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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 09, 2012

O cacique Serra pela ótica de um estudioso


Às vezes uma réstia de luz penetra nas cavernas escuras da mídia para iluminar algumas verdades que são aparentes apenas àqueles que se dedicam à tarefa cotidiana de coligir e confrontar informações na imprensa, passando ao largo das análises carrancudas dos articulistas oficiais da grande imprensa e de seus avatares no telejornalismo.

Desse raro atributo de esclarecimento está revestido o artigo assinado pelo cientista político Claudio Gonçalves Couto (transcrito abaixo) da FGV, na edição do jornal Valor Econômico que circulou no feriado de Corpus Christi. O texto fala de uma questão de mérito, o que diferenciaria a influência política do puro caciquismo na prática de lideranças políticas?

Pra desvendá-la confronta dois episódios recentes da cena política nacional: a iniciativa do ex-presidente Lula da Silva de apoiar para candidato a prefeito da maior cidade do País o nome de alguém jejuno em disputas eleitorais, seu ex-ministro Fernando Haddad, em detrimento do nome consagrado da senadora Marta Suplicy; e a decisão do ex-governador José Serra  de apresentar seu nome à mesma disputa eleitoral.

 Para surpresa daqueles que se acostumaram às versões de matiz conservador predominantes na imprensa e na mídia, as quais associam os atos de Lula ao personalismo autoritário de um líder sindical e os gestos de Serra à capacidade estratégica de um exímio acadêmico, o autor do artigo mostra a diferença entre os dois políticos atribuindo ao ex-presidente o perfil de líder renovador e ao ex-governador o de cacique que violenta a vontade de seu partido e sufoca-lhe a capacidade de renovação.

Os argumentos alinhavados pelo professor valem por certo bem mais que as precedentes ponderações, que bem poderiam ser omitidas.                                                                           

Sobre caciques e partidos

Por Cláudio Gonçalves Couto

A birra de Marta Suplicy, ausentando-se do ato de lançamento da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, enseja uma boa oportunidade para discutir o papel das lideranças individuais nos partidos políticos. Ela serve para mostrar que o caciquismo é um fenômeno mais complexo do que sugerem análises apressadas sobre a influência de certas lideranças na definição dos rumos das organizações partidárias. Quanto a isto, um aspecto ganha relevo: enquanto alguns líderes criam sucessores, atuando na produção ou reforço de novas lideranças (crucial para a sobrevivência organizacional), outros embotam essa criação, contribuindo para a esclerose organizacional.

O problema é distinguir entre caciquismo - um tipo de liderança que subjuga a organização à vontade pessoal inquestionável do líder - e influência. Uma liderança influente no partido logra convencer os correligionários, sem contudo impor-lhes decisões inquestionáveis. Assim, se a persuasão é requisito para a obtenção de anuência, não há caciquismo. Trata-se de diferença de grau, que ultrapassados certos limiares se converte em distinção de natureza.

Há situações nas quais se migra, ao longo do tempo, de um estado para outro. Assim, caciques podem converter-se apenas em lideranças influentes, seja por que se debilitam ou ajustam a conduta, seja porque um reforço organizacional do partido lhes reduz o espaço para o arbítrio. Inversamente, líderes influentes podem, em certas conjunturas, tornar-se caciques; algo mais provável em organizações partidárias frouxas ou enfraquecidas - o que não é a mesma coisa.

Caciques são os que se colocam acima do partido

Para existir, o cacique necessita do apoio de um subconjunto organizacional dentro do partido: sua entourage, uma facção majoritária ou posições-chave na burocracia. Assim, enquanto o partido como um todo é fraco organizacionalmente, esse subgrupo é relativamente forte, impondo a vontade de seu líder. Contudo, há uma condição principal, decisiva distinguir o caciquismo da influência: o cacique subordina os interesses da organização aos seus próprios; é o projeto pessoal do cacique que sempre prevalece sobre o do partido - e mesmo sobre o de sua claque.

