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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
segunda-feira, julho 23, 2012
Evangélicos 'McDonalizaram' a fé cristã, afirma sociólogo
Quem entrar em um templo da Igreja Universal, por exemplo, disse, encontrará a mesma estrutura administrativa e os mesmos cultos, com pouquíssimas variações, quer onde esteja, em São Paulo, Lisboa ou alguma capital africana.
“É como pedir um lanche Big Mac”, afirmou Paegle, que é doutorando pela Universidade Federal de Santa Catarina. “Vale tudo, até pregação pelo celular.”
Ele observou que, assim como os restaurantes de comida rápida, os templos da Universal oferecem várias celebrações durante o dia para pegar quem não tem horário disponível nos horários tradicionais de culto. “Se o fiel dispõe de pouco tempo, é possível dar ao menos uma passadinha no Drive-Thru da Oração.”
Paegle foi um dos estudiosos que a CartaCapital ouviu para compor a reportagem publicada nesta semana sobre a “avalanche evangélica” anunciada recentemente pelo IBGE.
A revista dá destaque para a possibilidade de os evangélicos passarem a representar um terço da população em dez anos. Ainda assim dificilmente a maioria da população se tornará evangélica em algum momento, na avaliação do sociólogo inglês Paul Freston, estudioso sobre o Brasil e professor da Universidade de Wilfrid Laurier, no Canadá.
Freston argumentou que o avanço evangélico vai até certo ponto porque o declínio da Igreja Católica tem um limite. “Há um núcleo sólido que não vai desaparecer.”
Além disso, segundo o professor, a cada duas pessoas que se afastam do catolicismo apenas uma adere a uma religião evangélica. Na avaliação dele, o máximo que os evangélicos podem conseguir são 35% da população.
E mesmo que os evangélicos cheguem a tanto, isso não implicará profundas mudanças na sociedade brasileira, diferentemente, portanto, do que alguns preveem e outros temem. Porque “quanto mais uma religião cresce, mais ela fica parecida com a sociedade na qual está inserida”.
De acordo com as observações do sociólogo Gedeon Alencar, autor do livro "Protestantismo Tupiniquim", já está havendo uma rápida transformação nas igrejas evangélicas.
“Quando eu era criança, os fiéis tinham de vestir roupa sóbria, não podiam usar cosméticos ou qualquer coisa que denotasse vaidade”, disse. “A TV era vista com desconfiança, os jovens não podiam praticar esportes.”
E tudo isso mudou ou está mudando, segundo Alencar. As roupas dos fiéis já não são tão sombrias e os cosméticos foram liberados. “Hoje há os ‘atletas de Cristo’, casas noturnas para evangélicos, bloco de carnaval.”
“Os evangélicos estão cada vez mais parecidos com os brasileiros”, afirmou. E as igrejas — ele poderia acrescentar — se assemelham cada vez mais com as lojas do McDonald’s.
junho de 2012
Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz21TxZsjwH
*Paulopes
Pedro Abramovay: “Usuário pobre está sendo tratado como traficante”
Felipe Prestes no SUL21
O advogado Pedro Abramovay foi
secretário nacional de Justiça durante o Governo Lula, mas sua atuação
chamou atenção do grande público no início do Governo Dilma. Convidado
pela presidenta para ocupar a Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas, ele foi demitido algumas semanas depois, após o jornal O Globo
ter publicado uma entrevista na qual ele teria defendido penas
alternativas para pequenos traficantes. “Na entrevista eu não usei o
termo “pequenos traficantes”, porque não é disto que estamos falando.
Estamos falando muito mais de usuários que de traficantes. Não é uma
fronteira muito clara, mas estamos falando, sobretudo, de usuários”,
explica.
Agora, Abramovay
continua defendendo mudanças na legislação antidrogas do país à frente
do projeto Banco de Injustiças, que tem como objetivo mostrar que
muitos usuários têm sido classificados como traficantes e presos
equivocadamente. “O usuário pobre está sendo classificado como
traficante e isto é uma injustiça brutal”.
O Sul21
conversou com o advogado durante o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, realizado em Porto Alegre na semana passada. Abramovay falou
sobre vários temas relacionados às drogas, como a proposta de José
Mujica, de que o governo uruguaio plante maconha e forneça determinadas
quantidades aos usuários.
“Estamos em uma política de produção e reprodução da dor e do sofrimento. É uma política que não soluciona nenhum dos problemas que a droga causa”
Sul21 – Há organizações,
o Banco de Injustiças entre elas, apontando que a nova legislação
sobre drogas tem causado uma série de situações injustas. Que situações
são estas?
