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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 09, 2012

Os números de Obama

Até algumas semanas atrás, sobretudo quando considerado o fraco desempenho da economia europeia, era realçada a contida mas "prometedora" recuperação dos Estados Unidos e já falava-se dum provável crescimento de 3 % do Produto Interno Bruto, o PIB.

Nesta perspectiva os novos 180.000 lugares de trabalho eram considerados como um resultado excepcional.

No final do mês passado a musica mudou: o cresicmento diminuiu e os novos trabalhos afinal eram apenas...59.000.

Num discurso transmitido em todo o mundo, o simpático Obama culpou os problemas da Europa e a fixação da Alemanha, com a política de austeridade dela, qual "travão" da economia mundial. O que em parte pode bem ser verdade, pois as medidas pretendidas pela simpática Angela Merkel são um suicídio; mas o presidente dos Estados Unidos deveria ter a coragem para ir além disso e falar da desaceleração da economia global (China, Brasil...) e dos problemas americanos. Que não são poucos.

Em primeiro lugar, uma recuperação de cerca 3% para uma economia como aquela dos EUA é um resultado medíocre: historicamente, após as crises os EUA sempre tiveram "saltos em frente" de 5-6%. Além disso, este 3% é o fruto directo da nova "flexibilização quantitativa" (quantitaive easing) da Federal Reserve e dos programas de estimulo para as empresas.
Assim, 3% é menos do que "medíocre".

E as últimas estimativas falam dum fical do ano com um resultado de 1,5%. Isso com uma boa dose de optimismo, pois a realidade poderia ser até pior.
Miserável.

Os novos lugares de trabalho? 180 mil novos empregos, não é?
Nem aqui o resultado poderia ser considerado fabuloso, pois falamos dum País com uma taxa de desemprego (oficial, note-se) de 8-9% e uma população de 313 milhões de pessoas, duas vezes o Brasil. Um País onde por cada trabalho disponível há seis desempregados...

Mas vamos ver um pouco mais de perto estes dados.


Em primeiro lugar, não são absolutamente novos empregos, mas trabalhos onde eram empregados imigrantes (principalmente chicanos, os Mexicanos), forçados a voltar para casa, e onde foram colocados cidadãos americanos.
Demonstração: o PIB nem se mexe, e isso porque não são novos postos de trabalho.

Em segundo lugar, há contractos que tinham expirados em 2012 e que foram um pouco "esticados", tal como outros contractos de 2012 antecipados (e que, portanto, não estarão disponíveis no ano próximo). Por isso, falar de 180.000 (ou mais) novos postos de trabalho não faz muito sentido, se não na óptica pré-eleitoral.

Mas há mais assuntos que preocupam a Administração, e um em particular: o sistema bancário.

Desde o começo da crise, em 2008, mais de 400 bancos já fecharam as portas. Muitos, mas ainda poucos quando comparados com a hecatombe que poderia acontecer.

A crise dos bancos europeus (Espanha, onde estás tu?) ameaça envolver de forma pesada as instituições bancárias americanas, isso por causa do emaranhado de créditos e dívidas partilhadas. Como já tivemso modo de aprender, pensar hoje na economia e na finança como se fossem compartimentos estanques não faz entido: há uma profunda interdependência e um espirro em Hong Kong pode ser ouvido em Wall Street com a força dum trovão.

O sofrimento dum banco europeu (Commerzbank, onde estás?) é indirectamente o mal estar de outros bancos também.

Na Europa os bancos podem contar com a ajuda do Banco Central Europeu, avarento com os Estados mas bem pródigos com as instituições de crédito. Todavia trata-se de medidas que podem ganhar tempo mas que não resolvem os problemas: sem investimentos, a liquidez de hoje será a nova dívida de amanhã.

O simpático Obama foi bom em apresentar resultados medíocres ou até penosos como feitos: a política dele conseguiu ré-financiar os títulos de alto risco que caducavam este ano. Mas, mais uma vez, conseguiu adiar o problema, não resolve-lo.

Seria necessário, não apenas nos Estados Unidos, criar as condições para que possam existir investimentos: retirar o dinheiro da finança e desvia-lo até o mundo da economia real.
Mas para fazer isso seria preciso em primeiro lugar enfrentar as forças financeiras.

E aqui começam os problemas: repensar o papel da finança significa pôr em causa as bases da orgia de recíprocos interesses que sustenta as elites políticas também.

Afinal, é desde 2008 que assistimos sempre ao mesmo filme.
A propósito de remake: ao que parece, nos EUA começaram com os mútuos-habitação com taxa fixa de 3%. Outra vez...


Os números

Mas continuemos com números. São os próximos dados pelos quais Obama pode não ser o principal responsável (e não é, em muitos casos), mas que não deixam ser a realidade num País que afirma estar "no bom caminho". 

