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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 27, 2010

A internet a informação terá de mudar o mundo











EUA e Paquistão, quem fará a reportagem?









O inglês The Guardian está dando uma bela lição de jornalismo. Recebeu o arquivo com mais de 91 mil relatórios secretos vazados para o site WikiLeaks e preparou um enorme banco de dados, com ótimas ferramentas e infográficos para pesquisa. A coisa é tão vasta e complexa que David Leigh, seu editor de investigações (sim, eles ainda fazem isso) aparece em vídeo para explicar em tutorial como usar o material. Um lorde.

Mas, do que já surgiu de informação, uma me parece maior que todas, e é claro que boa parte da mídia internacional e a nossa não deve dar a devida importância: o apoio do governo paquistanês aos talibãs. Trairagem com os americanos, diriam alguns? Talvez o buraco seja mais em cima. Caberia uma belíssima reportagem se alguém juntasse informações que a própria mídia forneceu ao longo dos últimos nove anos sobre as relações entre EUA e Paquistão. Esta poderia ter feito seu trabalho, mas não o fez. Só agora aparecem fatos graças à internet e a um provável militar descontente.

Sugiro alguns pontos:

A CIA e a ISI, a central de inteligência paquistanesa, trabalham coladinhas há anos. A última é cria da primeira, usam o mesmo modelo, é permanente a colaboração entre as duas. Quem diz é o New York Times. E a CIA já repassou centenas de milhões de dólares para sua congênere no Paquistão, diz o Los Angeles Times.

A CIA e a ISI criaram o talibã, disse Asif Ali Zardari, o próprio presidente do Paquistão, registrado no The Times of India. Interessante, não? Será que isso não dá uma bela reportagem em edição dominical? E não foi o único a dizer. Selig Harrison, um especialista em Ásia do the Woodrow Wilson International Centre for Scholars, confirmou o mesmo, com dados abundantes, no Emperor's Clothes.

E a denúncia de que a ISI estava por trás dos ataques em Mumbai em 2008? Teoria da conspiração? Há nomes envolvidos, diz o News Daily, cadê a reportagem?

E a história, de variadas fontes, que relataram que pouco antes do 11 de setembro o chefe do serviço secreto paquistanês, General Mahmood Ahmed, esteve em Washington. Lá, manteve conversas no Pentágono com o conselho de Segurança Nacional, depois com o diretor da CIA, Tenet, com pessoas da Casa Branca e com Marc Grossman, subsecretário dos EUA para assuntos externos. As mesmas fontes dizem que Mohamed Atta, um dos alegados terroristas do 11/9, recebeu pagamento no valor de 100 mil dólares de Amed Omar Saeed Sheikh, da ISI, que deposita o dinheiro em nome do general Mahmood Ahmed, diz o Asia Times.

Quem vai fazer a reportagem?

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