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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 10, 2011


Dilma: Europa deve abandonar especulação e voltar a crescer 10 de outubro de 201107h32 atualizado 07h39



DIOGO ALCÂNTA
Direto de Brasília

A presidente Dilma Rousseff fez um breve balanço da sua viagem de sete dias pela Europa nesta manhã, em seu programa semanal de rádio, Café com a Presidenta. Ela deu o recado pessoalmente aos líderes europeus de que devem abandonar a especulação financeira e voltar à trajetória de crescimento, já que uma crise na Zona do Euro afeta todas as economias mundiais.

"Eu disse aos nossos parceiros da União Europeia que a saída para vencer a crise não deve passar por mais e mais medidas recessivas, que vão exigir grandes cortes nos investimentos, provocar profunda queda no emprego, no crescimento das economias e, portanto, gerar recessão", disse a presidente.

Dilma também voltou a defender a atuação das economias emergentes no debate sobre a crise envolvendo os países ricos. "Os países emergentes, que estão em muito melhor situação, querem debater as decisões dos países mais ricos, uma vez que elas podem afetar suas economias", disse.

Ainda no programa, a presidente também falou sobre as operações do Plano Estratégico de Fronteiras, coordenado pelo vice-presidente Michel Temer. Dilma elogiou o desempenho do plano, lançado há quatro meses, e que já apreendeu 62 toneladas de drogas. "Isso tudo significa que nós conseguimos evitar que uma quantidade grande de maconha, de cocaína e outras drogas chegasse às cidades brasileiras", avaliou.
*Terra

domingo, outubro 09, 2011

Charge e foto do Dia

Os taradões do Zorra Total, na vida real são defendidos pela TV Globo

Desde 2006, existe uma lei estadual no Estado do Rio de Janeiro, que obriga o Metrô e os trens urbanos a terem um vagão exclusivo para mulheres nas horas de superlotação.  Outros estados eu não sei.

A lei até envergonha, pois expõe um comportamento medieval que nem deveria existir, mas revelou-se necessária porque existem tarados à solta que não tem cerimônia em atentar passageiras com bolinação e abuso sexual, exatamente como acontece em um quadro no programa humorístico Zorra Total, da TV Globo.

Severino, personagem que representa porteiro da Rede Globo, bolina e abusa sexualmente de passageiras do Metrô. Uma TV concorrente não poderia fazer melhor para detornar a imagem da própria Globo.
Os criadores do humorístico, que só devem andar de carro e se lixar para realidade do povão, acham engraçado, acham uma coisa "non-sense", pois não faz parte de sua realidade, nem de suas mães, nem de suas filhas, nem de suas irmãs.

Mas a realidade das passageiras do Metrô e trem que tiveram o dissabor de passar por uma situação torpe destas, não tem nada de engraçado.

E o caso incomoda a tanta gente que mobilizou a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, a criar a citada lei, com votação em plenário e tudo que tem direito.

Primeiro leiam esta reportagem do Jornal do Brasil, publicada em 2009, (em seguida volto ao assunto):

Mulheres relatam abuso sexual em vagões de trem no Rio

Lauricéia de Souza, moradora de Queimados, no Estado do Rio de Janeiro, acorda às 5h30 todos os dias para estar na estação ferroviária às 7h15 e pegar o trem para o Méier, zona norte da capital, onde trabalha como doméstica. Tanto para ir quanto para voltar, viaja em composições lotadas e viveu um drama que ainda é uma constante, apesar da lei de 2006 que criou os vagões exclusivos para mulheres: o abuso sexual.

"Eu estava de saia e não dava nem para me mexer de tão cheio que estava. Na hora, não senti nada, mas, quando desci, o vento bateu e senti que minha saia estava úmida. Que nojo, fiquei revoltada, um homem tinha ejaculado em mim. Lauricéia, 33 anos, diz que a criação do vagão exclusivo para mulheres nos horários de pico foi uma lei que não pegou.

"Você está vendo alguma placa indicando o vagão feminino?", pergunta ela. "Isso na prática não existe, quando as portas abrem, os homens entram em todos os vagões, não tem organização".

