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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Dois homens baixos na cracolândia



A chamada cracolândia, lugar onde os miseráveis da cidade reúnem-se enquanto aguardam a morte, foi proscrita. Mal findo o ano, os soldados ordenaram que todos dispersassem, prenderam alguns e espalharam-se em destacamentos para que ninguém mais voltasse.
A iniciativa coincide com o início do calendário eleitoral, quando os partidos governantes na capital e no estado irão novamente às urnas para renovarem o mandato que lhes concedeu há 4 anos os paulistanos para que resolvessem a chaga da miséria crônica e do abandono a que foi relegada uma parte da  população a quem foi roubada a cidadania.
A fim de que não tivessem de assumir a desfaçatez de uma abordagem assim tão fácil e até inconstitucional do problema da desassistência, porque a todos é dado direito de reunião e do acesso aos serviços de saúde, prefeito e governador simularam desentendimentos para que a ação passasse por expedição punitiva contra a delinquência e o tráfico de drogas.
Mesmo sabendo que a iniciativa faria apenas deslocar a indigência por toda a metrópole, confiavam que aos olhos do cidadão incauto uma miséria pulverizada constituisse uma miséria de menor impacto eleitoral, capaz de dissimular a anomia das políticas sociais no estado mais rico da federação.
Porque a cracolândia traduz o fracasso a que se chegou na missão essencial de qualquer governo de assistir a todos sem distinção, é que se resolveu encobri-la com o pano fétido da força bruta e da negação.
A falsa solução da ocupação militar do centro da cidade de São Paulo não foi medida intempestiva ditada pela intenção do poder público de preservar a lei e a ordem. Vinha sendo ensaiada desde quando Andrea Matarazzo comandava com mão de ferro a Secretaria das Subprefeituras do Município e fez de Daniel Salatti a musculatura de seu braço covarde na violência perpetrada contra moradores de rua da zona central.
Daniel Salatti é um homem pequeno, atarracado, pele que descama e cujos olhos flamejam ódio e violência. Esconde-se detrás da identidade de ex-professor da Unesp (universidade do interior paulista) e de ex- diretor de meio ambiente da CESP, empresa de energia privatizada durante o governo Covas.
Pois foi a esse homem sádico que Matarazzo entregou o comando da política higienista que moveu contra os moradores de rua na zona central da cidade. Como coordenador da guarda municipal, Salatti comandava grupos de paramilitares mobilizados para desalojar moradores de rua sob pontes e viadutos.
As ações comandadas por Salatti envolviam o disparo de rojões nos locais em que sem-teto usavam como abrigo, seguido de agressões a golpes de cassetetes e soco-inglês.  Acompanhava as “razzias” pessoalmente e apenas sob seu comando as agressões contra homens e mulheres, inclusive grávidas, eram cessadas. No dia seguinte caminhões de limpeza pública eram mobilizados para remover vestígios de sangue.
Salatti foi caixa de campanha de Covas na região de Americana, onde tem propriedades, e por ele foi nomeado na CESP para que comandasse o esquema de desapropriações das áreas que seriam inundadas pela barragem de ilha solteira. Lá conheceu Andrea, também ele caixa de Serra em São Paulo e indicado pelo ex-ministro de FHC presidente da mesma estatal, com a incumbência de prepará-la para a privatização.
Reunidos na prefeitura de São Paulo depois que Serra tornou-se prefeito, Andrea Matarazzo e Salatti uniram esforços para limpar o pedaço da cidade onde até hoje a família do conde falido parece ter propriedades ocupadas por moradores de rua, algumas delas recentemente calcinadas por incêndio de causas desconhecidas.
Agora Matarazzo quer ser prefeito da cidade. Confirmada a hipótese, os cidadãos paulistanos não teriam sorte melhor da que tiveram os romanos sob Nero.


Em imagem, o jogo expulsa e volta entre a PM e usuários de crack


Em imagem, o jogo expulsa e volta entre a PM e usuários de crack

Terra Magazine
Usuários vagam pelas ruas do centro de São Paulo
Usuários vagam pelas ruas do centro de São Paulo
Ana Cláudia Barros
Dayanne Sousa
Imagens feitas por um cinegrafista amador, obtidas com exclusividade por Terra Magazine, flagraram policiais militares dispersando usuários de crack no centro da capital paulista. Desde terça-feira (3), a PM e a Prefeitura de São Paulo atuam na região, conhecida como Cracolândia, numa ação, que, segundo fontes oficiais, tem o intuito de "abafar o tráfico de drogas".
Desorientados, cerca de cem dependentes químicos vagam pela área, em meio a gritos dos policiais de "vai, vai, vai". Os grupos caminham pela Avenida Duque de Caxias, sentido Avenida São João. Depois, retornam para a Duque de Caxias, sentido Luz. Passam pela Conselheiro Nébias, travessa da Rua Helvética, endereço conhecido com Cracolândia, no sentido Ipiranga. Na sequência, voltam da Conselheiro Nébias, em direção à Avenida Duque de Caxias.
As cenas, que mostram o jogo expulsa e volta entre os usuários e a PM, foram gravadas na quinta-feira (5), por volta das 22h.

A arte imita a vida ou a vida imita a arte.
Terá sido apenas uma mera coincidência as locações do filme "Ensaio sobre a cegueira" term sido feitas em São Paulo?
Ou uma premonição de Fernando Meirelles?

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

(Blindness, 2008)
Nota Cineclick
1744
Este filme estreou em: 12 de Setembro de 2008

Uma inexplicável epidemia chamada de "cegueira branca" atinge, sem explicações, pessoas que passam a ver uma superfície leitosa. Pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação, a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.

TRAILER 1   TRAILER 2 
CRÍTICA 1   CRÍTICA 2 
NAS LOCADORAS 
*Brasilmobilizado

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