameaçam distorcer o comércio exterior e alimentar imensos desequilíbrios comerciais, além de desencadear maior concorrência por matérias-primas escassas.

Ao manter sua moeda subvalorizada e inundar os mercados mundiais com bens artificialmente baratos, a China segue uma política predatória de comércio externo. Isso mina mais a industrialização do mundo em desenvolvimento que a do Ocidente.

Ainda assim, os EUA evitam qualquer tipo de pressão sobre a China. A política atual dos EUA contrasta com a do país nos anos 70 e 80, quando o Japão emergiu como potência econômica mundial. O governo do Japão manteve o iene subvalorizado e ergueu barreiras encobertas aos bens externos, o que desencadeou fortes pressões – e coerções periódicas – pelos EUA em busca de concessões japonesas. Hoje, os EUA não têm como adotar a mesma abordagem com a China, em grande parte porque a China também é uma potência militar e política e porque os EUA dependem do apoio chinês em uma série de questões internacionais – da Coreia do Norte e Mianmar ao Irã e Paquistão. Em contraste, o Japão continuou uma potência econômica totalmente pacifista.

É de importância fundamental o fato de a China ter se tornado uma potência militar mundial antes de ser uma potência econômica. O poderio militar foi conquistado por Mao Tsé-tung, o que permitiu a Deng concentrar o esforços em expandir com rapidez a força econômica do país.

Sem a segurança militar criada por Mao, poderia não ter sido possível que a China desenvolvesse força econômica na escala que desenvolveu. Na verdade, o crescimento de 13 vezes da economia nos últimos 30 anos produziu recursos ainda maiores para a China afiar suas garras militares.

A ascensão da China, portanto, é tanto obra de Mao como de Deng. Porque se não fosse o poder militar chinês, os EUA tratariam a China como outro Japão.

doestadoanarquista

segunda-feira, julho 05, 2010

Socialismo com Cristo








O ópio do povo?


Em dias de visita do Papa a Portugal, recordamos um ensaio de Michael Löwy que questiona: será ainda a religião uma trincheira da reacção, obscurantismo e conservadorismo? Em larga medida, a resposta é afirmativa.


Marxismo e religião: ópio do povo?

Será ainda a religião, tal como a viram Marx e Engels no século XIX, uma trincheira da reacção, obscurantismo e conservadorismo? Em larga medida, a resposta é afirmativa. O olhar deles aplica-se a muitas instituições católicas, às correntes fundamentalistas das principais confissões religiosas (cristã, judaica ou muçulmana), à maioria dos grupos evangélicos e das novas seitas, algumas das quais como a conhecida Igreja Moon, não passam de engenhosas combinações de manipulações financeiras, lavagem ao cérebro e anti comunismo fanático. No entanto, o aparecimento de um Cristianismo revolucionário e da Teologia da Libertação na América Latina abriu um novo capítulo histórico e levanta questões novas e empolgantes às quais não podemos dar resposta sem uma renovação da análise marxista da religião, o assunto deste artigo Partidários e adversários do marxismo parecem concordar num ponto: a célebre frase "a religião é o ópio do povo" representa a quinta essência da concepção marxista do fenómeno religioso. Ora, esta fórmula nada tem de especificamente marxista. Podemos encontrá la, antes de Marx, com algumas nuances, em Kant, Herder, Feuerbach, Bruno Bauer e muitos outros. Tomemos dois exemplos de autores próximos de Marx.


No seu livro sobre Ludwig Borne, de 1840, Heine refere-se ao papel narcótico da religião de forma bastante positiva com uma certa dose de ironia: "Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança". Moses Hess, nos seus ensaios publicados na Suíça, em 1843, adopta uma posição mais crítica mas não desprovida de ambiguidade: "A religião pode tornar suportável... a consciência lastimável da servidão... do mesmo modo que o ópio é uma grande ajuda nas doenças dolorosas".