Também doméstica, só que empregada numa residência em Madureira, Carmem Lúcia de Jesus, 40 anos, pega trem há 10 e dá graças a Deus por nunca ter sofrido violência semelhante. Segundo ela, diante da passividade dos agentes de controle da SuperVia e dos policiais militares do Grupamento de Policiamento Ferroviário, os homens que são descobertos abusando sofrem um justiçamento dos próprios passageiros.

"Na estação de Ricardo de Albuquerque eu vi um homem botar o 'negócio' dele por baixo da minissaia de uma garota. Ela se virou e meteu a mão na cara dele", relata. "Quando o pessoal que estava em volta viu, começou a bater também. Ele acabou expulso do trem".

Segundo a assessoria de imprensa da SuperVia, a empresa segue a lei número 4733/2006, que obriga as concessionárias de trem e metrô a disponibilizarem e identificarem um vagão exclusivo para mulheres nos horários de maior movimento, entre 6h e 9h e das 16h às 20h.

A representante comercial Rosângela Souza, 37 anos, moradora de Nilópolis, diz que evita os trens nesses horários justamente para não correr riscos. E acha a legislação insuficiente para coibir os abusos. "Hoje, a maioria das mulheres trabalha fora. Um vagão só não dá conta. Acho que tem mais mulher do que homem nos trens. E não há segurança nenhuma dentro dos vagões, os agentes só entram quando é para tirar vendedor ambulante", desabafa.

Revolta geral

O ambulante Geraldino Nascimento dos Santos, 69 anos, 30 vendendo mercadorias clandestinamente nos trens, diz que já ajudou a linchar um homem flagrado abusando de uma mulher. "Quando o cara dá mole, até camelô ajuda a bater".

Geraldino lembra o caso acontecido com uma vizinha sua. "Ela era toda fortona, morava em Engenheiro Pedreira e ia para a academia em Queimados fazer ginástica. Um cara chegou a ejacular na malha dela. Como ela era forte, saiu batendo nele e todo o pessoal ajudou", disse.

Jonas Eleutério, 50 anos, também viu os usuários fazendo justiça com as próprias mãos. "O homem se roçou na mulher e ela reclamou. Quando as portas se abriram na estação de Cascadura, só vi o cara correndo e uns 15 atrás dele para bater.

Luciana Alves, 24 anos, que na tarde da última quinta-feira viajava de Japeri para Manguinhos com os filhos Wallace, 8, e Gabriela, 2, estava tranqüila em um trem quase vazio. Ela deu sua receita para não ter maiores dissabores quando o vagão está lotado. "O negócio é entrar, correr para um cantinho e ficar escondida ali, junto da parede. Já vi muita coisa horrível, mas comigo, graças a Deus, nunca aconteceu". Segundo a SuperVia, há entre 150 agentes trabalhando por turno espalhados pelas 89 estações. A empresa alega que o número de policiais militares que lhes dão apoio diariamente, cerca de 30, não deveria ser menor do que 100.

Por causa destas coisas que acontecem aí acima, o próprio programa da TV Globo, por conta própria, deveria retirar a bolinação de cena.

Vejam bem: ninguém está pedindo para censurar o programa, nem tirar o quadro do ar, apenas retirar a parte que banaliza o crime de abuso sexual, por exercer uma clara influência negativa na sociedade.

Há formas de continuar fazendo o humor, sem apelar para naturalizar crimes.

As mulheres do Sindicato dos Metroviários de São Paulo repudiaram a cena em carta aberta à população:


A SPM (Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal), através da sub-secretária, Aparecida Gonçalves, enviou uma nota de apoio às metroviárias de São Paulo.

A turma da imprensa atucanada vislumbrou uma "oportunidade" de fazer guerra política, atacando mais uma vez a ministra Iriny Lopes, deturpando um problema (que é muito mais sério do que parece para quem não o vivencia), com os velhos chavões de "censura" (o que ela desmentiu nesta nota oficial), de "ditadura do politicamente correto", de "liberdade de expressão".

Não existe censura, existe liberdade de expressão, e neste caso não existe sequer o conceito de politicamente correto, existe só o politicamente.

