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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 09, 2012

Bancada da Bala confirma militarização paulista


“Bancada da bala” terá Telhada, Camilo e Conte Lopes
Para professora Vera Telles, “há uma tendência de militarização da gestão pública da São Paulo”
Igor Carvalho
Coronel Telhada, depois de estimular que seus seguidores ameaçassem André Caramante, o militar foi eleito em São Paulo (Foto: Divulgação)
A chamada “bancada da bala” terá três representantes, em 2013, na Câmara Municipal de São Paulo. Coronel Telhada (PSDB), com 77 mil votos, Capitão Conte Lopes (PTB), com 26 mil votos e Coronel Camilo (PSD), que conseguiu 23 mil eleitores, ajudarão a legislar as leis paulistanas.
A militarização da gestão pública vem sendo debatida na cidade com mais ênfase desde que o prefeito Gilberto Kassab (PSD) nomeou coronéis da reserva para comandar 30 das 31 subprefeituras de São Paulo.
Recentemente, o coronel reformado da Polícia Militar e ex-comandante da Rota (Rondas Ostensiva Tobias Aguiar) Paulo Telhada, foi alvo de uma matéria do jornalista André Caramante, da Folha de S. Paulo, em que denunciava o coronel por divulgar relatos de confronto da Rota com civis, no Facebook. O coronel conclamou seus seguidores na rede social a enviar mensagens contra o repórter, que passou a receber ameaças de morte e foi afastado pelo jornal, para que sua integridade física fosse preservada.
O capitão Roberval Conte Lopes, também ex-comandante da Rota, é responsável por ter criado a expressão: “Bandido bom é bandido morto”, e escreveu, ainda, o livro “Matar ou Morrer”. O ex-militar está na descendente na carreira política. Era deputado estadual, mas não conseguiu se reeleger em 2010 e foi convidado pelo PTB para se lançar como vereador, em 2012.
O coronel Álvaro Batista Camilo foi, até dia 2 de abril de 2012, o comandante geral da Polícia Militar de São Paulo. Foi afastado após críticas pela atuação da corporação em episódios que geraram conflito com civis e que foram pessoalmente coordenados por Camilo, como: Pinheirinho, Cracolândia e invasão do prédio da reitoria da USP, quando alunos foram presos. O coronel Camilo entrará para a Câmara porque o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR) foi reeleito, mas ele vai assumir a vaga deixada por Marta Suplicy, que agora é ministra da Cultura, no Senado. Camilo é o primeiro suplente da coligação, que envolve o PR, partido de Rodrigues.
Militarização da gestão pública
A professora de sociologia da Universidade São Paulo (USP), Vera Telles, falou ao SPressoSP sobre o que representa a chegada dos três militares ao poder, na cidade de São Paulo.
SPressoSP – Três vereadores, ligados diretamente a Polícia Militar e a Rota, assumirão cadeiras na capital paulista. O que isso significa?
Vera Telles A primeira coisa a notar é que a Polícia Militar está querendo, com seus membros, influenciar a vida política na cidade de São Paulo. A partir de posições que os caracterizam e que fizeram com que eles viessem a ser conhecidos por “Bancada da Bala”
SPressoSP – Através da eleição dos três, podemos dizer que há uma cumplicidade da população com o que é feito nas ruas pela Polícia Militar e pela Rota?
Vera Telles Eu não sei se a população geral, mas há uma parcela que apoia os métodos da Rota e seus expedientes de violência. Esse segmento, de fato, apoia e elege, como tem eleito outras figuras como eles, pelo país.
SPressoSP – São 30 ex-coronéis na subprefeitura, agora três na câmara. Estamos vendo o que se costumou chamar “militarização do Estado”?
Vera Telles Eu acho que sim, aliás, não é do Estado mas sim uma tendência de militarização da gestão pública da São Paulo, e que ganha cada vez mais expressão nos aparelhos do Estado, porque quando digo que eles querem influenciar a vida política é porque eles querem dar amparo e sustentação ao que podemos chamar de usos extra legais da própria polícia, que são práticas corrente da PM nas ruas, além da influência e do controle da máquina do Estado. Essa militarização precisa ser analisada, para sabermos o quão grave ela pode ser.
SPressoSP – É a cultura do medo que os levou até a Câmara?
Vera Telles O medo é fabricado pela gramática bélica, que vem sendo implementada, não só pela PM, que pede “guerra ao crime”ou “guerra às drogas”, e como nós sabemos a gramática bélica significa combater e eliminar os inimigos. Esse pensamento bélico é algo que deveria ser muito diferente da gestão urbana e até mesmo do policiamento clássico. Esse medo fabricado segue para a periferia, e nos passa a impressão de que estamos em guerra e precisamos ser protegidos, e o alvo precisa ser eliminado. Isso, de fato, aciona a possibilidade de eleição desses indivíduos.
*GilsonSampaio

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