A expressão aparecia pouco depois num artigo de Marx "Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" (1844). Uma leitura atenta do parágrafo inteiro mostra que o seu pensamento é muito mais complexo do que aquilo que se pensa habitualmente. Realmente, rejeitando totalmente a religião, Marx não toma menos em conta o seu duplo carácter: "A angústia religiosa é ao mesmo tempo a expressão da verdadeira angústia e o protesto contra esta verdadeira angústia. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como ela é o espírito de uma situação sem espiritualidade. Ela é o ópio do povo".

Uma leitura do ensaio, no seu conjunto, mostra claramente que o ponto de vista de Marx, em 1844, deriva mais do neo hegelianismo de esquerda, que vê na religião a alienação da essência humana, do que da filosofia das Luzes, que a denúncia simplesmente como uma conspiração clerical (o "modelo egípcio"). De facto, quando Marx escreveu a passagem acima, era ainda um discípulo de Feuerbach, um neo hegeliano. A sua análise da religião era por conseguinte "pré marxista", sem referência às classes sociais e sobretudo a histórica. Mas não era menos dialéctica, porque apreendia o carácter contraditório da "aflição" religiosa: por vezes, legitimação da sociedade existente, por vezes, protesto contra esta.

É apenas mais tarde, em particular na Ideologia alemã (1846), que o estudo propriamente marxista da religião, como realidade social e histórica, começou. O elemento central deste novo método de análise dos factos religiosos é considerá-los – juntamente com o direito, a moral, a metafísica, as ideias políticas, etc. – como uma das múltiplas formas da ideologia ou seja da produção espiritual (geistige Produktion) de um povo, a produção de ideias, de representações e formas de consciência, necessariamente condicionada pela produção material e pelas relações sociais correspondentes.

Poder-se-ia resumir esta diligência por uma passagem "programática" que aparece num artigo redigido alguns anos mais tarde: "é claro que qualquer perturbação histórica das condições sociais provoca ao mesmo tempo a perturbação das concepções e das representações dos homens e por conseguinte das suas representações religiosas". Este método de análise macro social terá uma influência duradoura sobre a sociologia das religiões, mesmo para além do movimento marxista.

A partir de 1846, Marx prestou apenas uma atenção desatenta à religião, em tanto que tal, como universo cultural/ideológico específico. Não se encontra praticamente na sua obra nenhum estudo mais desenvolvido de um fenómeno religioso qualquer. Convencido, como o afirma no artigo de 1844, que a crítica da religião se deve transformar em crítica deste vale de lágrimas e a crítica da teologia em crítica da política, parece desviar a sua atenção do domínio religioso.

O contributo de Engels

Será talvez devido à sua educação pietista que Friedrich Engels mostrou um interesse bem mais sustentado que Marx para os fenómenos religiosos e o seu papel histórico - partilhando ao mesmo tempo, naturalmente, as opções decididamente materialistas e ateias do seu amigo. A sua principal contribuição para a sociologia marxista das religiões é sem dúvida a sua análise da relação entre as representações religiosas e as classes sociais. O cristianismo, por exemplo, não aparece nos seus escritos (como em Feuerbach) como "essência" a histórica, mas como uma forma cultural ("ideológica") que se transforma durante a história e como um espaço simbólico, desafio de forças sociais antagónicas.

Graças ao seu método fundado na luta de classes, Engels compreendeu contrariamente aos filósofos das Luzes que o conflito entre materialismo e religião não se identifica sempre com aquele que existe entre revolução e reacção. Na Inglaterra, por exemplo, no século XVII, o materialismo na pessoa de Hobbes, defendeu a monarquia enquanto as seitas protestantes fizeram da religião a sua bandeira na luta revolucionária contra os Stuarts. Do mesmo modo, longe de conceber a Igreja como uma entidade social homogénea, ele esboça uma notável análise mostrando que em certas conjunturas históricas, ela se divide de acordo com as suas componentes de classe. É assim que, na época da Reforma, se tinha, por um lado, o alto clero – cimeira feudal da hierarquia – e do outro, o baixo clero, que fornece os ideólogos da Reforma e do movimento campesino revolucionário.

