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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Bolivia Rompe Relaciones Diplomáticas con Israel y Denunciará Ante la Corte Penal Internacional


*laligadelainjustiça

Por que Serra é tão detestado

Paulo Nogueira 

Por que Serra é tão detestado?

Me chamou a atenção a alegria com que muita gente recebeu as controvertidas  denúncias contra Serra no livro A Privataria Tucana. Me parece que para muitos a principal virtude do livro consiste em atacar Serra.

É irônico vê-lo no papel de privatizador, ele que sempre pareceu contrariado com as privatizações e que jamais se identificou com o ideário neoliberal. Serra é o clássico ‘dirigista’, alguém que acha que o país deve ser guiado de cima para baixo por um Estado forte. Há, aí, uma comunhão de idéias entre ele e o que foi o mais esclarecido presidente nos anos militares, Ernesto Geisel.

Os jornalistas não gostam de Serra por um motivo óbvio: se puder, ele liga para os donos para tentar suspender uma reportagem que ele suspeite que não o tratará como herói. Caso saia um artigo que o irrite, ele também responde com ligações privadas para os donos ou os chefes do autor. Até em bobagens. Uma vez, quando trabalhava na Exame, dei a um texto sobre mais uma derrota eleitoral de Serra um título extraído de um poema de Gonçalves Dias: “Ainda uma vez, adeus”. Meu chefe na época, Antonio Machado, me avisou que Serra tinha ligado para se queixar de mim.

Muitos jornalistas atribuem sua demissão a pedidos de Serra. Em minha carreira, só vi alguém com o mesmo perfil: Delfim Netto, o czar da economia em boa parte do regime militar. Os jornalistas sabíamos que Delfim não hesitava em pedir cabeças quando contrariado com algum texto.

Sabemos, então, por que Serra é rejeitado pelos jornalistas.  E pelos demais?

Bem, Serra parece reunir todas as características que fazem as pessoas desgostar de alguém. Tem um claro ar de superioridade, sem que haja razões para isso. Serra é, por formação, economista, mas jamais produziu um livro original, com idéias econômicas inovadoras. Sua arrogância se sustenta muito mais num caráter ególatra do que em bases de realidade, e isso incomoda duplamente. Se é difícil suportar um gênio difícil, pior ainda é aturar uma pessoa normal que se comporta como gênio.

Serra é, também, invejoso. Ele não participou da equipe que fez o Plano Real, e por isso jamais reconheceu nele a importância histórica de devolver aos brasileiros uma moeda que não se corroía continuamente.
Também não é grato. Em 2002, em sua campanha fracassada, jamais deixou claro aos brasileiros que se alinhava com o homem que viabilizara sua candidatura: Fernando Henrique Cardoso. Compare com a atitude de Dilma perante Lula. Dilma, numa cartinha recente a FHC, disse muito mais sobre a importância dele como presidente do que Serra em toda uma vida em que ambos estiveram na mesma trincheira.
A todos os atributos negativos, Serra acrescentou na última campanha um outro: a hipocrisia. Ele quis parecer um homem do povo, alguém que gosta de estar no meio das pessoas numa feira comendo pastel e falando do último capítulo de novela.

Não colou.

Nem vou remeter ao farisaísmo presente na patética tentativa de transformar uma bolinha de papel num atentado na última campanha. Numa hipótese benevolente, isso foi fruto ao mesmo tempo do marqueteiro de Serra e de seu próprio desespero diante das pesquisas que já o davam como morto. Foi um horror, é verdade, mas com atenuantes. Por isso passemos por cima do falso atentado. Fiquemos com a essência: antipatizar com Serra é uma das raras coisas comuns aos brasileiros.

Dizer que o brasileiro não sabe votar é um clichê. Mas não ter levado Serra ao Planalto por duas vezes é uma evidência de que o brasileiro sabe pelo menos em quem não votar.

