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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
segunda-feira, outubro 08, 2012
PT elege 63 prefeitos no 1º turno no Estado de São Paulo
Relação de prefeituras conquistadas pelo PT
Campinas – Marcio Pochmann
Diadema – Mario Reali
Guarulhos – Sebastião Almeida
Mauá - Donisete Braga
Santo André - Carlos Grana PT
São Paulo – Fernando Haddad
Taubaté - Isaac Do Carmo
* O Esquerdopata
- Araçatuba - Cido Prefeito
- Araras - Dr. Brambilla
- Barra Do Turvo – Henrique
- Barrinha - Katia
- Boa Esperança Do Sul - Edinho
- Andradina - Jamil Ono
- Raminelli
- Bofete - Torão
- Borá - Luiz Do Açougue
- Bragança Paulista - Fernão Dias
- Brodowski - Elves Carreira
- Cachoeira Paulista - João Luiz
- Carapicuíba - Sergio Ribeiro
- Charqueada – Piazza
- Coroados - Tute
- Cubatão – Marcia Rosa
- Divinolândia – Ismar
- Dobrada – Juninho
- Embu Das Artes - Chico Brito
- Franco Da Rocha - Kiko
- Glicério – Itamar
- Guaíra - Sergio De Mello
- Guapiara - Jorge Sabino
- Guareí - João Momberg
- Hortolândia - Meira
- Ibiúna - Professor Eduardo
- Iracemápolis – Valmir
- Itapirapuã Paulista - João Batista
- Itupeva - Ricardo Bocalon
- Jacareí - Hamilton
- Jaú - Rafael Agostini
- José Bonifácio - Padre Edmilson
- Laranjal Paulista - Heitor Camarin
- Lavrinhas - Soares
- Matão - Chico Dumont
- Monte Castelo – Pi
- Nazaré Paulista - Junior
- Osasco – Jorge Lapas
- Paraíso - Silvia Do André Gallo
- Patrocínio Paulista - Marcos Ferreira
- Pedreira - Professor Carlos
- Piquete – Teca
- Promissão - Hamilton Foz
- Queiroz – Rodrigo
- Ribeirão Branco - Sandro Sala
- Ribeirão Corrente - Airton Montanher
- Rincão - Dudu Bolito
- Roseira - Jonas Polydoro
- Sales - Charles
- Sales Oliveira - Fabio Graton
- Salto - Juvenil Cirelli
- Santa Branca - Adriano Pereira
- Santo Antônio Do Aracanguá - Luizão
- Santo Antônio Do Pinhal - Junior Advogado
- São Bernardo Do Campo - Luiz Marinho
- São Joaquim Da Barra - Dr. Marcelo Mian
- São José dos Campos - Carlinhos Almeida
- São Sebastião Da Grama - Zé Da Doca
- Serra Azul - Marcelo Queiroz
- Taguaí – Zaga
- Tanabi - Bel Repizo
- Taquaritinga - Dr Fulvio Zuppani
- Ubatuba – Mauricio
- Vera Cruz – Fernando Simon
Campinas – Marcio Pochmann
Diadema – Mario Reali
Guarulhos – Sebastião Almeida
Mauá - Donisete Braga
Santo André - Carlos Grana PT
São Paulo – Fernando Haddad
Taubaté - Isaac Do Carmo
Pinheirinho e a derrota de Alckmin
Por Altamiro Borges
Em janeiro deste ano, os tucanos Eduardo Cury, prefeito de São José dos
Campos, e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, foram protagonistas
de uma cena de barbárie ao acionarem a polícia contra os moradores da
ocupação do Pinheirinho. Milhares de famílias carentes foram desalojadas
com bombas, tiros e cassetetes. O bairro se transformou num campo de
guerra, com dezenas de feridos. Agora, porém, a população de São José
dos Campos parece que vai dar o troco à truculência fascistóide do PSDB.