Pedro Abramovay –
A lei de 2006 disse que não cabe prisão para o consumidor e determinou
penas altas para o traficante. Mas como ela não define quem é o
consumidor e quem é o traficante, tem uma área cinza entre o consumidor
e o traficante – que vai desde o consumidor até a pessoa que,
eventualmente, vendeu droga para sustentar seu uso – que passou a ir
para a cadeia. Se a gente olhar quem está sendo preso no Brasil hoje,
60% eram réus primários, com pequeníssimas quantidades, estavam
sozinhos quando presos e desarmados. Este não é o perfil do traficante,
é um perfil muito mais próximo do usuário. Só que são pessoas pobres –
80% destas pessoas só tinha até 1º grau completo. O usuário pobre está
sendo classificado como traficante e isto é uma injustiça brutal.
Sul21 – O senhor falou
na palestra sobre uma série de arbitrariedades que estariam sendo
cometidas em nome da Guerra às Drogas. Como está ocorrendo isto?
Pedro Abramovay –
A lei de drogas fala que a pessoa tem que esperar o julgamento presa.
Então, se você mata alguém, pode esperar em liberdade, mas se você é
acusado de tráfico de drogas você tem que ficar preso até ser julgado. O
Supremo já disse que isto é inconstitucional, mas muitos juízes
continuam descumprindo esta decisão. No Banco de Injustiças, há o caso
de uma senhora de 70 anos que foi presa, porque a polícia chegou na
casa dela e encontrou crack que era do filho dela. Ela ficou três meses
na prisão, porque tinha que aguardar julgamento, até perceberem que
não tinha nada a ver com aquilo. Quem devolve este tempo de vida para
ela? Ela ficou deprimida, foi internada. Este tipo de injustiça não é
pontual. Está acontecendo o tempo inteiro, com pessoas pobres,
sobretudo. Estamos em uma política de produção e reprodução da dor e do
sofrimento. É uma política que não soluciona nenhum dos problemas que a
droga causa, que são muitos, e agrava este problema. A gente precisa
sair disto, precisa construir uma política que solucione problemas.
Sul21 – Então, quando o
senhor deu aquela declaração que gerou polêmica, de que pequenos
traficantes deveriam ter penas alternativas, não se referia a pequenos
traficantes, mas a pessoas que, muitas vezes, estão sendo acusadas de
forma equivocada.
Pedro Abramovay – Na entrevista a O Globo
eu não usei o termo “pequenos traficantes”, porque não é disto que
estamos falando. Estamos falando muito mais de usuários que de
traficantes. Não é uma fronteira muito clara, mas estamos falando,
sobretudo, de usuários. A gente está, sim, prendendo usuários no Brasil.
A gente precisa desarmar o que montamos para nós mesmos.
Sul21 – Que efeito traz para estes usuários pobres estarem indo para a cadeia?
Pedro Abramovay –
Tem uma pesquisa feita em São Paulo que mostra que, destas pessoas que
estão indo presas, 62% tinham emprego e 9% tinham estudado. Estamos
falando de pessoas produtivas, de alguma maneira, que a gente retira da
sociedade, coloca na prisão e devolve para a sociedade com ligação com
o crime organizado, com estigma de criminoso, que ninguém vai
empregar. Então, a gente pega pessoas que não são criminosas e devolve
para a sociedade criminosas. Não me parece um modelo adequado.
Sul21 – Quais poderiam ser as penas alternativas?
Pedro Abramovay –
Podem ser diversas. Tem que dosar a partir de qual seja a conduta. No
caso do usuário, o que a gente propõe não é nem que tenha pena
alternativa, mas que sejam medidas administrativas, que podem ser desde
advertência, frequentar um curso. Podem ser várias medidas, mas que
não passem pelo sistema penal, porque o sistema penal impede o
tratamento. Quando você diz que alguma coisa é crime, a primeira pessoa
que vai olhar o usuário é o policial, não é um médico, não é uma
assistente social. Enquanto for o policial, a saúde não entra.
Sul21 – As pessoas refutam o tratamento por medo?
Pedro Abramovay – Claro, o próprio médico também fica com uma aflição. Ele não é preparado para lidar com criminosos, mas com doentes.
“Os indicadores da guerra às drogas são apreensões, prisões, mortes de traficantes. Se não significam que o consumo e a violência estão caindo, não são indicadores de sucesso, mas de fracasso”
Sul21 – A comissão de juristas que discutiu o novo Código Penal previu a descriminalização do consumo de drogas.