Há quem veja no patrocínio de Lula à candidatura de Fernando Haddad evidência de caciquismo, demonstrando que o PT nada mais seria do que um partido sem vontade própria, a reboque do grande líder. Será mesmo? Isto não se coaduna com características notórias do partido: organização forte, disputa intensa entre facções, espaço para contestação seguido de alinhamento a decisões tomadas pelo conjunto. Na realidade, Lula é muitíssimo influente, mas não um cacique no sentido próprio do termo. E isto não só por méritos próprios dele, mas pelas características do partido que construiu - que restringe o caciquismo.

No caso paulistano, antes mesmo de Marta desistir da candidatura, já enfrentava - além de Fernando Haddad - a oposição interna de antigos aliados, agora pré-candidatos, os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Candidata duas vezes derrotada à prefeitura, a senadora já não desfrutava da condição de escolha óbvia da agremiação - como foi em 2008. A imposição de seu nome - a despeito de outras postulações, de um clamor interno por renovação e da grande rejeição aferida pelas pesquisas ¬- é que seria caciquismo. Em tal contexto, o apoio de Lula à renovação operou mais como contrapeso à tentativa de caciquismo em nível local do que se mostrou ele próprio uma imposição inconteste.

Compare-se com a autoimposição de José Serra no PSDB, contra Aécio Neves. Verificou-se no ninho tucano uma estratégia de sufocamento da disputa interna pela interminável postergação do embate, até que o ex-governador mineiro jogou a toalha, considerando que não teria tempo hábil para se viabilizar. A solução pelo alto, dessa ardilosa vitória pelo cansaço, repetiu-se agora na escolha da candidatura tucana à prefeitura paulistana. Após meses alegando que não se candidataria, o que ensejou uma animada disputa entre quatro pré-candidatos (sugerindo renovação partidária) o ex-governador mudou de ideia, inscreveu-se na prévia após o prazo regulamentar, provocou a desistência de dois postulantes e prevaleceu. Serra obteve na prévia apenas pouco mais de 50% dos votos, num embate contra postulantes muito menos expressivos - tanto no que concerne à envergadura política quanto à história. Isto mostra o tamanho do desagrado que sua soberba causou na base tucana.

Fosse o PSDB dotado de maior densidade organizacional, os dois episódios da imposição serrista deflagrariam uma crise interna - como a que deve se produzir no PT de Recife neste ano. O caráter elitizado da agremiação e a baixa intensidade da vida partidária (sobretudo se comparada à do PT) permitem que as manobras dos caciques e seus embates permaneçam basicamente como um problema deles mesmos. A renovação, neste caso, ocorre apenas nas franjas da disputa política (como nas eleições de deputado estadual e vereador), pelo ocaso das lideranças ou por algum acidente; raramente por uma estratégia bem definida. Em São Paulo, a oportunidade da renovação foi perdida; o risco da esclerose cresceu.

É nisto que as atuações de Lula e Serra se distinguem como influência, no primeiro caso, e caciquismo, no segundo. Enquanto o ex-presidente interveio no processo de modo a promover uma renovação de lideranças e atuando segundo a lógica da organização partidária, o ex-governador apenas fez prevalecer seu projeto pessoal de poder, às expensas do partido, que tornou seu refém. Isto permanece, a despeito de quem venha ganhar ou perder as eleições de outubro.

Algo que confunde a percepção de papéis tão distintos são os estilos muito diversos de um e de outro. Enquanto Lula é um líder carismático e de estilo esfuziante, Serra é um líder gerencial e de estilo soturno. Intuitivamente, o senso comum identifica o primeiro com o improviso e o personalismo, e o segundo com a racionalidade e a institucionalidade. Uma análise mais cuidadosa revela exatamente o oposto.
*Brasilquevai

Inflação despenca. Cadê os urubólogos?

Por Altamiro Borges
Quando o Banco Central iniciou a trajetória de queda nas taxas básicas de juros, Mirian Leitão, Carlos Alberto Sardenberg e outros “especialistas” em economia alertaram que a inflação iria explodir. O tom apocalíptico recrudesceu ainda mais quando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal decidiram cortar drasticamente os seus juros. A mídia rentista anteviu o fim do mundo.