3.59 Dólares: este é preço médio dum galão de gasolina. Quando Obama entrou na Casa Branca, o mesmo galão custava 1.85 Dólares.

22 %: É difícil de acreditar, mas hoje a taxa de pobreza das crianças que vivem nos Estados Unidos é um gritante 22 por cento .

23: De acordo com a representante no Congresso Betty Sutton, uma média de 23 empresas encerraram definitivamente nos Estados Unidos todos os dias durante 2010.

30 %: Em 2007, cerca de 10 por cento de todos os desempregados americanos tinha ficado fora do mercado do trabalho durante 52 semanas ou mais. Hoje em dia, o número é superior a 30 por cento .

32 %: A quantidade de dinheiro que o governo federal dá directamente aos norte-americanos aumentou 32 por cento desde que Barack Obama chegou à Casa Branca.

35 %: Os preços das habitações nos EUA baixaram 35 por cento desde o pico da bolha imobiliária.

40: A taxa oficial de desemprego dos EUA tem ficado acima de 8 por cento para 40 meses consecutivos.

42 %: De acordo com uma pesquisa, 42 por cento de todos os trabalhadores norte-americanos estão actualmente a viver de salário em salário.

48 %: Neste momento 48 por cento de todos os americanos ou são considerados "de baixa renda" ou estão a viver na pobreza.

49 %: Hoje, um impressionante 49,1 por cento dos americanos mora em uma casa onde pelo menos uma pessoa recebe ajudas do governo.

53 %: No ano passado, um espantoso 53 por cento de todos os licenciados nas faculdades dos EUA abaixo de 25 ou eram desempregados ou subempregados .

60 %: De acordo com uma pesquisa do instituto Gallup, apenas 60 por cento de todos os americanos afirmam terem dinheiro suficiente para viver de forma confortavel.

61%: Nesta altura, a Federal Reserve está essencialmente a monetizar grande parte da dívida nacional dos EUA. Por exemplo, a Fed comprou cerca de 61 por cento de toda a dívida pública emitida pelo Tesouro em 2011.

63 %: Uma recente pesquisa descobriu que 63 por cento (ficheiro pdf) dos americanos acreditam que os EUA modelo económico fracassou.

71 %: Hoje, 71 por cento de todos os proprietários de pequenas empresas acreditam que a economia dos EUA ainda está em uma recessão.

80 %: Em cada ano, os americanos compram 80 por cento de todos os analgésicos vendidos no mundo.

81 %: A dívida relacionada com cartões de crédito entre os americanos na faixa etária de 25-34 anos aumentou 81 por cento desde 1989.

85 %: de todas as árvores de Natal artificiais são feitas na China (eis um caso no qual os americanos estão em atraso: em Portugal já devem rondar 99.9%).

86 %: De acordo com uma pesquisa, 86 por cento dos americanos que trabalham com uma idade de sessenta anos afirmam continuar a trabalhar além do 65 º aniversário.

93: Os Estados Unidos agora ocupam o lugar 93 do mundo em desigualdade de renda.

95 %: A classe média continua a diminuir: 95 por cento dos empregos perdidos durante a última recessão eram empregos da classe média.

107: A cada ano, o americano médio tem de trabalhar 107 dias só para ter dinheiro suficiente para pagar os impostos locais, estaduais e federais.

350: O CEO (executivo) média agora consegue um rendimento que é cerca de 350 vezes do que o trabalhador médio.

400: De acordo com Forbes, os 400 americanos mais ricos possuem mais riqueza do que os restantes 150 milhões combinados .

500: Em algumas áreas de Detroit, no Michigan, é possível comprar uma casa de três quartos por apenas 500 Dólares .

627: Em 2010, a China produziu 627 milhões de toneladas de aço. Os Estados Unidos só produziram 80 milhões de toneladas.

877: 20.000 trabalhadores se apresentaram por apenas 877 postos de trabalho numa fábrica da Hyundai (que é coreana...) em Montgomery, Alabama.

900 %: As exportações de componentes de automóveis da China para os Estados Unidos aumentaram em mais de 900 por cento desde o ano de 2000.

1.580: Quando Barack Obama foi eleito, uma onça de ouro valia cerca de 850 Dólares. Hoje a mesma onça custa mais de 1580 dólares.

1700 %: O endividamento do consumidor nos Estados Unidos aumentou 1700% desde 1971.

2016: As previsões anunciam que a economia chinesa ultrapassará aquela dos EUA no ano de 2016 .

4.155: O agregado familiar americano médio gastou um espantoso $ 4.155 em gasolina durante 2011.

4.300: O valor médio do rendimento familiar real diminuiu 4.300 Dólares desde que Barack Obama chegou à Casa Branca .

6.000: O preço médio de uma casa em Detroit é agora apenas 6.000 Dólares .