Continuando a ser ao mesmo tempo materialista, ateu e adversário irreconciliável da religião, Engels compreendia, como o jovem Marx, a dualidade de natureza deste fenómeno: o seu papel na legitimação da ordem estabelecida e, em determinadas circunstâncias sociais, o seu papel crítico, contestatário e mesmo revolucionário. Mais ainda, é este segundo aspecto que se encontrou no centro da maior parte dos seus estudos concretos. Com efeito, debruçou-se primeiro sobre o cristianismo primitivo, religião dos pobres, excluídos, malditos, perseguidos e oprimidos. Os primeiros cristãos eram originários das últimas fileiras da sociedade: escravos, homens livres privados dos seus direitos e pequenos camponeses sobrecarregados de dívidas.

Engels chegou mesmo a estabelecer um paralelo surpreendente entre este cristianismo primitivo e o socialismo moderno. A diferença essencial entre os dois movimentos residia em que os cristãos primitivos empurravam a libertação para o além, enquanto o socialismo a colocava neste mundo. Mas esta diferença é também acentuada no que aparece à primeira vista? No seu estudo sobre um segundo grande movimento cristão a guerra dos camponeses na Alemanha - ela parece perder a sua clareza: Thomas Munzer, teólogo e líder dos camponeses revolucionários e plebeus heréticos do século XVI, queria o estabelecimento imediato do Reino de Deus, esse reino milenarista dos profetas, sobre a terra. De acordo com Engels, o Reino de Deus era para Munzer uma sociedade sem diferenças de classe, sem propriedade privada e sem autoridade do Estado independente ou estrangeiro para os membros dessa sociedade.

Pela sua análise dos fenómenos religiosos, face à luta das classes, Engels revelou o potencial contestatário da religião e abriu o caminho para uma nova abordagem das relações entre religião e sociedade, distinto ao mesmo tempo da filosofia das Luzes e do neo hegelianismo alemão.

A maior parte dos estudos marxistas da religião, escritos no séc. XX, limitou-se a comentar ou a desenvolver as ideias esboçadas por Marx e Engels ou a aplicá las a uma realidade específica. São assim, por exemplo, os estudos históricos de Karl Kautsky sobre o cristianismo primitivo, as heresias medievais, Thomas More e Thomas Munzer.

Paraíso na terra ou nos céus?

No movimento operário europeu, eram muitos os marxistas radicalmente hostis em relação à religião, mas pensavam ao mesmo tempo que o combate do ateísmo contra a ideologia religiosa devia ser subordinado às necessidades concretas da luta de classes, que exige a unidade dos trabalhadores que crêem em Deus e dos que não crêem. O próprio Lenine que denunciava frequentemente a religião como "nevoeiro místico" insiste no seu artigo de 1905, "o socialismo e a religião" sobre o facto que o ateísmo não devia fazer parte do programa do partido porque "a unidade na luta realmente revolucionária da classe oprimida pela criação de um paraíso na terra é mais importante para nós do que a unidade da opinião proletária sobre o paraíso nos céus".

Rosa Luxemburgo tinha a mesma opinião, mas elaborou uma diligência diferente e mais flexível. Embora ateia, ela atacou menos, nos seus escritos, a religião enquanto tal do que a política reaccionária da Igreja, em nome da tradição limpa desta. Num opúsculo de 1905, "a igreja e o socialismo", afirmou que os socialistas modernos eram mais fiéis aos preceitos originais do cristianismo do que o clero conservador de hoje. Dado que os socialistas lutam por uma ordem social de igualdade, liberdade e fraternidade, os padres deveriam acolher favoravelmente o seu movimento, se quisessem honestamente aplicar na vida da humanidade o preceito cristão "amai o próximo, como a ti".

Quando o clero apoia os ricos, que exploram e oprimem os pobres, ele está em contradição explícita com os ensinamentos cristãos: não serve Cristo, mas o dinheiro de um argentário. Os primeiros apóstolos do cristianismo eram comunistas apaixonados e os pais e primeiros doutores da Igreja (como Basílio, o Grande e João Crisóstomo) denunciavam a injustiça social. Hoje esta causa foi tomada em força pelo movimento socialista que traz aos pobres o Evangelho da fraternidade e da igualdade, apelando ao povo para estabelecer na terra o Reino da liberdade e do amor pelo próximo. Mais do que comprometer uma batalha filosófica, em nome do materialismo, Rosa Luxemburgo procura salvar a dimensão social da tradição cristã para a transmitir ao movimento operário.

