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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

NOVO CD DE CHICO BUARQUE EM 2011


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Chico Buarque de Holanda vai lançar um novo disco de inéditas em 2011. O cantor, compositor, músico e escritor entra em estúdio no mês que vem para as gravações.

Em princípio há 12 canções já compostas, sendo esperada mais uma em andamento. Ao total, nosso grande gênio fecha o novo álbum com 16 obras inéditas.

O CD será lançado pela gravadora Biscoito Fino, provalmente no final deste semestre.

O último trabalho de estúdio realizado por Chico foi em 2006, quando lançou Carioca. Após uma turnê, Chico se dedicou ao trabalho literário Leite Derramado que valeu-lhe prêmios como o Jabuti, escolhido como melhor ficção pelo júri e pelo público, além da Portugal Telecom.

Após a breve pausa nos estúdios, vale a pena esperar os shows.
*históriavermelha

Muitos Cairos


Jogando pelo poder em Wisconsin
Paul Krugman

Na semana passada, diante de manifestações que se estenderam por todo o final de semana e atraíram multidões no sábado para protestar contra Scott Walker, o novo governador de Wisconsin, que está tentando destruir os sindicatos do Estado, o deputado Paul Ryan fez inadvertidamente uma comparação que se provou correta: "É como se o Cairo tivesse se mudado para Madison".

Não foi a coisa mais inteligente que Ryan poderia ter dito, já que o deputado provavelmente não desejava comparar Walker, republicano como ele, a Hosni Mubarak. Ou talvez quisesse -afinal, diversos conservadores conhecidos, entre os quais Glenn Beck, Rush Limbaugh e Rick Santorum, denunciaram os levantes no Cairo e insistiram em que o presidente Obama deveria ter ajudado o regime de Mubarak a reprimi-los.

De qualquer forma, Ryan estava mais certo do que imagina. Pois o que está acontecendo no Wisconsin não se relaciona ao orçamento do Estado, a despeito de Walker fingir que suas ações representam uma tentativa de se comportar de modo responsável no plano fiscal. O que está em jogo, na verdade, é o poder. O que Walker e seus simpatizantes estão tentando fazer é tornar o Wisconsin -e mais tarde o país inteiro- menos uma democracia funcional e mais uma oligarquia ao modo do Terceiro Mundo. E é por isso que todo mundo que acredita que precisamos de algum contrapeso ao poderio político do dinheiro deveria apoiar os manifestantes.

O retrospecto: é fato que o Wisconsin enfrenta problemas orçamentários, ainda que menos severos que os de diversos outros Estados. A arrecadação caiu devido à situação econômica desfavorável, e os fundos de estímulo, que ajudaram a reduzir a discrepância em 2009 e 2010, desapareceram.

Nessa situação, faz sentido propor sacrifícios compartilhados, o que incluiria concessões monetárias dos funcionários públicos estaduais. E os líderes dos sindicatos desses funcionários já sinalizaram que estão efetivamente dispostos a fazer esse tipo de concessão.

Mas Walker não está interessado em um acordo. Em parte isso acontece porque ele não deseja que os sacrifícios sejam compartilhados: ainda que alegue que Wisconsin enfrenta uma terrível crise fiscal, vem pressionando por cortes de impostos que tornam o deficit ainda pior. Mas o mais importante é que ele deixou claro que, em lugar de negociar com os funcionários, quer pôr fim ao poder de negociação deles.

O projeto de lei que inspirou as manifestações revogaria o direito de muitos dos funcionários estaduais a negociar salários coletivamente, o que na prática significaria destruir os sindicatos do funcionalismo estadual. Um dado revelador é que certos grupos de funcionários -a saber, aqueles que tendem a se alinhar ao Partido Republicano- estão isentos dessa cláusula, como se Walker desejasse ostentar claramente a natureza política de suas ações.

Por que destruir os sindicatos? Como eu já disse, isso nada tem a ver com ajudar o Wisconsin a superar a crise fiscal atual. E tampouco é provável que a medida ajude as perspectivas orçamentárias do Estado em longo prazo: ao contrário do que você pode ter ouvido, os funcionários públicos do Wisconsin e de outros lugares ganham um tanto menos que trabalhadores do setor privado com qualificações semelhantes, de modo que não há muito espaço para reduzir-lhes ainda mais os salários.

