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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 17, 2012

Ditadura brasileira soube do golpe contra Allende um mês antes

General Costa e Silva e Lyndon Johnson, servo e senhor, lado a lado
Brasília - Documentos secretos do Itamaraty, agora abertos à consulta pública no Arquivo Nacional, comprovam que a ditadura brasileira sabia que iria ocorrer um golpe de estado no Chile mais de um mês antes do presidente Salvador Allende ser deposto, em 13 de setembro de 1973. E reforçam a tese defendida por pesquisadores da Operação Condor de que os militares brasileiros e seus aliados civis foram, ao lado dos Estados Unidos, os principais articuladores do golpe que derrubou o primeiro presidente socialista eleito pelo voto popular no mundo. 

Os documentos foram produzidos pelo Centro de Informações do Exterior (Ciex), o serviço secreto criado pelo Itamaraty em 1966 para auxiliar a ditadura brasileira a combater o chamado “perigo vermelho”. Além de demonstrarem a proximidade entre a diplomacia brasileira e os militares golpistas chilenos, revelam que os exilados e banidos brasileiros no Chile tiveram todos seus passos monitorados pelo Ciex, a serviço do Serviço Nacional de Informação (SNI), o temido órgão central de inteligência do governo ditatorial.
No dia 8 de agosto de 1973, 35 dias antes do golpe, o Informe nº 389, não assinado, alertava a ditadura brasileira de que os altos chefes militares chilenos haviam realizada uma reunião secreta, seis dias antes, na base aérea El Bosque, em Santiago, para examinar “as várias medidas adotadas pelos militares brasileiros quando da revolução de 31 de março de 1964, a fim de determinar em que tal experiência poderia ser útil ao Chile”. Conforme o documento, eles discutiram também a conjuntura chilena e o papel das forças armadas do país perante a crise. 
Pelo relato do Ciex, estiveram presentes à reunião o comandante-chefe da Força Aérea Chilena, general-aviador Cesar Ruiz, o comandante da 1ª Zona Naval, Ernesto Jobet, representando o vice-almirante José Turíbio, e o diretor da Aviação Naval, comandante Ernesto Huber Von Hapen, além de diversos oficiais reformados da Marinha e da Aeronáutica. Ruiz havia afirmado que o Chile “estava sob o fio da navalha” e que a adesão a um possível golpe militar se alastrava pelas forças armadas.

No informe, os diplomatas brasileiros avaliam que, desde que começaram a discutir um possível golpe contra o “governo marxista de Allende”, as forças armadas chilenas sempre respeitaram a hierarquia militar e procuraram firmar a maior coesão possível entre elas para derrotar o presidente marxista. 
O documento termina elogiando uma entrevista coletiva concedida à imprensa chilena pelo general Alfredo Canales, que lançara as bases para a constituição da Junta Unificadora Nacional (JUN), o partido político que viria a dar sustentação à ditadura. Segundo o informe, “essa coroação pode servir para coroar os esforços, até aqui desenvolvidos clandestinamente, de motivar os militares para uma intervenção contra o governo marxista de Salvador Allende”. Ao final, o Ciex registra a seguinte nota: “O presente informe não poderá ser difundido para serviços de informações estrangeiros”. 
No mesmo dia, o Ciex emitiu o Informe nº 390, sobre o agravamento da situação no Chile. “Mais uma vez, em menos de 60 dias, a situação política chilena torna-se gravíssima. O governo parece ter perdido virtualmente o controle do país”, diz o documento. De acordo com o Itamaraty, o fracasso das conversações entre Allende e o presidente do Partido Democrata Cristão (PDC), a continuidade da greve nos transportes, a anunciada adesão do comércio à paralisação e a escalada terrorista, que teria somado mais de 200 atentados nos últimos 15 dias, seriam o pano de fundo para a crise. 
O Informe relata ainda que Allende estaria planejando realizar uma reforma ministerial para incluir militares no seu staff, como forma de responsabilizá-los pela manutenção da ordem no país. Para o Itamaraty, a medida prejudicaria uma possível “intervenção” (termo a que se referiam ao golpe). 

Após relatar o desgaste do governo perante os militares, com a antecipação da reforma de dois generais e outras medidas, o documento do CIEX alerta que circulam boatos de que o golpe poderá ocorrer nas próximas 24 horas. 

No dia seguinte, o Informe nº 393 se desculpa pelas informações contraditórias do dia anterior, justificadas pelo “rápido desenrolar dos acontecimentos”. Relata que, de fato, conforme antecipado, foram designados quatro militares para os cargos de ministros de estado. Um deles era o próprio o comandante-chefe da Força Aérea Chilena, general-aviador Cesar Ruiz, que havia participado da reunião secreta para discutir o golpe, no dia 2. 
E mesmo apesar dos militares terem aceitado integrar o staff do governo socialista de Allende, o documento era taxativo: “atualmente existe um verdadeiro consenso da oficialidade das forças armadas chilenas no sentido de que a única solução para o país é a intervenção militar, porém o problema continua sendo o de uma liderança efetiva para o movimento”. O Itamaraty avalia, também, que a falta de uma liderança era o motivo pelo qual, desde a tentativa frustrada de golpe em junho, três outras rebeliões estiveram a ponto de estourar, mas foram abortadas. 

Os documentos não fazem nenhuma referência ao general Augusto Pinochet, que viria a ser a principal liderança do golpe. tido até então por muitos como pessoa ligada à Allende.

O documento também tece comentários sobre a situação econômica do Chile e a criação da JUR. “É inevitável concluir que um movimento armado contra o governo marxista de Salvador Allende é inevitável, porém tanto poderá ocorrer nos próximos dias como em um prazo mais longo”.
No dia 13 de agosto, exato um mês antes do golpe, o Informe nº 396 levanta a insatisfação das forças armadas chilenas com a nomeação dos quatro militares para o staff do governo. “Consideram os militares que Allende teria, com esta manobra, visado a um duplo objetivo: ganhar tempo para que as esquerdas continuem se fortalecendo e provocar a desmoralização das forças armadas”, diz o documento. 