Olhos e corações voltados à Grécia

Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:
À medida que as eleições gregas entram em sua reta final, os olhos do mundo se voltam ao berço da democracia para acompanhar o que promete ser um dos mais emocionantes pleitos dos últimos tempos - e dos poucos a incluir a possibilidade concreta de eleger uma força política cuja plataforma inclui o rompimento com o programa de austeridade ditado pela Troika.

Cachoeira da podridão: os ratos começam a se soltar

 

Por: Eliseu
ratorataogravataOs ratos que haviam sido levados de roldão na cachoeira de podridão e corrupção que envolve diretamente o senador Demóstenes Torres, ex-DEMo, comandada pelo criminoso-contraventor-bicheiro-“empresário” Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começam a sair da lama que estavam presos.
Primeiro foi o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, braço direito do criminoso Carlinhos Cachoeira a “convencer” a justiça a soltá-lo. Afinal, num país em que os bandidos dão as cartas e o cidadão de bem é que fica preso, nada fez para permanecer na prisão.
Agora outro ladrão-empresário, ou empresário ladrão, o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu é solto sob o argumento que “não se fazem presentes os pressupostos da prisão cautelar, sendo o requerente merecedor do benefício de responder ao processo em liberdade uma vez que é primário e possui endereço fixo”. Deixem o passaporte em seu poder e verão como é fixo o endereço dele.
A Delta financiava campanhas eleitorais em troca de obras com licitações de “carta marcada”. “O rastreamento do dinheiro injetado pela Delta Construções em empresas de fachada, segundo a Polícia Federal, e ligadas ao esquema do contraventor Carlos Cachoeira, revela que a empreiteira carioca montou um "deltaduto" para irrigar campanhas eleitorais”. Empresas que receberam recursos da Alberto e Pantoja Construções Ltda., cuja única fonte de renda identificada pela Polícia Federal era a Delta Construções, abasteceram cofres de campanhas em Goiás, área de influência da organização criminosa de Cachoeira. Nada de errado no “país das maravilhas”.
Por enquanto, por mais inacreditável que possa parecer, o criminoso-mor, o Carlinhos Cachoeira continua preso. Demóstenes Torres, que talvez seja o pior da quadrilha, pois usava de cargo público de grande influência para auxiliar na prática de crimes, sequer deu com os costados na cadeia.
*OCarcará

A CONEXÃO GOIANA

Gilmar Mendes


Os meses a vir pedem aos homens públicos responsáveis, de todos os partidos, a combinação da firmeza com a paciência, a fim de conduzir a campanha e o pleito municipal deste ano. 

A oposição, instigada pelo julgamento do processo conhecido como mensalão, se encontra açulada por alguns de seus líderes menos sensatos. 
 
O presidente Lula, acossado pelos inimigos e em convalescença de um tratamento penoso, não se tem contido diante dos ataques que recebe e fez algumas declarações apressadas, como ocorreu em recente programa de televisão. 
 
Na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os negócios de Carlos Cachoeira, parlamentares perdem a compostura, e usam de linguagem chula e repulsiva, provocados pelo soberbo silêncio dos depoentes, entre eles o Senador Demóstenes Torres.


Os diálogos ásperos são normais nas casas parlamentares, desde que elas existem. Os registros do Senado Romano mostram como os debates já se valiam, naquele tempo, da ironia e do insulto – que deviam soar mais ferinos no latim republicano. 
 
A Câmara dos Comuns, a partir do confronto com os Stuarts, na primeira metade do século 17, reproduzia a linguagem vulgar dos pubs e das margens do Tamisa. No século seguinte, principalmente durante o reinado de George III, os insultos faziam parte habitual dos debates na Câmara dos plebeus. 

Entre os lordes, é claro, a coisa era outra: estavam todos de acordo contra o povo.

Em uma comissão parlamentar de inquérito, os ânimos são mais acesos. Mas conviria, tendo em vista a conjuntura política e econômica mundial, que os membros do comitê investigatório se contivessem em sua linguagem, na mesma medida em que se empenhassem, seriamente, na busca da verdade. 