Portanto, não é o orçamento que importa, mas o poder.

Em princípio, todo cidadão dos Estados Unidos têm o mesmo poder no nosso processo político. Na prática, claro, alguns são mais iguais do que os outros. Bilionários podem empregar exércitos de lobistas; podem financiar organizações de pesquisa que apresentam as questões da maneira que lhes for mais conveniente; podem canalizar dinheiro para políticos que simpatizem com seus interesses (como os irmãos Koch fizeram no caso de Walker). No papel, vivemos em um país no qual cada cidadão tem um voto; na prática, temos algo de oligarquia, e vivemos sob o domínio de um pequeno número de pessoas endinheiradas.

Considerada essa realidade, é importante que existam instituições capazes de funcionar como contrapeso à influência do dinheiro. E os sindicatos estão entre as mais importantes dessas instituições.

Não é preciso amar os sindicatos, ou acreditar que suas posições políticas estejam sempre certas, para reconhecer que estão entre os poucos agentes de nosso sistema a representar os interesses dos norte-americanos de classe trabalhadora e média, em oposição aos dos ricos. Se os Estados Unidos se tornaram mais oligárquicos e menos democráticos ao longo dos últimos 30 anos -e isso é fato-, o processo se deve em larga medida ao declínio dos sindicatos do setor privado.

E agora Walker e seus partidários querem fazer o mesmo com relação aos sindicatos dos funcionários públicos.

Há uma amarga ironia nisso. A crise fiscal em Wisconsin, como em outros Estados, foi causada em larga medida pelo crescente poder da oligarquia norte-americana. Afinal, foram os cidadãos de altíssimo patrimônio, e não o público em geral, que pressionaram pela desregulamentação financeira e com isso criaram o cenário para a crise econômica de 2008-2009, cujas consequências são o principal motivo para a crise orçamentária atual. E agora a direita política está tentando explorar a crise para remover um dos poucos obstáculos restantes à influência da oligarquia.

Será que o ataque aos sindicatos terá sucesso? Não sei. Mas quem quer que deseje reter o governo do povo pelo povo deveria torcer para que isso não aconteça.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

Paul Krugman, 57 anos, é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos publicados em jornais especializados.
*esquerdopata

PHA fala sobre mídia Reproduzo abaixo o vídeo de uma palestra na qual o jornalista Paulo Henrique Amorim fala sobre mídia, regulação e democracia. A palestra faz parte do Ciclo de Debates da Revista Nordeste Vinte e Um em Fortaleza e foi gravada no dia 18 de fevereiro último.


73% dos jornalistas argentinos apoiam lei de mídia do país


Já os daqui têm pavor da democratização da mídia.


Pesquisa realizada na Argentina revelou dado animador sobre a opinião dos jornalistas a respeito da Lei dos Meios Audiovisuais, normativa que vem gerando tensões e embates judiciais entre o governo e os grandes grupos de mídia. De acordo com o levantamento, 73% se declararam favoráveis à nova legislação, que recebe o apoio integral da presidente Cristina Kirchner.

Divulgação

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner enfrenta uma verdaderia batalha com as grandes empresas de comunicação do país por conta da implementação da lei.


De acordo com a agência estatal Télam, a pesquisa de autoria da Ibarómetro revelou ainda que 80% dos 240 entrevistados consideram haver liberdade de expressão no país.

Sobre o jornalismo argentino, os entrevistados o definiram com palavras duras, como "medíocre, condicionado e ideologizado".

A Lei

Aprovada em outubro de 2009, a Lei dos Meios Audiovisuais dividiu as frequências de transmissão da mídia privada de rádio e televisão, a mídia estatal e os grupos da sociedade civil, segundo informa o Knight Center for Journalism in the Americas.

Outro ponto controverso da lei foi a limitação do número de licenças de rádio e televisão nas mãos de um único proprietário, regra combatida com veemência pelas empresas do setor. A norma, porém, tem apoio da sociedade argentina.