E, politicamente, quais estão sendo as escolhas políticas da TV Globo?

- Defender a (falsa) "liberdade de expressão" dos taradões dentro do Metrô e trens.

- Censurar a voz de quem se recusa a sofrer abuso sexual dentro de Metrô e trens.
*Osamigosdopresidentelula

Líderes das 100 maiores empresas de petróleo do mundo elegem Gabrielli como Executivo do ano

 

O mercado, ou seja, a própria indústria mundial do petróleo, reconhece e premia a excelência da gestão da Petrobrás. E agora? O que dirão a Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardenberg, e o resto da imprensa neoliberal demo-tucana?

Deu na revista IstoÉ:

Executivos das 100 maiores empresas de petróleo escolheram o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo, como o Executivo de Petróleo do Ano de 2011. O prêmio será entregue pela Energy Intelligence, um dos maiores serviços de informações na indústria, na próxima segunda-feira, dia 10. Em entrevista por email à ISTOÉ, Gabrielli destaca a inovação como fator de sucesso para a Petrobras.

O que é ser considerado o executivo do ano pelos líderes das 100 maiores companhias de petróleo do mundo?

Todos os prêmios que recebi nestes oito anos de Petrobras, primeiro como diretor financeiro e depois como presidente, devem ser creditados ao corpo de diretores, gerentes e de empregados desta empresa, orgulho de todos os brasileiros, pela posição conquistada no mundo.
Ser escolhido Executivo de Petróleo do Ano de 2011 pelos dirigentes das 100 maiores empresas do setor, antes de mais nada, é o reconhecimento mundial desta posição. Ninguém melhor do que os executivos do setor para avaliar uma empresa de petróleo. Por isso, quero dividir está homenagem com toda a nossa força de trabalho.

O que diferencia a Petrobras das demais empresas do setor?

Podemos identificar diversas variáveis que nos distinguem no universo das empresas mundiais. Uma delas é que aprendemos fazendo, e fazendo corretamente. Não tínhamos nenhuma experiência em exploração e produção offshore, quando fizemos as primeiras descobertas em Sergipe, em águas rasas, e depois na Bacia de Campos, onde fomos descobrindo petróleo e gás em águas cada vez mais profundas, o que nos levou a receber diversos prêmios no setor. Nesta escala, chegamos hoje à posição de liderança em águas profundas e ultraprofundas, com 22% das operações neste horizonte.

Do ponto de visto de mercado, qual o diferencial da Petrobras?

Estamos diretamente associados ao crescimento da economia brasileira. As grandes empresas mundiais do nosso setor produzem petróleo em diferentes regiões e são exportadoras de óleo cru. A Petrobras, ao contrário, tem 85% de sua produção extraída dos campos nacionais. Cerca de 80% dessa produção é processada em nossas refinarias no Brasil, e os derivados produzidos se destinam ao mercado brasileiro. Temos, portanto, uma integração industrial e comercial intensa e direcionada ao mercado interno.

A que podemos creditar os resultados operacionais e financeiros da Petrobras, ao longo dos anos?

Um dos principais fatores é a capacidade inventiva de nossos técnicos que, além de criarem novas alternativas operacionais, vêm aperfeiçoando o que há de melhor do setor no mundo. Além disso, compartilhamos esta criatividade com a indústria nacional e com os fornecedores de serviços. Dessa forma, desenvolvemos tecnologia e conhecimento no país. A cadeia de petróleo e gás atingiu condições para construir plataformas para águas profundas de avançada tecnologia e preços e prazos compatíveis com os padrões mundiais, como foi o caso recente da P-56.

Vamos continuar elegendo executivos do setor ainda por muitos anos ou o petróleo está com seus dias contados?

