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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 27, 2010

Nós os latino americanos somos mais fortes e ricos unidos dai não interessa a quem?!?











A América Latina só tem uma alternativa:

unir-se, lutar e vencer

O presidente cubano Raúl Castro declarou nesta segunda-feira (26), que seu país apoia o direito da Venezuela de defender-se de ameaças e provocações, ao encerrar a primeira reunião de cúpula presidencial bi-nacional.

Lutamos pela paz e pela harmonia entre nossos povos irmãos e nossas gestões sempre terão este objetivo, mas em caso de qualquer problema, que ninguém tenha a menor dúvida sobre o lado de quem Cuba estará, afirmou o presidente Raúl Castro.

No discurso de encerramento do encontro, o presidente cubano advertiu que vivemos uma conjuntura internacional difícil,na qual à instabilidade política, econômica e a deterioração do meio ambiente se soma o perigo de novas aventuras bélicas em diferentes lugares do mundo.

Em nossa região – acrescentou – a instalação de bases militares dos Estados Unidos na Colômbia põe em risco a estabilidade regional e a soberania de Estados vizinhos.

Respaldamos o direito da Venezuela de defender-se de ameaças e provocações, enfatizou Raúl Castro.

A 200 anos do início de nossas guerras de independência e desde muito antes, a experiência histórica nos ensina que a “Nossa América” só tem uma alternativa: unir-se, lutar e vencer.

O presidente cubano assegurou que a primeira reunião de cúpula presidencial abre uma nova etapa nas relações rumo à União Econômica.

Com informações da Prensa Latina



Via VERMELHO


Eva Golinger: EUA e Colômbia planejam ataque, revelam documentos



A expansão militarista dos Estados Unidos na região e sua estratégia de mobilidade global estão em processo de execução contra a Venezuela. A missiva revelada pelo presidente Chávez confirma os planos contidos em documentos do Pentágono de 2009.

Por Eva Goliger*, em Adital

O presidente Hugo Chávez denunciou este sábado (24) que os Estados Unidos planejam atacar a Venezuela e derrubar seu governo. Durante a celebração do aniversário do Libertador Simón Bolívar, Chávez leu uma carta secreta que havia recebido de uma fonte não revelada dos Estados Unidos.

"Velho amigo, há anos não o vejo, como comentei, lê os três últimos que te enviei, a ideia continua sendo a geração do conflito pelo lado ocidental", leu Chávez do texto confidencial. "Os últimos acontecimentos confirmam, todos ou quase todos, o que estes discutiram em parte por aqui e outras informações que me chegaram desde cima", continuou.

"A fase de preparação da comunidade internacional, com a ajuda da Colômbia, está em plena execução", manifestou o texto, fazendo referência à sessão extraordinária na Organização dos Estados Americanos (OEA), na quinta-feira passada, durante a qual o governo da Colômbia acusou a Venezuela de apoiar "terroristas" e dar refúgio a "acampamentos terroristas" em território venezuelano.

O governo colombiano deu um "ultimato" de "30 dias" para que a Venezuela permita uma "intervenção internacional". O Departamento de Estado também apoiou a posição da Colômbia e instou a Venezuela a que "deve responder ante essa informação ‘comprovada e confirmada’".

A carta continuou com mais detalhes: "Te mandei dizer que os eventos têm data limite no dia 26, porém, por alguma razão estão adiantando movimentos que eram para ser executados posteriormente".

"Nos Estados Unidos a fase de execução está sendo acelerada com uma força de contenção até a Costa Rica, com o pretexto da luta contra o narcotráfico". No passado 1º de julho, o governo da Costa Rica autorizou a entrada de 46 navios de guerra e 7 mil marines estadunidenses em seu território.

O documento destacou que o verdadeiro objetivo dessa mobilização militar é "apoiar operações militares" contra a Venezuela.

Assassinato e derrubada

"Existe um acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos com dois objetivos: um é Mauricio e o outro é o governo", revelou o texto secreto. O presidente Chávez explicou que "Mauricio" é o pseudônimo utilizado nessas comunicações.