Pedro Abramovay –
Acho um grande passo. Mas acho que Portugal ensina para a gente que,
além de não criminalizar, tem que ficar muito claro que aquela pessoa
não vai para o sistema penal. Não é o juiz que tem que cuidar do
usuário. Ninguém é a favor de legalizar passar (um carro) no
sinal vermelho, mas ninguém acha que isto tem que ser crime, que o
Ministério Público tem que fazer uma denúncia e que um juiz tem que
condenar esse infrator. Não é esta a estrutura, é uma estrutura
administrativa. O que a gente quer é que a pessoa que seja pega com
drogas vá para uma comissão de especialistas que pense qual a melhor
alternativa para ela, se uma advertência, uma multa, um tratamento, e
construir uma saída, que não seja a saída criminal. Isto para pessoas
que sejam pegas com uma quantidade abaixo de um determinado valor fixo,
para que não se tenha a possibilidade de se cometer as arbitrariedades
que são cometidas hoje – um modelo semelhante ao que é feito em
Portugal.
Sul21 – O senhor critica que os resultados da política de drogas sejam mais prisões e apreensões. Por quê?
Pedro Abramovay –
Uma política consistente de drogas tem que ter como objetivos a
redução da violência e acesso à saúde, que as pessoas tenham uma vida
mais saudável. Como a repressão e a Guerra às Drogas nunca conseguiram
reduzir o consumo nem a violência, os indicadores que se criam são
indicadores que não dizem nada. São apreensões, prisões, mortes de
traficantes. Se estes indicadores não significam que o consumo e a
violência estão caindo, não são indicadores de sucesso, mas de
fracasso. Significa que está se trabalhando muito, gastando muito
dinheiro e muita energia para não alcançar os objetivos mais
importantes.
Sul21 – O indicador deveria ser, por exemplo, quantas pessoas foram ressocializadas?
Pedro Abramovay –
Mortes por overdose, quanto é? Em Portugal, ao descriminalizar,
despencou o número de mortes por overdose. Este é um indicador de
sucesso. As pessoas muitas vezes imaginam que a descriminalização
aumenta o consumo, mas foi feita uma pesquisa por um instituto inglês
em 21 países que tiveram medidas de flexibilização da legislação. Em
nenhum deles aumentou o consumo. Em alguns até caiu. Não se diminuiu o
consumo de nenhuma droga ilícita por meio da repressão. A única droga
que se conseguiu diminuir o consumo por meio de atitude do Estado foi
uma droga lícita: o tabaco. O caso do tabaco mostra que é possível
reduzir consumo, mas se faz isto com regulação, não com cadeia. Com a
criminalização, todo mundo tem acesso à droga, mas você não consegue
tratar ninguém e prende pessoas que não cometeram violência contra
ninguém.
Sul21 – Num segundo momento, o senhor defende a legalização do comércio, ou o plantio (de cannabis) em casa?
Pedro Abramovay – O
tema do plantio em casa sem dúvida deve ser discutido. Há experiências
bastante bem-sucedidas na Espanha. Acho que temos que debater isto no
Brasil. A legalização é algo que nenhum país fez. Eu me sinto mais
confortável em falar sobre a descriminalização, que é um modelo que deu
certo onde tentaram, do que no modelo de legalização, que nunca
ninguém testou.
Sul21 – Na Holanda não foi testado?
Pedro Abramovay – Na Holanda não é legalizado, porque a venda é permitida em pequenas quantidades, mas a produção não é. Então, os coffee shops
compram ilicitamente a droga. Então, é um modelo que tem uma
hipocrisia. A impressão que eu tenho é que pior que a atual política (do Brasil)
não tem, uma política que não consegue frear o consumo e que causa
tantos danos. Tem coisas que claramente já deram certo, como a
descriminalização e o cultivo pessoal. Os outros passos têm que ser
debatidos com muito cuidado e com atenção às experiências que outros
países têm feito. Na Califórnia, por exemplo, se diz que foi
regularizada a maconha medicinal, mas existe um milhão de pacientes
cadastrados. A pessoa vai na farmácia, compra, e a sociedade
californiana não teve nenhum prejuízo com esta medida. A gente tem que
ter um debate baseado em dados concretos, na ciência, e não baseado na
ideologia, no medo, na raiva – em geral, o tema de drogas é debatido
assim. A gente quer debater como quem quer resolver o problema, e não
como quem quer fazer barulho, dar a impressão de que está dando uma
resposta sem, até agora, ter chegado perto de solucionar o problema.