Segundo pesquisa Ibope, o candidato dos tucanos, Alexandre Blanco, pode
nem ir ao segundo turno na eleição para a prefeitura deste importante
município. Ele somou 27% das intenções de voto, contra 56% do candidato
Carlinhos Almeida (PT). O próprio Estadão, que apoiou a ação policial no
local, ficou surpreso com o resultado. “Na batalha entre dois episódios
de alcance nacional - o mensalão, explorado pelo PSDB, e a reintegração
do Pinheirinho, pelo PT -, quem ficou à frente foi o petista Carlinhos
Almeida”.
Para o blogueiro Eduardo Guimarães, a derrota dos tucanos em São José
dos Campos é emblemática. O PSDB dirige a cidade há 16 anos, sempre a
serviço dos ricaços que faturam com a especulação imobiliária. O
município também é considerado um reduto eleitoral de Geraldo Alckmin,
que se projetou na política na vizinha Pindamonhangaba. Essa hegemonia,
porém, pode chegar ao fim. A violenta operação policial contra as cinco
mil famílias do Pinheirinho serviu para desmascarar a política elitista e
autoritária dos tucanos.
“Este blogueiro acompanhou de perto o sofrimento de milhares e milhares
de homens, mulheres, crianças e idosos, expulsos de suas casas por ação
do prefeito Eduardo Cury, em benefício do mega especulador Naji Nahas,
dono da área em que ficava o bairro do Pinheirinho... Nem em seus piores
pesadelos a direita demotucana, a mídia, o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, e a maioria dos ministros do STF – os quais,
repito, vão operando uma tentativa explícita de golpe eleitoral contra o
PT – poderiam imaginar o quadro acima descrito [da derrota nas eleições
municipais]”.
*Ajusticeiradeesquerda
EUA e UE querem desintegração do Mercosul
Samuel Pinheiro Guimarães |
EUA e UE querem desintegração do Mercosul, diz Samuel Pinheiro
Em entrevista ao BRASIL DE FATO, o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, fala sobre o potencial do bloco sul-americano que se contrapõe aos interesses de controle comercial e industrial dos Estados Unidos (EUA) e da União Europeia sobre a região. Ele ataca o modus operandi dos países centrais do capitalismo na relação com a América Latina.
“Os EUA e os países altamente desenvolvidos têm tido, como meta geral de política econômica e diplomacia externa, a eliminação de todas as barreiras ao comércio e ao fluxo de capitais. Ao mesmo tempo, têm advogado a adoção de uma série de normas que impedem qualquer controle sobre o capital estrangeiro”.
Contundência. É dessa forma que o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães costuma se expressar sobre os temas que bem conhece. Secretário-geral de Relações Exteriores durante sete anos do governo Lula (2003-2009), ele foi uma das vozes mais eloquentes no processo que ajudou a enterrar a Aliança para o Livre Comércio das Américas (Alca) – iniciativa que buscava apagar todas as fronteiras comerciais do continente, num claro favorecimento à indústria norte-americana.
Dono de uma sólida formação acadêmica na área jurídica e sociológica, e quadro do Itamaraty há quase 50 anos, Guimarães exerceu até junho desse ano a função de Alto-Representante do Mercosul, sendo articulador das políticas entre os países-membros do bloco. Professor de Economia Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele analisa com propriedade os atuais desafios sul-americanos, especialmente a mudança geopolítica após a entrada da Venezuela no grupo. “Esse ingresso vai proteger o país das tentativas de golpe”, aponta. Sobre o Brasil, o diplomata detecta um perigoso processo de desindustrialização da economia e uma hegemonia do capital internacional no controle dos fluxos de capitais.
Brasil de Fato: Um dos fatos políticos mais importantes do ano para a América do Sul foi a entrada da Venezuela no Mercosul. Qual a importância disso para a geopolítica regional?
Samuel Pinheiro Guimarães: O ingresso da Venezuela no Mercosul foi um fato de grande importância, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Do ponto de vista econômico, a Venezuela é o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, no momento. Além disso, os preços do combustível continuarão altos nos próximos anos. No mais, a Venezuela está engajada, desde que o presidente Chávez assumiu, num processo de desenvolvimento do país, de construção de uma economia nacional. Antes, havia uma economia puramente petroleira, exportando petróleo e importando todo o resto. Ele [Chávez] tem essa determinação. Para os outros países do Mercosul, tudo isso é extremamente importante porque a Venezuela estará disposta a dar uma preferência aos países do bloco no seu mercado interno. Cria-se uma oportunidade importante para os países exportadores de produtos primários (Uruguai e Paraguai) e, ao mesmo tempo, abre seu grande mercado para produtos manufaturados de Brasil e Argentina. A Venezuela pode contribuir de forma muito significativa para reduzir as assimetrias dentro do bloco, através do Focem [Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul].