O momento pede a coesão nacional, mas ela não pode ser construída na tolerância com o crime.


Estamos diante de uma oportunidade singular, a de separar o que é público do que é privado na sociedade brasileira. 
 

Ainda que não consigamos tudo, alguma coisa que se consiga irá contribuir para a evolução positiva da democracia republicana em nosso país.

O Sr. Gilmar Mendes continua arrostando a paciência nacional. A ligeireza com que acusa e com que retifica suas versões demonstra que o Ministro não está segurando as rédeas do raciocínio – e, em seu caso, não existe a atenuante de um agressivo tratamento de saúde.

Ainda agora ele mesmo revela que interferiu na autonomia do poder executivo, ao solicitar do Ministro da Fazenda que proíba a Caixa Econômica de anunciar em blogs independentes na internet. Como tive a oportunidade de escrever, em minha coluna no JB – reproduzida pelos blogs que ele quer silenciar – o ministro Gilmar Mendes não é uma instituição, não é o STF. 

E sua visita ao Ministro da Fazenda, com esse objetivo, é, sim, intromissão em outro poder e pode ser vista como intimidação. Todos os grandes veículos de comunicação do país recebem anúncios – e em valor e volume muito maiores do que a totalidade dos blogs – e exercem forte oposição ao governo. Tanto é assim que a presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito, disse que a imprensa – os jornais que ela representa – desempenha o papel de um partido de oposição que, em seu juízo, não existe no Brasil.

Gilmar Mendes está demonstrando dificuldade em entender a realidade, em aceitar o jogo democrático que exige, como fundamento maior, a liberdade de expressão, que se concretiza na pluralidade da informação e de opinião. É claro que essa dificuldade, se não for logo vencida, dará suspeição às decisões que ele tomar como juiz do STF.


Fonte: Mauro Santayana/ Carta Maior

TEMPOS SOMBRIOS

Henning Albert Boilesen (1916-1971) foi um empresário nascido na Dinamarca que se naturalizou brasileiro. 
Presidente da Ultragas e anticomunista ferrenho, ele foi um dos que mais incentivou o financiamento da repressão por empresários durante a ditadura militar. 
Essa "ação entre amigos" foi fundamental para a montagem da Oban (Operação Bandeirante), origem dos DOI-Codis, o núcleo duro do aparelho repressivo da ditadura. 
Delegado Sérgio Paranhos Fleury  - o sanguinário policial da Gestapo brasileira

A Oban transformou a tortura artesanal do Estado Novo em método "científico", como fizeram a Gestapo e os franceses durante a Guerra da Argélia.  
Mas Boilensen não apenas foi o pivô do financiamento da Oban; ele se comprazia em assistir pessoalmente, no DOPS ou no quartel da rua Tutóia, às sessões de tortura contra prisioneiros políticos. Em abril de 1971, 
Boilensen foi justiçado em São Paulo por um comando guerrilheiro da ALN e do MRT. A memória desse cápítulo tenebroso da História do Brasil foi resgatada com um filme imperdível, Cidadão Boilensen, de Chaim Litewski (trailer:http://www.youtube.com/watch?v=9TrocKiappo) 

Postado por Cláudio Camargo

O futuro é do ateísmo

 


Ateísmo derrotará a religião por volta de 2038

Os países com o melhor padrão de vida estão-se tornando ateus. Essa mudança oferece um vislumbre do futuro do mundo.

Nem tudo o que ‘acontece’ na Europa é mau…

do Diario Ateísta


Separação da Igreja e do Estado é aprovada na Noruega…
Esta decisão, com incidência constitucional, foi objecto de um ‘grande consenso’ político no Parlamento (161 votos a favor e 3 contra). link
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Recorde-se que esta mudança não é de somenos importância. O rei da Noruega foi até aqui ‘a autoridade suprema da Igreja da Noruega‘, como se sabe, pertencente à igreja protestante.
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Impressionante é o modo tranquilo e civilizado como – nesse País – se resolvem importantes questões constitucionais, como é o caso da laicidade do Estado.

