Para os Estados Unidos começou o declínio?
Pode ser.
É um assunto importante, pois os EUA foram, no bem o no mal, protagonistas da cena mundial desde 1945 e única super-potência desde a queda do Muro de Berlim. É preciso reflectir bem pouco para perceber a influência que os Americanos tiveram e continuam a ter em todo o planeta.
Uma eventual queda, o um significativo redimensionamento, implicaria uma repensamento de muitos aspectos da nossa sociedade. Aspectos importantes (pensamos, por exemplo, na estratégia de defesa), aspectos fúteis também (cinema, televisão).
Seja como for, uma mudança fundamental.
Por isso, com a ajuda de Alfred W.McCoy, vamos ver quais as previsões que nesta altura é possível fazer acerca do futuro dos Estados Unidos. Que é, em boa parte,o nosso futuro também.
McCoy é professor de História da Universidade Wisconsin-Madison. É autor do recente
Policing America's Empire: The United States, The Philippines, and the Rise of Survelliance State (2009) e presidente do projecto
Empires in Transition, grupo de trabalho mundial de 140 historiadores.
2003: o início do fim
Apesar da aura de omnipotência que a maior parte das potências projectam, observar a história delas deveria lembrar que são organismos frágeis.
Tão delicada é a ecologia do poder que, quando as coisas começam a ir mal, os impérios desintegram-se regularmente com implacável velocidade: pouco mais de um ano no caso de Portugal, dois anos a União Soviética, oito anos a França, 11 anos a Turquia, 17 anos a Grã-Bretanha.
E os Estados Unidos? Difícil avançar com uma previsão exacta. No entanto, McCoy fixa o inicio do declínio no ano 2003. O que faz sentido.
Os futuros historiadores provavelmente irão identificar a invasão irresponsável do Iraque, por parte da administração Bush, como o início da queda da América.
No entanto, em vez do banho de sangue que marcou o fim de muitos impérios do passado, com cidades em chamas e civis massacrados, neste século XXI o colapso imperial poderia acontecer de forma tranquila, através dos tentáculos invisíveis dum colapso económico ou duma guerra cibernética.
Mas quando finalmente a dominação do mundo estar acabada, haverá uma dolorosa lembrança diária do que isso significa para os Americanos em todas as áreas da vida.
Como uma meia dúzia de Países europeus descobriram, o declínio imperial tende a ter um impacto deprimente na sociedade, arrastando tal situação ao longo de pelo menos uma geração de privação económica.
E se a economia esfria, a temperatura política sobe, muitas vezes provocando graves problemas internos.
O Século Americano
McCoy afirma que os dados económicos, educacionais e militares sugerem que, quando se trata de poder mundial dos Estados Unidos, as tendências negativas irão unir-se em 2020 para alcançar rapidamente uma massa crítica por volta de 2030.
O Século Americano, declarado de forma triunfante no início da II Guerra Mundial, estará em pedaços e em dissolvência em 2025, sua oitava década, e pode tornar-se história em 2030.
Significativamente, em 2008, o
National Intelligence Council dos Estados Unidos admitiu pela primeira vez que o poder mundial dos Eua encontra-se numa trajectória declinante.
Num dos seus relatórios periódicos acerca do futuro,
Global Trends 2025, o Conselho cita a "transferência da riqueza e do poder económico em curso na economia global, mais ou menos de oeste para leste" e "sem precedentes na história moderna", como o principal factor de declínio da relativa força americana, até mesmo nas forças armadas."
Tal como muitos em Washington, no entanto, o Conselho dos analistas prevê uma "aterragem" (isso é, um declínio) longa e suave da supremacia mundial dos EUA, com a esperança que, de alguma forma, os Estados Unidos conseguiriam ao longo de muito tempo "preservar únicas capacidades militares [...] de projectar o poder militar à nível mundial" nas próximas décadas.
Mas McCoy não pensa isso.
Nada a fazer. De acordo com as projecções actuais, os Estados Unidos vão encontrar-se em segundo lugar, atrás da China (já a segunda maior economia do mundo), na produção económica em torno de 2026, e atrás da Índia até 2050.