Do ponto de vista político, é importante esse ingresso porque, como é notório, existe o interesse deliberado dos EUA e dos países alinhados aos norte-americanos para que haja uma mudança de regime na Venezuela. Trata-se de um esforço consistente, a nível internacional, tentando retratar o presidente Chávez como um ditador, uma pessoa não confiável, descontrolado e assim por diante. Essa não é a opinião do povo venezuelano. Mas eles conseguiram consenso da mídia internacional, na América Latina e no resto do mundo, de modo que há quase uma convicção de que existiria uma ditadura na Venezuela, que não há liberdade de opinião, etc. A Venezuela no Mercosul a protege de eventuais golpes.
Brasil de Fato: Embaixador, o senhor tem afirmado que há uma meta permanente dos países centrais do capitalismo, capitaneados pelos EUA, de desintegrar o Mercosul. Qual o sentido estratégico desse esforço e o que pode ser feito de forma mais agravante contra a consolidação do Mercosul?
Samuel Pinheiro Guimarães: Os EUA e os países altamente desenvolvidos têm tido, como meta geral de política econômica e diplomacia externa, a eliminação de todas as barreiras ao comércio e ao fluxo de capitais. Ao mesmo tempo, têm advogado a adoção de uma série de normas que impedem qualquer controle sobre o capital estrangeiro. Então, por exemplo, os acordos negociados no âmbito da Rodada Uruguaia [Acordo comercial internacional, iniciado em 1986, que criou a Organização Mundial do Comércio e estabeleceu redução de subsídios agrícolas] preveem que os países não podem impor certas regras ao capital estrangeiro, como metas de exportação, obrigação de transferência de tecnologia, obrigação de insumos locais. Para esses países, que sediam as maiores empresas multinacionais, isso é conveniente porque eles realizam lucros nos países periféricos e remetem esses lucros para as suas sedes. Sabemos que o banco Santander, recentemente, só não teve prejuízo em nível mundial por causa da sua filial no Brasil. Isso é comum. Por isso, é muito importante esse livre fluxo de recursos porque ele se transforma em dividendos para os seus acionistas e, portanto, para o bem-estar daquela sociedade de origem [dos capitais]. Naturalmente, nunca praticaram isso para o setor agrícola. É livre comércio para produtos industriais e não para produtos agrícolas, porque não aceitam [a concorrência com os exportadores agrícolas]. Eles também protegem setores da sua indústria que desejam proteger.
Então, diante de qualquer acordo econômico que estabeleça preferências para as empresas que estão situadas dentro do território daquele agrupamento, como é o caso do Mercosul, eles não são favoráveis. Para isso, utilizam a ideia do regionalismo aberto, em que pode haver processo de integração, mas seria importante negociar com a União Europeia, os EUA. Na época da negociação da Alca havia uma ideia de que o Mercosul seria um dos blocos de construção da área. O Mercosul se acabaria com a Alca, por uma razão lógica: a partir do momento que se eliminam as tarifas, não há mais preferência. Eles também receiam as preferências para as empresas que estão dentro do bloco, eles querem que isso não ocorra. O ideal melhor desses países não é investir, é exportar. Eles só investem na China porque lá se estabelecem condições.
Brasil de Fato: O senhor acredita que esse potencial do Mercosul já foi percebido por seus “inimigos”, mas talvez os protagonistas ainda não tenham notado a importância de consolidá-lo, politicamente, através, por exemplo, de um sistema de comunicação mais adequado, que desse um nível de consciência cultural da importância histórica dessa integração?
