NA SOCIEDADE CONSTRUÍDA SOB A ÉGIDE DA VIOLÊNCIA E DA INTOLERÂNCIA, O AMOR E O AFETO DE DOIS IRMÃOS PRECISAM SER ESPANCADOS
Numa noite, pai e um filho foram agredidos porque estavam abraçados; em outra, dois irmãos foram espancados, sendo um morto, por estarem também abraçados.
Nos dois casos, eles foram
confundidos com homossexuais. Isso não são fatos isolados e nem fruto
exclusivo da ignorância dos agressores, que pensaram erroneamente que se
tratavam de relações homossexuais.
As agressões são os resultados
históricos da sociedade sob o mando da intolerância e da violência para a
manutenção da desigualdade. Afinal, que sociedade é essa em que o afeto
e o carinho são transformados em ofensa e o amor se torna insuportável?
Quando nos deparamos com tamanha
barbaridade, ficamos a pensar como as pessoas não percebem que está tudo
errado na sociedade? Como as pessoas não percebem que construímos uma
sociedade de ponta cabeça? Como não percebem que outra sociedade é
possível?
Ficamos a pensar como as pessoas se
convencem de que as coisas são assim mesmo? Como elas se convencem de
que não há nada a fazer? O que faz com que as pessoas pensem que não há
solução? Como não lhes parece tão evidente que certos grupos sociais se
beneficiam da sociedade da violência? Como não lhes parece evidente que
os que dificultam avanços são os responsáveis pela situação?
A sociedade da violência é uma
sociedade animalizada, onde a razão presente no ser humano está a
serviço da violência. A primeira violência é a manutenção da
desigualdade social, levando pessoas a viverem em condições sub-humanas,
diante de uma estrutura de opulência. As violências continuam com um
sistema de saúde péssimo diante de uma sociedade perdulária e luxuosa. A
violência persegue numa educação ruim, sem investimento, sem afeto, uma
educação instrumental e imbecilizada pela objetividade do sucesso
profissional. A violência continua na manutenção e sustentação da
desigualdade por empresas de mídia que se beneficiam da associação com
políticos conservadores e mantenedores dessa desigualdade.
A sociedade brasileira foi construída
sob a égide da violência. A violência é legitimada em todos os
sentidos, nas delegacias, na justiça, na legislação, na mídia. Isso fica
explícito quando os crimes contra a vida são muito menos esclarecidos
do que os crimes contra o patrimônio, quando não se investe em educação e
saúde ou quando não se pune os drogados pelo dinheiro.
A sociedade é violenta porque a
violência é a única maneira de se sustentar a desigualdade social,
econômica e cultural. É por isso que as pessoas não se indignam, porque
sabem que podem sofrer com isso, serem agredidas, violentadas. O que foi
a ditadura militar brasileira, tão festejada pelos meios de comunicação
na época? Nada mais do que uma forma violenta de impedir que a
desigualdade fosse diminuída e isso prejudicasse o interesse de setores
da sociedade, setores que precisam da violência como padrão social de
sustentação de privilégios.
É dito popular afirmar que agredir
fisicamente outra pessoa é “partir para a ignorância”. Da mesma forma, o
político que prioriza a ação policial é o político que prefere partir
para a ignorância. É fácil notar quando o político é um ignorante e
representante da violência para manter a desigualdade. O foco é sempre a
necessidade de mais policiamento, de mais investimento em segurança
pública, de mais armas para a polícia, é preciso pulso firme, etc etc
etc… Quando menos investe em educação, saúde e combate a desigualdade
econômica e social, mais ignorante é o político. Ou seja, é um
reprodutor da violência.
A violência contra o amor, o afeto e o
carinho é uma construção social que, para alguns setores privilegiados
da sociedade, vale a pena manter.
*Educação Política:
Nenhum comentário:
Postar um comentário