Segundo o Itamaraty, a impressão predominante nas forças armadas chilenas é que os ministros militares nada poderão fazer para resolver a crise chilena e que, procurando tomar medidas acertadas, tudo o que lograrão é desgastar ou comprometer as devidas forças. “Por isso mesmo, a única solução para o problema chileno é o golpe militar, ao qual só o Exército ainda se mostra, em parte, hesitante”, defende. 
O Informe nº 402, de 20 de agosto, é decisivo para demonstrar a proximidade das autoridades diplomáticas brasileiras e os militares insurgentes, que planejavam o golpe. O nível de detalhamento das informações obtidas pelo Itamaraty é revelador. O documento relata o agravamento da crise, com o pedido de demissão do general Cesar Ruiz do cargo de ministro de Obras Públicas. 

Segundo o Ciex, era possível observar forte inquietação na marinha e na aeronáutica. A exceção era o exército chileno, em função do forte respeito hierárquico a figura do general Carlos Pratz e outros cinco ou seis generais simpatizantes do regime ou defensores da tese legalista. “Diante desta quadro, fontes idôneas e bem situadas consideram possível um desenlace nos próximos dias, podendo culminar com a queda do governo Allende”. 
Monitoramento dos exilados
Outro Informe, produzido no dia seguinte, demonstra que o Itamaraty mantinha total controle das atividades dos exilados e banidos brasileiros que, à época, vivam no país. O Informe nº 404 relata que, durante as 48 horas que precederam a posse do novo ministério, toda a esquerda chilena em condições de atuar fora mobilizada para evitar uma nova tentativa de golpe contra Allende. 
O documento afirma também que, segundo alguns asilados brasileiros ligados ao Partido Comunista Chileno (PCCh), a tática do partido à época era tentar equilibrar a situação, pelo menos pelos próximos seis meses, porque a pior crise econômica estaria por vir, em novembro próximo. Ainda segundo o informe, após fevereiro de 1974, haveria um alívio considerado, devido à ação do governo. Os brasileiros responsáveis pelas informações grampeadas seriam Almino Afonso, Ulrich Hoffman reger e Armando Ziller. 
O Informe observava ainda que a tática do Partido Socialista (PS) era 
reprimir os militantes de ultraesquerda para justificar a repressão também contra a direita. O comunicado atribui à deputada Carmem Lazo a avaliação de que, se Allende superar 1973, o ano seguinte seria bem mais tranquilo e a Unidade Popular (UP) poderia vencer as eleições de 1976, tendo a sua frente uma figura como o general Carlos Pratz ou Gabriel Valdez (PDC). Ambos de tendências constitucionalistas. A UP foi a coalizão de esquerda que elegeu Allende e deu sustentação ao seu breve governo.
Participação brasileira

O médico e político Salvador Allende foi eleito presidente do Chile em outubro de 1970. Governou com muita dificuldade até 11 de setembro de 1973, quando foi deposto por um golpe de estado comandado por seu chefe das forças armadas, Augusto Pinochet. Morreu no Palácio de La Moneda, durante a invasão das tropas ditatoriais. Até hoje não se sabe se foi assassinado ou se teria cometido suicídio.
A participação do Brasil no golpe é defendida por pesquisadores como a jornalista e escritora chilena Mónica Gonzalez, autora do livro “La Conjura - Os Mil e Um Dias do Golpe”, o ex-assessor de Allende e atual diretor do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD), Heraldo Muñoz, autor de “A Sombra do Ditador - Memórias Políticas do Chile sob Pinochet”, e o historiador brasileiro Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, autor de “Fórmula para o Caos”. 
Nessas obras, os autores relatam a intensa relação entre o embaixador brasileiro no Chile à época, Antônio Castro de Alcântara Canto, com os militares golpistas. Há denúncias de que reuniões preparativas para o chegaram a ocorrer na sede da embaixada brasileira e de que Castro foi o único brasileiro presente à posse de Pinochet, entre outras evidências.
No Seminário Internacional sobre a Operação Condor, realizado pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, na Câmara, no mês passado, Mónica Gonzalez cobrou do governo brasileiro a apuração sobre a participação do país no golpe. “Nós sabemos foram os empresários brasileiros que financiaram a junta militar responsável pelo golpe. E que as primeiras armas que chegaram ao Chile para apoiar Pinochet saíram do Exército brasileiro. Queremos que essa história seja esclarecida e os culpados, punidos”, reivindicou.

FONTE: Carta Maior
 

segunda-feira, julho 16, 2012

Convido a todos para no dia 24 de julho, às 10h irem ao Páteo do Colégio, em Ato Público pela Lei de Cotas, que fará 21 anos.


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  • Group: EMPREGABILIDADE DE PESSOAS COM DEFICIENCIA
  • Subject: Aniversário da Lei de Cotas, 24 de julho! ! !
Convido a todos para no dia 24 de julho, às 10h irem ao Páteo do Colégio, em Ato Público pela Lei de Cotas, que fará 21 anos.

Faltam preencher 700mil empregos pela Lei de Cotas no Brasil.
Quem é a favor desta AÇÂO AFIRMATIVA precisa ir.

Abraços!
Roque
 


Golpe paraguaio e América dividida

Por Hugo Albuquerque, no sítio Outras Palavras:
Nessa última terça, (10/7), a Organização dos Estados Americanos (OEA) realizou uma sessão extraordinária para debater como reagir diante da situação no Paraguai, mas não chegou a conclusão. O país sul-americano entrou na pauta dos principais blocos e organizações do continente depois que um processo de impeachment, votado de forma relâmpago e afastando qualquer possibilidade de defesa, destituiu o presidente Fernando Lugo. Um típico caso de golpe branco, no qual tanques e aviões deram lugar ao parlamento e a togas.

