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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 06, 2010

USA e a maior e mais lucrativa industria de sua terra






ARMAI-VOS UNS AOS OUTROS.

Via Direto da Redação

Eliakim Araujo

Lunáticos, terroristas e serial killeres de toda espécie devem estar vibrando com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que considerou inconstitucional o controle de armas pelo Estado. Trocando em miúdos, armai-vos uns aos outros e continuem se matando indiscriminadamente.
É a velha e obssessiva cultura americana que é capaz de dar um passo à frente quanto elege um negro para a presidência e retroceder dois quando seu tribunal maior adota uma medida retrógrada como essa.
A decisão da Suprema Corte foi eminentemente política. De um lado, os cinco juizes conservadores votando pela liberação do porte de armas, uma reinvindicação da Smith & Wesson, da ala mais radical do Partido Republicano e de remanescentes da Ku Klux Klan. De outro, os quatro mais progressistas, inclusive Sonia Sotomayor, recentemente nomeada pelo presidente Obama, votando pelo controle de armas, na prática uma tentativa de desarmamento da população civil.
Os juizes se basearam em um dispositivo legal arcaico e em completo desacordo com a realidade atual do país, a Segunda Emenda, introduzida da Constituição dos Estados Unidos, em 1791, que estabelece: “sendo necessária à segurança de um Estado livre uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.
Ora, falar em “milícia bem organizada” nos dias atuais é regredir aos tempos do faroeste americano, uma época abundantemente retratada nos filmes do faroeste americano, quando as platéias de todo mundo prestigiavam os filmes de mocinho e bandido, com o xerife que defendia a incipiente cidade dos assaltos a bancos e diligências, e com os duelos ao sol em que os cidadãos resolviam suas diferenças pessoais à bala, na falta de um sistema judicial organizado.
A questão que se coloca é: armas para se defender ou para matar inocentes? A Suprema Corte certamente não levou em conta a trágica estatística dos massacres que crescem a cada ano nos Estados Unidos. E não resta dúvida que muitos poderiam ser evitados não fosse a facilidade que as pessoas encontram para adquirir armas.
Relembrando (1). Em 2007, na universidade de Virginia Tech, um estudante de origem sul-coreana de 23 anos promoveu um banho de sangue no campus universitário. Trinta e dois mortos atingidos por balas de mais de uma arma, todas adquiridas facilmente em uma loja especializada em uma cidade vizinha.
Relembrando (2). Em abril do ano passado, o professor universitário pernambucano Almir Olimpio Alves, de 43 anos, foi uma das treze vítimas de um massacre praticado por um vietnamita que frequentava o mesmo curso de inglês para imigrantes, em uma cidade do Estado de Nova Iorque. O vietnamita, que se sentia humilhado diante dos colegas porque não conseguia desenvolver o aprendizado da língua, invadiu a sala com duas armas e disparou a esmo.
Tragédias que poderiam ser evitadas não fosse a facilidade com que as pessoas se armam no país que tem uma poderosa indústria de armamentos – e um poderoso lobby no Parlamento - que precisa desovar seus produtos, não importa a que preço.
Uma vitória para associações que existem em vários pontos do país – algumas de caráter extremista - que defendem o direito do cidadão possuir e portar armas. Uma delas, a mais famosa, a NRA (Associação Nacional do Rifle), liderada durante muitos anos pelo falecido ator Charlton Heston, o velho Ben-Hur do cinema.
Nota zero, para a decisão da Suprema Corte dos EUA.

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