Bancada da Bala confirma militarização paulista
“Bancada da bala” terá Telhada, Camilo e Conte Lopes
Para professora Vera Telles, “há uma tendência de militarização da gestão pública da São Paulo”
Igor Carvalho
Coronel
Telhada, depois de estimular que seus seguidores ameaçassem André
Caramante, o militar foi eleito em São Paulo (Foto: Divulgação)
A
chamada “bancada da bala” terá três representantes, em 2013, na Câmara
Municipal de São Paulo. Coronel Telhada (PSDB), com 77 mil votos,
Capitão Conte Lopes (PTB), com 26 mil votos e Coronel Camilo (PSD), que
conseguiu 23 mil eleitores, ajudarão a legislar as leis paulistanas.
A
militarização da gestão pública vem sendo debatida na cidade com mais
ênfase desde que o prefeito Gilberto Kassab (PSD) nomeou coronéis da
reserva para comandar 30 das 31 subprefeituras de São Paulo.
Recentemente,
o coronel reformado da Polícia Militar e ex-comandante da Rota (Rondas
Ostensiva Tobias Aguiar) Paulo Telhada, foi alvo de uma matéria do
jornalista André Caramante, da Folha de S. Paulo, em que denunciava o
coronel por divulgar relatos de confronto da Rota com civis, no
Facebook. O coronel conclamou seus seguidores na rede social a enviar
mensagens contra o repórter, que passou a receber ameaças de morte e foi
afastado pelo jornal, para que sua integridade física fosse preservada.
O
capitão Roberval Conte Lopes, também ex-comandante da Rota, é
responsável por ter criado a expressão: “Bandido bom é bandido morto”, e
escreveu, ainda, o livro “Matar ou Morrer”. O ex-militar está na
descendente na carreira política. Era deputado estadual, mas não
conseguiu se reeleger em 2010 e foi convidado pelo PTB para se lançar
como vereador, em 2012.
O coronel Álvaro Batista
Camilo foi, até dia 2 de abril de 2012, o comandante geral da Polícia
Militar de São Paulo. Foi afastado após críticas pela atuação da
corporação em episódios que geraram conflito com civis e que foram
pessoalmente coordenados por Camilo, como: Pinheirinho, Cracolândia e
invasão do prédio da reitoria da USP, quando alunos foram presos. O
coronel Camilo entrará para a Câmara porque o vereador Antônio Carlos
Rodrigues (PR) foi reeleito, mas ele vai assumir a vaga deixada por
Marta Suplicy, que agora é ministra da Cultura, no Senado. Camilo é o
primeiro suplente da coligação, que envolve o PR, partido de Rodrigues.
Militarização da gestão pública
A
professora de sociologia da Universidade São Paulo (USP), Vera Telles,
falou ao SPressoSP sobre o que representa a chegada dos três militares
ao poder, na cidade de São Paulo.
SPressoSP – Três vereadores, ligados diretamente a Polícia Militar e a Rota, assumirão cadeiras na capital paulista. O que isso significa?
Vera Telles –
A primeira coisa a notar é que a Polícia Militar está querendo, com
seus membros, influenciar a vida política na cidade de São Paulo. A
partir de posições que os caracterizam e que fizeram com que eles
viessem a ser conhecidos por “Bancada da Bala”
SPressoSP –
Através da eleição dos três, podemos dizer que há uma cumplicidade da
população com o que é feito nas ruas pela Polícia Militar e pela Rota?
Vera Telles – Eu
não sei se a população geral, mas há uma parcela que apoia os métodos
da Rota e seus expedientes de violência. Esse segmento, de fato, apoia e
elege, como tem eleito outras figuras como eles, pelo país.
SPressoSP – São 30 ex-coronéis na subprefeitura, agora três na câmara. Estamos vendo o que se costumou chamar “militarização do Estado”?
Vera Telles – Eu
acho que sim, aliás, não é do Estado mas sim uma tendência de
militarização da gestão pública da São Paulo, e que ganha cada vez mais
expressão nos aparelhos do Estado, porque quando digo que eles querem
influenciar a vida política é porque eles querem dar amparo e
sustentação ao que podemos chamar de usos extra legais da própria
polícia, que são práticas corrente da PM nas ruas, além da influência e
do controle da máquina do Estado. Essa militarização precisa ser
analisada, para sabermos o quão grave ela pode ser.
SPressoSP – É a cultura do medo que os levou até a Câmara?
Vera Telles – O
medo é fabricado pela gramática bélica, que vem sendo implementada, não
só pela PM, que pede “guerra ao crime”ou “guerra às drogas”, e como nós
sabemos a gramática bélica significa combater e eliminar os inimigos.
Esse pensamento bélico é algo que deveria ser muito diferente da gestão
urbana e até mesmo do policiamento clássico. Esse medo fabricado segue
para a periferia, e nos passa a impressão de que estamos em guerra e
precisamos ser protegidos, e o alvo precisa ser eliminado. Isso, de
fato, aciona a possibilidade de eleição desses indivíduos.
*GilsonSampaio