Da mesma forma, a inovação chinesa estará numa trajectória rumo à liderança mundial na ciência aplicada e na tecnologia militar entre 2020 e 2030, justamente quando actual reserva americana de brilhantes cientistas e engenheiros irá encolher, sem substituição adequada.
A Passagem da Ave-Maria
Em 2020, de acordo com os planos actuais, o Pentágono irá lançar uma passagem militar da Ave-Maria [no futebol americano indica uma tentativa desesperada de mudar o curso do jogo, NDT] para um império moribundo.
Será lançado um conjunto letal de robótica aeroespacial que representará a última esperança para Washington de manter o poder no mundo, apesar da própria decrescente influência económica.
Naquele ano, porém, a rede mundial de satélites de comunicações da China, apoiada pelos supercomputadores mais poderosos do mundo, estará plenamente operacional em Pequim, fornecendo uma plataforma para a militarização do espaço e um sistema de comunicação poderoso para mísseis ou ataques informáticos em cada quadrante do planeta.
Envolvida na arrogância imperial que já foi de Whitehall ou Quai d'Orsay, a Casa Branca ainda parece imaginar que o declínio americano será gradual e parcial.
No Discurso acerca do Estado da União no passado Janeiro, o presidente Barack Obama ofereceu a garantia de que ele não aceita o segundo lugar para os Estados Unidos da América.
Poucos dias depois, o vice-presidente Biden ridicularizou a ideia pela qual os EUA possam tornar-se uma grande nação que falhou por ter perdido o controle da economia.
Da mesma forma, ao escrever na edição de Novembro da revista governativa
Foreing Affairs, o "guru" liberal da política externa Joseph Nye afastou o discurso do crescimento económico e militar da China, rejeitando a "metáfora enganosa do declínio orgânico" e negou que uma já iminente deterioração do poder global dos Estados Unidos.
Os Americanos comuns, observando os seus lugares de trabalho no estrangeiro, têm uma visão mais realista. Uma pesquisa em Agosto 2010 revelou que 65% dos Americanos acham que o País está "em estado de declínio".
Austrália e Turquia , tradicionais aliados militares dos Estados Unidos, já estão a usar armas de fabricação americana nas manobras conjuntas aéreas e navais com a China.
Os parceiros económicos mais próximos da América já estão a fazer marcha atrás acerca da oposição de Washington à taxa de câmbio "domesticada" da China.
Quando o presidente regressou da sua viagem pela Ásia, um título agressivo do New York Times resumiu o momento: "A visão económica de Obama é rejeitada no mundo, China, Grã-Bretanha e Alemanha desafiam os EUA, mesmo as negociações comerciais com Seul falham".
Os Quatro Cenários
Do ponto de vista histórico, a questão não é se os Estados Unidos irão perder o poder incontestado em todo o mundo, mas quanto doloroso e precipitado será o declínio.
Em vez da visão esperançosa de Washington, McCoy utiliza a metodologia do
National Intelligence Council para sugerir quatro cenários realistas e determinar como, se com um estrondo ou um soluço, o poder mundial dos Estados Unidos pode chegar ao fim por volta de 2020; juntamente com quatro avaliações do presente.
Os cenários futuros incluem:
- o declínio económico
- a crise do petróleo
- a desventura militar
- a Terceira Guerra Mundial.
Embora estes não sejam certamente as únicas possibilidades quando se trata de declínio americano ou até mesmo de colapso, oferecem uma janela para o futuro próximo.
Em breve a segunda parte deste artigo, com o primeiro dos Quatro Cenários.
Fonte:
TomDispatchQuatro cenário para o fim dos Estados Unidos - Parte II
Segunda parte do artigo dedicado aos possíveis cenários para o futuro dos Estados Unidos.
Lembramos:
possíveis cenários.
Boa leitura!