Por Que Lula É Tão Querido


Paulo Nogueira 
“Difícil não é subir”, escreveu o historiador francês Jules Michelet. “Difícil é, subindo, você permanecer o mesmo.”
Acho que essa frase explica a razão pela qual todos gostam de Lula, excetuada uma parcela retrógrada da classe média que tem preconceito contra pobres e nordestinos, sobretudo se eles ascendem.
Escrevi, no artigo anterior, sobre o oposto: por que Serra é tão amplamente detestado. Decidi ir para o inverso. Pessoalmente, tenho por Lula uma admiração moderada e distante. Entrevistei-o algumas vezes no começo dos anos 1980, quando os metalúrgicos do ABC sob seu comando articulavam as primeiras greves desde 1964. Nessa época, eu era repórter de economia da Veja. Achei-o vivamente inteligente: jamais confundi QI com a aquisição de diplomas.
Raras vezes votei em Lula. A ocasião em que tive mais convicção para votar nele foi quando seu adversário era Fernando Collor de Mello. Tive, na juventude, alguns problemas com o PT. Meu pai disputou a presidência do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo no final da década de 1970 contra uma chapa formada por pessoas que depois estariam no PT. O candidato rival de meu pai era Rui Falcão, de quem guardo uma imagem lhana e delicada. Jogou limpo e perdeu com dignidade. Mas muitos dos jornalistas que apoiavam Rui me pareceram arrogantes e grosseiros nas assembléias em que se debatia a greve. Alguns chamaram meu pai de “a voz dos patrões” porque ele antevira com presciência as enormes dificuldades que a greve enfrentaria para funcionar. Daí meu incômodo com o PT, que seria fundado em 1980, pouco depois da eleição do Sindicato de Jornalistas vencida por papai.
Lula, talvez por não ser um intelectual, jamais foi o típico petista que vê (ou via) o mundo de cima para baixo.  Num determinado momento, muitos suspeitaram de que ele seria manipulado pelos intelectuais que o cercavam e o educavam. O tempo mostrou que isso jamais aconteceria. Lula, por sua extraordinária liderança, sempre comandou seus professores. Em nenhum momento foi teleguiado.
À medida que foi ganhando estatura, mexeu na aparência, mas não no conteúdo. Aparou a barba, colocou paletó e gravata. Mas não se vendeu. No começo de minha carreira, circulou uma história que, verdadeira ou não, mostra como Lula era visto. Uma montadora, no final do ano, teria deixado um carro na frente da casa de Lula como um presente. O objetivo era conquistar a aliança de Lula para que as reivindicações dos metalúrgicos fossem contidas. O carro, segundo a história, foi prontamente devolvido.
Lula é simples sem ser simplório. Fala como o brasileiro das ruas genuinamente. Se numa campanha vai a uma feira comer pastel com os eleitores, parece que está em seu habitat. Com Serra é o oposto: vê-se que ele, como o general Figueiredo, o último presidente militar, não gosta muito do “cheiro do povo”. Serra, para o brasileiro médio, jamais será o “Zé” de suas campanhas.
Lula, sob contínuos ataques da mídia no final de seu primeiro mandato, não vergou – o que é um sinal de força interior. Rumores afirmavam que ele estaria bebendo cada vez mais, e a ponto de renunciar ou cair como Collor. Vistas as coisas em retrospectiva, tais rumores soam como piada.
Um estadista tem que ter musculatura para suportar estoicamente as agressões. Conta-se que Fouquet, revolucionário francês, dormiu na sessão da Convenção em que era julgado e corria o risco de ser condenado à guilhotina.
No poder, Lula foi essencialmente o mesmo de sempre. Mudou o foco da administração para o combate à miséria – um ato que lhe dá um lugar de honra na história do Brasil. Ao mesmo tempo, foi pragmático o bastante para ajudar as empresas brasileiras – sobretudo as exportadoras. Jorge Paulo Lehman contou uma vez numa conversa da qual participei que Lula pegou o telefone e ligou para a embaixada brasileira em Buenos Aires ao saber que a Ambev de Leman enfrentava dificuldades burocráticas na Argentina. “Em situações parecidas, o Fernando Henrique dizia que ia resolver o problema e depois não fazia nada”, disse Leman. Vi também uma vez o então presidente da Vale do Rio Doce Roger Agnelli contar uma história parecida.
Lula subiu sem deixar de ser o mesmo, uma coisa rara como dizia Michelet. Por isso, acima de todos os outros motivos, é tão amado — e é também em consequência disso sobretudo que milhões de brasileiros, entre os quais me incluo, fecham o ano torcendo para que ele se recupere do câncer na garganta tão usada para defender os trabalhadores.