A Veja e a trama do mensalão


*Miro

Por que a Globo é mesmo ridícula ? - "entrevista" de Rosane Collor ao “Fantástico” é uma ducha de água fria

Rede globo - mais uma vez - subestima telespectadores e pariu uma matéria velha como se nova fosse


Ninguém discute que Rosane Collor seja uma personagem interessante para um programa dominical na televisão. O que espantou em sua aparição no “Fantástico” foi a tentativa de transformação de uma entrevista sem maiores novidades num evento de enorme importância.
Anunciada pela Globo desde a sexta-feira, e deixada para ser exibida no final do programa, depois de uma dezena de chamadas, a entrevista foi uma ducha de água fria.
“Revelações inéditas que confirmam boa parte do que Pedro Collor, o irmão de Fernando Collor, disse há 20 anos…”, afirmou a repórter Renata Ceribelli logo no início, deixando claro que não haveria nada de novo na entrevista.
Os primeiros dez minutos do encontro, que durou 25, foram dedicados à amplificação de uma história já conhecida sobre rituais de “magia negra” realizados na casa de Fernando Collor em Brasília, à época em que era presidente da República.
Como lembrou o próprio “Fantástico”, tanto Pedro Collor quanto a “feiticeira” que os realizou já haviam falado destes rituais em entrevistas. “Então no livro você vai falar justamente dos rituais que ele não gostaria que fossem contados?”, perguntou Ceribelli, ajudando a demonizar a prática e extraindo de Rosane a informação que houve trabalhos em cemitérios e sacrifícios de animais.
Um dos momentos mais comentados e engraçados da entrevista deu-se quando Rosane disse: “Não acredito em coincidência, acredito em jesuscidência”. Quem assistiu, porém, a entrevista dada a Eliane Trindade, exibida pela TV Folha em maio, notou que a frase, na verdade, é um bordão que ela repete com frequência.
Naquela entrevista, a ex-primeira-dama falou que tem interesse em disputar uma cadeira no Congresso, tema que não foi abordado no “Fantástico”.
Para Ceribelli, Rosane entrou em detalhes sobre a notória relação de Collor com PC Farias, tesoureiro de sua campanha, e sobre o medo que tinha que o então marido cometesse suicídio depois que o Congresso aprovou o processo de impeachment – uma revelação que o próprio ex-presidente fez ao “Fantástico” em 2005, como foi lembrado.
A maior novidade foi deixada para o 25º minuto da entrevista. Rosane Collor revelou que recebe R$ 18 mil de pensão do ex-marido, mas reivindica uma revisão deste valor na Justiça. Citou uma amiga recém-separada, cujo marido não é ex-presidente nem senador, que recebe pensão de R$ 40 mil.
Mauricio Stycer 
*MilitânciaViva 
O que justifica a reportagem, na verdade, não é nada mais do que a necessidade de atacar o agora inimigo Fernando Collor de Mello.
A marcha que nunca foi para Jesus!







