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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 30, 2010

uribe sai andando pato manco






Colômbia. Não há crise, há é um “pré-ex-presidente”


Os jornais brasileiros deram grande destaque à nota do ainda presidente colombiano, Álvaro Uribe, criticando o presidente Lula por ter qualificado a crise entre Colômbia e Venezuela como um conflito meramente verbal. Uribe está deixando a presidência e seu sucessor, Juan Manuel Santos, toma posse no próximo dia 7, com a presença de vários presidentes sul-americanos, incluindo Lula, interessados em encerrar o conflito.

A imprensa brasileira se recusa a enxergar que Uribe faz as últimas tentativas de manter a atmosfera de conflito que marcou todo o seu governo, no qual enfrentou crises com a Venezuela e o Equador e esteve sempre próximo dos Estados Unidos, com quem acertou a instalação de cinco bases militares em território colombiano.

Juan Manuel Santos, embora apoiado por Uribe, não demonstrou até agora interesse na manutenção do clima permanente de conflito, e foi para ele que Lula telefonou hoje para conversarem diretamente sobre a tensão entre Colômbia e Venezuela. O porta-voz da presidência classificou a conversa de positiva na preparação para uma distensão do cenário.

Na próxima terça-feira, Santos recebe o ex-presidente argentino Nestor Kirchner e assim a questão se encaminha para ser resolvida sem maiores traumas pelos dirigentes da América do Sul, sem a necessidade de recurso a qualquer potência externa.

Lula estará no próximo dia 6 na Venezuela, conversando com Hugo Chávez, e no dia seguinte prestigia a posse de Santos, onde se encontrará com outros presidentes sul-americanos. E as relações vão se normalizar, enquanto Uribe será apenas um ex-presidente, lembrado apenas pela história como o homem que abriu o território de seu país para bases militares estrangeiras, infelizmente. Os americanos, de quem Uribe gosta tanto, têm uma expressão para o presidente em últimos dias de mandato, com o sucessor já eleito: “lame duck”, pato manco. Dizem que ninguém mais dá atenção a ele, nem o garçom que serve cafezinho no palácio.

Uma pena para Uribe, pois o café colombiano, em todo o mundo, é tido como um dos mais saborosos.

dotijolaço


Ique - 30/07/2010


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