*esquerdopata

Dois homens baixos na cracolândia



A chamada cracolândia, lugar onde os miseráveis da cidade reúnem-se enquanto aguardam a morte, foi proscrita. Mal findo o ano, os soldados ordenaram que todos dispersassem, prenderam alguns e espalharam-se em destacamentos para que ninguém mais voltasse.
A iniciativa coincide com o início do calendário eleitoral, quando os partidos governantes na capital e no estado irão novamente às urnas para renovarem o mandato que lhes concedeu há 4 anos os paulistanos para que resolvessem a chaga da miséria crônica e do abandono a que foi relegada uma parte da  população a quem foi roubada a cidadania.
A fim de que não tivessem de assumir a desfaçatez de uma abordagem assim tão fácil e até inconstitucional do problema da desassistência, porque a todos é dado direito de reunião e do acesso aos serviços de saúde, prefeito e governador simularam desentendimentos para que a ação passasse por expedição punitiva contra a delinquência e o tráfico de drogas.
Mesmo sabendo que a iniciativa faria apenas deslocar a indigência por toda a metrópole, confiavam que aos olhos do cidadão incauto uma miséria pulverizada constituisse uma miséria de menor impacto eleitoral, capaz de dissimular a anomia das políticas sociais no estado mais rico da federação.
Porque a cracolândia traduz o fracasso a que se chegou na missão essencial de qualquer governo de assistir a todos sem distinção, é que se resolveu encobri-la com o pano fétido da força bruta e da negação.
A falsa solução da ocupação militar do centro da cidade de São Paulo não foi medida intempestiva ditada pela intenção do poder público de preservar a lei e a ordem. Vinha sendo ensaiada desde quando Andrea Matarazzo comandava com mão de ferro a Secretaria das Subprefeituras do Município e fez de Daniel Salatti a musculatura de seu braço covarde na violência perpetrada contra moradores de rua da zona central.
Daniel Salatti é um homem pequeno, atarracado, pele que descama e cujos olhos flamejam ódio e violência. Esconde-se detrás da identidade de ex-professor da Unesp (universidade do interior paulista) e de ex- diretor de meio ambiente da CESP, empresa de energia privatizada durante o governo Covas.
Pois foi a esse homem sádico que Matarazzo entregou o comando da política higienista que moveu contra os moradores de rua na zona central da cidade. Como coordenador da guarda municipal, Salatti comandava grupos de paramilitares mobilizados para desalojar moradores de rua sob pontes e viadutos.
As ações comandadas por Salatti envolviam o disparo de rojões nos locais em que sem-teto usavam como abrigo, seguido de agressões a golpes de cassetetes e soco-inglês.  Acompanhava as “razzias” pessoalmente e apenas sob seu comando as agressões contra homens e mulheres, inclusive grávidas, eram cessadas. No dia seguinte caminhões de limpeza pública eram mobilizados para remover vestígios de sangue.
Salatti foi caixa de campanha de Covas na região de Americana, onde tem propriedades, e por ele foi nomeado na CESP para que comandasse o esquema de desapropriações das áreas que seriam inundadas pela barragem de ilha solteira. Lá conheceu Andrea, também ele caixa de Serra em São Paulo e indicado pelo ex-ministro de FHC presidente da mesma estatal, com a incumbência de prepará-la para a privatização.
Reunidos na prefeitura de São Paulo depois que Serra tornou-se prefeito, Andrea Matarazzo e Salatti uniram esforços para limpar o pedaço da cidade onde até hoje a família do conde falido parece ter propriedades ocupadas por moradores de rua, algumas delas recentemente calcinadas por incêndio de causas desconhecidas.
Agora Matarazzo quer ser prefeito da cidade. Confirmada a hipótese, os cidadãos paulistanos não teriam sorte melhor da que tiveram os romanos sob Nero.


