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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 22, 2013

Discurso de  Obama influenciar políticos cretinos




“Nossa jornada não estará completa até que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer pessoa sob as leis – se somos verdadeiramente criados iguais, então certamente o amor que temos uns pelos outros também deve ser igual”. Depois dessa declaração do Presidente americano, Barack Obama, nessa segunda-feira (21/01), na cerimônia de posse do segundo mandato, em Washington, tenha certeza, isso vai mudar o comportamento de muito político brasileiro, principalmente os mais cretinos que não falam ou fogem do assunto, achando que poderiam perder votos. Alguns deles casados com mulheres, apesar de se saberem gays, fazem a linha ‘sou machão’.
A gente sabe que a cretinice é uma característica da maioria das pessoas dessa classe, mas a fala do Obama, certamente, vai abrir a cabeça de alguns desses que vivem ‘no armário’ e têm a hipocrisia como rotina na vida. Mais de 800 mil pessoas acompanharam o discurso.
*Mariadapenhaneles

GRÁFICO IMPRESSIONANTE: PSDB É UMA MÁQUINA DE PRODUZIR POBRES; ALCKMIN VAI MAIS LONGE, TRANSFORMA POBRES EM MISERÁVEIS

O gráfico abaixo, com dados da Fundação Getúlio Vargas, explica os motivos que estão levando ao fim do PSDB. O partido que desalojou violentamente milhares de moradores do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, e destina 25% dos leitos públicos para empresas privadas, tem a receita para produzir pobres e miseráveis.

O governo de Geraldo Alckmin, realizador dessas duas políticas sociais, é a experiência em tempo real do significado dos governos do PSDB e, de certa forma, explica o governo de Fernando Henrique em seus insucessos.

Alckmin foi mais longe no caso de Pinheirinho: transformou pobres em miseráveis. Famílias que tinham casas, hoje, um ano após essa tragédia tucana, estão na rua. O beneficiário da ação tucana, o financista Naji Nahas, que já foi preso por lavagem de dinheiro, ficou mais rico. E há ainda os ineptos que tentam explicar Lula por FHC.

Veja no quadro abaixo que, mesmo com o desenvolvimento social e o trabalho das famílias, durante o governo federal do PSDB, o número de pobres se manteve estável ou até aumentou. A partir de 2003, com o governo Lula, o número de pobres vai diminuindo. Viva o Arnaldo Jabor!!!

Foto: FGV ministério da fazenda
Veja mais em Educação Política:

A neoinquisição fluminense

Por Diego Gatto

Art. 1. Fica instituído o “Programa de Resgate de Valores Morais, Sociais, éticos e Espirituais” no âmbito do Estado Rio de Janeiro. Não, você não leu errado. Este não é um trecho de lei escrita por Jânio Quadros proibindo biquínis e este artigo não trata de eventos históricos e rodapés de outrora. O assunto é novo. O ano é 2013.

A infelizmente deputada Myrian Rios (PSD-RJ) conseguiu mais uma de suas façanhas fascistóides: emplacar a tal da Lei da Moral e Bons Costumes. Sancionada pelo governador Sério Cabral, a tal prevê que dinheiro público seja destinado para “envolver diretamente a comunidade escolar, a família, lideranças comunitárias, empresas públicas e privadas, meios de comunicação, autoridades locais e estaduais e as organizações não governamentais e comunidades religiosas, por meio de atividades culturais, esportivas, literárias, mídia, entre outras, que visem a reflexão sobre a necessidade da revisão sobre os valores morais, sociais, éticos e espirituais”. O que exatamente isto significa?

O leitor pode acessar o projeto de lei, que, aliás é estranhamente curto, e observar alguns pontos interessantes. Não fosse suficiente para o escracho que nós devemos fazer o anacronismo dos termos e da proposta desta lei, em um Estado que é pretensamente laico, que ou enfurece ou põe em ataques de risos nervosos qualquer pessoa de bom senso; existem outros furos e indícios da moralidade deste projeto:

Em primeiro lugar, o texto é vago: invoca uma miríade de conceitos sem dar o mínimo lastro sobre eles. É claro que nós sabemos quais são os lastros, não somos tão ingênuos; mas para efeito legal não contam as entrelinhas e o que foi sublimado, somente o que foi escrito. Aí mora o perigo. Leis precisam ser objetivas. Quanto maior a margem interpretativa de uma lei, mais chances ela tem de servir como aparelho para manobras políticas escusas, não raro, com forte odor de inconstitucionalidade.  O referido projeto de que tratamos invoca termos tais como: moral, "bons costumes", família, violência, cidadania, espiritualidade, entre outros; mas não deixa claro a qual escola conceitual faz jus. Nós, que conhecemos Myrian Rios de outros carnavais e desde os tempos em que era devota fervorosa da Renovação Carismática,  a ala mais reacionária da “Santa Igreja”; e depois de uma conveniente conversão ao neopentecostalismo, uma "irmã fervorosa", sabemos a qual matriz axiológica que este projeto contempla: os valores teocráticos da bíblia cristã. Nós sabemos, mas não está escrito na lei.

A vacuidade da redação protocolar do projeto não deixa dúvidas: ele não foi mal redigido por uma deputada incompetente, ele foi propositalmente escrito de forma oca, justamente para que qualquer interpretação conveniente coubesse. O que podemos esperar? Cartilhas anti-gay? Defesa da “espécie humana” e da família brasileira no melhor estilo Silas Malafaia? Dinheiro público gasto com campanhas heteronormativas? Ou coisa pior: o projeto fala de convênios com entidades religiosas. Será que o Macedão vai virar fornecedor de serviços públicos? Teremos licitação para orações financiadas pelo Estado? Piadas e ironias à parte, a coisa é séria.