Fonte: Portal Imprensa
*observadoressociais

Zeitgeist Moving Forward EARLY RELEASE (2011)



(EUA, 2011, 162 min. - Direção: Perter Joseph)

“O que é aceitável e respeitável na nossa sociedade é uma coisa altamente arbritária”
Numa abordagem muito mais filosófica, o pessoal do Zietgeist volta com questionamentos que destroem muitos mitos. Os desenganos humanos e as armadilhas criadas em função do lucro e do desejo de poder de alguns, levando a mente humana a se viciar em padrões danosos para ela e para o planeta.
O documentário junta-se aos movimentos que clamam por uma mudança nos paradigmas que regem a nossa sociedade, para um modelo baseado em recursos, sustentável.
Esse filme, como os dois primeiros da série, são inteligentes e sedutores e também já está se mostrando como um dos filmes mais baixados da Internet.

Download:
Torrent - Legendas pt-br (ótimas, por sinal)

Ou assista agora com legendas, basta clicar no botão "CC" abaixo na janela do Youtube.
*documentáriosdeverdade

São Paulo a capital do preconceito e racismo



Maranhense é espancado na região da Paulista
A região da avenida Paulista foi palco de mais uma agressão na madrugada de domingo. Desta vez, a vítima foi um homem de 59 anos, gerente de uma empresa de dedetização, que ia a pé da Bela Vista para casa, em Pinheiros (zona oeste), após sair de um bar onde estava com amigos.
João Batista Reis Freitas, nascido no Maranhão e morador de São Paulo desde 1972, diz acreditar que foi agredido por ser nordestino.
Ele conta que estava na alameda Santos, na esquina com a rua da Consolação, por volta das 3h, quando um grupo de oito a dez jovens se aproximou. Um deles o empurrou. Freitas tentou se defender, mas os demais membros do grupo, segundo o gerente, começaram a agredi-lo com chutes e ele caiu no chão.
Jovem não se arrepende de críticas a nordestinos
Autor de um e-mail racista enviado para a escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi (zona norte), o estudante de jornalismo Caio Cézar Soares, 22 anos, afirmou, ontem, estar arrependido das palavras que utilizou na mensagem, mas não da crítica feita à agremiação.
A escola prestará uma homenagem aos nordestinos que vivem em São Paulo no Carnaval 2011.
No e-mail, Caio afirmou, com palavras de baixo calão: "Capital do Nordeste é o c....! Vão todos tomar no c..., escola de mer...!" Caio, que é filho e neto de pernambucanos, se define como "separatista".
Músico negro é impedido de andar em Shopping
Ao se aproximar da Livraria da Vila, dentro do Shopping Cidade Jardim, onde iria tocar percussão na apresentação da cantora Marina de La Riva, Pedro, músico cubano, foi abordado por seguranças que, sem causa aprente, pensaram que ele pudesse ser um perigo ao bem estar do shopping. Não por menos, Pedro sente-se até hoje profundamente atingido pelo que teve que forçadamente passar. Mas, ao contrário do que pensam pessoas que agem assim, a ofensa não se restringe somente à pessoa que sofre o absurdo, e nem mesmo se restringe a seus familiares e amigos.
Pedro foi discriminado tão e somente por sua cor de pele, embora justificativas estúpidas tenham sido colocadas na mesa pra explicar a atitude do shopping – o que piorou a história.

Com Agora e Outras Palavras

Três redes de supermercados controlam metade dos alimentos no Brasil


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Juntas, as redes de supermercados Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar controlam 50% dos alimentos comercializados no Brasil, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Considerados os três maiores grupos do segmento em atuação no país, eles são responsáveis pela maior parte dos 20 mil produtos com marcas próprias lançados anualmente.
O integrante da Via Campesina Luis Zarre, acredita que essa concentração do mercado de alimentos desestabiliza as economias locais e prejudica tanto o agricultor, como os pequenos e médios empresários, além de reduz a presença de produtos orgânicos nas prateleiras.
“Essas redes reproduzem a geração de necessidades artificiais, ao contrário dos pequenos mercados, que comercializam o que é produzido naquela região.”
Atualmente, 10 empresas dominam o mercado mundial de sementes, chegando a operar 70% do fornecimento aos produtores rurais. Para Zarref, os agricultores perderam a autonomia sobre a produção quando as grandes empresas romperam o sistema de adubação, que antes era de origem animal e foi substituído por adubos químicos.
“Culturas que são bastante nutritivas, mas que não podem ser transformadas em commodities, estão sendo esquecidas. Não estão mais sendo produzidas. Hoje, quem recebe estímulo são as commodities, que estão voltadas para essa relação com as grandes empresas que dominam as sementes e os pacotes da revolução verde, de adubação química e agrotóxicos.”
Zarref ainda lembra que a demanda por produtos como o milho e a soja em países com problemas de segurança alimentar está reduzindo as áreas cultivadas com outras variedades de alimentos, o que determina os altos preços repassados ao consumidor.
*cappacete