Em imagem, o jogo expulsa e volta entre a PM e usuários de crack


Em imagem, o jogo expulsa e volta entre a PM e usuários de crack

Terra Magazine
Usuários vagam pelas ruas do centro de São Paulo
Usuários vagam pelas ruas do centro de São Paulo
Ana Cláudia Barros
Dayanne Sousa
Imagens feitas por um cinegrafista amador, obtidas com exclusividade por Terra Magazine, flagraram policiais militares dispersando usuários de crack no centro da capital paulista. Desde terça-feira (3), a PM e a Prefeitura de São Paulo atuam na região, conhecida como Cracolândia, numa ação, que, segundo fontes oficiais, tem o intuito de "abafar o tráfico de drogas".
Desorientados, cerca de cem dependentes químicos vagam pela área, em meio a gritos dos policiais de "vai, vai, vai". Os grupos caminham pela Avenida Duque de Caxias, sentido Avenida São João. Depois, retornam para a Duque de Caxias, sentido Luz. Passam pela Conselheiro Nébias, travessa da Rua Helvética, endereço conhecido com Cracolândia, no sentido Ipiranga. Na sequência, voltam da Conselheiro Nébias, em direção à Avenida Duque de Caxias.
As cenas, que mostram o jogo expulsa e volta entre os usuários e a PM, foram gravadas na quinta-feira (5), por volta das 22h.

A arte imita a vida ou a vida imita a arte.
Terá sido apenas uma mera coincidência as locações do filme "Ensaio sobre a cegueira" term sido feitas em São Paulo?
Ou uma premonição de Fernando Meirelles?

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

(Blindness, 2008)
Nota Cineclick
1744
Este filme estreou em: 12 de Setembro de 2008

Uma inexplicável epidemia chamada de "cegueira branca" atinge, sem explicações, pessoas que passam a ver uma superfície leitosa. Pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação, a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.

TRAILER 1   TRAILER 2 
CRÍTICA 1   CRÍTICA 2 
NAS LOCADORAS 
*Brasilmobilizado

EUA: estado totalitário e militar

Por Miguel Urbano Rodrigues, no sítio português O Diário:

O Presidente Barack Obama ofereceu ao povo norte-americano no dia 31 de Dezembro um presente envenenado para 2012: a promulgação da chamada Lei da Autorização da Defesa Nacional.

O discurso que pronunciou para justificar o seu gesto foi um modelo de hipocrisia. O presidente declarou discordar de alguns parágrafos da lei. Sendo assim, poderia tê-la vetado, ou devolvido o texto com sugestões suas. Mas não o fez.

Para o senador Aécio Neves, que tem memória curta e seletiva. E para o povo de Minas Gerais que sofre com as chuvas

Apenas a construção da nova sede do governo de Minas Gerais, a tempo de o ex-governador Aécio Neves (PSDB) participar da inauguração, custou R$ 948 milhões ao governo do Estado. Outros R$ 280 milhões foram gastos em serviços e equipamentos contratados, totalizando R$ 1,2 bilhão. Todo o complexo ergueu-se do chão em menos de 15 meses.
Agora, três meses depois da inauguração, o governo admite gastar mais dinheiro para corrigir algumas escolhas “infelizes” do projeto arquitetônico, e manter o complexo de pé. A lista de “defeitos” na obra, apontados numa lista preliminar, vai do tipo de piso usado no pátio coberto dos três prédios principais, passando por maçanetas que não mantêm as portas fechadas. O gasto com a troca do piso é consenso, pois seria a mais aparente “falha” no projeto de construção do complexo.