"A operação militar vai adiante", alertou o texto, e será realizada "pelos do Norte; porém, não querem entrar diretamente em Caracas (...) Estão caçando ‘Mauricio’ fora de Caracas; é muito importante, te repito, é muito importante".

O presidente Chávez revelou que havia recebido comunicações da mesma fonte em ocasiões anteriores, alertando-o sobre ameaças perigosas. Recebeu uma carta da fonte dias antes da captura de mais de cem paramilitares colombianos nas redondezas de Caracas, que eram parte de um plano de assassinato contra o chefe de Estado venezuelano.

Outra comunicação chegou até ele semanas antes do golpe de Estado, em abril de 2002. "A carta falou de francoatiradores e do golpe", explicou Chávez, "e tinha razão, a informação foi veraz; porém, não fomos capazes de atuar a tempo, para prevenir a situação".

Expansão militar dos EUA

Essa última revelação chega justamente depois da decisão de romper relações com a Colômbia, tomada pelo presidente Chávez, após o "show" da Colômbia na OEA. "Uribe é capaz de qualquer coisa", alertou Chávez, anunciando que o país está em alerta máxima e as fronteiras serão reforçadas.

Em outubro de 2009, a Colômbia e os Estados Unidos assinaram um polêmico acordo militar que autorizou Washington a ocupar sete bases militares e o uso de todo o território colombiano para executar suas missões militares. Uma das bases assinaladas no acordo -Palanquero- foi citada em um documento da Força Aérea dos Estados Unidos, em maio de 2009, como necessária para "conduzir operações militares de amplo espectro" por todo o continente para combater "a ameaça de governos anti-estadunidenses" na região.

Palanquero também foi considerada uma peça chave para a estratégia de mobilidade global do Pentágono, como foi destacado no Livro Branco: Estratégia de Mobilidade Global do Comando de Mobilidade Aéreo, publicado em fevereiro de 2009. "O Comando Sul identificou Palanquero, Colômbia (Base Germán Olano SKPQ) como um lugar de cooperação e segurança (CSL, por suas siglas em inglês). Desde esse lugar, quase a metade do continente pode ser alcançado por um C-17, sem necessidade de reabastecimento".

O orçamento de 2010 do Pentágono incluiu uma solicitação de 46 milhões de dólares para melhorar a instalação em Palanquero, para apoiar a "Estratégia de Postura de Teatro" do Comando Combatiente e "dar uma oportunidade única para operações de amplo espectro em uma subregião crítica de nosso hemisfério, onde a segurança e a estabilidade estão sob constante ameaça de insurgências terroristas, governos anti-estadunidenses, pobreza endêmica e frequentes desastres naturais".

O documento da Força Aérea, de maio de 2009, além disso, revelou que Palanquero seria utilizada para "incrementar nossas capacidade de conduzir operações de Inteligência, Reconhecimento e Espionagem (ISR, por suas siglas em inglês); melhorar o alcance global e aumentar a capacidade de guerra expedita".

Em fevereiro de 2010, a Direção Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, em seu relatório anual de ameaças, classificou a Venezuela e o presidente Chávez como "Líder anti-estadunidense" na região.

Os Estados Unidos também mantêm duas bases de operações avançadas em Aruba e em Curaçao, a poucos quilômetros da costa venezuelana. Durante os últimos meses, o governo venezuelano denunciou a intromissão não autorizada de vários aviões não tripulados (drones) e outras aeronaves estrangeiras em território venezuelano.

Ao mesmo tempo, documentos oficiais dos Estados Unidos, recentemente desclassificados, revelam entre 40 e 50 milhões de dólares em financiamento a grupos e meios anti-Chávez, para alimentar o conflito dentro do país,executar ações de desestabilização e subversão interna e promover matrizes de opinião em âmbito internacional para justificar uma agressão contra a Venezuela.

Essas últimas revelações evidenciam que estão preparando um conflito sério, perigoso e não justificado contra a Venezuela, um país com uma democracia vibrante e as maiores reservas de petróleo do mundo.