Criatividade em Cumbica

A TAP Portugal e a Infraero realizaram mais uma ação inusitada no dia 25 de janeiro em homenagem aos 456 anos de diversidade cultural da cidade mais cosmopolita da América do Sul e do aniversário do Aeroporto Internacional de Guarulhos.


*comtextolivre

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Ecosscialismo. Por uma ecologia socialista.



Entrevista especial com Michael Löwy
A crise ecológica abre a possibilidade para um novo projeto político, econômico e social: o ecossocialismo, defendido pelo sociólogo brasileiro, radicado na França, Michael Löwy. A ideia central da proposta é romper com o capitalismo e transformar as estruturas das forças produtivas e do aparelho produtivo. “Trata-se de destruir esse aparelho de Estado e criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado”, esclarece.
Crítico ao capitalismo verde, que pretende transformar o capital e torná-lo menos agressivo ao meio ambiente, Löwy acredita que a crise ecológica é mais grave do que a econômica, pois “coloca em perigo a sobrevivência da vida humana neste planeta”. Em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail, ele enfatiza que é preciso reorganizar o modo de produção e consumo, atendendo “às necessidades reais da população e à defesa do equilíbrio ecológico”. As economias emergentes devem se desenvolver, mas não precisam “copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do Ocidente”, aconselha. “Se trata de buscar um outro modelo, um desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria”.
Michael Löwy é cientista social e leciona na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da Universidade de Paris. Entre sua vasta obra, destacamos Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista (São Paulo: Cortez, 1985); As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen (São Paulo: Cortez, 1998); A estrela da manhã. Surrealismo e marxismo (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002); Walter Benjamin: Aviso de Incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história” (São Paulo: Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann, ou a dialética da totalidade (São Paulo: Boitempo, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que o senhor entende por ecossocialismo? Quais as ideias principais dessa corrente?
Michael Löwy – O ecossocialismo é uma proposta estratégica que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista, a reflexão marxista. Existe hoje em escala mundial uma corrente ecossocialista: há um movimento ecossocialista internacional, que recentemente, por ocasião do Fórum Social Mundial de Belém (janeiro de 2009), publicou uma declaração sobre a mudança climática; e existe no Brasil uma rede ecossocialista que publicou também um manifesto, há alguns anos. Ao mesmo tempo, o ecossocialismo é uma reflexão crítica.
Em primeiro lugar, crítica à ecologia não socialista, à ecologia capitalista ou reformista, que considera possível reformar o capitalismo, desenvolver um capitalismo mais verde, mais respeitoso ao meio ambiente. Trata-se da crítica e da busca de superação dessa ecologia reformista, limitada, que não aceita a perspectiva socialista, que não se relaciona com o processo da luta de classes, que não coloca a questão da propriedade dos meios de produção. Mas o ecossocialismo é também uma crítica ao socialismo não ecológico, por exemplo, da União Soviética, onde a perspectiva socialista se perdeu rapidamente com o processo de burocratização e o resultado foi um processo de industrialização tremendamente destruidor do meio ambiente. Há outras experiências socialistas, porém, mais interessantes do ponto de vista ecológico – por exemplo, a experiência cubana (com todos seus limites).
O projeto ecossocialista implica uma reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do equilíbrio ecológico. Isto significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as leis do mercado ou um “burô político” autoritário – decide, num processo de planificação democrática, as prioridades e os investimentos. Esta transição conduziria não só a um novo modo de produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais democrática, mas também a um modo de vida alternativo, uma nova civilização, ecossocialista, mais além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade, e da produção ao infinito de mercadorias inúteis.