“Até pouco tempo atrás, o tema das drogas no Brasil estava sob a guarda dos militares. Hoje, a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas está no Ministério da Justiça. É um avanço extraordinário”
Sul21 – Como o senhor vê
a proposta do presidente José Mujica, do Uruguai, de que o Estado
plante maconha e de que isto separaria o usuário de maconha das drogas
mais pesadas?
Pedro Abramovay – Nesta
lógica de tanto esgarçamento da atual política é o momento de testar
novas coisas, porque insistir no erro a gente sabe que não funciona. O
caso do Uruguai tem algumas questões. Primeiro: a gente precisa
descriminalizar não só a maconha, mas todas as drogas. Quanto maior
efeito da droga sobre a pessoa, mais próxima de um doente esta pessoa
vai estar e mais atenção de saúde, e não de prisão, esta pessoa deve
ter. Então, não é que a droga mais grave deve ser criminalizada e a
mais leve não. A gente não pode tratar nenhum usuário como criminoso.
Do ponto de vista da legalização, muitas pessoas dizem que a maconha é a
porta de entrada para outras drogas. Tem um estudo neozelandês que
afirma isto, mas o próprio autor diz que a maconha é a porta de entrada
porque a gente força os jovens a comprarem maconha da mesma pessoa que
vende cocaína, que vende crack. Quando você vai no supermercado
comprar arroz, você acaba comprando outras coisas. Então, o que torna a
maconha uma porta de entrada é o fato de ela ser considerada ilícita.
Acho que, de alguma maneira, separar a maconha — que é a droga
responsável, de longe, pela maior parte do consumo de drogas ilícitas —
é afastar os jovens do crime. Então, acho que tem algum sentido nisto.
São experiências, inovações que a gente tem que olhar com calma,
avaliar, ter a serenidade de ver quais são os resultados concretos
disto, sem nenhum clima de oba-oba e nem de cegueira, como é o clima
com que se convive com a política atual.
Sul21 – Qual é a visão do senhor sobre a internação compulsória dos dependentes químicos?
Pedro Abramovay –
Eu não sou médico, mas li muitos artigos científicos sobre isto e
vários mostram que a eficiência da internação compulsória é baixíssima,
de menos de 10%. É claro que existem situações absolutamente
excepcionais – menos de 5% dos casos – em que a pessoa pode ser
avaliada como psicopata e não tem juízo sobre a situação e pode se
matar, ou matar outra pessoa. Mas estes casos são exceção até no caso
do crack. Na grande maioria dos casos, as pessoas têm, sim, total
consciência nos momentos de abstinência e podem decidir por tratamento.
Quando elas tomam esta decisão, a eficiência do tratamento é muito
maior. E o tratamento ambulatorial e a rua têm eficiência muito maior
que a internação, porque a relação da droga com a dependência não está
na própria substância. O que faz a pessoa se tornar dependente é a
relação da pessoa com a droga dentro de uma circunstância social
específica. Então, se a pessoa está desempregada, vê naquilo uma muleta
para seus problemas ou algo assim, a chance dela se tornar dependente é
muito maior. Quando você interna a pessoa, desintoxica ela, mas
devolve para o meio que gerou a dependência, ela vai voltar a ser
dependente. Por isto é que a maioria dos casos de internação não
funciona. Quando você consegue tratar a pessoa no meio em que ela vive e
fazer ela lidar com os problemas que levaram à dependência, aí a
pessoa consegue sair da tragédia das drogas.
Sul21 – Como o senhor avalia a atual política do Governo Federal na questão de drogas?
Pedro Abramovay –
Acho que o Governo Federal avançou em várias áreas no tema das drogas.
Até pouco tempo atrás, o porta-voz do tema das drogas no Brasil era um
general, o tema estava sob a guarda dos militares. Hoje, a Secretaria
Nacional de Política sobre Drogas está no Ministério da Justiça e o
grande porta-voz do plano tem sido o ministro da Saúde. É um avanço
extraordinário que a gente possa ter este olhar sobre o tema e não o
olhar de guerra. O Plano de Enfrentamento ao Crack pela primeira vez dá
dinheiro para o tratamento ambulatorial, mas também dá dinheiro para a
internação, e aí é uma contradição. Claro, há momentos em que você
precisa de internação, mas são casos mais raros. Mas como não é o
Governo Federal que executa, lá na ponta, nos municípios, você pode
transformar o consultório de rua em uma carrocinha de pegar usuários
pobres e levar para esconder na internação. Então, a gente tem quer
vigiar muito de perto o plano para apoiar o que ele tem de muito
positivo, que é incentivar o tratamento de rua, incentivar o olhar de
saúde, e não deixar que setores mais conservadores se apropriem deste
plano pelo lado da internação compulsória, não respaldada na ciência.