* Eva Golinger é advogada venezuelano-estadunidense
docidadãdomundo

“Não há saída para a Colômbia fora da política e da democracia”

Mergulhada em um cenário de violência política há quase cinco décadas, a Colômbia elegeu, no último dia 20 de junho, Juan Manuel dos Santos à presidência da República, em segundo turno, com 69% dos votos válidos. Candidato apoiado pelo atual presidente, Álvaro Uribe, Santos foi seu Ministro da Defesa, um dos articuladores da escalada bélica contra a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ativo defensor do acordo militar que possibilitou a instalação e a ampliação de bases norte-americanas no país. A disputa presidencial envolveu ainda Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, pelo Partido Verde, que obteve 27,5% dos sufrágios. No primeiro turno, participou ainda Gustavo Petro, senador e ex-guerrilheiro, pelo Pólo Democrático, uma coalizão de partidos de esquerda, obtendo 9,5% da preferência dos eleitores.

Sob a gestão de Uribe, a Colômbia tornou-se, juntamente com o México, o maior sustentáculo da política do governo de George W. Bush na América Latina. Além das bases e de um aumento expressivo em seu orçamento militar, vários grupos paramilitares agem com a complacência oficial no combate à oposição armada.

Carlos Lozano, membro da Junta Nacional do Pólo Democrático, integrante do Comitê Central do Partido Comunista Colombiano e editor do semanário Voz, órgão oficial da agremiação, comenta os resultados eleitorais, a influência dos EUA e relaciona o poder oficial com os meios de comunicação em seu país. A seguir, os principais trechos da conversa.

Gilberto Maringoni

Lozano: Mockus agiu como um neoliberal e não representava uma alternativa real

Qual é a situação política, após a vitória de Juan Manuel dos Santos?
As eleições parlamentares e presidenciais foram realizadas sob características que marcam nosso país há décadas: um forte apoio oficial aos candidatos governistas. Praticamente todos os recursos do Estado foram colocados a serviço dos partidos ligados ao presidente Álvaro Uribe. É o caso, por exemplo, dos programas assistenciais. Eles aglutinam milhões de pessoas. A lei proíbe sua utilização com objetivos eleitorais. Mas houve denúncias, ao longo de toda a campanha. Os beneficiários foram coagidos a apoiar candidaturas oficiais, sob pena de perder sua cobertura. Temos notícias também de proselitismo armado, por parte de paramilitares, sobretudo em regiões rurais, pressionando os camponeses para que votassem em Santos.

Como foi a atuação dos partidos de oposição?
O traço importante dessas eleições é que as pesquisas eleitorais trataram de criar uma aparente polarização entre Juan Manuel dos Santos e Antanas Mockus. Algumas sondagens chegaram a apontar Mockus na dianteira. Dois ou três dias antes do primeiro turno, havia um empate técnico, que não se materializou nas urnas. A intenção era muito clara: tirar de cena outras forças, em especial a esquerda, representada pelo Pólo Democrático. No segundo turno, o Pólo propôs a Mockus um acordo de quatro pontos para apoiá-lo. Era algo perfeitamente factível. Mockus não aceitou, alegando, de forma sectária, desejar disputar com suas próprias forças, sem a necessidade de aliados. Aí está o resultado. Mockus representa realmente um setor não contaminado pelo clientelismo e pela corrupção. Porém, é um setor mais à direita. Na prefeitura de Bogotá, Mockus agiu como um neoliberal e não representava uma alternativa real. Mesmo assim, queríamos derrotar o pior, que era a continuidade do uribismo. Com a recusa de Mockus, resolvemos não votar e não respaldar nenhum dos dois candidatos.

O que é o uribismo?
É uma corrente de ultra direita, que cresceu nos últimos anos, com suporte nos tradicionais Partidos Liberal e Conservador. Esta corrente está vinculada aos interesses dos Estados Unidos e do militarismo, com forte influência de oficiais que passaram pela Escola das Américas. É um anacronismo, mas segue existindo aqui. O governo alega estar construindo uma “segurança democrática” que gerará confiança e estabilidade para os investimentos internacionais. Por isso, o governo de Uribe, mais do que qualquer outro da América latina, vem estimulando os tratados de livre comércio, em especial com os Estados Unidos, com a Europa e com o Canadá.