A marcha que nunca foi para Jesus!
No próximo final de semana em São Paulo, vai acontecer mais uma edição da Marcha para Jesus. Este evento espalhou-se pelo Brasil de forma gradativa e hoje faz parte do calendário de várias cidades.
No Brasil, o evento começou a ser realizado em terras Pauliceias no ano de 1993, organizado pela Igreja Renascer em Cristo através de seus líderes, o “Apóstolo” Estevão Hernandes e “Bispa” Sônia Hernandes, ambos conhecidos internacionalmente após sérios problemas com a justiça brasileira e americana, em razão de suas respectivas infrações contravencionais. Além disso, são conhecidos por serem expoentes do neopentecostalismo, bem como por pregar as perniciosas doutrinas da restauração apostólica triunfalista e teologia da prosperidade.
Há muitos anos, este evento vem sendo questionado por muita gente, em decorrência de ser organizado por uma única denominação com pessoas duvidosas à frente, bem como pelas práticas e resultados negativos de tais manifestações públicas.
Antes de qualquer análise, é importante salientar a origem de tais eventos. O modelo original da Marcha para Jesus que a Igreja Renascer copiou é tão questionável quanto a existente em nosso país. Aliás, infelizmente no Brasil já é tradição a importação de movimentos controversos de outros países.
O conceito “Marcha para Jesus” começou na Inglaterra em meados de 1987, através de uma ação ecumênica entre protestantes e católicos de Londres. A organização foi iniciativa dos líderes carismáticos Britânicos Gerald Coates, Roger Forster, Lynn Green e Graham Kendrick. Segundo eles, a passeata pública foi feita para demonstrar a “unidade entre a Igreja” e expressar a fé cristã para a sociedade, bem como promover atos proféticos de batalha espiritual contra espíritos territoriais malignos, dominantes da Europa secularizada.
O que muitos não sabem é que estes líderes britânicos são adeptos de práticas neopentecostais controvérsias e de conceitos anti-bíblicos. Para se ter uma idéia, um dos idealizadores da Marcha é Gerald Coates, famoso carismático liberal Britânico, que tem como referência nada menos que Rodney Howard-Browne, Benny Hinn e Kenneth Copeland.
Coates nega abertamente a inerrância e suficiência das Escrituras, defende a benção de Toronto e o derramamento de Pensacola como “mover” do Espírito Santo, utiliza como fontes de ensino a espiritualidade Celta, além de emitir falsas profecias e apoiar falsos profetas como Paul Cain.[1] Lynn Green é um carismático ecumênico que defende a unificação doutrinária das religiões monoteístas, principalmente entre católicos e protestantes.[2] Roger Forster é um carismático controverso, árduo defensor da batalha espiritual e da luta contra espíritos territoriais malignos, através de atos proféticos e outras práticas místicas.[3] Por fim, Graham Lendrick é um ministro de louvor carismático, autor de músicas com letras teologicamente questionáveis, também defende o ecumenismo, a benção de Toronto e é adepto da confissão positiva.
Com estas informações, podemos ter uma ideia do que conceitua-se a original Marcha para Jesus. Entretanto, no Brasil o problema é muito mais grave.
Como todo ano, o evento reúne diversas denominações evangélicas, reunidas em uma grande procissão pelas ruas da capital paulistana. Mas qual o objetivo desta Marcha para Jesus no Brasil?
Segundo o “presidente” da Marcha para Jesus, “Apóstolo” Estevam Hernandes, “a Marcha Para Jesus não foi criada para exaltar nenhum homem, é a expressão do mover do Espírito Santo e um ato proférico!“(sic).[4] Frase contraditória, pois se Estevam é o presidente da Marcha para Jesus, automaticamente o mesmo será exaltado de alguma forma! Ora, presidente é aquele que exerce uma liderança máxima, que ordena, que delega, que dá a palavra final e que sanciona. Nem mesmo os líderes de outras denominações presentes na marcha possuem autoridade sobre o evento, quem dá as cartas é o líder da Renascer. Além do mais, todos sabem que os discípulos da Igreja dos Hernandes “lutam e morrem” por eles, tendo em vista o famoso jargão popularizado na época da prisão dos líderes da Renascer: “Espada pelo Apóstolo e pela Bispa!
A justificativa para o “fundamento espiritual” do evento é pior ainda, vejamos:
A Marcha tem como fundamento bíblico as passagens de Êxodo 14, Josue 6 e João 13:35 [...]Todos os anos, a Marcha para Jesus têm revelado – em âmbito mundial – o poder e a misericórdia de Deus aos homens. Milhares de pessoas são curadas, libertas e restauradas.”[5]
Francamente, citar passagens do Antigo Testamento não justifica a realização da Marcha para Jesus. As “marchas” do povo Hebreu não tinham como alvo evangelizar ou curar, mas eram marchas de guerra, para conquistar povos ou exterminar inimigos, conforme a vontade de Deus naquela época. No Êxodo, o que ocorreu foi um livramento específico de Deus para com o povo Hebreu e não uma procissão evangelística. É totalmente anti-bíblico alegorizar tais passagens Veterotestamentárias como se o povo Israelita estivesse marchando para fora do Egito e para Canaã, de caras pintadas, com bandeiras e faixas, os levitas fazendo shows gospel com seus respectivos instrumentos, com o objetivo de “ganhar” para o Deus de Israel os egípcios e os cananeus!
Imaginem então, tomar de forma literal o texto de Josué 6 para os dias de hoje! Já que é para literalizar o texto, então os “marchadores” devem também tocar trombetas, marchar em volta da cidade sete vezes (não somente uma dentro da cidade), ficar silenciosos (sem trios elétricos, sem gritos e sem triunfalismos) nas seis primeiras voltas e só gritar na sétima.
O interessante é que não vemos em nenhum lugar no Novo Testamento a ordem evangelística de marchar para Jesus, ou no Antigo Testamento para Deus, muito menos nas literaturas dos pais da Igreja, reformadores, missionários e evangelistas por toda a história. Não há, absolutamente, nenhum fundamento espiritual cristão para se praticar marchas evangelísticas. Na verdade, eu não consigo imaginar como alguém pode se converter em um evento como este.
Além do “presidente” da Marcha para Jesus em destaque, também são destacados os trios elétricos que puxam a “micareta gospel”, ao som de músicas triunfalisticamente antropocêntricas, preparadas cuidadosamente para massagear o ego dos participantes em detrimento do evangelho que confronta o caráter. Uma “musicalidade” com direito ao melhor do gospel atual: funk, axé, pagode e até reggaeton! Aí eu pergunto: A conversão vem através do ato de levantar a mão e ir até a frente do trio em resposta a um apelo feito neste ambiente? É no mínimo questionável esse tipo de evangelismo, pois a palavra quase não é proclamada devido ao foco na euforia festiva, salvo raras exceções quando é falada ou cantada, mas de maneira superficial e distorcida, onde não há entendimento profundo das Escrituras.
Por falar em trio elétrico, muitos vêem os mesmos como uma grande oportunidade de promover seus interesses particulares. Afinal, trata-se de um evento com participação popular de mais de três milhões de pessoas em média. A ocasião é perfeita para os manipuladores de massa de manobra, principalmente políticos, dos quais com certeza vão aproveitar a véspera de ano eleitoral para articular alianças com o “povo gospel”.
O que falar do misticismo, dos atos proféticos, do triunfalismo apostólico exclusivista e das profetadas que nunca se cumprem, dentre outros absurdos que testemunhamos todos os anos nesses eventos? Em 2008, eu postei no meu blog alguns atos anti-bíblicos praticados na respectiva marcha. Pessoas anotavam pedidos e dificuldades num papel, colocavam o mesmo dentro dos calçados com o intuito de “marchar” em cima para quebrar as maldições escritas no papel, profetizando a conquista de seus recpectivos pedidos (veja aqui). Ou seja, um ambiente neopentecostal, antropocêntrico em sua essência, onde é potencializada as mais variadas práticas místicas e anti-bíblicas que se pode inventar.
Posto isso, infelizmente concluo que a Marcha para Jesus no Brasil tornou-se num evento com quatro objetivos principais:
1 – Competir com a “marcha do orgulho gay” em termos numéricos;
2 – Servir como trampolim para promoção de cantores, líderes e políticos “gospel”;
3 – promover o comércio milionário de produtos/serviços gospel;
4 – Ser um transtorno para a ordem da cidade, por conta da perturbação do sossego público e do bloqueio ao trânsito, afastando as pessoas do evangelho, bem como envergonhando os cristãos que não compactuam com o evento.
O meu desejo é que o povo acorde de toda essa utopia prisional, que Cristo não seja utilizado como cabo eleitoral de algum político e que o cristianismo deixe de ser um trampolim para o sucesso de alguém. Marchemos pela ética evangélica brasileira!
Soli Deo Gloria!
Notas:
1 – Para saber mais sobre quem são os fundadores da Marcha pra Jesus em Londres, veja estes links: http://op.50megs.com/ditc/coates.htm , http://www.christian-witness.org/archives/van1997/gcoates_1.html e http://www.christian-witness.org/archives/cetf1998/brotherandrewdoor.html .
2 – Ibid.
3 – Ibid.
4 – http://www.marchaparajesus.com.br/2012/marcha.php
5 – Ibid.
*Mariadapenhaneles

Marcha para Jesus em SP teve apenas 335 mil participantes


Marcha para Jesus de 2012 em São Paulo
Número apurado pelo instituto desmente Hernandes,
que tinha anunciado 5 milhões de participantes
A Datafolha apurou que a Marcha para Jesus realizada no sábado em São Paulo teve 335 mil participantes, bem menos, portanto, do que os 5 milhões anunciados por Estevam Hernandes, da Igreja Renascer e organizador do evento. Na estimativa feita no dia pela Polícia Militar, a marcha reuniu 1 milhão de pessoas. 