IHU On-Line – Em que consiste o Manifesto Ecossocialista Internacional?
Michael Löwy – O Manifesto Ecossocialista Internacional, redigido em 2001 por Joel Kovel e por mim, foi uma primeira tentativa de resumir, em algumas páginas, as ideias principais do ecossocialismo, como projeto radicalmente anticapitalista e antiprodutivista, e como crítica às experiências socialistas não ecológicas do século XX.
IHU On-Line – A tentativa de aplicar o socialismo no mundo fracassou. Será possível vingar o ecossocialismo? Por quê?
Michael Löwy – As experiências de corte social-democrata fracassaram porque não sairam dos limites de uma gestão mais social do capitalismo e, nos últimos anos do neoliberalismo, as experiências de tipo soviético ou stalinista fracassaram por ausência de democracia, liberdade e auto-organização das classes oprimidas. As duas tinham em comum uma visão produtivista de exploração da natureza, com dramáticas consequências ecológicas.
O ecossocialismo parte de uma visão crítica destes fracassos e propõe um projeto democrático, libertário e ecológico. Nada garante que possa vingar. Depende das lutas ecossociais do futuro.
IHU On-Line – Sob quais aspectos a crise ecológica é mais grave do que a econômica?
Michael Löwy – A crise econômica tem consequências sociais dramáticas – desemprego, crise alimentar etc. –, mas a crise ecológica coloca em perigo a sobrevivência da vida humana neste planeta. O processo de mudança climática e aquecimento global, provocado pela lógica expansiva e destruidora do capitalismo, pode resultar, nas próximas décadas, numa catástrofe sem precedente na história da humanidade: desertificação das terras, desaparecimento da água potável, inundação das cidades marítimas pela subida do nível dos oceanos etc.
IHU On-Line – Como pensar em ecossocialismo se a Modernidade é capitalista? Seria
o ecossocialismo uma proposta para romper com o capital?
Michael Löwy – Absolutamente! Uma das ideias fundamentais do ecossocialismo é a necessidade de uma ruptura com o capitalismo. Uma ruptura que vai mais além de uma mudança das relações de produção, das relações de propriedade. Trata-se de transformar a própria estrutura das forças produtivas, a estrutura do aparelho produtivo. Há que aplicar ao aparelho produtivo a mesma lógica que Marx aplicava ao aparelho de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris, quando ele diz o seguinte: os trabalhadores não podem apropriar-se do aparelho de Estado burguês e usá-lo a serviço do proletariado; não é possível, porque o aparelho do Estado burguês nunca vai estar a serviço dos trabalhadores.
Então, trata-se de destruir esse aparelho de Estado e de criar um outro tipo de poder. Essa lógica tem que ser aplicada também ao aparelho produtivo: ele tem que ser, senão destruído, ao menos radicalmente transformado. Ele não pode ser simplesmente apropriado pelos trabalhadores, pelo proletariado e posto a trabalhar a seu serviço, mas precisa ser estruturalmente transformado. É impossível separar a ideia de socialismo, de uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, em particular do Sol – alguns ecossocialistas falam do comunismo solar, pois entre o calor, a energia do Sol e o socialismo e o comunismo haveria uma espécie de afinidade eletiva.
IHU On-Line – Como o ecossosialismo pode se sustentar em economias emergentes, que ainda não conquistaram um status de bem-estar social das economias desenvolvidas?
Michael Löwy – As economias dos países do Sul, da Ásia, África e América Latina devem se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do Ocidente e seu padrão de consumo insustentável. Trata-se de buscar um outro modelo, um desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria. O modelo ocidental não so é absurdo e irracional, mas não é generalizável: se os chineses quisessem imitar o American way of life, cinco planetas seriam necessários.
IHU On-Line – A humanidade deve preocupar-se com o ecossocialismo ou com o capitalismo verde?
Michael Löwy – O capitalismo verde é uma contradição nos têrmos. A lógica intrinsecamente perversa do sistema capitalista, baseada na concorrência impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na corrida pelo lucro rápido, é necessariamente destruidora do meio ambiente e responsável pela catastrófica mudança do clima. As pretensas soluções capitalistas como o etanol, o carro elétrico, a energia atômica, as bolsas de direitos de emissão são totalmente ilusórias.