Declínio Económico: situação actual
Hoje existem três principais ameaças para a posição dominante dos Estados Unidos na economia global: a perda do poder económico, causa a contracção do comércio mundial, o declínio da inovação tecnológica americana e o fim do status privilegiado do Dólar como moeda reserva global.
Em 2008, os Estados Unidos tinham já caído para o terceiro lugar na exportação de mercadorias em todo o mundo, com apenas 11% contra 12% da China e 16% da União Europeia.
Não há nenhuma razão para acreditar que esta tendência possa inverter-se.
Da mesma forma, a liderança americana no campo da inovação tecnológica está em declínio.
Em 2008, os Estados Unidos ocupavam a segunda posição, atrás do Japão, na área dos pedidos de patente no mundo, com 232.000; mas a China já estava perigosamente perto, com 195 mil, graças a um forte aumento de 400% desde o ano 2000.
Uma antevisto duma nova redução: em 2009 os Estados Unidos tocaram o fundo do
ranking entre as 40 nações analisadas pela
Information Technology and Innovation Foundation em matéria de "mudança" na "competitividade global com base na inovação", analises feita com base nos dados da década anterior.
Acrescentando substâncias a estas estatísticas, em Outubro, o Ministério da Defesa da China apresentou o supercomputador mais rápido do mundo, o Tianhe-1A, tão poderoso, disse um especialista americano, que "apaga o actual número um".
Que fica nos Estados Unidos..
Sem esquecer a clara evidencia de que o sistema educacional dos Estados Unidos, a real fonte dos futuros cientistas e inovadores, está a enfraquecer-se perante os directos concorrentes.
Depois de ter sido o líder mundial ao longo de décadas em termos homens e mulheres entre 25 e 34 anos de idade com formação universitária, o País caiu para o 12 º lugar em 2010.
Em 2010, o
World Economic Forum classificou os Estados Unidos a um pobre 52 º lugar entre 139 nações em tema de qualidade da formação universitária em ciências e matemática.
Quase metade de todos os alunos graduados em ciência nos Estados Unidos são cidadãos estrangeiros, a maioria dos quais voltará para os Países de origem sem ficar aqui, como acontecia antes.
Em 2025, em outras palavras, é provável que os EUA terão de enfrentar uma grave escassez de cientistas talentosos.
Essas tendências negativas encorajam cada vez mais uma dura crítica ao papel do Dólar como moeda de reserva mundial.
Observa Kenneth Rogoff, ex economista chefe do Fundo Monetário Internacional: Outros Países já não estão dispostos a comprar a ideia de que os EUA têm a melhor política económica
Em meados de 2009, com os bancos centrais do mundo na posse duns astronómicos 4.000 biliões de Dólares em Títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o Presidente russo, Dimitri Medvedev , insistiu que tinha chegado a hora de acabar com o "sistema unipolar mantido artificialmente" com base numa "moeda de reserva forte apenas no passado."
Ao mesmo tempo, o governador do banco central chinês sugeriu que o futuro pode ser feito duma moeda de reserva mundial "desconectada dos Países individuais" (isto é, o Dólar dos EUA).
Indicações, como sugeriu o economista Michael Hudson, dum mundo futuro multipolar e uma possível tentativa "para acelerar o fracasso da ordem financeira e militares dos EUA".
Declínio económico: Cenário 2020
Depois de anos de crescentes deficits alimentado por intermináveis guerras em terras distantes, em 2020, como esperado, o Dólar finalmente perde o seu estatuto especial como moeda de reserva mundial.
De repente, o custo das importações aumenta de maneira rápida.
Incapaz de pagar o crescente deficit através da venda dos Títulos do Tesouro, Washington é obrigada a cortar o enorme orçamento militar.
Sob a pressão interna e externa, Washington lentamente retira as forças das centenas de bases no estrangeiro para um perímetro continental.
Agora, porém, é tarde demais.
Diante de uma super-potência que cai aos pedaços, incapaz de pagar as contas, China, Índia, Irão, Rússia e outras potências, grandes e regionais, desafiam o domínio dos EUA sobre os oceanos, no espaço e no ciberespaço.