Sul21 – Em que pé está o debate sobre drogas neste momento no país? Avançamos?
Pedro Abramovay –
Acho que pela primeira vez a gente tem o debate aparecendo de maneira
séria. Agora, é possível debater o tema. Antigamente, qualquer pessoa
que levantasse essas questões era taxada de maluca. Agora, é um tema
sério, há grandes personalidades que discutem este tema, apresentam
suas propostas. Acho que é um cenário positivo. Ainda está longe de ser
um tema discutido sem preconceito, mas acho que a gente pode
finalmente discutir o tema com base em dados, em pesquisas, e não só em
ideologia e impressões.
*Turquinho
Videla confirma que Igreja ajudou a ocultar desaparecimentos na ditadura argentina
A Igreja
Católica (seu alto clero) sempre se desmanchou em elogios e rapapés a
ditadores e genocidas do calibre de um Hitler, Mussolini, Pinochet,
Videla, Médici, etc, etc, etc... Qual será o próximo füher a contar com a
simpatia do Vaticano?
Opera Mundi
“A
igreja ofereceu seus bons ofícios” e “assumiu os riscos”. Com estas
palavras, o primeiro líder da ditadura argentina (1976-1983), Jorge
Rafael Videla, define a cumplicidade da igreja católica na omissão de
informações sobre o paradeiro de pessoas desaparecidas durante os anos
de terror no país.
[O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla (centro), em 1978]
As declarações feitas em 2010 à revista El Sur foram
publicadas no último sábado (21/07), devido a uma condição imposta por
Videla de que fossem divulgadas somente após sua morte. A restrição foi
rompida após a publicação de declarações concedidas por Videla a outros jornalistas.“Durante
24 meses, nada foi publicado. (...) Não acreditamos estar violando um
acordo”, justifica o autor, sobre a publicação do conteúdo antes do
falecimento do ex-ditador.
Videla concedeu a entrevista durante sua passagem pela prisão de Bouwer, em Córdoba, quando eraréu de um julgamento no qual foi condenado à reclusão perpétua.
“A igreja ofereceu seus bons ofícios [em relação ao desaparecimento de
pessoas] e aos familiares que tinham certeza que não usariam
politicamente a informação, disseram que não procurassem mais seus
filhos porque [eles] estavam mortos”, afirmou.
Além
de confirmar pessoalmente a participação de bispos da Conferência
Episcopal Argentina na ocultação de desaparições, o ditador também
minimizou a articulação entre países do Cone Sul para a repressão: “Eu
nunca vi uma pasta que dissesse “Operação Condor”. Se tinha unidade na
forma de enfrentar o problema, era pela reação frente a uma situação
gerada pela União Soviética que estava em confronto com os Estados
Unidos”, justifica.
Para
ele, as guerrilhas revolucionárias foram estimuladas pelo bloco
soviético, que utilizava as lutas contra o colonialismo e a desigualdade
social como “argumentos” para “avançar na conquista do mundo”. Quando
questionado se a suposta “licença para matar” dos militares incluía
torturas, roubo de bebês e de bens, Videla justifica: “Quando se dá
tanto poder e liberdade de ação a uma força como o Exército, é
inevitável que muitos utilizem estas liberdades em benefício próprio”.
No
texto, o jornalista considera que uma das contradições da ditadura foi a
negação inicial de que a repressão seria uma "guerra", alegação atual
de militares que perpetraram torturas, mortes e desaparecimentos, cujo
número de vítimas é estimado em 30 mil por organizações de direitos
humanos. Deste modo, argumenta o jornalista, os membros do grupo
guerrilheiro ERP (Exército Revolucionário do Povo) não tinham os
direitos de prisioneiros de guerra reconhecidos.
Quando
questionado sobre o uso desta palavra, Videla afirma que “a guerra não
podia ser revelada neste momento”, garantindo que a repressão foi uma
resposta “à medida dessa agressão” que “não cumpria com os direitos de
guerra”. Segundo ele, hoje se ignora a existência de uma “agressão
prévia” à ditadura, o que faz com que as vítimas da repressão sempre
contem suas histórias “a partir do momento em que foram presos”,
perspectiva que leva a que só os militares sejam julgados.