Nos próximos 40 anos, apesar dos avanços recentes, o volume de energias alternativas como fonte primária ainda é baixo. As energias eólica, solar, geotermal e das marés, geradas hoje no mundo, representam menos de 1% da matriz energética mundial. Se crescerem 10 vezes até 2020 chegarão a 9% da matriz. Por isso o petróleo ainda vai continuar por muito tempo como a principal fonte de energia primária mundial.
*Osamigosdopresidentelula

'polêmico" Jabor

CBN faz chamada publcitária do comentário de Arnaldo Jabor, como a "sua dose diária de polêmica e passionalidade". Desculpe, mas não a minha, por ser uma visão de direita e conservadora, na linha editorial do grupo Globo. Que teria todo o direito de divulga-la desde que oferecesse espaço semelhante a alguém com a posição oposta. Afinal, canal de rádio é concessão de direito público, regulamentada. Ou já virou propriedade privada?
Milton Temer
No Luta que Segue
*comtextolivre

O Brasil precisa de Serra e FHC

Sem paixões partidárias, sem extremismos ideológicos, preconceitos e com moralismos à parte, seria interessante que se fizesse nos dias atuais uma pesquisa de opinião pública mais específica em que se pudessem estabelecer comparações pormenorizadas entre o Brasil que veio até o final dos anos 90 e o Brasil que se inicia após a eleição do presidente Luis Inácio Lula da Silva.

Uma pesquisa de opinião que não fosse apenas para servir a campanhas eleitorais ou programas televisivos de partidos, onde por vezes a emoção conta mais que a razão, mas levantando questões efetivamente alicerçadas sobre a nova realidade do país, construída nos últimos oito anos nos campos econômicos, políticos e sociais, avaliando – com mais dados – suas causas e seus efeitos práticos.

É natural que em toda atividade humana o avanço, o progresso e o bem estar da sociedade sejam desejados, sonhados, trabalhados e – sobretudo – muitas vezes conquistados. Nem sempre, entretanto, na história das nações, essa premissa se fez valer. No caso do Brasil, desde o nosso descobrimento, diga-se a bem da verdade.

Vamos apenas citar como exemplo, já que mais recente, o golpe civil/militar de 1964/68, muito embora até aí se possam pinçar, mesmo com o retrocesso político e a supressão das liberdades democráticas, alguns avanços estruturais e superestruturais no país.

Fruto de uma opção ideológica e de um alinhamento total com a política de estado norte americana nos anos após a Segunda Grande Guerra, fugindo da “órbita soviética”, as elites brasileiras, seus estratos mais conservadores e reacionários, ao darem um golpe de estado no início da década de 60, expulsaram do poder político os setores mais liberais e de esquerda que vinham conquistando posições de destaque em governos como os de Getúlio Vargas, Juscelino Kubstcheck e João Goulart.

Esses governos, embora de origem, natureza e alianças partidárias distintas, tinham em comum, cada um à sua maneira, uma visão de futuro para o país. Mais do que isso, uma visão de independência, de autodeterminação e de criação e defesa de um parque industrial brasileiro. Muitos de seus integrantes abraçavam causas nacionalistas, populares e até mesmo a idéia de uma nação socialista.

A quebra da legalidade democrática em 1964/68, fruto do alinhamento estratégico acima citado, levou milhares e milhares de brasileiros a uma oposição que, tolhida pela censura, mas consentida e subjugada no Congresso, ainda assim venceu algumas eleições estaduais em 1965.

Com as prisões, cassações e perseguições, chegou a pegar em armas. Durante 21 anos a repressão entre nós se fez e de forma violenta, batendo e arrebentando segundo o eufemismo castrense, chegando a reunir opositores cujo leque ideológico variou de uma direita propositiva e nacionalista, passando por católicos conservadores e progressistas até uma esquerda guerrilheira socialista e internacionalista.

Com o correr dos anos e da reconquista da democracia, contudo, para desespero dos espíritos autoritários e saudosos de um regime fechado, o poder volta a ser disputado nas urnas. Através de sucessivas eleições o exercício desse poder é aceito e consagrado dentro de um mundo de configuração ainda capitalista, agora com suas regras neoliberais fortemente colocadas no tabuleiro, mas também aberto e cativo das possíveis opções, para milhões de seres humanos, entre as economias socialistas e capitalistas. Opção e conflito particularmente intenso nos países em desenvolvimento do chamado terceiro mundo, vítimas seculares da predação capitalista.