Samuel Pinheiro Guimarães: É verdade. Principalmente no maior deles, que é o Brasil. Não há essa consciência, apesar do Mercosul ser um mercado extremamente importante para o nosso país. Em primeiro lugar, porque o Brasil tem sua pauta de exportações, para a Europa, a China, focada nos produtos primários. Os países para onde o Brasil vende produtos manufaturados são os do Mercosul e da América do Sul, e os Estados Unidos. Nesse último caso, cumpre esclarecer, é por causa do comércio “intra-firma”. As filiais americanas daqui vendem para as suas unidades nos EUA, mas essas mesmas filiais não exportam para a China nem a Europa. O Brasil só exporta como Brasil quando são as empresas estatais. O restante das importações são empresas privadas que estão no país, mas não são nacionais [em termos de capital]. As pessoas não sabem o que é a questão do comércio dentro da firma. A Fiat do Brasil exporta para Itália uma quantidade x de automóveis, o mesmo acontece em outros casos. São poucas as empresas nacionais que fazem investimentos na Argentina, Uruguai, Peru, Chile. É o caso da estatal Petrobras ou os bancos, como o Itaú. Claro que a Ford do Brasil não investe na Argentina. Lá, é a Ford dos EUA que investe. Um problema complexo, de longo prazo, é a presença das megaempresas multinacionais no Brasil sem a possibilidade de controlá-las, a qual o Brasil abdicou na reunião da Rodada do Uruguai.
Brasil de Fato: Mas em que isso fragiliza o Brasil?
Samuel Pinheiro Guimarães: Não se pode diversificar as exportações. A grande presença das empresas multinacionais, sem maiores obrigações, faz com que elas exportem apenas para onde elas decidem exportar. Qualquer campanha ou tentativa de expandir exportações para a China é frustrada porque elas não vão exportar, ou porque já estão lá e não vão concorrer com elas mesmas, ou porque decidem abastecer a China, digamos, partir de outra unidade. Isso afeta todo o comércio exterior na área de manufatura. Muitas empresas de capital nacional trabalham com tecnologia estrangeira, mas mediante condições. Por exemplo, a empresa pode produzir no país, mas não pode exportar.
Brasil de Fato: A Embraer seria uma delas?
Samuel Pinheiro Guimarães: Não. Mas, veja, a Embraer, que é uma montadora, não pôde exportar aviões para a Venezuela porque as firmas norte-americanas que iriam fornecer as peças não forneceram. Mas pôde exportar para a Colômbia, uma decisão política para exportar para aquele país e não para outro.
Isso prejudica o comércio exterior, porque o processo de desenvolvimento é de acumulação de capital. Não de capital financeiro, mas de capital físico. Como uma empresa se desenvolve? Aumentando suas instalações, suas máquinas e assim por diante. De uma forma geral, para acumular o capital físico, tem que gerar excedentes, os lucros. Esse lucro tem dois destinos: são distribuídos, sob a forma de dividendos, aos acionistas daquela empresa ou são reinvestidos na compra de equipamentos. Se a empresa é nacional, em princípio, ela distribui dividendos para brasileiros e investem no Brasil. Se a empresa é estrangeira, obtém lucro e distribui dividendos aos acionistas estrangeiros e, apenas eventualmente pode aumentar ou não seu capital físico no Brasil.
Brasil de Fato: Mas isso não decorre de uma alteração constitucional feita sobre empresa brasileira?
Samuel Pinheiro Guimarães: Sim. Durante o período do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), “preocupado” com os destinos da empresa nacional [ironiza], resolveu igualá-la a empresa multinacional. Isso é uma coisa gravíssima. Claro que se pode utilizar o capital estrangeiro para induzir a transferência de tecnologia, diversificação das exportações, criação de tecnologia dentro do país. Na China, há centenas de centros de pesquisa de desenvolvimento de empresas multinacionais, induzidas pelo governo. No Brasil, isso não ocorre.
Brasil de Fato: Para legitimar o fiasco regional, existe um jornalismo de desintegração. O que nos impede de fazer o jornalismo da integração?
