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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 29, 2010

Estreia – Uma Noite em 67






Qualidade era item em excesso

Via R7

Estreia – Uma Noite em 67

Brasil, 2010. Direção de Renato Terra, Renato Calil.

Sabe-se que a maior parte do arquivo da antiga TV Record perdeu-se de diversas maneiras, inclusive nos incêndios que abalaram a emissora. De qualquer forma, existem poucos registros da fase de ouro dos festivais e daqueles incríveis programas musicais que eles produziram naquela época. Uma perda irreparável já que era uma “época de ouro” da música popular brasileira, que só deixa saudade e uma certa tristeza de estarmos vivendo um momento de relativa seca criativa.

Dos tapes que sobreviveram o mais completo é o do III Festival de 67, inclusive porque existe também um outro material, com entrevistas feitas por Cidinha Campos e Raul Juliano, nos bastidores da premiação. São os dois que servem de base para este festejado documentário que no entanto se sustenta na emoção. 1) dos que viveram aquele momento e agora o reveem nostálgicos. 2)dos que lamentam não terem tido idade para estarem lá.

MPB-4 e Chico Buarque - Foto Wilson Santos/CPDoc JB

Afinal, este é o festival em se consagrava os pouco conhecidos Gilberto Gil, Mutantes , Caetano Veloso (com Domingo no Parque e Alegria, Alegria), que tinha Roberto Carlos e Elis Regina (que pouco aparecem no filme) como competidores e ainda o escândalo provocado pelas vaias e o violão quebrado de Sérgio Ricardo. Sem esquecer Chico Buarque e sua Roda Vida e Edu Lobo e Marilia Medalha (a grande ausente nos depoimentos) como os vencedores.

Ou seja, só com o material original da Record, o filme já estava feito. O resto que fizeram é o básico. Entrevistas com os jurados (Sergio Cabral, Chico de Assis, Nelson Motta, Zuza Homem de Mello), e com os vencedores, todos ainda em ação. Umas poucas falas do lendário Tuta Carvalho (dono da Record na época. hoje supervisionando a Jovem Pan). E pronto. Nada de mais curioso (como ouvir por exemplo a Tellé Cardim, chefe das vaias que até hoje ainda trabalha na Rede Record) ou ousado ou investigativo. Agradável de ver, mas ainda distante do documentário definitivo que poderiam ter realizado.

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