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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 29, 2010

GRAFITE ILÍCITO

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Fazer críticas a respeito do comportamento da imprensa no caso da morte do filho da global Cissa Guimarães, é uma coisa realmente espinhosa.

Por um lado existe o respeito à dor dos pais que perderam o filho de maneira tola. E essa dor, dizem os que já passaram por isso, não se supera jamais. E eles têm o meu profundo e sincero respeito.

Por outro lado, existe a constatação de uma realidade inegável. Que fosse o menino filho de alguém da periferia, o que se diria era que ele não tinha nada que estar andando de skate em um túnel, ainda que interditado. Naturalmente, o motorista também não poderia transitar por alí.

De todo modo, quero fazer a necessária ressalva, já que de maneira geral, me recuso a acompanhar as notícias policiais veiculadas pela mídia. Elas são sempre tendenciosas e desnaturam a própria investigação policial. O caso dos Nardoni é um exemplo. Os pais da criança, fossem ou não responsáveis pela morte da filha, foram condenados pela opinião pública antecipadamente. Sendo assim, jamais seriam absolvidos em um juri popular. Mesmo que fossem inocentes.

Bem, o que chama a atenção nesta manchete do Globo online é a grafitagem promovida pela família. Novamente dizendo, com o devido respeito que merecem os entes enlutados, grafitar é destruição do patrimônio público. Fossem jovens fazendo isso de mandeira deliberada, seriam apreendidos pela polícia. E não se pode conceder exceção a alguém, somente porque é pessoa famosa.

Então, acho que nem é necessário falar mais nada. Basta pensar. Quais motivos justificam os dois pesos e as duas medidas?

Pessoas que vão pra cadeia por furtos insignificantes como o caso da mãe que se apropriou de uma maçã para dar ao filho esfomeado, esbofeteiam a lógica e os princípios básicos do Direito. Mesmo assim havia quem sentenciava que "roubo é roubo". Ora, se é tudo igual, por que com certa frequência vemos pipocar na imprensa exceções sempre desculpáveis?

Algo pra pensar e discutir com os amigos.

Outra coisa. Na materiazinha do Globo, os responsáveis tomaram o cuidado de mencionar que a manifestação em homenagem ao jovem, foi acompanhada por agentes de trânsito, e autorizada pelo poder público. Queriam mostrar que são politicamente corretos e que estava tudo dentro dos conformes.

Pois é. Não estava.
docomtextolivre

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