Nesse novo cenário, onde prosperaram as ideias do fim da História, do Estado mínimo, da economia regulada pelo mercado, das especulações financeiras sem regulamentação legal e, sobretudo, pela desintegração do bloco socialista na Europa de leste com o fim da União Soviética, com o surgimento de dúvidas e inseguranças ideológicas por aí geradas, era natural que se desse novo realinhamento no terreno da prática econômica e política mundial e, por conseguinte, na brasileira. As peças no tabuleiro se movimentavam com o propósito do cheque mate à opção socialista, com a palavra e a atitude agressiva da globalização econômica substituindo eufemisticamente o uso do substantivo imperialismo.

A emblemática queda do muro de Berlim e o esfacelamento de inúmeros Partidos Comunistas ao redor do mundo, além de lançar na orfandade milhões de cidadãos que ansiavam pelas transformações e avanços sociais, acabou por despertar nos esquerdistas de ocasião ou arrependidos, nos ‘pragmáticos’ liberais, e nas novas gerações crescidas dentro da propaganda neoliberal, a oportunidade de revelarem – aqueles – o seu verdadeiro caráter e ideologia há tantos anos sufocada e reprimida, e nas novas gerações o sonho do enriquecimento fácil e do consumismo desbragado. Isto para não nos aprofundarmos nas decisões “pragmáticas” tantas vezes invocadas em defesa do status quo. E no fechar de olhos à crescente cultura da corrupção.

Creio que não saiu de moda o aforismo “a ocasião faz o ladrão”. Pode-se, igualmente, também dizer que em política as circunstâncias fazem as opções ideológicas e partidárias. Não será de um, de cem ou de mil o número de pessoas que transitam de um lado para outro do espectro das ideias e da política partidária, consoante o canto da sereia. Essa liberdade de escolha, em si, não é condenável.

Qualquer um de nós tem o direito e a liberdade de fazer as escolhas e as opções políticas que quiser. É isso, pelo menos, o que pregam os democratas convictos da velha guarda ou os arrivistas. Temos é que manter alguma coerência com essas opções. Ou justificá-las com alguma honradez quando nos levamos a sério.

O que parece condenável, a meu ver, é constatar que homens minimamente dotados de conhecimentos que os credenciam à vida pública prepararem-se para o exercício do poder político mercê do jogo sujo e oportunista de se adaptarem às circunstancias de momento, a assumirem uma demagogia de linguagem rebuscada e pseudocientífica, a nadarem sempre a favor da correnteza, a dançarem conforme a música lhes é agradável e de ritmo conveniente.

Será essa, com certeza, a história política brasileira contemporânea que, entre inúmeros exemplos, evidencia o caso dos cidadãos José Serra e Fernando Henrique Cardoso, dois expoentes de uma, seja dita, esquerda política, que nada mais representou até hoje do que o sonho social democrata em ninhos de esquerda de matizes socialistas, enquanto ser de esquerda era a “moda”, ainda que arriscada e perigosa. Em particular dentro do âmbito muitas vezes elitista e acadêmico das universidades. Os caminhos do exílio e do banimento durante e após o golpe de 64 têm, a esse respeito, histórias bem diferentes para serem contadas.

A trajetória desses dois expoentes do PSDB é emblemática em vários sentidos: FHC pelo exercício aligeirado e elegante do mando político, mas desprovido de maior conteúdo; Serra pela obsessão em chegar à presidência da república, gabando-se de ser um dos brasileiros mais preparados para isso.

FHC comandou um país subalterno e dependente economicamente de empréstimos obtidos junto ao Fundo Monetário Internacional, vendendo a trinta dinheiros várias empresas públicas, incentivando o verdadeiro mensalão para a aprovação da reeleição em causa própria, deixando varrer para debaixo do tapete a grande negociata das privatizações, eliminando conquistas trabalhistas de décadas, mantendo um salário mínimo de fome, sucateando e mercantilizando a educação e as escolas e universidades, negligenciando a saúde, para lá indicando seu fiel escudeiro e até então protegido.

