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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 25, 2012

Harris defende a substituição das religiões pelo autoconhecimento

Sam Harris é o ateu mais temido por religiosos dos EUA, diz revista


Sam Harris, neurocientista
Harris defende a substituição das
religiões pelo autoconhecimento
O neurocientista e filósofo Sam Harris (foto), 45, é o ateu mais temido pelos líderes religiosos dos Estados Unidos por sua habilidade na contestação das  crenças com o uso de argumentos extraídos da ciência. É o que diz o site judeu Tablet como introito de uma longa entrevista com Harris.

Filho de mãe judia e de pai Quaker, Harris é, na atualidade, um dos Cavaleiros do Ateísmo, ao lado do britânico Richard Dawkins e do americano Daniel Dennet.

Nos Estados Unidos, o mais temido ateu era o afiado Christopher Hitchens, jornalista e escritor que morreu aos 62 anos em dezembro de 2011 vítima de um câncer. Pelo que Tablet diz, o título de enfant terrible dos ateísmo nos EUA é agora de Harris.

De acordo com o site, Harris tem pouca paciência com líderes religiosos cristãos, como Rick Warren (tido como o pastor de maior prestígio nos Estados Unidos), e com fundamentalistas islâmicos, além dos esquerdistas seculares que têm simpatia pelo Hamas e seus congêneres.

Tablet destacou que os questionamentos de Harris aos religiosos em debates públicos são tão enfáticos, que ele tem sido com frequência alvo de ameaças de morte por parte de fiéis.

O neurocientista se especializou em polêmica, disse o site. “Ele é engraçado, lógico, destemido e às vezes impulsivo”, afirmou, acrescentando que também possui a “qualidade rara” de admitir estar errado, se alguém demonstrar haver falha no seu argumento.

Harris é o autor, entre outros, do livro “A morte da Fé” (R$ 55, Companhia das Letras), onde defende a substituição das religiões organizadas pelo autoconhecimento. Para ele, essa é a única saída que se vislumbra nesse início do milênio para a humanidade, é a único caminho possível para a felicidade.

Ele é defensor da polêmica ideia de que a ciência pode deixar de ser neutra e se tornar fonte de padrões de moralidade, substituindo a religião na função de estabelecer o que é bom ou mau. A vantagem da “ciência da moralidade”, segundo ele, é que ela não ignora os sofrimentos humanos, diferentemente do que ocorre com as religiões, que chegam inclusive a incentivá-los.

Tablet lembrou que Harris começou a estudar as religiões aos 13 anos de idade, quando o seu melhor amigo morreu em um acidente de bicicleta, e ele se perguntou o que vem após a morte. Leu sobre as crenças religiosas, inclusive as orientais — viajou para Índia e Nepal, onde estudou meditação com mestres budistas. A conclusão de Harris é que não existe absolutamente nada após a morte.

Para ele, a ideia da existência de um ser onisciente que exige obediência de seus seguidores em troca de promessa de vida após a morte é uma grande besteira com consequências danosas, porque tem patrocinado guerras e ignorância, entre outros males.

David Samuels, colaborador de Tablet, perguntou a Harris por que ele, como neurocientista e ateu, ocupa tanto o seu tempo com as religiões.

Harris citou um exemplo para responder que hoje em dia essa é uma questão que interessa a todos. “Se você tiver um motorista que acredita no poder da oração, a ponto disso afetá-lo em suas decisões, ele poderá de vez em quando tirar as mãos do volante por acreditar que Jesus está no controle de tudo", disse. "Essa pessoa é perigosa, [...] e nós precisamos falar sobre isso.”

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Paulopes

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