Documentos
Sobre
a revelação da lista de mortos pela ditadura e da localização das
fossas comuns onde os corpos foram enterrados, Videla afirma que “muitas
coisas [documentos] foram destruídas, porque teve uma ordem. Mas ainda
podem existir algumas listas para reconstruir um pouco do acontecido.
Deve ter alguma coisa. Mas não acho que publicar as listas hoje traria
alívio”, diz, após afirmar que a divulgação dos documentos não foi feita
por ser considerada “inconveniente”.
Apesar
de afirmar que a informação do paradeiro dos mortos “é um direito que
todas as famílias têm”, Videla afirma que os desaparecimentos “eram uma
das derivações prováveis” de “uma guerra". “Para mim, fica como uma
dívida pendente. Mas não sei como saldá-la. Não sei do destino final dos
desaparecidos nem dos voos da morte. Acho que já é uma questão que não
poderá ser resolvida, só com o esquecimento”, fala.
Como
em outras entrevistas recentes, o ex-ditador atribuiu aos governos do
casal Néstor e Cristina Kirchner - que acabaram com as leis de anistia
para a retomada dos julgamentos dos militares - a má imagem que tem
perante a sociedade argentina. “Nos últimos tempos, isso foi muito
atiçado pelo atual governo. Acho que com outro isso poderia amenizar de
alguma maneira”, analisa, qualificando a opinião pública como “uma cruz” que terá que carregar para o resto da vida.
*Cappacete
Processo para incorporação da Venezuela surpreendeu Washington e direita sul-americana e abre novas perspectivas para região. Por isso, será bombardeado pela mídia
O Mercosul e o xadrez geopolítico das Américas
BY
ADMIN – 19 DE JULHO DE 2012
ADMIN – 19 DE JULHO DE 2012
1. Não há como entender as peripécias da política sul-americana sem
levar em conta a política dos Estados Unidos para a América do Sul. Os
Estados Unidos ainda são o principal ator político na América do Sul e
pela descrição de seus objetivos devemos começar.
2. Na América do Sul, o objetivo estratégico central dos Estados Unidos,
que apesar do seu enfraquecimento continuam sendo a maior potência
política, militar, econômica e cultural do mundo, é incorporar todos os
países da região à sua economia. Esta incorporação econômica leva,
necessariamente, a um alinhamento político dos países mais fracos com os
Estados Unidos nas negociações e nas crises internacionais.
3. O instrumento tático norte-americano para atingir este objetivo
consiste em promover a adoção legal pelos países da América do Sul de
normas de liberalização a mais ampla do comércio, das finanças e
investimentos, dos serviços e de “proteção” à propriedade intelectual
através da negociação de acordos em nível regional e bilateral.
4. Este é um objetivo estratégico histórico e permanente. Uma de suas
primeiras manifestações ocorreu em 1889 na I Conferência Internacional
Americana, que se realizou em Washington, quando os EUA, já então a
primeira potência industrial do mundo, propuseram a negociação de um
acordo de livre comércio nas Américas e a adoção, por todos os países da
região, de uma mesma moeda, o dólar.
5. Outros momentos desta estratégia foram o acordo de livre comércio
EUA-Canadá; o NAFTA (Área de Livre Comércio da América do Norte,
incluindo além do Canadá, o México); a proposta de criação de uma Área
de Livre Comércio das Américas – ALCA e, finalmente, os acordos
bilaterais com o Chile, Peru, Colômbia e com os países da América
Central.
6. Neste contexto hemisférico, o principal objetivo norte-americano é
incorporar o Brasil e a Argentina, que são as duas principais economias
industriais da América do Sul, a este grande “conjunto” de áreas de
livre comércio bilaterais, onde as regras relativas ao movimento de
capitais, aos investimentos estrangeiros, aos serviços, às compras
governamentais, à propriedade intelectual, à defesa comercial, às
relações entre investidores estrangeiros e Estados seriam não somente as
mesmas como permitiriam a plena liberdade de ação para as megaempresas
multinacionais e reduziria ao mínimo a capacidade dos Estados nacionais
para promover o desenvolvimento, ainda que capitalista, de suas
sociedades e de proteger e desenvolver suas empresas (e capitais
nacionais) e sua força de trabalho.
7. A existência do Mercosul, cuja premissa é a preferência em seus
mercados às empresas (nacionais ou estrangeiras) instaladas nos
territórios da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai em relação
às empresas que se encontram fora desse território e que procura se
expandir na tentativa de construir uma área econômica comum, é
incompatível com objetivo norte-americano de liberalização geral do
comércio de bens, de serviços, de capitais etc que beneficia as suas
megaempresas, naturalmente muitíssimo mais poderosas do que as empresas
sul-americanas.