Essa escola de “bem governar”, que pretendeu permanecer 20 anos ou mais no poder federal (em parte conseguindo o seu intento no governo de São Paulo), foi – enquanto isso – gerando em seu ninho um quadro que levasse à frente o programa neoliberal com algumas tinturas menos ortodoxas, fazendo-o caminhar pelas instâncias do Ministério da Saúde, do governo do Estado de São Paulo e da prefeitura de São Paulo, mandatos nem todos eles concluídos, é bom lembrar, tamanha a obsessão do candidato ao cargo pretendido.

O Brasil desses dois homens, nesses tempos informatizados, em que a realidade muda com grande rapidez, se transformou também rapidamente num Brasil do passado; no Brasil dos envergonhados de serem brasileiros; no Brasil dos subalternos, da política externa submissa, dos que adoram encher a boca para falar mal do seu país; no Brasil dos arrogantes de títulos acadêmicos e de togas acima do bem e do mal, dos que comem peru e pensam arrotar caviar; no Brasil das citações de pé de página; no Brasil em que muitos insistem na justiça mais flexível para a Casa Grande e na mais rígida obediência às leis para a senzala; no Brasil dos que ainda anseiam por golpes militares; no Brasil da improvisação no lugar do conhecimento, muitas vezes maquiada de competência; no Brasil dos armários cheios de esqueletos físicos e morais; no Brasil de um passado que tem medo da verdade; no Brasil de uma imprensa chantagista e irresponsável, legando aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, o pesado fardo de consertar muita sujeira e muita incompetência de se passado mais recente, tão evidente e tão escondido pela mídia.

Vistos os fatos por essa perspectiva, mas com os olhos confiantes postos no futuro e nas transformações que vão, pouco a pouco acontecendo interna e externamente, é que se pode afirmar: O BRASIL PRECISA DE SERRA E FHC!

O Brasil precisa de Serra e FHC para esquecer o passado;

O Brasil precisa de Serra e FHC para se lembrar de não mais abaixar servilmente a cabeça para países arrogantes e de natureza imperialista;

O Brasil precisa de Serra e FHC para mostrar a si mesmo e ao mundo que outro país é possível;

O Brasil precisa de Serra e de FHC para sempre se lembrar que não é preciso chegar ao limite da irresponsabilidade;

O Brasil precisa de Serra e de FHC para, desmentindo-os, jamais privatizar sua riqueza e entregar o país a grupos internacionais;

O Brasil precisa de Serra e FHC para mostrar, na prática, que criar 15 milhões de empregos em carteira não é uma questão de promessa eleitoral;

O Brasil precisa de Serra e FHC para, paradoxalmente ignorando-os, mostrar ao povo brasileiro como é possível manter em mãos do país uma empresa como a Petrobrás, sem descaracterizá-la ou entregá-la a grupos estrangeiros;

O Brasil precisa de Serra e FHC para, ao contrário deles, perceber que o mundo começa à nossa volta, com os nossos vizinhos da América do Sul e do Caribe;

O Brasil precisa de Serra e FHC, enfim, para sacudir a poeira do atraso, o colonialismo cultural e assumir em definitivo o seu destino de grande nação.

Na parede da ante-sala desse novo país que, tudo indica, está sendo construído, será preciso colocar o retrato emoldurado desses dois personagens. E olhando-o, sem qualquer saudade, ainda assim invocarmos o grande poeta mineiro usando o tempo do verbo de nossa lamentação no passado: “E como doeu!”.

Izaías Almada, escritor e dramaturgo, colunista do NR. Ilustrações do blog do ilustrador e caricaturista Baptistão
*Notaderodapé

Estamos pagando caro, muito caro, e ainda pagaremos por muitos anos por este período de vergonha da história brasileira.