Pelos dados do instituto de pesquisa, apenas 28 mil pessoas participaram de todas as atividades da marcha, que começou às 10h no centro, perto da estação da Luz, indo até a praça Heróis da FEB, na zona norte, onde houve shows de música gospel até as 22h.

Foi a primeira que a marcha teve seu público medido por critérios científicos. Ao longo dos 2,85 km do percurso, o Datafolha contou com 71 pesquisadores.

A mesma metodologia foi usada pela primeira vez na Parada Gay paulistana em junho, registrando a presença de 270 mil pessoas, e não os “milhões” propagados pelos organizadores.

Na comparação entre os dois eventos, a marcha teve apenas 65 mil pessoas a mais que a parada.

Quando o Datafolha anunciou o número de participantes da parada, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, comemorou: "A verdade está aí, nua, crua e patente". O seu site de notícias, o Verdade Gospel, afirmou que "a casa caiu: a mentira gay desmascarada".

Por esse mesmo tom de avaliação, é possível dizer, também, que "a mentira evangélica foi desmascarada".

Com informação da Folha de S.Paulo.

Gays sempre mentiram sobre a parada, afirma Malafaia.
junho de 2012

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz20pC01teI
Paulopes

D.Eugenio Sales: UM CARDEAL SEM PASSADO



José Ribamar Bessa Freire
O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugenio Sales, ocorrida na última segunda-feira, com direito à pomba branca no velório, me fez lembrar o filme alemão "Uma cidade sem passado", de 1990, dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim construída, como um instrumento de controle e coerção.
O filme
Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é "Minha cidade natal na época do III Reich". Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing - como é denominada no filme - considerada até então baluarte da resistência antinazista.
Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de memória - o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal Pfilzinger Morgen - fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas esfarrapadas. Ninguém quer que uma "judia e comunista" futuque o passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais. Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo. As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos sem sentido.
A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais, que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém, de que debaixo daquele angu tinha caroço - perdão, de que sob aquele chucrute havia salsicha - resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos.
Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação. Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo, havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, forjando um passado que nunca existiu.
Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu, denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No entanto, o mais doloroso, era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos, cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso, ocultavam os documentos.
Deus tá vendo
E é aqui que entra a forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até hoje, não temos acesso aos principais documentos da repressão.
Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo similar à operação "Deus tá vendo", organizada pela Policia Civil do Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na época da ditadura militar?
Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também, cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio - O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. 
Os bispos que lutavam contra as arbitrariedades eram Helder Câmara, Waldir Calheiros, Cândido Padin, Paulo Evaristo Arns e alguns outros mais que foram vigiados e perseguidos. Mas não dom Eugênio, que jogava no time contrário. Um dos auxiliares de dom Helder, o padre Henrique, foi torturado até a morte em 1969, num crime que continua atravessado na garganta de todos nós e que esperamos seja esclarecido pela Comissão da Verdade. Padres e leigos foram presos e torturados, sem que escutássemos um pio de protesto de dom Eugênio, contrário à teologia da libertação e ao envolvimento da Igreja com os pobres.
O cardeal Eugenio Sales era um homem do poder, que amava a pompa e o rapapé, muito atuante no campo político. Foi ele um dos inspiradores das "candocas" - como Stanislaw Ponte Preta chamava as senhoras da CAMDE, a Campanha da Mulher pela Democracia. As "candocas" desenvolveram trabalhos sociais nas favelas exclusivamente com o objetivo de mobilizar setores pobres para seus objetivos golpistas. Foram elas, as "candocas", que organizaram manifestações de rua contra o governo democraticamente eleito de João Goulart, incluindo a famigerada "Marcha da família com Deus pela liberdade", que apoiou o golpe militar, com financiamento de multinacionais, o que foi muito bem documentado pelo cientista político René Dreifuss, em seu livro "1964: A Conquista do Estado" (Vozes, 1981). Ele teve acesso ao Caixa 2 do IPES/IBAD.
Nós, toda a torcida do Flamengo e Deus que estava vendo tudo, sabíamos que dom Eugênio era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura. Se não sofro de amnésia - e não sofro de amnésia ou de qualquer doença neurodegenerativa - posso garantir que na época ele nem disfarçava, ao contrário manifestava publicamente orgulho do livre trânsito que tinha entre os militares e os poderosos.
- "Quem tem dúvidas...basta pesquisar os textos assinados por ele no JB e n'O Globo" - escreve a jornalista Hildegard Angel, que foi colunista dos dois jornais e avaliou assim a opção preferencial do cardeal:
- A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%...
Portões do Sumaré
Por isso, a jornalista estranhou - e nós também - a forma como o cardeal Eugenio Sales foi retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou que o cardeal "defendeu a liberdade e os direitos individuais". O governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão "do respeito às pessoas e aos direitos humanos".
Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio "uma quantidade enorme de asilados políticos", calculada, por baixo, numa estimativa do Globo, em "mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes militares da América do Sul". Outro jornalista, José Casado, elevou o número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente, apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa Bento XVI como "o intrépido pastor".
Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de uma só - umazinha - dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio episcopal.
Segundo Hilde, dom Eugênio "fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos" que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está documentado)". Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer acreditar "que ocorreu justo o contrário!", como no filme "Uma cidade sem passado".
Mas não é tão surpreendente assim. O texto de Hildegard menciona a grande habilidade, em vida, de dom Eugenio, em "manter ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com artigos". As azeitadas relações com os donos dos jornais e com alguns jornalistas em postos-chave continuaram depois da morte, como é possível constatar com a cobertura do velório. A defesa de dom Eugênio, na realidade, funciona aqui como uma autodefesa da mídia e do poder.
Os jornais elogiaram, como uma virtude e uma delicadeza, o gesto do cardeal Eugenio Sales que cada vez que ia a Roma levava mamão-papaia para o papa João Paulo II, com o mesmo zelo e unção com que o senador Alfredo Nascimento levava tucumã já descascado para o café da manhã do então governador Amazonino Mendes. São os rituais do poder com seus rapapés.
- Dentro de uma sociedade, assim como os discursos, as memórias são controladas e negociadas entre diferentes grupos e diferentes sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a "verdade", as memórias têm valor social de "verdade" e podem ser difundidas e reproduzidas como se fossem "a verdade" - escreve Teun A. van Dijk, doutor pela Universidade de Amsterdã.
A "verdade" construída pela mídia foi capaz de fotografar até "a presença do Espírito Santo" no funeral. Um voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, 59 anos, corretor de imóveis, no caminho ao velório de dom Eugênio, passou pelo abatedouro, no Engenho de Dentro, comprou uma pomba por R$ 25 e a soltou dentro da catedral. A ave voou e posou sobre o caixão: "Foi um sinal de Deus, é a presença do Espírito Santo" - berraram os jornais. Parece que vale tudo para controlar a memória, até mesmo estabelecer preço tão baixo para uma das pessoas da Santíssima Trindade. É muita falta de respeito com a fé das pessoas. 
- "A mídia deve ser pensada não como um lugar neutro de observação, mas como um agente produtor de imagens, representações e memória" nos diz o citado pesquisador holandês, que estudou o tratamento racista dispensado às minorias étnicas pela imprensa europeia. Para ele, os modos de produção e os meios de produção de uma imagem social sobre o passado são usados no campo da disputa política.
Nessa disputa, a mídia nos forçou a fazer os comentários que você acaba de ler, o que pode parecer indelicadeza num momento como esse de morte, de perda e de dor para os amigos do cardeal. Mas se a gente não falar agora, quando então? Stuart Angel e os que combateram a ditadura merecem que a gente corra o risco de parecer indelicado. É preciso dizer, em respeito à memória deles, que Dom Eugênio tinha suas virtudes, mas uma delas não foi, certamente, a solidariedade aos perseguidos políticos para quem os portões do Sumaré, até prova em contrário, permaneceram fechados. Que ele descanse em paz!
P.S. - O jornalista amazonense Fábio Alencar foi quem me repassou o texto de Hildegard Angel, que circulou nas redes sociais. O doutor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, historiador e professor da Universidade Federal do Amazonas, foi quem me indicou, há anos, o filme "Uma cidade sem passado". Quem me permitiu discutir o conceito de memória foram minhas colegas doutoras Jô Gondar e Vera Dodebei, organizadoras do livro "O que é Memória Social" (Rio de Janeiro: Contra Capa/ Programa de Pós- Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005). Nenhum deles tem qualquer responsabilidade sobre os juízos por mim aqui emitidos.
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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (UERJ), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
*GilsonSampaio