Entretanto, com preços altos, o desemprego em constante aumento e uma queda do salário real, as divisões internas amplificam-se em violentos confrontos e debates que dividem muitas vezes acerca de temas irrelevantes.
Cavalgando uma onda de desilusão e desespero político, um patriota da extrema-direita ganha a presidência com uma retórica enfática, apelando ao respeito das autoridade e ameaçando represálias militares ou económica.
O mundo quase não presta atenção nenhuma enquanto o Século Americano acaba em silêncio.
Terceira parte do artigo que analisa possíveis cenários futuros para o fim do Século Americano.
Realçamos:
possíveis.
Estes não são previsões, mas cenários que poderiam, eventualmente, tornar-se realidade, na integra ou em parte.
Boa leitura!
Crise do Petróleo: situação actual
Uma vítima da queda do poder económico norte-americano foi o bloqueio de fornecimento do petróleo mundial. A China tornou-se o maior consumidor mundial de energia no passado Verão, uma posição que os Estados Unidos haviam alcançado e mantido ao longo de mais de um século.
Michael Klare, especialista em energia, tem argumentado que esta mudança significa que a China vai "conduzir o caminho para moldar o nosso futuro global."
Em 2025, Irão e Rússia controlarão quase metade da oferta mundial de gás natural, o que poderia dar-lhes uma enorme influência sobre a Europa que tem fome de energia. Acrescentamos as reservas de petróleo e, como o
National Intelligence Council tem advertido, em apenas 15 anos os dois Países podem "emergir como fulcros da energia".
Apesar do engenho, as potências do petróleo estão agora a drenar as reservas de petróleo mais fáceis de serem exploradas.
A verdadeira lição do desastre de petróleo da Deepwater Horizon, no Golfo do México, não foram as normas de segurança malfeita da BP, mas o simples facto que toda a gente viu: um gigante da energia que não tinha outra escolha a não ser recuperar o que Klare chama "duro petróleo", quilómetros abaixo da superfície do oceano, para manter os próprios lucros.
Para agravar o problema, Chineses e Indianos de repente tornaram-se grandes consumidores de energia. Mesmo que as reservas de combustível fóssil permanecessem constantes (o que não acontecerá), a procura e os custos irão aumentar, e fortemente.
Outros Países desenvolvidos estão a enfrentar essa ameaça de forma agressiva, mergulhando em programas experimentais de desenvolvimento de fontes alternativas de energia.
Os Estados Unidos têm tomado um caminho diferente, fazendo muito pouco para desenvolver fontes alternativas, enquanto que nas últimas três décadas, duplicaram a dependência das importações estrangeiras de petróleo.
Entre 1973 e 2007, as importações de petróleo aumentaram de 36% da energia consumida nos Estados Unidos até 66% .
Crise do Petróleo: Cenário 2025
Os Estados Unidos continuam tão dependente do petróleo estrangeiro que alguns desenvolvimentos negativos no mercado mundial de energia em 2025 irão provocar um choque do petróleo. Em comparação, isso faz parecer trivial a crise do petróleo de 1973 (quando os preços quadruplicaram em poucos meses).
Irritados com o colapso do Dólar, os ministros da Opep reunidos em Riad, pedem os pagamentos futuros de energia em Iene, Yuan e Euro. Esta medida aumenta ainda mais o custo das importações de petróleo nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, durante a assinatura duma nova série de contratos de fornecimento de longo prazo com a China, a Arábia Saudita estabilizam as próprias reservas monetárias ao passar para o Yuan. Entretanto, a China investe incontáveis biliões na construção dum grande gasoduto trans-asiático e no financiamento para a exploração dos campos do Irão, nomeadamente South Pars, a maior reserva natural de gás natural no mundo.
Preocupados com a ideia de que a Marinha dos EUA possa já não ser capaz de proteger os petroleiros no Golfo Pérsico, Teheran, Riad e Abu Dhabi formam uma inesperada aliança no Golfo, e anunciam que a nova frota de aviões rápidos da China ficará encarregue de patrulhar as águas do Golfo Pérsico a partir de uma base no Golfo de Omã.