Na Internacional comunista não se prestava muita atenção à religião. Um número significativo de cristãos juntou-se ao movimento e o antigo pastor protestante suíço, Jules Humbert Droz, tornou-se mesmo, nos anos 1920, um dos principais dirigentes do Komintern. Na época, a ideia mais espalhada nos marxistas era que um cristão que se tornasse socialista ou comunista abandonava necessariamente as suas crenças religiosas anteriores "anti científicas" e "idealistas".

A maravilhosa peça de teatro de Bertold Brecht, Santa Joana dos Matadouros (1932), é um bom exemplo deste tipo de diligência simplista em relação à conversão dos cristãos para a luta pela emancipação proletária. Brecht descreve, com grande talento, o processo que conduz Joana, dirigente do exército de salvação, a descobrir a verdade sobre a exploração e a injustiça social, denunciando as suas antigas crenças, no momento de morrer. Mas, para ele, deve haver uma ruptura absoluta e total entre a sua antiga fé cristã e o seu novo credo da luta revolucionária. Exactamente antes de morrer, Joana diz aos seus amigos:

"Se por acaso alguém vier dizer baixinho,

Que existe um Deus, invisível é verdade,

Do qual, portanto podeis esperar por socorro,

Batei-lhe o crânio na pedra,

Até que ele rebente."



A intuição de Rosa Luxemburgo, segundo a qual se podia lutar pelo socialismo em nome dos verdadeiros valores do cristianismo original, perdeu-se neste tipo de perspectiva "materialista" grosseira e sobretudo intolerante. Efectivamente, alguns anos depois de Brecht ter escrito esta peça, apareceu em França, entre 1936 e 1938, um movimento de cristãos revolucionários que reunia vários milhares de militantes, que apoiavam activamente o movimento operário, em especial a sua ala mais radical (os socialistas de esquerda de Marceau Pivert). A sua palavra de ordem principal era: "Somos socialistas, porque somos cristãos"...

Entre os dirigentes e pensadores do movimento comunista, Gramsci é provavelmente aquele que manifestou o maior interesse pelas questões religiosas. É também um dos primeiros marxistas a procurar compreender o papel contemporâneo da Igreja católica e o peso da cultura religiosa nas massas populares. Estas observações sobre a religião, nos seus Cadernos de prisão são fragmentárias, não sistemáticas e alusivas, mas no entanto muito perspicazes. A sua crítica destapada e irónica das formas conservadoras da religião nomeadamente a versão jesuítica do catolicismo, que ele detestava alegremente não o impedia de perceber também a dimensão utópica das ideias religiosas.

Os estudos de Gramsci são ricos e estimulantes, mas em última análise, não inovam no seu método de apreender a religião. Ernst Bloch é o primeiro autor marxista a ter alterado este quadro teórico sem abandonar a perspectiva marxista e revolucionária. Numa diligência similar à de Engels, distingue duas correntes sociais opostas: por um lado, a religião teocrática das igrejas oficiais, ópio do povo, aparelho de mistificação ao serviço dos poderosos; do outro, a religião clandestina, subversiva e herética dos Cátaros, Hussitas, Joaquim de Flora, Thomas Munzer, Franz von Baader, Wilhelm Weitling e Leão Tolstoi.. Nas suas formas contestatárias e rebeldes, a religião é uma das modos mais significativos da consciência utópica, uma das mais ricas expressões do princípio da esperança e uma das mais poderosas representações imaginárias do ainda não existente.

Bloch, tal como o jovem Marx da famosa citação de 1844, reconhece evidentemente o duplo carácter do fenómeno religioso, o seu aspecto opressivo, ao mesmo tempo que o seu potencial de revolta. É necessário, para apreender o primeiro, a que ele chama "a corrente fria do marxismo": a análise materialista impiedosa das ideologias, dos ídolos e dos idólatras. Para o segundo, em contrapartida, é "a corrente quente do marxismo" que lhe é aposta, procurando salvaguardar o excesso cultural utópico da religião, a sua força crítica e antecipadora. Para lá de qualquer "diálogo", Bloch sonhava com uma verdadeira união entre Cristianismo e revolução como aconteceu nas Guerras Camponesas do século XVI.