Os números de Obama

Até algumas semanas atrás, sobretudo quando considerado o fraco desempenho da economia europeia, era realçada a contida mas "prometedora" recuperação dos Estados Unidos e já falava-se dum provável crescimento de 3 % do Produto Interno Bruto, o PIB.

Nesta perspectiva os novos 180.000 lugares de trabalho eram considerados como um resultado excepcional.

No final do mês passado a musica mudou: o cresicmento diminuiu e os novos trabalhos afinal eram apenas...59.000.

Num discurso transmitido em todo o mundo, o simpático Obama culpou os problemas da Europa e a fixação da Alemanha, com a política de austeridade dela, qual "travão" da economia mundial. O que em parte pode bem ser verdade, pois as medidas pretendidas pela simpática Angela Merkel são um suicídio; mas o presidente dos Estados Unidos deveria ter a coragem para ir além disso e falar da desaceleração da economia global (China, Brasil...) e dos problemas americanos. Que não são poucos.

Em primeiro lugar, uma recuperação de cerca 3% para uma economia como aquela dos EUA é um resultado medíocre: historicamente, após as crises os EUA sempre tiveram "saltos em frente" de 5-6%. Além disso, este 3% é o fruto directo da nova "flexibilização quantitativa" (quantitaive easing) da Federal Reserve e dos programas de estimulo para as empresas.
Assim, 3% é menos do que "medíocre".

E as últimas estimativas falam dum fical do ano com um resultado de 1,5%. Isso com uma boa dose de optimismo, pois a realidade poderia ser até pior.
Miserável.

Os novos lugares de trabalho? 180 mil novos empregos, não é?
Nem aqui o resultado poderia ser considerado fabuloso, pois falamos dum País com uma taxa de desemprego (oficial, note-se) de 8-9% e uma população de 313 milhões de pessoas, duas vezes o Brasil. Um País onde por cada trabalho disponível há seis desempregados...

Mas vamos ver um pouco mais de perto estes dados.


Em primeiro lugar, não são absolutamente novos empregos, mas trabalhos onde eram empregados imigrantes (principalmente chicanos, os Mexicanos), forçados a voltar para casa, e onde foram colocados cidadãos americanos.
Demonstração: o PIB nem se mexe, e isso porque não são novos postos de trabalho.

Em segundo lugar, há contractos que tinham expirados em 2012 e que foram um pouco "esticados", tal como outros contractos de 2012 antecipados (e que, portanto, não estarão disponíveis no ano próximo). Por isso, falar de 180.000 (ou mais) novos postos de trabalho não faz muito sentido, se não na óptica pré-eleitoral.

Mas há mais assuntos que preocupam a Administração, e um em particular: o sistema bancário.

Desde o começo da crise, em 2008, mais de 400 bancos já fecharam as portas. Muitos, mas ainda poucos quando comparados com a hecatombe que poderia acontecer.

A crise dos bancos europeus (Espanha, onde estás tu?) ameaça envolver de forma pesada as instituições bancárias americanas, isso por causa do emaranhado de créditos e dívidas partilhadas. Como já tivemso modo de aprender, pensar hoje na economia e na finança como se fossem compartimentos estanques não faz entido: há uma profunda interdependência e um espirro em Hong Kong pode ser ouvido em Wall Street com a força dum trovão.

O sofrimento dum banco europeu (Commerzbank, onde estás?) é indirectamente o mal estar de outros bancos também.

Na Europa os bancos podem contar com a ajuda do Banco Central Europeu, avarento com os Estados mas bem pródigos com as instituições de crédito. Todavia trata-se de medidas que podem ganhar tempo mas que não resolvem os problemas: sem investimentos, a liquidez de hoje será a nova dívida de amanhã.

O simpático Obama foi bom em apresentar resultados medíocres ou até penosos como feitos: a política dele conseguiu ré-financiar os títulos de alto risco que caducavam este ano. Mas, mais uma vez, conseguiu adiar o problema, não resolve-lo.