Samuel Pinheiro Guimarães: Dois dos mais importantes instrumentos de influência política das grandes potências são o setor financeiro e o de comunicações. São fundamentais. O setor de comunicações é o que faz o imaginário das pessoas. Fazem com que elas acreditem, por exemplo, que o presidente Chávez é um ditador. E muitas outras coisas. O Iraque foi atacado a pretexto de possuir armas de destruição em massa, mas verificou-se que isso não existia. Nesse caso, é importante até imitar os EUA no passado, isto é, impedir os monopólios e oligopólios nos meios de comunicação, democratizar as verbas oficiais de publicidade do Estado. Algo que a Argentina também fez, com a Lei de Meios. Isso permitiria haver concorrência nos meios de comunicação, o que não há no Brasil. Como está, a comunicação é um instrumento importante de exercício de poder da classe hegemônica local que está vinculada a classe hegemônica dos países altamente desenvolvidos.
Brasil de Fato: Não se sabe, por exemplo, que a Venezuela tem hoje o maior salário mínimo da América Latina, o equivalente a R$ 2,1 mil e a Argentina, o equivalente a R$ 1,4 mil.
Samuel Pinheiro Guimarães: Sobre isso, se silencia. E vão se criando uma série de factoides, ou seja, situações que não existem além de ocultar outras questões importantes.
Brasil de Fato: Voltando ao tema da economia, está em curso um processo de desindustrialização do Brasil?
Samuel Pinheiro Guimarães: Não tenho a menor dúvida. Quase todos os economistas estão de acordo com isso. Há um processo que tem uma dinâmica própria, que deriva de dois fatos. O primeiro é a emergência da China e sua enorme importância por produtos primários. Esse fato está diretamente ligado à necessidade de divisas do Estado, porque não equilibra o balanço de pagamento senão entrarem recursos, se não entrar capital. Como se tem enorme dificuldade em expandir o comércio de manufaturados, o comércio de matéria-prima acaba sendo direcionado para a China, o que torna atividade do agronegócio e da mineração altamente lucrativa.
Do outro lado, a China tem necessidade de exportar manufaturados, dos produtos mais simples aos mais complexos, como bens de capital. A China tem deslocado a posição dos EUA e da Alemanha no fornecimento de bens de capital para o Brasil e a Argentina, porque os preços [chineses] são mais baratos. Isso entra em competição com indústria instalada no Brasil. Contribui para reduzir os lucros dessa indústria, que começa a importar insumos para reduzir seus custos e depois acaba simplesmente importando e distribuindo o produto estrangeiro. Europa e EUA também procuram exportar manufatura porque precisam gerar divisas e criar empregos lá. Os EUA tem tido superávit grande com o Brasil. Ano passado, a vantagem comercial foi de oito bilhões de dólares. Isso contribui para tornar a atividade industrial no Brasil menos lucrativa e o agronegócio e a mineração, ao contrário, atividades mais lucrativas. Inclusive porque com a política cambial e o influxo de dólares, o real está supervalorizado, então é muito fácil exportar, mas difícil importar.
É uma dinâmica com interesse internacional muito forte. Na área do agronegócio, as exportadoras são multinacionais. Não é o produtor de soja que exporta. A Cargill, Dreyfus, a Bunge… as cotações da soja estão altíssimas e quem se apropria disso são as multinacionais. Teria que haver um imposto de exportação para usar esse recurso, para duas finalidades, em minha opinião. A primeira seria promover o processamento das matérias-primas no Brasil. O que acontece com a soja que vai para China? É transformada em farelo, óleo de soja, então teria que se promover a transformação aqui. O minério de ferro que vai para a China é transformado em aço que nós compramos sob a forma de trilho. Para isso, precisa de atuação do governo.
Brasil de Fato: Esse modelo não tem sido estimulado pelo próprio governo? Como o senhor avalia essas medidas recentes de concessão de rodovias e ferrovias, justamente em ramais que favorecem a economia agroexportadora?