Os acordos de Kyoto, a fórmula mais avançada até agora de capitalismo verde, demonstrou-se incapaz de conter o processo de mudança climática. As soluções que aceitam as regras do jogo capitalista, que se adaptam às regras do mercado, que aceitam a lógica de expansão infinita do capital, não são soluções, são incapazes de enfrentar a crise ambiental – uma crise que se transforma, devido à mudança climática, numa crise de sobrevivência da espécie humana. Como disse recentemente o secretário das Nações Unidas, Ban Ki Moon: “Estamos correndo para o abismo com os pés colados no acelerador”.
IHU On-Line – Em que sentido a crise ecológica atual pode ser entendida como um
problema de luta de classes?
Michael Löwy – Por um lado, a crise ecológica é um problema de toda a humanidade, pessoas de várias classes sociais podem se mobilizar por esta causa. Por outro lado, as classes dominantes são cegadas por seus interesses imediatos, pensam exclusivamente em seus lucros, sua competitividade, suas partes de mercado e defendem, com unhas e dentes, o sistema capitalista responsavel pela crise. As classes subalternas, os trabalhadores da cidade e do campo, os desempregados, o pobretariado têm interesses conflitivos com o capitalismo e podem ser ganhos para o combate ecossocialista. Não se trata de um processo inevitável, mas de uma possibilidade histórica.
IHU On-Line – Nas últimas conferências do clima, em Copenhague e Cancun, os movimentos sociais e ambientalistas fracassaram? Por que não se vê perspectiva de avançar nas lutas ambientais?
Michael Löwy – O que fracassou em Copenhague e Cancun foram as políticas dos governos comprometidos com o sistema, que demonstraram sua total incapacidade de tomar qualquer decisão, mesmo a mais ínfima, no sentido de buscar reduzir significativamente as emissões de CO2, responsáveis pelo aquecimento global.
A manifestação de cem mil pessoas nas ruas de Copenhague nem 2009, protestando contra o fracasso da conferência oficial, com a palavra de ordem “Mudemos o sistema, não o clima”, é um primeiro passo, alentandor, no sentido de uma mobilização ecológica radical. Ainda estamos longe de ter uma luta ecológica planetária capaz de mudar a relação de forças e impor as drásticas mudanças necessárias. Mas esta é a única esperança de evitar a catástrofe anunciada.
IHU On-Line – Considerando o contexto de capitalismo exacerbado, acredita que as pessoas estão preparadas para o ecossocialismo?
Michael Löwy – Existe um sentimento anticapitalista difuso na América Latina, na Europa e em outras partes do mundo. O movimento altermundialista é uma das expressões disto. Por outro lado, cresce a consciência ecológica, a preocupação com as ameaças profundamente inquietantes que representa a mudança climática. Mas é no curso das lutas ecossociais contra as multinacionais destruidoras do meio ambiente e contra as políticas neoliberais que poderá surgir uma perspective ecossocialista. Não há nenhuma garantia; é apenas uma possibilidade, mas dela depende o futuro da vida neste planeta.
IHU On-Line – Qual é o papel das populações originárias como os indígenas e quilombolas na consolidação do ecossocialismo?
Michael Löwy – Em toda a América Latina – mas também na América do Norte e em outras regiões do mundo – as populações indígenas estão na primeira linha do combate à destruição capitalista do meio ambiente, em defesa da terra, dos rios, das florestas, contra as empresas mineiras, o agronegócio e outras manifestações da guerra do capital contra a natureza. Não por acaso os indígenas tiveram um papel determinante na organização da Conferência de Cochabamba em Defese da Mãe Terra e contra a Mudança Climática, em 2010, que contou com a participação de dezenas de milhares de delegados de comunidades indígenas e movimentos sociais. Temos muito a aprender com as comunidades indígenas, que representam outra visão da relação dos seres humanos com a natureza, totalmente oposta ao ethos explorador e destruidor do mercantilismo capitalista. Como diz nosso companheiro, o histórico lider indígena peruano Hugo Blanco: “Os indígenas já praticam o ecossocialismo há séculos!”
*comtextolivre