17.º Governador de Minas Gerais Minas Gerais Mandato:1 de janeiro de 2003 até 31 de março de 2010, Aécio Neves entende como ninguém de incompetência e omissão. Minas Gerais foi largada a sua própria sorte, enquanto ele passeava, namorava e bebia. E não devemos nos esquecer da obra faraônica da sede do governo de MG, que custou R$ 1,2 bilhão

Aécio Neves
Nossas tragédias
Iniciamos o ano, mais uma vez, sob a marca da tragédia.
É inevitável, em cada um de nós, uma mistura de solidariedade e de indignação diante de situações que se repetem e em que a única mudança é o endereço: Minas, Rio, Espírito Santo, Santa Catarina...
A dimensão e a gravidade de cada uma dessas situações não permitem que nos transformemos em torcidas organizadas no demagógico jogo de ver diferentes instâncias de governo empurrarem responsabilidades umas para as outras.
O fato de que ninguém, em sã consciência, considere possível corrigir, em poucos anos, danos provocados por erros acumulados em décadas não é pretexto para a aceitação da omissão. A pergunta que precisa ser feita a todo governante não é "por que não resolveu tudo antes?", mas, sim, se fez, no seu tempo, tudo o que estava ao seu alcance.
Assim, o inexplicável contingenciamento de recursos do governo federal destinados à prevenção de enchentes e dos danos causados pelas chuvas, assim como a liberação deles sem que sejam respeitados princípios básicos do equilíbrio federativo, devem ser motivo de protesto e de cobrança não apenas da oposição, mas de toda a sociedade. Até porque a falta de critérios republicanos e a baixíssima execução orçamentária do governo não se dão apenas em uma área.
Acredito que, como agentes públicos, devemos examinar essas situações de duas formas, simultaneamente.
A primeira é olhando para trás e reconhecendo que há um grande passivo de erros que só poderá ser superado com muito trabalho, planejamento e integração de ações. Passivo que é fruto de omissões de administradores que, muitas vezes, até por desinformação, não avaliaram o gravíssimo problema das ocupações desordenadas de áreas urbanas. Passivo que é fruto de uma época em que nos orgulhávamos de domar rios em vez de respeitá-los. E como o longo prazo em política, para muitos, é sinônimo de problema dos outros, o ciclo em que todos perdem se impôs.
A segunda é olhando para o futuro, entendendo que não temos o direito de seguir reproduzindo os erros do passado.
Qualquer administrador, mesmo o do menor município, tem acesso a informações e sabe bem dos riscos de uma ocupação precária de encostas ou margens de rio. Obras feitas às pressas, sem planejamento, cobram da sociedade um alto preço, que não se restringe ao desperdício financeiro.
As repetidas tragédias representam vidas perdidas. E, em respeito a cada uma delas, precisamos abandonar a demagogia, partilhar a solidariedade e cobrar responsabilidade. Os brasileiros não estão condenados a viver apagando incêndios de incompetência ou submergindo em tempestades de omissões.

Deleite

Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?


Por Leonardo Boff *

Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruira o mundo do mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos, uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da razão critica que se expressou pela filosofia, pela política, pela democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras manifestações culturais que não cabe aqui referir.

Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos: mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e submetê-la ao projeto de sua vontade.

Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton, Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e encima dela como seu “mestre e dono”(Descartes) e coroa da criação em função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.

Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer, deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento. Agora tocamos nos limites de sua possibilidades. A civilização técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma, degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a realização de um armgedon ecológico-social.

Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero. Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.

Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos esta conversão, ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos transformamos ou desapareceremos.

Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista-pensador:”Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”. Mas à condição de mudarmos de paradigma.


* Leonardo Boff é autor de Opção-Terra. A solução para a Terra não cai do céu, Record, Rio 2009.


Fonte: LeonardoBoff.com
*observadoressociais

Evoé! Retrato de um antropófago






Gestão Kassab, antes não tinha, agora tem...













Antes tinha sim, só o povo de São Paulo não quis/quer enxergar, visto que forma todas as suas opiniões pautado pelo que vê e lê no PIG.
*cappacete