Fé marxista e fé religiosa

As opiniões de Bloch eram partilhadas em certa medida por alguns intelectuais alemães da ala mais radical, que ficou conhecida como a Escola de Frankfurt. Max Horkheimer afirmava que a religião seria "o registo dos desejos, nostalgias e acusações de infinitas gerações". Erich Fromm, no seu livro "Dogma de Cristo" (1930), usou o marxismo e a psicanálise para demonstrar a essência messiânica, plebeia, igualitária e anti autoritária do Cristianismo primitivo. E o escritor Walter Benjamin tentou combinar numa única síntese teologia e marxismo, messianismo judeu e materialismo histórico, luta de classes e redenção.

O trabalho "O Deus Escondido" (1955) de Lucien Goldmann é outra tentativa de abrir caminho na renovação dos estudos marxistas sobre a religião. Embora de inspiração diferente da de Bloch, ele estava igualmente interessado em resgatar os valores moral e humano da tradição religiosa. A parte mais original e surpreendente do seu livro é quando ele tenta comparar (sem no entanto assimilá-los) a fé religiosa com a fé marxista: ambas partilham da recusa do individualismo (racional ou empírico) e a crença em valores trans individuais: Deus para a religião; a comunidade humana para o socialismo. Nos dois casos a fé assenta numa aposta a aposta na existência de Deus e a aposta marxista na libertação humana pressupõe o risco, o perigo de fracassar e a esperança do sucesso. Ambas implicam uma crença fundamental que não é demonstrável exclusivamente ao nível dos argumentos factuais.

O que as separa é certamente o caráter suprahistórico da transcendência religiosa: "A fé marxista é a fé no futuro histórico construído pelos próprios seres humanos, ou melhor, que devemos fazer, através da nossa actividade, uma "aposta" no sucesso das nossas acções; a transcendência que é o objecto desta fé não é nem sobrenatural nem transhistórica, mas sim supra individual, nada mais e nada menos." Sem querer de alguma maneira "cristianizar o marxismo", Lucien Golmann introduziu, graças ao conceito de fé, um novo olhar para a relação conflitiva entre a crença religiosa e o ateísmo marxista.

Marx e Engels pensavam que o papel subversivo da religião era um fenómeno do passado, sem significado para a época da luta de classes moderna. Esta previsão revelou-se exacta historicamente durante um século – com algumas importantes excepções, nomeadamente em França, onde se conheceram os socialistas cristãos dos anos 1930, os padres operários dos anos 1940, a esquerda dos sindicatos cristãos (CFTC) nos anos 1950, etc. Mas, para compreender o que se passa, desde há trinta anos na América Latina – a teologia da libertação, os cristãos pelo socialismo – é necessário ter em conta as intuições de Bloch e Goldmann sobre o potencial utópico das tradições religiosas judaico cristãs.

O que infelizmente faz falta nestes debates marxistas "classicos" acerca da religião é a discussão das implicações da doutrina e práticas religiosas em relação às mulheres. O patriarcado, o tratamento discriminatório das mulheres e a negação dos direitos reprodutivos prevalecem nas principais correntes religiosas em particular no Judaísmo, Cristianismo e Islão e apresentamformas particularmente opressoras nas respectivas facções fundamentalistas. De facto, um dos critérios chave para avaliar o carácter progressivo ou regressivo dos movimentos religiosos é a sua atitude em relação às mulheres, e em especial ao seu direito de controlar os seus corpos: divórcio, contracepção ou aborto. Uma análise marxista renovada das religiões no século XXI obriga-nos a colocar o tema dos direitos das mulheres no centro da análise.

Michael Löwy é membro do NPA em França e director de pesquisa em sociologia no CNRS (National Center for Scientific Research) em Paris. É autor de muitos livros, entre os quais: "The Marxism of Che Guevara", "Marxism and Liberation Theology", "Fatherland or Mother Earth?" e "The War of Gods: Religion and Politics in Latin America".
Tradução de António José André.