Sob fortes pressões económicas, Londres aceita revogar o contrato de leasing da base americana na ilha de Diego Garcia, no Oceano Índico, enquanto Canberra, pressionada pelos Chineses, informa Washington de que a Sétima Frota já não tem a autorização de usar Fremantle como um porto de partida: a Marinha dos Estados Unidos fica assim fora do Oceano Índico.
Com poucos traços de caneta e alguns anúncios lacónicos, a "Doutrina Carter", pela qual o poder militar dos Estados Unidos quis proteger "eternamente" o Golfo Pérsico, em 2025 é colocado em repouso.
Todos os elementos que têm garantido o abastecimento ilimitado de petróleo barato aos Estados Unidos a partir dessa região, logística, câmbio e poder naval, evaporam.
Nesta altura, os Estados Unidos só podem cobrir um insignificante de 12% das próprias necessidades energéticas a partir da nascente indústria da energia alternativa, e ficam dependentes do petróleo importado para a metade do consumo.
A seguinte crise do petróleo atinge o País como um furacão, aumentando os preços até níveis surpreendentes, tornando as viagens extremamente caras, colocando os salários reais (que tinham-se mantido por muito tempo em declínio) em queda livre e tornando não-competitivo tudo o que resta da exportação norte-americana.
Os preços do gás dispararam e os Dólares fogem dos EUA em troca de petróleo barato: a economia dos EUA está paralisada. Com as antigas alianças chegadas ao fim e a carga tributária crescente, as forças militares dos EUA finalmente começam uma retirada organizada para o interior do País.
Em poucos anos, os Estados Unidos atingem a bancarrota e o relógio corre em direcção à meia-noite do Século Americano.
Infortúnios Militares: a situação actual
Inesperadamente, quando diminui o poder, os impérios muitas vezes mergulham em aventuras militares mal-aconselhadas.
Este fenómeno é conhecido entre os historiadores como "micro-militarismo" e parece envolver esforços psicologicamente compensatórios para silenciar a dor da retirada ou da derrota, ocupando novos territórios, mesmo que brevemente e de forma catastrófica.
Essas operações irracional também do ponto de vista imperial, frequentemente produzem grandes despesas ou derrotas humilhantes que só aceleram a perda de poder.
Impérios em dificuldade, com a idade sofrem de uma arrogância que motiva a mergulhar em desventuras militares.
Em 413 a.C., uma Atenas enfraquecida enviou 200 navios ao massacre na Sicília.
Em 1921, uma Espanha imperial em desaparecimento enviou 20.000 soldados a ser dizimados por guerrilheiros berberes em Marrocos.
Em 1956, um decadente Império Britânico destruiu a própria reputação ao atacar Suez.
E em 2001 e 2003, os EUA ocuparam o Afeganistão e invadiram o Iraque. Com a arrogância que caracterizou os impérios durante milhares de anos, Washington tem vindo a aumentar as tropas no Afeganistão, ampliou a guerra no Paquistão e estendeu o seu compromisso até 2014; criou grandes e pequenos desastres nestes cemitérios de armas nucleares imperiais infestados com a guerrilha.
Infortúnios Militares: Cenário 2014
Irracional e imprevisível é o "micro-militarismo", cujos cenários aparentemente imaginativos são logo ultrapassados pelos acontecimentos reais.
Com as forças dos EUA que se estendem desde a Somália até as Filipinas, com as crescentes tensões em Israel, Irão e Coreia, as possíveis combinações para uma desastrosa crise militar no estrangeiro são muitas.
Meados de Verão de 2014: uma guarnição dos EUA na cercada Kandahar, no sul do Afeganistão, é de repente e inesperadamente invadida por combatentes Talibães, enquanto os aviões americanos são obrigados a ficar em terra por causa de uma tempestade de areia.
Há pesadas baixas e, na retaliação, um comandante dos EUA perde bombardeiros B-1 e caças F-16 para destruir inteiros bairros que acredita-se estar sob o controle dos talibãs, enquanto os artilheiros AC-130U Spooky percorrem os destroços com o fogo devastador do canhão.