Samuel Pinheiro Guimarães: Eu não estudei a questão das concessões em detalhes. Mas, tendo em vista a demanda que existe por esses produtos, não se pode simplesmente, por causa das restrições de balanço de pagamento, deixar de construir esse tipo de infraestrutura. A hipótese é que se precisa construir rodovia, até por causa do próprio desenvolvimento do mercado interno, porque não se transporta só produtos do agronegócio, mas todo tipo produto. Com a ferrovia, é a mesma coisa. A premissa é se o Estado vai ter empresas construtoras de ferrovias e rodovias ou se vai contratar a iniciativa privada. E se contratar a iniciativa privada, ela será nacional ou estrangeira?
Se for nacional ou estrangeira, definir quais serão as condições, o lucro que se pretende. Para constituir o mercado interno, é necessário construir as redes de comunicações, com ferrovias, rodovias, metrô, portos, até para permitir que a economia funcione. Não se pode prescindir. Se a economia cresce e a rede física não expande, gera problemas graves, como congestionamento de portos e aumento de custos de produção.
Brasil de Fato: O senhor tem escrito muito acerca da relação complexa do papel das empresas brasileiras nos outros países no curso de uma integração. E também da política externa brasileira, que facilitou e fortaleceu a presença brasileira na Ásia, no mundo árabe, na América do Sul e até na África. O papel das empresas brasileiras contraria interesses dos países nessas regiões?
Samuel Pinheiro Guimarães: Acho que isso se aplica mais à América do Sul, ainda tendo em vista que o número de empresas brasileiras com capacidade para operar fora é relativamente reduzido. Poderíamos citar a Petrobrás, Vale, o setor bancário. Por isso, essa expansão das empresas brasileiras se dá na zona mais próxima, na América do Sul, através da aquisição de empresas locais, situações que poderiam gerar conflito entre empresas brasileiras e governos, como já houve em alguns casos e podem se agravar e levar a casos delicados politicamente.
Brasil de Fato: Mas qual seria o papel possível, dentro de uma regra capitalista, para o Estado brasileiro impedir que as empresas cedam à tentação de um sub imperialismo?
Samuel Pinheiro Guimarães: Eu acho que podem ser estabelecidas condições preferenciais. Por exemplo, não acho que o governo brasileiro deve financiar a aquisição, por empresas brasileiras, de empresas dos outros países. O governo pode estimular um comportamento diferente, de financiar a formação de associação com empresas locais. Aí o governo dá juros mais baixos, linhas de créditos especiais. A diferença de tamanho da economia brasileira é tal em relação aos outros países vizinhos que a penetração de capital brasileiro nesses países é extraordinária. Na Argentina, hoje em dia, a presença do capital brasileiro é muito grande, no setor bancário, setor do petróleo, mesmo no setor de frigorífico, a presença é muito importante. Tudo isso faz com que, se o governo local decide, por exemplo, mudar a legislação de remessas de lucros, a empresas brasileiras vão ser afetadas por isso, vão querer influir sobre o governo local. Se não tiverem êxito, vão pedir auxílio ao governo brasileiro. É uma tendência muito grande. A tendência não é haver um influxo de empresas equatorianas ou peruanas no Brasil.
Brasil de Fato: Há 30 ou 40 anos, Brasil e China estavam em uma situação parecida em diversas áreas. Mas, de lá para cá, a China, que não tinha programa espacial, atualmente já lançou nave no espaço. Não havia programa nuclear, hoje isso é bastante desenvolvido por lá. O Brasil não avançou quase nada nesses dois setores. Qual a explicação histórica para isso?
Samuel Pinheiro Guimarães: Houve opção por um tipo de política econômica, especialmente a partir do governo Fernando Collor de Mello. Essa escolha de política econômica foi baseada, inclusive, nos princípios que estão consolidados no chamado Consenso de Washington. Havia a ideia de que o Estado seria a grande causa dos problemas que afligiam a economia brasileira, na área da dívida externa, inflação, entre outras. Esse consenso dizia, em primeiro lugar, que o Estado deveria abdicar de qualquer atividade econômica e industrial, o que refletiu um programa de privatização. Todas as atividades de produção deveriam ser privadas, não apenas a área produtos de consumo, mas todas. Não privatizaram todo o setor de energia porque não tiveram oportunidade. Em segundo lugar, o Estado também interferia na atividade econômica através de “regulamentos excessivos”, então deveria desregulamentar, ou seja, deixar as empresas “livres” para que, através do jogo das forças de mercado, houvesse melhor alocação possível de recursos. Três, deveria haver abertura da economia para o exterior. O Estado deveria deixar de interferir no comércio exterior, de preferência eliminando todas as tarifas [alfandegárias].