8. De outro lado, um objetivo (político e econômico) vital para os
Estados Unidos é assegurar o suprimento de energia para sua economia,
pois importam 11 milhões de barris diários de petróleo sendo que 20%
provêm do Golfo Pérsico, área de extraordinária instabilidade,
turbulência e conflito.
9. As empresas americanas foram responsáveis pelo desenvolvimento do
setor petrolífero na Venezuela a partir da década de 1920. De um lado, a
Venezuela tradicionalmente fornecia petróleo aos Estados Unidos e, de
outro lado, importava os equipamentos para a indústria de petróleo e os
bens de consumo para sua população, inclusive alimentos.
10. Com a eleição de Hugo Chávez, em 1998, suas decisões de reorientar a
política externa (econômica e política) da Venezuela em direção à
América do Sul (i.e. principal, mas não exclusivamente ao Brasil), assim
como de construir a infraestrutura e diversificar a economia agrícola e
industrial do país viriam a romper a profunda dependência da Venezuela
em relação aos Estados Unidos.
11. Esta decisão venezuelana, que atingiu frontalmente o objetivo
estratégico da política exterior americana de garantir o acesso a fontes
de energia, próximas e seguras, se tornou ainda mais importante no
momento em que a Venezuela passou a ser o maior país do mundo em
reservas de petróleo e em que a situação do Oriente Próximo é cada vez
mais volátil.
12. Desde então desencadeou-se uma campanha mundial e regional de mídia
contra o Presidente Chávez e a Venezuela, procurando demonizá-lo e
caracterizá-lo como ditador, autoritário, inimigo da liberdade de
imprensa, populista, demagogo etc. A Venezuela, segundo a mídia, não
seria uma democracia e para isto criaram uma “teoria” segundo a qual
ainda que um presidente tenha sido eleito democraticamente, ele, ao não
“governar democraticamente”, seria um ditador e, portanto, poderia ser
derrubado. Aliás, o golpe já havia sido tentado em 2002 e os primeiros
lideres a reconhecer o “governo” que emergiu desse golpe na Venezuela
foram George Walker Bush e José María Aznar.
13. À medida que o Presidente Chávez começou a diversificar suas
exportações de petróleo, notadamente para a China, substituiu a Rússia
no suprimento energético de Cuba e passou a apoiar governos
progressistas eleitos democraticamente, como os da Bolívia e do Equador,
empenhados em enfrentar as oligarquias da riqueza e do poder, os
ataques redobraram orquestrados em toda a mídia da região (e do mundo).
14. Isto apesar de não haver dúvida sobre a legitimidade democrática do
Presidente Chávez que, desde 1998, disputou doze eleições, que foram
todas consideradas livres e legítimas por observadores internacionais,
inclusive o Centro Carter, a ONU e a OEA.
15. Em 2001, a Venezuela apresentou, pela primeira vez, sua candidatura
ao Mercosul. Em 2006, após o término das negociações técnicas, o
Protocolo de adesão da Venezuela foi assinado pelos Presidentes Chávez,
Lula, Kirchner, Tabaré e Nicanor Duarte, do Paraguai, membro do Partido
Colorado. Começou então o processo de aprovação do ingresso da Venezuela
pelos Congressos dos quatro países, sob cerrada campanha da imprensa
conservadora, agora preocupada com o “futuro” do Mercosul que, sob a
influência de Chávez, poderia, segundo ela, “prejudicar” as negociações
internacionais do bloco etc. Aquela mesma imprensa que rotineiramente
criticava o Mercosul e que advogava a celebração de acordos de livre
comércio com os Estados Unidos, com a União Européia etc, se possível
até de forma bilateral, e que considerava a existência do Mercosul um
entrave à plena inserção dos países do bloco na economia mundial, passou
a se preocupar com a “sobrevivência” do bloco.
16. Aprovado pelos Congressos da Argentina, do Brasil, do Uruguai e da
Venezuela, o ingresso da Venezuela passou a depender da aprovação do
Senado paraguaio, dominado pelos partidos conservadores representantes
das oligarquias rurais e do “comércio informal”, que passou a exercer um
poder de veto, influenciado em parte pela sua oposição permanente ao
Presidente Fernando Lugo, contra quem tentou 23 processos de
“impeachment” desde a sua posse em 2008.