Logo, os
mullah invocam a
jihad nas mesquitas de toda a região, e as unidades do exército afegão, treinadas pelas forças dos EUA na tentativa de mudar o rumo da guerra, começam a desertar em massa. Combatentes talibãs lançam uma série de ataques sofisticados em todo o País, elevando o número de baixas dos EUA.
Numa reminiscência das cenas que lembram Saigon em 1975, helicópteros salvam militares e civis americanos nos telhados de Cabul e Kandahar.
Enquanto isso, irritados com as décadas sem fim de impasse sobre o assunto palestiniano, os líderes do Opec definem um novo embargo petrolífero contra os Estados Unidos, para protestar contra o apoio a Israel, bem como a morte dum número desconhecido de civis muçulmanos nas guerras em curso no Médio Oriente.
Com a escalada dos preços, Washington tenta um golpe a surpresa e envia forças de operações especiais para tomar posse dos portos petrolíferos no Golfo Pérsico.
Isso, por sua vez, desencadeia uma avalanche de ataques suicidas e sabotagem de oleodutos e poços de petróleo.
Como nuvens negras que sobem no céu e diplomatas nas Nações Unidas que denunciam as acções dos EUA, os jornalistas de todo o mundo retrocedem na história para marcar a situação como o "Suez da América", uma referência que conta o fracasso de 1956 e que marcou o fim do Império Britânico.
Acaba aqui a terceira parte.
Quatro cenários para o fim dos Estados Unidos - Parte IV
Quarta parte do artigo dedicado aos quatro possíveis cenários para o fim da potência americana.
Boa leitura!
Terceira Guerra Mundial: situação actual No verão de 2010, as tensões militares entre os EUA e a China começaram a subir no Oeste do Pacífico, uma vez considerado um "lago americano".
Até um ano atrás, ninguém poderia ter previsto esse desenvolvimento.
Da mesma forma em que Washington jogou a aliança com Londres para a posse da grande parte do poder mundial da Grã-Bretanha após a Segunda Guerra Mundial, assim a China está a usar os lucros do próprio comércio de exportação com os Estados Unidos para financiar um desafio militar para o domínio sobre o interior da Ásia e no Pacífico.
Com o crescimento dos seus recursos, Pequim reclama uma ampla faixa marítima, desde a Coreia até a Indonésia, zonas há muito dominadas pela Marinha dos Estados Unidos.
Em Agosto, depois de Washington ter exprimido um "interesse nacional" no Mar da China do Sul e ter realizado exercícios navais na mesma área com o fim de reforçar a própria presencia, o
Global Times de Pequim reagiu furiosamente, dizendo: "o desafio de
wrestling EUA-China acerca da questão do Mar do Sul da China tem aumentado o nível do desafio para decidir quem será o verdadeiro dominador do planeta".
No meio destes tensões crescentes, o Pentágono informou que Pequim tem agora "a capacidade de atacar os porta-aviões [dos EUA] no Pacífico Ocidental" e atingir "as forças nucleares em todos os Estados Unidos continentais".
Ao desenvolver "capacidades ofensivas nucleares, espaciais e informáticas" a China parece determinada a competir pelo domínio do que o Pentágono chama de "o espectro informativo em todas as dimensões da moderna batalha espacial".
Com o continuo desenvolvimento dos poderosos foguetes
booster Longa Marcha V, bem como com o lançamento de dois satélites em Janeiro de 2010 e outra em Julho , para um total de cinco, Pequim informou que o País está progredindo de forma rápida para uma rede "independente" de 35 satélites de posicionamento global e comunicações até 2020.
Para controlar a China e alargar a própria posição militar no mundo, Washington está disposta a construir uma nova rede de robótica espacial, capacidades avançadas de vigilância electrónica e guerra cibernética.
Os organizadores militares esperam que este sistema integrado para envolver a Terra numa rede cibernética capaz de cegar os exércitos no campo de batalha ou encontrar um único terrorista num campo ou favela.