O que ocorreu com a China, comparativamente, é que o Estado participou e organizou o processo de desenvolvimento econômico. Houve participação do capital estrangeiro, mas de forma disciplinada, sob um modo de ver o sistema econômico. Uns acham que para um país subdesenvolvido se desenvolver, a presença do Estado é essencial, com o fortalecimento da sua estrutura produtiva, suas empresas, assim por diante. Outros achavam que não, que isso ocorreria naturalmente, a transferência de tecnologia aconteceria sem maiores problemas. Começou no governo Collor, foi freada na gestão Itamar Franco, mas aprofundada no governo Fernando Henrique Cardoso. Com o presidente Lula, essa política foi, aos poucos, sendo modificada. Quando se toma o programa como o Bolsa Família, trata-se de aperfeiçoamento da mão-de-obra porque, do ponto de vista econômico, faz com que as crianças tenham que ir para a escola, faz com que haja programa de saúde, controle de pré-natal, vacinas. Também houve impacto no mercado de consumo, aumento de demanda por produtos. O Programa Luz para Todos também estimulou isso. Onde não há luz, não há produto industrial. Vale citar os programas de crédito e os esforços na área de infraestrutura. Havia 20 anos que o Brasil não construía uma refinaria. Houve uma mudança progressiva em várias áreas.
Brasil de Fato: Mas o modelo econômico permanece o mesmo.
Samuel Pinheiro Guimarães: Sim, porém essa pressão tem que vir dos movimentos sociais. Se os movimentos não pressionam, as classes hegemônicas pressionam do outro lado, porque têm acesso mais fácil ao governo. Se não se faz pressão popular por outro modelo econômico, ele não vai ocorrer.
*Turquinho
BALANÇO GERAL
Aroeira.
................
De Fernando Rodrigues, em seu blog:
O PT e o PSB saem mais fortes das eleições municipais. (...)
(O PT) é a única legenda entre as de médio e grande porte que a cada eleição para prefeito sempre sai maior do que entrou. Agora, passou dos 600 prefeitos.
................
Pano rápido.
*DodóMacedo
PRIVATARIA TUCANA, LIVRO DE AMAURY RIBEIRO JR, PODE SER CABO ELEITORAL DE FERNANDO HADDAD NO SEGUNDO TURNO EM SÃO PAULO
A Privataria Tucana é um livro de autoria do jornalista brasileiro Amaury Ribeiro Jr, ex-repórter especial da revista Isto É e do cotidiano O Globo e ganhador de diversos prêmios Esso de jornalismo. O título do livro (“privataria”) é um neologismo que combina privatização a pirataria, criado pelo jornalista Elio Gaspari, e “Tucano” é um apelido comum dado a membros do PSDB, a partir de um dos símbolos do partido, o pássaro tucano.*Educaçãopolítica
O livro, resultado de 12 anos de investigação sobre as “privatizações no Brasil”, destaca documentos que apresentam indícios e evidências de irregularidades nas privatizações que ocorreram durante a administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, além de amigos e parentes de seu companheiro de partido, José Serra. Os documentos procuram demonstrar que estes políticos e pessoas ligadas a eles realizaram, entre 1993 e 2003, movimentos de milhões de dólares, lavagem de dinheiro através de offshores – empresas de fachada que operam em Paraísos Fiscais – no Caribe.
Privataria Tucana contém cerca de 140 páginas de documentos fotocopiados que evidenciam que o então Ministro do Planejamento e futuro Ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Serra, recebeu propina de empresários que participaram dos processos de privatização no Brasil. (wikipedia)
domingo, outubro 07, 2012
Haddad derrota o
mensalão e vai ao 2.o turno
Enfrentou a poderosa arma do Farol de Alexandria, que mandou o eleitor pensar no mensalão antes de votar.