Uribe é realmente popular?
Há que se levar em conta a precariedade da democracia colombiana. Além disso, não podemos desconsiderar a existência de um setor importante da população, não apenas os mais ricos, que respalda o governo. Isso inclui camadas médias e setores populares. O apoio existe, mas não é tão grande como eles alegam. Nas eleições houve 55% de abstenção, pois o voto aqui não é obrigatório. Assim, Juan Manuel dos Santos teve a maioria da minoria dos 45% que votaram, cerca de 30% do total de eleitores. Nas duas eleições vencidas por Uribe, a abstenção também foi semelhante.

Que impacto eleitoral tiveram os acordos militares com os Estados Unidos, firmados no ano passado?
Há um setor importante do país que apóia tudo isso. O governo difunde a idéia de que as bases estadunidenses trarão paz ao país pela via da guerra, pela derrota militar da guerrilha. Nós, da esquerda, sempre colocamos a necessidade de uma solução negociada e política para o conflito. A direita e o governo alegam que as propostas de diálogo fracassaram e que os gringos resolverão o problema.

Há o argumento de que as bases trarão investimentos e desenvolvimento ao país...
É verdade. A campanha publicitária oficial e os meios de comunicação argumentam que as bases melhorarão as condições de infraestrutura de cidades próximas a elas, que haverá mais lojas, mais restaurantes e mais comércio. Sabemos que as coisas não serão assim.

Há diferenças entre o Plano Colômbia, firmado no governo Clinton (1992-2000), e as bases?
Sim. O Plano Colômbia tinha como objetivo alegado combater o narcotráfico. Começou há cerca de 14 anos, com investimentos de cinco bilhões de dólares. Neste ano, o montante caiu para US$ 400 milhões e em 2011 serão apenas US$ 340 milhões. O governo dos EUA resolveu concentrar todos os seus investimentos nas bases militares. Elas agora são sete, mas podem se ampliar, de acordo com convênio. Atualmente, o argumento não é apenas combater o narcotráfico, mas atacar o “terrorismo” e dar segurança ao país. Ou seja, um critério muito genérico, pois com segurança do país pode estar subentendida a existência de uma ameaça externa. Isso preocupa a Unasul. Quem ameaça a Colômbia? Há o argumento de que, com as diferenças que o governo tem com Chávez, ele estaria ameaçando o nosso país. É um caminho perigoso.

Há conexão com a reativação da IV Frota dos EUA no Atlântico Sul?
Claro. O projeto é estacionar a IV Frota na base de Malambo, em Barranquilla. Trata-se da principal cidade colombiana na costa do Caribe.

Qual é a relação do uribismo com os meios de comunicação?
Os grandes meio de comunicação são de propriedade de poderosos grupos econômicos nacionais e internacionais, em estreita relação com o governo. Além disso, Juan Manuel dos Santos integra a família proprietária do jornal El Tiempo, que completará 100 anos em 2011. É o mais influente no país e o grupo possui, além do jornal, um canal de televisão em Bogotá e editoras de livros e revistas. É um monopólio. A família teve um Presidente da República, Eduardo Santos, entre 1938 e 1942. Com a crise econômica, venderam parte das ações ao grupo espanhol Planeta, ligado ao PP, Partido Popular, do ex-primeiro ministro José Maria Aznar. O grupo Planeta deve também ganhar a licitação para o terceiro canal de TV privado que temos aqui. É o único concorrente, algo incrível. Com isso tudo, a tendência política na Colômbia trafega num sentido contrário ao que vem ocorrendo na América Latina, onde a direita perdeu postos importantes.