http://www.tijolaco.com/wp-content/uploads/2011/10/valefhc.jpgJornal carioca publica hoje matéria sobre os vinte anos de privatização de empresas estatais e diz que as empresas privatizadas responderam por um faturamento de R$ 3oo bilhões em 2010. A dólar de dezembro do ano passado, US$ 177 bilhões.
O total da receita com as privatizações, de 1991 a 2002, somou US$ 87,5 bilhões: US$ 59,5 bilhões em privatizações federais e US$ 28 bilhões em privatizações estaduais. Ou seja, metade do faturamento de um só ano destas empresas.
Diz o jornal que as empresas foram vendidas para reduzir o endividamento do Estado brasileiro. A dívida líquida do setor público no Brasil, em 1991, era de US$ 144 bilhões. Em 2002, com tudo que a privatização deveria ter “abatido” deste valor, era de US$ 300 bilhões.
Nem privatizar, nem dever, em si, são, em si, pecados. Vender mal, seja entregando o que é estratégico, seja fazendo isso na bacia das almas, por valores irrisórios, são. Dever, quando se paga juros módicos, pode ser o caminho para o desenvolvimento e o progresso. A juros extorsivos, porém, é apenas o caminho da escravidão ao rentismo.
A grande maioria das privatizações foi feita com financiamento público, com uma elevação brutal das tarifas cobradas nos servilos públicos, não se conservou participação do Estado nem para dirigir estrategicamente as suas atividades, nem para participar dos lucros que produziam.
Estamos pagando caro, muito caro, e ainda pagaremos por muitos anos por este período de vergonha da história brasileira.
Não foi uma estratégia, foi uma liquidação, uma entrega desavergonhada do que pertencia ao povo brasileiro.

 *Tijolaço

A primavera norte-americana

Mair Pena Neto
A primavera árabe, elogiada nos meios de comunicação como movimento popular pelo fim das tiranias naquela parte do mundo, pode estar se repetindo onde menos se esperava: no coração financeiro do planeta, de onde emana o modelo que o leva a um impasse de grandes proporções, que ameaça sua própria sobrevivência. O movimento "Ocupar Wall Street", embora ainda sem objetivos muito bem definidos e sem a mesma atenção midiática dispensada aos povos árabes, está colocando o dedo na ferida do capitalismo financeiro e arregimentando cada vez mais pessoas.
Manifestações pacíficas, aplaudidas em outros cantos do mundo, naturalmente não são bem-vindas no quintal norte-americano, ainda mais quando decidem acampar no distrito financeiro de Nova York. Na praça Tahir, pode, na Porta do Sol, vá lá, mas em Wall Street não. A democracia dos Estados Unidos tratou seus pacíficos cidadãos a cassetetes e gás de pimenta, quando se dirigiam ao local. Mais de 700 pessoas foram presas pelo "crime" de se manifestarem contra uma ordem mundial que causa crise, recessão e desemprego.
Mas o tiro está saindo pela culatra. Assim como nas praças árabes, a repressão gera mais mobilização, e diversas categorias profissionais aderem ao movimento. A solidariedade começa a se espalhar por outras cidades dos Estados Unidos e o movimento cresce, aparece e luta pelo que o presidente Obama não conseguiu. Inverter a ordem do jogo em que ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais numerosos. O desemprego nos EUA atinge cerca de 20 milhões de pessoas, enquanto os bônus nos grandes bancos e empresas movimentam fortunas ofensivas, principalmente em tempos de crise e déficit fiscal elevado.
Qualquer tentativa de elevação de imposto, taxação dos mais ricos ou algo que o valha é bombardeada pelos republicanos e pelo setor conservador da sociedade, que não entrega os anéis, mas periga perder os dedos. O movimento norte-americano se organiza pelas redes sociais e funciona de forma horizontal, sem lideranças definidas. Na praça Tahir também não havia lideranças claras, mas a persistência do povo egípcio derrubou o governo.
Os manifestantes norte-americanos não pedem a cabeça de Obama, mas em seu protesto ainda difuso está a revolta contra o domínio do capital financeiro sobre o país. Os americanos de lá perderam suas casas na crise do subprime e seus empregos no repique da convulsão econômica, da qual o país não conseguiu emergir. Para um país forjado por sua classe média deve ser insuportável conviver com tanta desigualdade social, ameaçando sua democracia política.
O movimento ainda irá enfrentar mais repressão policial e boicote midiático. Seu futuro é incerto. Mas pela solidariedade que tem despertado e o envolvimento de categorias de peso, como o sindicato nacional dos trabalhadores do setor siderúrgico (USW), com mais de um milhão de filiados, pode ganhar massa muscular e conquistar corações e mentes de um país que não se mobiliza de forma abrangente desde os protestos pelo fim da guerra do Vietnã.