Seria necessário, não apenas nos Estados Unidos, criar as condições para que possam existir investimentos: retirar o dinheiro da finança e desvia-lo até o mundo da economia real.
Mas para fazer isso seria preciso em primeiro lugar enfrentar as forças financeiras.

E aqui começam os problemas: repensar o papel da finança significa pôr em causa as bases da orgia de recíprocos interesses que sustenta as elites políticas também.

Afinal, é desde 2008 que assistimos sempre ao mesmo filme.
A propósito de remake: ao que parece, nos EUA começaram com os mútuos-habitação com taxa fixa de 3%. Outra vez...


Os números

Mas continuemos com números. São os próximos dados pelos quais Obama pode não ser o principal responsável (e não é, em muitos casos), mas que não deixam ser a realidade num País que afirma estar "no bom caminho". 

3.59 Dólares: este é preço médio dum galão de gasolina. Quando Obama entrou na Casa Branca, o mesmo galão custava 1.85 Dólares.

22 %: É difícil de acreditar, mas hoje a taxa de pobreza das crianças que vivem nos Estados Unidos é um gritante 22 por cento .

23: De acordo com a representante no Congresso Betty Sutton, uma média de 23 empresas encerraram definitivamente nos Estados Unidos todos os dias durante 2010.

30 %: Em 2007, cerca de 10 por cento de todos os desempregados americanos tinha ficado fora do mercado do trabalho durante 52 semanas ou mais. Hoje em dia, o número é superior a 30 por cento .

32 %: A quantidade de dinheiro que o governo federal dá directamente aos norte-americanos aumentou 32 por cento desde que Barack Obama chegou à Casa Branca.

35 %: Os preços das habitações nos EUA baixaram 35 por cento desde o pico da bolha imobiliária.

40: A taxa oficial de desemprego dos EUA tem ficado acima de 8 por cento para 40 meses consecutivos.

42 %: De acordo com uma pesquisa, 42 por cento de todos os trabalhadores norte-americanos estão actualmente a viver de salário em salário.

48 %: Neste momento 48 por cento de todos os americanos ou são considerados "de baixa renda" ou estão a viver na pobreza.

49 %: Hoje, um impressionante 49,1 por cento dos americanos mora em uma casa onde pelo menos uma pessoa recebe ajudas do governo.

53 %: No ano passado, um espantoso 53 por cento de todos os licenciados nas faculdades dos EUA abaixo de 25 ou eram desempregados ou subempregados .

60 %: De acordo com uma pesquisa do instituto Gallup, apenas 60 por cento de todos os americanos afirmam terem dinheiro suficiente para viver de forma confortavel.

61%: Nesta altura, a Federal Reserve está essencialmente a monetizar grande parte da dívida nacional dos EUA. Por exemplo, a Fed comprou cerca de 61 por cento de toda a dívida pública emitida pelo Tesouro em 2011.

63 %: Uma recente pesquisa descobriu que 63 por cento (ficheiro pdf) dos americanos acreditam que os EUA modelo económico fracassou.

71 %: Hoje, 71 por cento de todos os proprietários de pequenas empresas acreditam que a economia dos EUA ainda está em uma recessão.

80 %: Em cada ano, os americanos compram 80 por cento de todos os analgésicos vendidos no mundo.

81 %: A dívida relacionada com cartões de crédito entre os americanos na faixa etária de 25-34 anos aumentou 81 por cento desde 1989.

85 %: de todas as árvores de Natal artificiais são feitas na China (eis um caso no qual os americanos estão em atraso: em Portugal já devem rondar 99.9%).

86 %: De acordo com uma pesquisa, 86 por cento dos americanos que trabalham com uma idade de sessenta anos afirmam continuar a trabalhar além do 65 º aniversário.

93: Os Estados Unidos agora ocupam o lugar 93 do mundo em desigualdade de renda.

95 %: A classe média continua a diminuir: 95 por cento dos empregos perdidos durante a última recessão eram empregos da classe média.

107: A cada ano, o americano médio tem de trabalhar 107 dias só para ter dinheiro suficiente para pagar os impostos locais, estaduais e federais.