Como o Sr. avalia a gestão Uribe do ponto de vista social?
O investimento social é mínimo. O governo apresentou uma reforma trabalhista, supostamente para se gerar empregos. O que estamos vendo, pelas últimas estatísticas, é um aumento do desemprego para 12,5% da população economicamente ativa. A saúde foi privatizada. Eliminaram as cirurgias de alto risco do sistema público. No país, 35% do orçamento público vão para o combate à guerrilha e 25% destinam-se aos pagamentos dos serviços da dívida pública. O principal programa de Uribe foi a “segurança democrática”. Com isso, em 2002, ele assegurou derrotar a guerrilha 90 dias. As Farc tiveram muitas baixas, mas seguem atuando. Assim, a “segurança democrática” fracassou. Uribe também buscou um acordo com os paramilitares, para desmobilizá-los. Haveria uma pena máxima de oito anos, independentemente dos crimes, para aqueles que se entregassem. Acabam de condenar os primeiros. São réus confessos de terem cometidos entre 120 e 150 assassinatos. E pegaram oito anos de cárcere! Mesmo assim, os paramilitares também seguem atuando. Segundo a Corporação Arco-Íris, uma ONG de defesa de direitos humanos, há cerca de oito mil deles em ação. A “segurança democrática” é um fracasso, assim como a política social do governo.

Qual é a saída para a questão da guerrilha?
Há oito anos defendemos uma saída política. Quando falo em fracasso militar, estou me referindo também à guerrilha. O governo não conseguiu derrotá-la e esta não logrou conquistar o poder pela via militar. Então há um fracasso neste caminho. São necessárias mudanças mínimas neste país, para que a guerrilha possa se incorporar à vida democrática.

Chanceler de Chávez negocia plano de paz e acusa Estados Unidos de insuflar a guerra

O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, esteve reunido com o presidente Lula na noite desta segunda-feira (26/7), durante breve viagem ao Brasil. Antes de continuar seu roteiro, que inclui paradas no Paraguai, Uruguai e Argentina, concedeu entrevista exclusiva ao Opera Mundi. Revelou a intenção de seu governo em articular um “plano de paz permanente com a Colombia” e analisou a escalada da crise entre as duas nações andinas.

Maduro reiterou que seu governo “deseja ter as melhores relações com o governo colombiano”. Mas foi contundente ao afirmar que, diante de qualquer ação agressiva da administração Uribe, a Venezuela irá responder com “medidas extremas de proteção”. Também acusou os Estados Unidos de serem o “pano de fundo” da crise e repetiu o alerta do presidente Chávez, de que o fornecimento de petróleo e derivados será suspenso em caso de qualquer ataque colombiano. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista.

Opera Mundi

Maduro: "a Venezuela é vítima da guerra colombiana há 60 anos"

Qual o objetivo da sua visita ao Brasil?
Foi uma visita relâmpago, para trazer uma mensagem pessoal do presidente Chávez ao governo brasileiro, além de oferecermos mais informações sobre as ameaças do governo colombiano contra a Venezuela. O presidente Lula teve o gesto honroso de nos receber. Apresentamos os esboços do plano que vamos levar à Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que se reúne na próxima quinta-feira em Quito, focado na necessidade de plano de paz permanente para a região. A guerra civil na Colômbia extravasou suas fronteiras e ameaça a segurança das nações andinas.

Mas quais são as propostas centrais desse plano?
Estamos em processo de consultas. Vamos apresentá-lo formalmente na quinta-feira. Não queremos adiantar os detalhes neste momento porque acreditamos que deve ser muito discutido previamente à sua apresentação na quinta-feira, para que ganhe viabilidade. Mas temos insistido que a corrida armamentista que está acontecendo na Colômbia há varias décadas, particularmente a partir do Plano Colômbia, e agora com as bases militares norte-americanas, leva a um transbordamento da violência daquele país na direção dos países vizinhos. Queremos encerrar essa situação com um plano de paz que possa superar a guerra na Colômbia, que já causou um ataque, em março de 2008, ao território do Equador e que representa uma ameaça permanente à revolução democrática na Venezuela.

O senhor avalia que a crise entre os dois países pode levar a um conflito militar?
É isso que queremos evitar. Já estamos em conflito político e diplomático contra uma doutrina que causou os ataques ao Equador. Uma doutrina que viola o direito internacional em relação à soberania e à inviolabilidade territorial dos países. Faremos todos os esforços para impedir seu desdobramento militar. Mas repudiamos a agressão diplomática do governo colombiano e defenderemos nosso território diante de qualquer tentativa de violação.