Frei Tito de Alencar: “Nem tortura nem perseguições evitarão o socialismo”

Frei Tito de AlencarAg“Agora você vai conhecer a sucursal do inferno”. Foi o que ouviu o frei Tito no dia 17 de fevereiro de 1970, ao ser retirado do Presídio Tiradentes pelo Capitão Maurício Lopes Lima.
Tito de Alencar Lima, caçula entre 11 irmãos, nasceu em Fortaleza no dia 14 de setembro de 1945. Estudou no Colégio dos Jesuítas, onde começou a participar da Juventude Estudantil Católica (JEC). Tornou-se dirigente regional da JEC em 1963, quando se transferiu para o Recife, residindo num velho casarão da Rua do Leite juntamente com outros dirigentes dos movimentos da Ação Católica. Em fevereiro de 1967, ingressou no noviciado dominicano, mudando para São Paulo – Convento de Perdizes. Cursando Filosofia na USP, Tito atuou no movimento estudantil. Foi ele quem conseguiu o sítio de Ibiúna, que pertencia a um amigo, para a realização do 30º Congresso da UNE na clandestinidade. Todos os 700 participantes foram presos.
O cerco da repressão
Com o fechamento cada vez maior do regime, parte da esquerda rompeu com o pacifismo do PCB e definiu a estratégia de enfrentamento armado. O Convento das Perdizes se transformou em base de apoio à esquerda revolucionária. Abrigava perseguidos, transportava-os para outros locais, ajudava-os a sairpara o exterior, transmitia recados para seus familiares. Um grupo de dominicanos aproximou-se da Ação Libertadora Nacional (ALN) e mantinha contato direto com seu comandante, Carlos Marighella. Neste grupo, estavam, entre outros, frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo), frei Ivo (Yves Lebauspin), frei Giorgio Callegari e frei Tito.
O cerco à ALN começou em outubro de 1969, com uma série de prisões, seguidas, como sempre, de violentas torturas com o objetivo de encontrar Marighella. Na manhã de 2 de novembro, um domingo, os freis Fernando e Ivo foram presos no Rio de Janeiro pela equipe do famigerado Sérgio Paranhos Fleury, logo após desembarcarem para visitar familiares. Em seguida, conduzidos para o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e depois para São Paulo (Dops e DOI-Codi).
Torturados continuamente até a segunda-feira com pancadas, choques elétricos e pau-de-arara, os frades não suportaram as sevícias. Confirmaram a existência da base de apoio do Convento das Perdizes e a forma como mantinham contato com Marighella. Isto possibilitou a armação da cilada que atraiu o comandante para a morte (ver A Verdade, nº 12).
Frei Betto explica que não se pode atribuir unicamente aos seus confrades o êxito da operação repressiva. Que foi uma sucessão de quedas, informações de elementos infiltrados e outros fatores que levaram ao lamentável desfecho. Os freis Fernando e Ivo assumiram sua parcela de responsabilidade, nunca negaram as informações dadas sob tortura. Acreditavam que a notícia de sua prisão teria se espalhado e Marighella não telefonaria marcando encontro.
Antônio Flávio Médici de Camargo, corretor, abrigava Marighella em seu apartamento e, muitas vezes, transportava-o para os pontos onde tinha tarefas a cumprir. Ele diz que realmente Marighella tomou conhecimento vagamente da prisão de dominicanos no Rio, mas não sabia os nomes nem as circunstâncias. Quando, a seu pedido, Antônio Flávio ligou para a Livraria Duas Cidades, e frei Fernando confirmou que ele podia comparecer ao encontro no dia 4 de novembro, às 20 horas, Marighella avaliou que estava tudo bem.
Na madrugada de 4 de novembro, a equipe de Fleury invadiu o Convento das Perdizes e levou para o Dops o prior, frei Edson Braga; o vice-prior, frei Sérgio Lobo; e os frades Tito de Alencar e Giorgio Callegari. Os dois primeiros foram ouvidos e liberados horas depois. Tito e Giorgio ficaram presos e conheceram o sadismo de Fleury.
Frei Betto encontrava-se no Sul. Foi preso em Porto Alegre na manhã do dia 9 de novembro. Levado para o Dops-SP; ao ser conduzido para cela no fundo do prédio, viu nos corredores Fernando, Ivo, Tito e Georgio. “Apertamo-nos as mãos, emocionados” .
Depois, todos foram transferidos para o Presídio Tiradentes. Na cela 7, tudo corria muito calmo. Rezas, estudos, trabalhos artesanais. Mas, define frei Betto, “na prisão, os próximos minutos assustam mais do que o feixe de anos da sentença de condenação. (…) o próximo minuto pode ser o início de uma fuga, a lâmina de uma faca retalhando a carne, a visita inesperada”.
O Calvário de frei Tito
De repente, dois anos depois, é preso o dono do sítio de Ibiúna, onde se realizara o Congresso da UNE. Tito, amigo do proprietário, é retirado da cela para a “sucursal do inferno”. É dele o relato: “Fui levado do Presídio Tiradentes para a Operação Bandeirantes (Oban – Polícia do Exército) no dia 17 de fevereiro de 1970. Algemaram minhas mãos, jogaram-me no porta-malas da perua. No caminho, as torturas tiveram início: cutiladas na cabeça e no pescoço, e apontavam-me seus revólveres”.
As primeiras perguntas foram sobre o Congresso de Ibiúna. Frei Tito disse que nada tinha a declarar. Os demônios entraram em ação. A primeira sessão foi só de pancadaria. Deram-lhe um descanso e mandaram que se preparasse para a “equipe da pesada”.
Não era mentira. No dia seguinte, em jejum, veio a sessão infernal com cadeira-do-dragão, choques elétricos nas mãos, nas orelhas, pau-de-arara, pauladas nos peitos, nas pernas. Repetição das perguntas, a mesma resposta: não ou silêncio!
Chamaram o chefe do inferno, Capitão Albernaz (major Benone de Arruda Albernaz, que seria preso por estelionato em 1984). “Tenho verdadeiro pavor a padre, e para matar terrorista nada me impede. (…) choques o dia todo, e, a cada ‘não’ que disser, maior será a descarga elétrica”.
Não era blefe. As perguntas não eram mais sobre Ibiúna. Nomes de padres metidos com a subversão, onde estava frei Ratton (autoexilado na Europa), aparelhos. “Não sei”, dizia frei Tito, e a cada negativa, de fato, uma descarga maior seguida de pontapés e pauladas nas costas. Partiram para a blasfêmia. Fizeram-no vestir os paramentos sacerdotais e lhe deram a “hóstia consagrada”, isto é, choques elétricos na boca.