17. O ingresso da Venezuela no Mercosul teria quatro consequências:
dificultar a “remoção” do Presidente Chávez através de um golpe de
Estado; impedir a eventual reincorporação da Venezuela e de seu enorme
potencial econômico e energético à economia americana; fortalecer o
Mercosul e torná-lo ainda mais atraente à adesão dos demais países da
América do Sul; dificultar o projeto americano permanente de criação de
uma área de livre comércio na América Latina, agora pela eventual
“fusão” dos acordos bilaterais de comércio, de que o acordo da Aliança
do Pacifico é um exemplo.
18. Assim, a recusa do Senado paraguaio em aprovar o ingresso da
Venezuela no Mercosul tornou-se questão estratégica fundamental para a
política norte americana na América do Sul.
19. Os líderes políticos do Partido Colorado, que esteve no poder no
Paraguai durante sessenta anos, até a eleição de Lugo, e os do Partido
Liberal, que participava do governo Lugo, certamente avaliaram que as
sanções contra o Paraguai em decorrência do impedimento de Lugo, seriam
principalmente políticas, e não econômicas, limitando-se a não poder o
Paraguai participar de reuniões de Presidentes e de Ministros do bloco.
Feita esta avaliação, desfecharam o golpe. Primeiro, o Partido Liberal
deixou o governo e aliou-se aos Colorados e à União Nacional dos
Cidadãos Éticos – UNACE e aprovaram, a toque de caixa, em uma sessão,
uma resolução que consagrou um rito super-sumário de “impeachment”.
Assim, ignoraram o Artigo 17 da Constituição paraguaia que determina que
“no processo penal, ou em qualquer outro do qual possa derivar pena ou
sanção, toda pessoa tem direito a dispor das cópias, meios e prazos
indispensáveis para apresentação de sua defesa, e a poder oferecer,
praticar, controlar e impugnar provas”, e o artigo 16 que afirma que o
direito de defesa das pessoas é inviolável.
20. Em 2003, o processo de impedimento contra o Presidente Macchi, que
não foi aprovado, levou cerca de 3 meses enquanto o processo contra
Fernando Lugo foi iniciado e encerrado em cerca de 36 horas. O pedido de
revisão de constitucionalidade apresentado pelo Presidente Lugo junto à
Corte Suprema de Justiça do Paraguai sequer foi examinado, tendo sido
rejeitado in limine.
21. O processo de impedimento do Presidente Fernando Lugo foi
considerado golpe por todos os Estados da América do Sul e de acordo com
o Compromisso Democrático do Mercosul o Paraguai foi suspenso da Unasur
e do Mercosul, sem que os neogolpistas manifestassem qualquer
consideração pelas gestões dos Chanceleres da UNASUR, que receberam,
aliás, com arrogância.
22. Em consequência da suspensão paraguaia, foi possível e legal para os
governos da Argentina, do Brasil e do Uruguai aprovarem o ingresso da
Venezuela no Mercosul a partir de 31 de julho próximo. Acontecimento que
nem os neogolpistas nem seus admiradores mais fervorosos – EUA,
Espanha, Vaticano, Alemanha, os primeiros a reconhecer o governo ilegal
de Franco – parecem ter previsto.
23. Diante desta evolução inesperada, toda a imprensa conservadora dos
três países, e a do Paraguai, e os líderes e partidos conservadores da
região, partiram em socorro dos neogolpistas com toda sorte de
argumentos, proclamando a ilegalidade da suspensão do Paraguai (e,
portanto, afirmando a legalidade do golpe) e a inclusão da Venezuela, já
que a suspensão do Paraguai teria sido ilegal.
24. Agora, o Paraguai procura obter uma decisão do Tribunal Permanente
de Revisão do Mercosul sobre a legalidade de sua suspensão do Mercosul
enquanto, no Brasil, o líder do PSDB anuncia que recorrerá à justiça
brasileira sobre a legalidade da suspensão do Paraguai e do ingresso da
Venezuela.
25. A política externa norte-americana na América do Sul sofreu as
consequências totalmente inesperadas da pressa dos neogolpistas
paraguaios em assumir o poder, com tamanha voracidade que não podiam
aguardar até abril de 2013, quando serão realizadas as eleições, e agora
articula todos os seus aliados para fazer reverter a decisão de
ingresso da Venezuela.
26. Na realidade, a questão do Paraguai é a questão da Venezuela, da
disputa por influência econômica e política na América do Sul e de seu
futuro como região soberana e desenvolvida.
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