Após a eleição de Juan Manuel Santos para presidir a Colômbia, parecia que as relações com a Venezuela poderiam entrar em distensão. A que o senhor atribui a súbita mudança de situação?
Temos que relembrar que o presidente Chávez, no dia 14 de julho, anunciou o desejo de normalizar relações diplomáticas com a Colômbia, determinando que eu procurasse a futura chanceler do país vizinho para tratarmos dos termos de reaproximação. No dia seguinte apareceram notícias, na imprensa colombiana, de que o presidente Uribe apresentaria provas contundentes de presença guerrilheira em território venezuelano. A partir daí foi deslanchada campanha intensa contra nosso governo, repercutindo também na mídia internacional, por meio da CNN e outras empresas de comunicação. Uma semana depois o embaixador colombiano foi à OEA (Organização dos Estados Americanos) e passou horas ofendendo o presidente Chávez e nossas instituições democráticas. Mostrou umas fotos e simplesmente afirmou que guerrilheiros estavam escondidos na Venezuela, sem provar nada. O presidente Uribe parece movido pelo interesse de manter seu espaço como chefe dos grupos mais conservadores e belicistas de seu país. Não tivemos outra opção que não o rompimento das relações diplomáticas.

Mas o próprio presidente Chávez disse que os grupos paramilitares e guerrilheiros de fato cruzam as fronteiras venezuelanas.
Nós somos vítimas da guerra colombiana há 60 anos. Temos quatro milhões de colombianos vivendo na Venezuela, foragidos de guerra. E por que não voltam para a Colômbia? Porque se sentem inseguros, enquanto na Venezuela, a partir do governo Chávez, reconhecemos seus direitos ao trabalho e à seguridade social, ao progresso e à proteção do Estado. Nessas décadas todas fomos constantemente invadidos por guerrilheiros, paramilitares e narcotraficantes, que se apropriaram de terras nossas. Mas usamos nossas formas armadas e policiais, comandadas pelo presidente Chávez, e hoje todos os 2,3 mil quilômetros que temos de fronteira com a Colômbia estão livres da produção de drogas ou laboratórios de processamento. Foi um esforço que fizemos no combate também aos grupos armados. Mas esses quilômetros de fronteiras estão abandonados pela Colômbia. É muito difícil que não soframos mais risco de invasões enquanto não acabar a guerra na Colômbia.


O presidente Chávez anunciou que, se houver agressão militar da Colômbia contra a Venezuela, haverá medidas contra os EUA.
O presidente Chávez há muito tempo denuncia a agressiva movimentação norte-americana contra a Venezuela, com o apoio da Colômbia. As sete bases instaladas na Colômbia estão estrategicamente voltadas contra nosso território, para não falar na reativação da 4ª Frota e outras medidas. Não temos dúvidas de que existe uma estratégia elaborada pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado norte-americano para recuperar a hegemonia política que os EUA perderam na região por conta do avanço das correntes progressitas. Todas essas provocações da Colômbia e todas essas intenções agressivas têm, como pano de fundo, esse plano norte-americano. Se a Venezuela for agredida, tomaremos medidas de proteção, a começar pelo cancelamento do comércio de petróleo e derivados com os EUA.

O senhor não acha que a postura de seu governo pode aprofundar a tensão?
Nós queremos ter as melhores relações com o governo da Colômbia e estamos trabalhando nesse sentido. Mas não se pode continuar essa campanha permanente contra o chefe de estado, as instituições e a democracia venezuelana. A revolução bolivariana tem de ser respeitada assim como o governo da Colômbia. Queremos voltar a desenvolver o comércio, os investimentos conjuntos, o intercâmbio em todas as áreas -- cultural, energética etc. Mas a partir de uma retificação profunda, do respeito mútuo e absoluto. Se isso não existir, não temos como fazer o diálogo avançar.



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