10.000: De acordo com o Employee Benefit Research Institute, 46 por cento (ficheiro pdf) de todos os trabalhadores norte-americanos têm menos de 10.000 Dólares guardados para a aposentadoria, e 29 por cento de todos os trabalhadores norte-americanos têm menos de 1.000 Dólares guardados para a aposentadoria.

49.000: Em 2011, o déficit comercial com a China foi 49.000 vezes maior do que era em 1985.

50.000: Os Estados Unidos perderam uma média de 50.000 empregos por mês na indústria desde que a China aderiu à Organização Mundial do Comércio em 2001.

56.000: Os Estados Unidos perderam mais de 56.000 instalações manufactureiras desde 2001.

85.000: De acordo com o New York Times , um Jeep Grand Cherokee que custa 27.490 Dólares nos Estados Unidos, custa cerca de 85.000 Dólares na China graças aos impostos.

175.587: A Administração Obama gastou 175.587 Dólares para descobrir se a cocaína faz com que a codorniz japonesa assuma comportamentos sexuais arriscados.

361.330: Este é o rendimento médio dum banqueiro em Nova York durante o ano 2010.

440.000: Se o governo federal começasse neste exacto momento a reembolsar a dívida nacional a uma taxa de um Dólar por segundo, seriam necessários mais de 440.000 anos para pagá-la totalmente.

500.000: De acordo com o Economic Policy Institute, a América está a perder meio milhão de empregos para a China a cada ano.

2.000.000: A agricultura familiar estão a ser sistematicamente eliminada nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o número de fazendas nos Estados Unidos caiu de cerca de 6,8 milhões em 1935 para apenas 2 milhões hoje.

2.000.000: A dívida nacional dos EUA está a aumentar em mais de 2 milhões de Dólares a cada minuto.

2.600.000: Em 2010, 2,6 milhões de americanos caíram na pobreza . Esse foi o maior aumento desde que o governo começou a manter as estatísticas em 1959.

5.400.000: Quando Barack Obama tomou posse havia 2,7 milhões de desempregados de longo prazo. Hoje são o dobro .

20.000.000: É este o total de Dólares gastos pelo governo dos EUA para criar uma versão de Rua Sésamo para as crianças no Paquistão .

25.000.000: Hoje, cerca de 25 milhões de adultos americanos estão a viver com os seus pais.

40.000.000: De acordo com o professor Alan Blinder, da Universidade Princeton, 40 milhões de empregos nos Estados Unidos podem ser transferidos para o estrangeiro durante as próximas duas décadas, se as tendências actuais continuarem.

46.405.204: O número de americanos que actualmente usufruem dos vales-refeição . Quando Barack Obama entrou na Casa Branca eram 32 milhões.

88.000.000: Hoje existem mais de 88 milhões de americanos em idade activa que não são empregados e que não estão a procura de emprego. Isso é um recorde absoluto.

100.000.000: No geral, existem mais de 100 milhões de americanos em idade activa que actualmente não têm emprego.

2.000.000.000: Dois biliões de Dólares é a quantidade de dinheiro que JP Morgan admitiu perder com os produtos financeiros fracassados. Muitos analistas estão convencidos de que o número real vai ser muito mais elevado .

295.500.000.000: O deficit comercial com a China em 2011 foi de 295,5 bilhões de Dólares . Esse foi o maior défice comercial que um País alguma vez teve com um outro País na história do planeta.

359.100.000.000: Durante o primeiro trimestre de 2012, a dívida pública dos EUA aumentou 359,1 bilhões de Dólares. No mesmo período, o PIB dos EUA só aumentou 142,4 biliões de Dólares.

454.000.000.000: Durante o ano fiscal de 2011, o governo dos EUA gastou mais de 454.000 milhões de Dólares só em juros da dívida nacional.

1.000.000.000.000: O montante total da dívida do empréstimo para estudante nos Estados Unidos ultrapassou recentemente a marca de um trilião de Dólares .

1.170.000.000.000: A China tem hoje cerca de 1.170.000 milhões de Dólares de dívida pública americana. No entanto, o governo dos EUA continua a enviar-lhe milhões de Dólares em ajuda externa a cada ano.

5.000.000.000.000: A dívida nacional dos EUA aumentou em mais de 5 trilhões de Dólares desde o dia em que Barack Obama tomou posse. Em pouco mais de 3 anos, Obama acrescentou mais dívida nacional do que os primeiros 41 presidentes juntos.

15.734.596.578.458,59: Este é o valor da dívida nacional dos EUA a partir de 7 de Junho de 2012 .

200.000.000.000.000: Hoje, os 9 maiores bancos dos Estados Unidos têm mais de 200 triliões de Dólares de exposição em produtos derivativos. Quando esta bolha ruir, não haverá dinheiro suficiente no mundo inteiro para paga-la.

 

Ipse dixit.
*informaçãoincorrecta

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