350: O CEO (executivo) média agora consegue um rendimento que é cerca de 350 vezes do que o trabalhador médio.

400: De acordo com Forbes, os 400 americanos mais ricos possuem mais riqueza do que os restantes 150 milhões combinados .

500: Em algumas áreas de Detroit, no Michigan, é possível comprar uma casa de três quartos por apenas 500 Dólares .

627: Em 2010, a China produziu 627 milhões de toneladas de aço. Os Estados Unidos só produziram 80 milhões de toneladas.

877: 20.000 trabalhadores se apresentaram por apenas 877 postos de trabalho numa fábrica da Hyundai (que é coreana...) em Montgomery, Alabama.

900 %: As exportações de componentes de automóveis da China para os Estados Unidos aumentaram em mais de 900 por cento desde o ano de 2000.

1.580: Quando Barack Obama foi eleito, uma onça de ouro valia cerca de 850 Dólares. Hoje a mesma onça custa mais de 1580 dólares.

1700 %: O endividamento do consumidor nos Estados Unidos aumentou 1700% desde 1971.

2016: As previsões anunciam que a economia chinesa ultrapassará aquela dos EUA no ano de 2016 .

4.155: O agregado familiar americano médio gastou um espantoso $ 4.155 em gasolina durante 2011.

4.300: O valor médio do rendimento familiar real diminuiu 4.300 Dólares desde que Barack Obama chegou à Casa Branca .

6.000: O preço médio de uma casa em Detroit é agora apenas 6.000 Dólares .

10.000: De acordo com o Employee Benefit Research Institute, 46 por cento (ficheiro pdf) de todos os trabalhadores norte-americanos têm menos de 10.000 Dólares guardados para a aposentadoria, e 29 por cento de todos os trabalhadores norte-americanos têm menos de 1.000 Dólares guardados para a aposentadoria.

49.000: Em 2011, o déficit comercial com a China foi 49.000 vezes maior do que era em 1985.

50.000: Os Estados Unidos perderam uma média de 50.000 empregos por mês na indústria desde que a China aderiu à Organização Mundial do Comércio em 2001.

56.000: Os Estados Unidos perderam mais de 56.000 instalações manufactureiras desde 2001.

85.000: De acordo com o New York Times , um Jeep Grand Cherokee que custa 27.490 Dólares nos Estados Unidos, custa cerca de 85.000 Dólares na China graças aos impostos.

175.587: A Administração Obama gastou 175.587 Dólares para descobrir se a cocaína faz com que a codorniz japonesa assuma comportamentos sexuais arriscados.

361.330: Este é o rendimento médio dum banqueiro em Nova York durante o ano 2010.

440.000: Se o governo federal começasse neste exacto momento a reembolsar a dívida nacional a uma taxa de um Dólar por segundo, seriam necessários mais de 440.000 anos para pagá-la totalmente.

500.000: De acordo com o Economic Policy Institute, a América está a perder meio milhão de empregos para a China a cada ano.

2.000.000: A agricultura familiar estão a ser sistematicamente eliminada nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o número de fazendas nos Estados Unidos caiu de cerca de 6,8 milhões em 1935 para apenas 2 milhões hoje.

2.000.000: A dívida nacional dos EUA está a aumentar em mais de 2 milhões de Dólares a cada minuto.

2.600.000: Em 2010, 2,6 milhões de americanos caíram na pobreza . Esse foi o maior aumento desde que o governo começou a manter as estatísticas em 1959.

5.400.000: Quando Barack Obama tomou posse havia 2,7 milhões de desempregados de longo prazo. Hoje são o dobro .

20.000.000: É este o total de Dólares gastos pelo governo dos EUA para criar uma versão de Rua Sésamo para as crianças no Paquistão .

25.000.000: Hoje, cerca de 25 milhões de adultos americanos estão a viver com os seus pais.

40.000.000: De acordo com o professor Alan Blinder, da Universidade Princeton, 40 milhões de empregos nos Estados Unidos podem ser transferidos para o estrangeiro durante as próximas duas décadas, se as tendências actuais continuarem.