Em 2020, se tudo correr conforme os planos, o Pentágono vai lançar um escudo com três níveis de drones no espaço, que desde a estratosfera alcance a exosfera, armados com mísseis ligados à um sistema modular flexível de satélites, e geridos através da monitorização telescópica.
No Abril passado, o Pentágono fez história: ampliou as operações com drones na exosfera, ao lançar a nave espacial não-tripulada X-37B numa órbita baixa de 255 quilómetros acima do planeta.
O X-37B é o primeiro duma nova geração de veículos não tripulados que marcará a militarização total do espaço, criando uma futura arena de guerra, diferente de tudo que a precedeu.
Terceira Guerra Mundial: Cenário 2025
A tecnologia de guerra espacial e da cibernética é tão nova e não testada que até mesmo os cenários mais bizarros em breve poderão ser substituídos por uma realidade que ainda é difícil de conceber.
Se simplesmente utilizarmos os mesmos tipos de cenários que a Força Aérea utilizou para o seu
Future Capabilities Game de 2009, no entanto, podemos conseguir "uma melhor compreensão de como o ar, o espaço e o ciberespaço ficam sobrepostos em guerra" e assim começar a imaginar como poderia realmente ser combatida a próxima guerra mundial.
23,59 de Quinta-feira, dia de Ação de Graças em 2025. Enquanto os compradores de computadores batem os portais dos hipermercados para os grandes descontos dos electrodomésticos mais recente fabricados na China, os técnicos da Air Force no
Space Vigilância Telescope (SST) de Maui fica em alerta quando os grandes ecrãs de repente mostram o preto.
Milhares de quilómetros de distância e no centro de operações
CyberCommand, no Texas, os soldados imediatamente identificam os códigos maliciosos nos computador: códigos anónimos mas ainda com as impressões digitais distintas do Exército de Libertação do Povo Chinês.
O primeiro tiro é o que ninguém havia previsto. Um
malware chinês assume o controle da robótica a bordo dum desconhecido drone
Vulture americano , alimentado por energia solar, enquanto voa a 70.000 metros sobre o estreito de Tsushima entre Japão e Coreia. De repente, dispara todos os carregadores de misseis que precipitam sem danos no Mar Amarelo: uma arma formidável desarmada.
Determinada a combater o fogo com fogo, a Casa Branca autoriza um ataque de retaliação.
Confiantes de que o próprio sistema de satélites F-6 seja impenetrável, os comandantes da Força Aérea na Califórnia transmitem os códigos para a frota de drones espaciais X-37B em órbita 250 milhas acima da Terra, ordenando o lançamento dos mísseis
Triple Terminator contra os 35 satélites chineses.
Nenhuma resposta dos drones, o ataque falhou.
Quase em pânico, a Força Aérea lança o seu
Falcon Hypersonic Cruise Vehicle 100 quilómetros acima do Oceano Pacífico e, em seguida, mas apenas 20 minutos depois, envia os códigos para disparar mísseis contra sete satélites chineses em órbitas não distantes.
Os códigos de lançamento são subitamente inoperantes.
Enquanto o vírus chinês se espalha de forma descontrolada através da arquitectura dos satélites F-6 e os supercomputadores de segunda classe norte-americanos não conseguem quebrar o código do
malware diabolicamente complexo, os fundamentais sinais GPS para a navegação de navios e aviões dos EUA em todo o mundo estão comprometidos.
Frotas de porta-aviões começando a virar sem rumo no meio do Pacífico.
Esquadrões de caça ficam no chão.
Aeronaves
Reaper Drones voam sem destino em direcção ao horizonte, caem quando o combustível esgota.
De repente, os Estados Unidos perdem o que a Força Aérea longamente definiu como "elevado fundamento último": o espaço. No prazo de poucas horas, o poder militar que dominou o mundo durante quase um século foi derrotado na Terceira Guerra Mundial, sem uma única vítima humana.
Acaba aqui a quarta parte.
Muito em breve e quinta e última.
*InformaçãoIncorreta