Breve intervalo e nova sessão. Disseram que tanta resistência era característica de guerrilheiro. Então ele estava realmente mentindo e iria sofrer mais. Pontapés nos órgãos genitais, socos no estômago, cigarros queimando o corpo, “corredor polonês”. Nada conseguiram. O capitão Albernaz augurou: “…se não falar, será quebrado por dentro, pois sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerá o preço da valentia”.
De volta para a cela, frei Tito raciocinou que não queria mais continuar sofrendo. Os demônios tinham dito que todos os dominicanos presos iam passar pelo mesmo que ele, pois o primeiro interrogatório tinha sido muito fraco. Pensou que sua morte evitaria tudo isso e teria repercussão que talvez fizesse parar as torturas no Brasil. Conseguiu uma lâmina e cortou a artéria. Mas, avisados, os repressores socorreram e levaram-no prontamente ao Hospital Militar. Chamaram a atenção do médico: “doutor, este padre não pode morrer de jeito nenhum, senão estamos perdidos”.
Enquanto era tratado, os dominicanos conseguiram enviar mensagem aos seus superiores sobre o que estava acontecendo com Tito. Estes recorreram às autoridades eclesiásticas. Dom Paulo Evaristo Arns procurou a Oban, que negou estar com frei Tito Alencar. Dom Agnelo Rossi falou com o governador Abreu Sodré e encarregou dom Lucas Moreira Neves de procurar o juiz-auditor militar Nélson Guimarães, amigo de muitos anos de dom Lucas. O juiz concordou em visitar Tito no Hospital juntamente com dom Lucas com o compromisso deste nada divulgar do que visse ou ouvisse. A vida de frei Tito estava salva.
Voltou ao convívio dos companheiros e não se acomodou. Fez um relato de tudo o que passou e conseguiu mandar para fora da prisão. Ainda em 1970, foi publicado em jornais e revistas da Europa e dos Estados Unidos. Festejado como membro do grupo de heróis que suporta os horrores do inferno, mas não satisfaz ao diabo, fala disso com modéstia no citado informe: “…É preciso dizer que o que ocorreu comigo não é exceção, é regra. Raros os presos políticos brasileiros que não sofreram tortura. Muitos como Schael Schreiber e Virgílio Gomes da Silva morreram na sala de torturas. Outros ficaram surdos, estéreis ou com outros defeitos físicos. (…) Faço esta denúncia e este apelo a fim de que se evite, amanhã, a triste notícia de mais um morto sob torturas”.
Em dezembro de 1970, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) sequestrou o embaixador da Suíça, Giovanni Enrico Bucher. Em troca de sua vida, conseguiu a libertação de 70 presos políticos, incluindo na lista frei Tito Alencar. Na despedida, deixou um bilhete para o advogado e companheiro de prisão Wanderley Caixe: “…Foi motivo de grande satisfação ter convivido com você durante 12 meses no Presídio Tiradentes. Sob o signo deste herói que, infelizmente, virou nome de cárcere, reuniremos os grandes ideais que o futuro do povo brasileiro tanto anseia: a construção do socialismo. (…) Contra isso, nada vence: nem tortura nem perseguições”.
Do Chile, em 20 de fevereiro de 1971, escreveu ao seu provincial frei Domingos Maia Leite, animado e esperançoso, embora preocupado. “…Tive uma vida muito movimentada aqui no Chile, fui eleito para a Comissão de Imprensa, participei do 2º Encontro Latino-Americano em comemoração à morte de Camilo Torres. Encontro-me bem do ponto de vista físico e psicológico. (…) A “infiltração” na Colônia está crescendo. O Fleury esteve há poucos dias no Chile. Está montando seu esquema por aqui…”. Decidiu ir para a Europa.
Apesar de não ter sido aceito no Colégio Pio Brasileiro, sendo acolhido no Convento de Saint Jacques, em Paris, estava razoavelmente bem na Europa. Em 7 de dezembro de 1973, três meses após o golpe militar que derrubou Salvador Allende, no Chile, escreveu a seu colega cearense frei Daniel Ulhôa: “…Aos poucos, vou me acostumando à solidão europeia… Ainda verei a chama do espírito latino-americano brilhar bem alto… Apesar de ainda angustiado, estou cheio de esperança… Nem um só momento de minha vida, lamentei o que fiz… Estou asilado, banido e longe de minha pátria, mas estou firme e disposto a continuar a lutar, embora minha resistência psicológica tenha se reduzido bastante após os 14 meses de prisão. Iniciarei uma psicoterapia para ver se a recupero o mais breve possível”.
Infelizmente, não recuperou. A maldição de Albernaz prevaleceu. No Natal de 1973, sua irmã, Nildes, o encontrou muito deprimido. Tinha visões de Fleury lhe dando ordens, ameaçando torturar seus parentes. Mudou-se para o campo, procurou trabalhar, mas não conseguia se concentrar. Perdia os empregos. Evitava conversar com os companheiros de convento. Isolava-se. Escreveu no marcador de um livro: “É melhor morrer do que perder a vida”. Descreveu num poema que vivia “Noites de silêncio”.
No dia 10 de agosto de 1974, seu corpo foi encontrado “balançando entre o céu e a terra, sob o céu azul do verão francês”. Frei Tito se suicidou sob a copa de uma árvore. Seu corpo foi sepultado num cemitério dominicano na França e trazido para o Brasil em março de 1983. Recebido em São Paulo, após celebração solene na Catedral da Sé, conduzida por dom Paulo Evaristo Arns, seguiu para sua terra natal, Fortaleza, onde repousa e recebe muitas visitas e homenagens.
No ano de 2004, fundou-se em Fortaleza o Instituto de Educação para os Direitos Humanos Frei Tito de Alencar. Outras entidades têm honrado sua memória. Poetas têm cantado em seu louvor, entre os quais Zé Vicente, cearense, poeta, cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs): “…Ao saber disto não calo/Pois garanto com certeza/Que se calar este canto/Todos verão com espanto/Que as pedras clamarão/Tito recebe mensagens/Muitos lhe prestam homenagem/É o abraço da nação/Viva o mártir brasileiro/Vivam todos os irmãos/Que passaram no braseiro/De qualquer perseguição…”.
José Levino é historiador e colaborador de A Verdade
Fontes
Batismo de Sangue, frei Betto, 13ª edição, Editora Casa Amarela, São Paulo, 2004, do qual foram extraídas todas as citações e que serviu de roteiro para o filme de mesmo nome.
AVERDADE