46.405.204: O número de americanos que actualmente usufruem dos vales-refeição . Quando Barack Obama entrou na Casa Branca eram 32 milhões.

88.000.000: Hoje existem mais de 88 milhões de americanos em idade activa que não são empregados e que não estão a procura de emprego. Isso é um recorde absoluto.

100.000.000: No geral, existem mais de 100 milhões de americanos em idade activa que actualmente não têm emprego.

2.000.000.000: Dois biliões de Dólares é a quantidade de dinheiro que JP Morgan admitiu perder com os produtos financeiros fracassados. Muitos analistas estão convencidos de que o número real vai ser muito mais elevado .

295.500.000.000: O deficit comercial com a China em 2011 foi de 295,5 bilhões de Dólares . Esse foi o maior défice comercial que um País alguma vez teve com um outro País na história do planeta.

359.100.000.000: Durante o primeiro trimestre de 2012, a dívida pública dos EUA aumentou 359,1 bilhões de Dólares. No mesmo período, o PIB dos EUA só aumentou 142,4 biliões de Dólares.

454.000.000.000: Durante o ano fiscal de 2011, o governo dos EUA gastou mais de 454.000 milhões de Dólares só em juros da dívida nacional.

1.000.000.000.000: O montante total da dívida do empréstimo para estudante nos Estados Unidos ultrapassou recentemente a marca de um trilião de Dólares .

1.170.000.000.000: A China tem hoje cerca de 1.170.000 milhões de Dólares de dívida pública americana. No entanto, o governo dos EUA continua a enviar-lhe milhões de Dólares em ajuda externa a cada ano.

5.000.000.000.000: A dívida nacional dos EUA aumentou em mais de 5 trilhões de Dólares desde o dia em que Barack Obama tomou posse. Em pouco mais de 3 anos, Obama acrescentou mais dívida nacional do que os primeiros 41 presidentes juntos.

15.734.596.578.458,59: Este é o valor da dívida nacional dos EUA a partir de 7 de Junho de 2012 .

200.000.000.000.000: Hoje, os 9 maiores bancos dos Estados Unidos têm mais de 200 triliões de Dólares de exposição em produtos derivativos. Quando esta bolha ruir, não haverá dinheiro suficiente no mundo inteiro para paga-la.

 

Ipse dixit.
*informaçãoincorrecta

Apagão dos transportes em São Paulo não merece editorial?


O Folhão trouxe neste feriado (ontem) um editorial cobrando das autoridades a "precariedade" em que se encontram os aeroportos brasileiros, e das companhias aéreas que cumpram a determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e publiquem em seus portais o percentual de vôos atrasados e cancelados.

O editorial cobra o governo quanto a necessidade de maior fiscalização no setor por parte da ANAC. Até aí, tudo bem, realmente são 33 milhões de passageiros/ano viajando pelos ares, brasileiros que felizmente, agora sim, podem dispor de um transporte, de um benefício antes destinado a poucos. É natural que problemas ocorram e perfeito que o jornal cobre essas mudanças da parte do governo.

Agora, eu fiquei pensando neste conceito de situação de "precariedade". Ela existe não só para os 33 milhões de brasileiros que agora sim podem voar mas, também, para aqueles 4 milhões de paulistanos que dia sim e no outro também sentem na pele precariedade parecida.

Caos nos transportes públicos em São Paulo? Quem disse?
São os que se utilizam do metrô e dos transportes de subúrbio da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que não apenas trafegam como sardinhas em lata pelos trilhos de São Paulo, mas tem que aguentar lentidão e panes sucessivas nos sistemas de trens e metrô, os mais lotados do mundo.

E, mais, trafegam desde o choque dos dois três na Linha 3 do Metrô há duas semanas sob uma grande insegurança, fruto da ineficiência acumulada por sucessivas administrações tucanas ao longo dos últmos 30 anos no Estado. Desconforto, precariedade, insegurança, desrespeito ao trabalhador que precisa chegar no horário ao local de trabalho e merece voltar em segurança para o lar.
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