O Brasil, a partir de amanhã
Há os que vêem, nas eleições municipais de São Paulo, os rumos futuros
do Brasil. Talvez lhes fosse mais proveitoso vê-los nas votações em todo
o Brasil, principalmente nos municípios mais pobres da Federação,
espalhados pelas regiões do Norte e do Nordeste. Os leitores dos
comentaristas dos grandes jornais, salvo alguns, menos jovens e mais
prudentes, não conhecem esse Brasil profundo, que começa a descobrir que
a vida pode ser mais do que o dia a dia do sofrimento dos pobres.
Estas eleições são importantes não porque, em São Paulo, em Belo
Horizonte ou Recife possam ser eventualmente debuxadas as cartas da
sucessão presidencial de aqui a dois anos. Elas são importantes por duas
grandes razões: com a Bolsa Família já consolidada e trazendo os seus
primeiros grandes efeitos, na libertação dos mais pobres, o voto não
precisa mais ser trocado por uma cesta básica. Mais do que ter o almoço
garantido, os mais pobres passaram a ter a liberdade de escolher seus
dirigentes. Nem sempre os melhores, mas com o tempo irão aprendendo.
A outra grande razão é a vigência da Lei da Ficha Limpa, uma conquista
direta dos cidadãos sobre a indolência conveniente dos parlamentares.
Como bem assinalou a Ministra Carmem Lúcia, presidente do TSE, essa sim,
poderá influir nos resultados eleitorais, mais do que o julgamento do
mal denominado mensalão. Segundo os cálculos, mais de três mil
candidatos disputarão o pleito sob o risco de, sendo vitoriosos, ter o
mandato cassado em seguida pela justiça. Essa limpeza ética animará os
cidadãos honrados a disputar, nas eleições a vir, os mandatos eletivos,
com o saneamento efetivo das atividades políticas.
Como o pleito de hoje se limita aos municípios, os grandes temas
nacionais se ausentam das campanhas, menos alguns. Em Minas, por
exemplo, o veto da Presidente Dilma Rousseff à maior participação dos
municípios e dos estados na divisão dos royalties pela extração de
minérios, ainda que de forma discreta, prejudicará os candidatos do PT.
Mesmo que se trate de um assunto pontual, os que conhecem bem os
mineiros sabem que o tema é delicado no Estado. Basta lembrar que, por
causa da espoliação dos mineradores pelos portugueses, dois homens se
rebelaram, foram perseguidos e executados, e se tornaram os heróis das
montanhas: Felipe dos Santos, em 1720, e Tiradentes, em 1792.
Com toda sua importância para os cidadãos de São Paulo, a eleição deste
domingo não irá decidir os rumos futuros do país. O que está em jogo, no
desenho do futuro é, mais uma vez, a economia. Em razão disso, é bom
concentrar a atenção nas conversações entre a China, a Rússia, o Brasil,
a Índia e a África do Sul, em seu projeto, já adiantado, de romper com a
famigerada governança mundial, com a criação do que poderíamos chamar
de um Fundo Monetário Internacional dos Brics, e a fundação de um novo
Banco Mundial para atender a todos os países emergentes e a uma agência
independente para a classificação de riscos. As existentes foram
incapazes de prever as crises que enfrentamos, porque, na verdade, são
controladas pelos grandes bancos que as provocaram com as fraudes
conhecidas.
O Brasil realizou uma importante revolução social, nestes últimos dez
anos, e não pode recuar. Como já constataram alguns pensadores, não é o
desespero que faz as revoluções, mas, sim, a esperança. Os milhões e
milhões de brasileiros que passaram a viver melhor não aceitarão voltar
ao passado de miséria e opróbrio.
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