domingo, julho 15, 2012


Acredite: quem é dono e dirige esse fusquinha é o presidente de um país - o Uruguai

O presidente do Uruguai, José Mujica, desce de seu Fusca, que vale mil dólares
Todos os dias ele embarca no seu Fusquinha azul de estimação, de 1.300 cilindradas (foto), e toma o rumo de seu pequeno sítio Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu, onde vive com a mulher, senadora da República – que é a proprietária da área. A casa é discretamente vigiada por dois seguranças.
No fim do mês, quando recebe o salário de 12,5 mil dólares como presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica separa 1,25 mil [para si] e doa o restante, cerca de 90%, a pequenas empresas e Organizações Não-Governamentais que trabalham com habitações populares.
– Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos – costuma repetir este uruguaio de maneiras simples, 77 anos, que, em reportagem do jornal espanhol El Mundo, foi chamado de “o presidente mais pobre do mundo”.
Além de sua casa no pequeno sítio, seu único patrimômio é o Fusca avaliado em pouco mais de mil dólares.
Vida espantosamente simples
Como transporte oficial, em vez dos carrões com ar-condicionado dos demais presidentes, ele usa um Corsa. Sua mulher, a senadora Lúcia Topolansky, parceira de muitos anos, também doa boa parte de seu salário.
*Nina