Haddad derrotou o Tênue Gurgel, que torceu para o mensalão influir na eleição (de São Paulo, é claro).
Em Osasco, o candidato do PT, vice de João Paulo Cunha, também foi muito bem votado, apesar dos votos do Supremo.
Deu tudo certo para o Golpe.
Peluso votou.
Zavascki não votou.
Mas, o povo votou.
O que dirá na GloboNews o Ataulfo Merval de Paiva ?
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
O Brasil, a partir de amanhã
Há os que vêem, nas eleições municipais de São Paulo, os rumos futuros
do Brasil. Talvez lhes fosse mais proveitoso vê-los nas votações em todo
o Brasil, principalmente nos municípios mais pobres da Federação,
espalhados pelas regiões do Norte e do Nordeste. Os leitores dos
comentaristas dos grandes jornais, salvo alguns, menos jovens e mais
prudentes, não conhecem esse Brasil profundo, que começa a descobrir que
a vida pode ser mais do que o dia a dia do sofrimento dos pobres.
Estas eleições são importantes não porque, em São Paulo, em Belo
Horizonte ou Recife possam ser eventualmente debuxadas as cartas da
sucessão presidencial de aqui a dois anos. Elas são importantes por duas
grandes razões: com a Bolsa Família já consolidada e trazendo os seus
primeiros grandes efeitos, na libertação dos mais pobres, o voto não
precisa mais ser trocado por uma cesta básica. Mais do que ter o almoço
garantido, os mais pobres passaram a ter a liberdade de escolher seus
dirigentes. Nem sempre os melhores, mas com o tempo irão aprendendo.
A outra grande razão é a vigência da Lei da Ficha Limpa, uma conquista
direta dos cidadãos sobre a indolência conveniente dos parlamentares.
Como bem assinalou a Ministra Carmem Lúcia, presidente do TSE, essa sim,
poderá influir nos resultados eleitorais, mais do que o julgamento do
mal denominado mensalão. Segundo os cálculos, mais de três mil
candidatos disputarão o pleito sob o risco de, sendo vitoriosos, ter o
mandato cassado em seguida pela justiça. Essa limpeza ética animará os
cidadãos honrados a disputar, nas eleições a vir, os mandatos eletivos,
com o saneamento efetivo das atividades políticas.
Como o pleito de hoje se limita aos municípios, os grandes temas
nacionais se ausentam das campanhas, menos alguns. Em Minas, por
exemplo, o veto da Presidente Dilma Rousseff à maior participação dos
municípios e dos estados na divisão dos royalties pela extração de
minérios, ainda que de forma discreta, prejudicará os candidatos do PT.
Mesmo que se trate de um assunto pontual, os que conhecem bem os
mineiros sabem que o tema é delicado no Estado. Basta lembrar que, por
causa da espoliação dos mineradores pelos portugueses, dois homens se
rebelaram, foram perseguidos e executados, e se tornaram os heróis das
montanhas: Felipe dos Santos, em 1720, e Tiradentes, em 1792.
Com toda sua importância para os cidadãos de São Paulo, a eleição deste
domingo não irá decidir os rumos futuros do país. O que está em jogo, no
desenho do futuro é, mais uma vez, a economia. Em razão disso, é bom
concentrar a atenção nas conversações entre a China, a Rússia, o Brasil,
a Índia e a África do Sul, em seu projeto, já adiantado, de romper com a
famigerada governança mundial, com a criação do que poderíamos chamar
de um Fundo Monetário Internacional dos Brics, e a fundação de um novo
Banco Mundial para atender a todos os países emergentes e a uma agência
independente para a classificação de riscos. As existentes foram
incapazes de prever as crises que enfrentamos, porque, na verdade, são
controladas pelos grandes bancos que as provocaram com as fraudes
conhecidas.
O Brasil realizou uma importante revolução social, nestes últimos dez
anos, e não pode recuar. Como já constataram alguns pensadores, não é o
desespero que faz as revoluções, mas, sim, a esperança. Os milhões e
milhões de brasileiros que passaram a viver melhor não aceitarão voltar
ao passado de miséria e opróbrio.
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