Afinidade entre Brasil e Argentina nunca foi tão grande como agora; lá,
Cristina Kirchner se reelegeu com 70% dos votos, percentual semelhante
ao dos brasileiros que, hoje, aprovam o governo Dilma; é a volta do
efeito Orloff?
Na história de Brasil e Argentina, criou-se o mito do efeito Orloff: o
que lá acontecia, pouco tempo depois se repetia no Brasil. Na década de
80, os argentinos fizeram, com Raul Alfonsín, um plano para estabilizar a
economia, que, no Brasil, foi copiado por José Sarney com o Cruzado –
ambos fracassaram. Na de 90, eles dolarizaram a economia com Carlos
Menem e a ideia foi levada ao então presidente Fernando Collor pelo
economista André Lara Resende – como Collor caiu antes, o Brasil escapou
da feitiçaria.
Agora, Brasil e Argentina vivem momento de rara sintonia, com as
presidentes Cristina Kirchner e Dilma Rousseff. Mais do que líderes de
nações que se complementam economicamente, as duas são amigas pessoais. E
têm conduzido agendas que, em vários pontos, são convergentes. Um
exemplo é a Comissão da Verdade. Na Argentina, onde a ditadura foi mais
aguda do que no Brasil, as punições também têm sido mais severas – lá,
torturadores e até generais já foram julgados. Aqui, Dilma tem adotado
uma posição mais cautelosa.
Na economia, no entanto, ambas têm dado demonstrações de coragem. O
grande ato de Cristina foi a retomada do controle da petroleira YPF das
mãos da espanhola Repsol – o que foi aprovado por praticamente toda a
população argentina. No Brasil, Dilma conheceu hoje os resultados de uma
pesquisa que ampliou seus índices de aprovação pessoal e isso foi
motivado – em grande medida – por sua decisão de abrir guerra aos juros
altos cobrados pelas instituições financeiras.
Hoje, Dilma é aprovada
por 72% dos brasileiros e 77% avalizam o seu governo. Isso significa
que ela tem grandes chances de obter uma reeleição consagradora em 2014,
nos moldes da obtida por Cristina no ano passado – onde ela obteve 70%
dos votos. Há, portanto, grandes chances de que o efeito Orloff se
repita.
Mas muitos eleitores de Dilma, mais à esquerda, gostariam que ela se
mirasse ainda mais no exemplo de Cristina. Além de punir generais e
torturadores, a presidente argentina avançou mais em outros pontos, como
na agenda da democratização dos meios de comunicação com a sua Ley de
Medios. Uma lei que impede a concentração da propriedade da mídia nas
mãos de poucas famílias, o que abriu uma guerra com o grupo Clarín.
Aqui, embora um projeto nesses moldes tenha sido elaborado pelo
ex-ministro Franklin Martins, ele foi engavetado por Paulo Bernardo.
De todo modo, a agenda argentina aos poucos se impõe no continente. Foi
Cristina quem, hoje, em Mendoza, anunciou o ingresso da Venezuela no
Mercosul. E partiram também da chancelaria argentina as posições mais
duras em relação ao evento ocorrido no Paraguai na semana passada. Sem
meias palavras, Cristina tratou como “golpe” a deposição de Fernando
Lugo.
À sua maneira, mais discreta, Dilma tem parecido concordar com as
posições argentinas. O Brasil é o gigante regional, mas os dois países
hoje falam a mesma língua. E Cristina fala mais.Brasil 247
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