Filosoficamente os termos invocados precisam de um lastro. A luta dos libertários, a nossa luta, é conceitualmente pela ampliação de tais conceitos; e para nós tal projeto de lei representa um retrocesso hodierno, pois nós sabemos que ela ruma em sentido contrário aos das conquistas pelas liberdades individuais e coletivas logradas nos últimos anos.  Sabemos que o conceito de família invocado por esta lei é heteronormativo, sabemos que a moral e os “bons” costumes são os valores cristãos. É assim que vemos uma nova inquisição nascer entre nós, com o respaldo nada surpreendente do Estado. Porque existe um Estado! "Porque Estado Laico não é Estado ateu." não é o que dizem? Faz parte do jogo de poder, desde tempos romanos dividir para governar. E que exército pior de zumbis pode existir além de prosélitos conservadores prontos a acatar a decisão dos ditos "formadores de opinião" de suas respectivas instituições religiosas?

Na justificativa da lei, Myrian invoca um maniqueísmo infantil: “se perde o conceito do bom e ruim, do certo e errado. Perde-se o critério do que se pode e deve fazer ou o que não se pode”. Com o apoio do Estado, os neoinquisidores dão prosseguimento ao seu projeto: transformar as liberdades individuais, de crença e consciência em um bem Estatal, bem como a "doutrinação pela fé" (ou pelo dízimo?), em um programa governamental. Lentamente, a piada democrática começa a perder a graça quando, justificando todos os alertas dos anarquistas, mostra sua verdadeira face: uma ditadura da maioria, ao serviço dos interesses de uma minoria tão "pecadora" e "gananciosa".

Finalizando, peço para que observem o nome do segundo relator do projeto. Ainda há alguma dúvida sobre as intenções desta lei?  
*centrodosocialismo

segunda-feira, janeiro 21, 2013


Vicenç Navarro: O berço vermelho do Partido Republicano



Capa do livro de Robin Blackburn
Arte & Cultura| 21/01/2013 | Copyleft
O que o filme “Lincoln”, de Spielberg, não diz sobre Lincoln
O filme “Lincoln”, de Steven Spielberg, que acaba de estrear no Brasil, narra como esse presidente de forte lembrança popular lutou contra a escravidão e pela transformação dos escravos em trabalhadores. O que a obra cinematográfica não conta, porém, é que Lincoln também lutou por outra emancipação: que os escravos e os trabalhadores em geral fossem senhores não apenas de sua atividade em si, mas também do produto resultante de seu trabalho.
Vicenç Navarro*, na Carta Maior
O filme “Lincoln”, produzido e dirigido por um dos diretores mais conhecidos dos EUA, Steven Spielberg, fez reviver um grande interesse pela figura de Lincoln, um dos presidentes que, como Franklin D. Roosevelt, sempre apareceu no ideário estadunidense com grande lembrança popular. Destaca-se tal figura política como o fiador da unidade dos EUA, após derrotar os confederados que aspiravam à secessão dos Estados do Sul.
É também uma figura que se destaca na história dos EUA por ter abolido a escravidão e ter dado a liberdade e a cidadania aos descendentes das populações imigrantes de origem africana, ou seja, a população negra, que nos EUA se conhece como a população afro-americana.
Lincoln foi também um dos fundadores do Partido Republicano, que em suas origens foi diretamente oposto ao Partido Republicano atual — este altamente influenciado por um movimento, o Tea Party, chauvinista, racista e reacionário, por trás do qual existem interesses econômicos e financeiros que querem eliminar a influência do governo federal na vida econômica, social e política do país.
O Partido Republicano fundado pelo presidente Lincoln era, pelo contrário, um partido federalista, que considerou o governo como avalista dos Direitos Humanos, entre eles a emancipação dos escravos, tema central do filme “Lincoln” e para o qual o presidente deu maior expressão.
Terminar com a escravidão significava que o escravo passava a ser trabalhador, dono de seu próprio trabalho.
Lincoln, antes de ser presidente, considerou outras conquistas sociais como parte também dos Direitos Humanos, entre elas o direito do mundo do trabalho de controlar não só a atividade em si, mas também o produto resultante dele.
O direito de emancipação dos escravos transformava o escravo em uma pessoa livre assalariada, unida – segundo ele – em laços fraternais com os outros membros da classe trabalhadora, independentemente da cor da pele. Suas demandas de que o escravo deixasse de sê-lo e de que o trabalhador – tanto branco como negro – fosse o dono não só de seu trabalho, mas também do produto de seu trabalho, eram igualmente revolucionárias.
A emancipação da escravidão requeria que a pessoa fosse dona do seu trabalho. A emancipação da classe trabalhadora significava que a classe trabalhadora fosse dona do produto do seu trabalho. E Lincoln demandou os dois tipos de emancipação.
O segundo tipo de emancipação, entretanto, nem sequer é citado no filme Lincoln. Na realidade, é ignorado. E utilizo a expressão “ignorado” em lugar de “escondido” porque é totalmente possível que os autores do filme ou do livro sobre o qual se baseia nem sequer conheçam a história real de Lincoln.
A Guerra Fria no mundo cultural e inclusive acadêmico dos EUA continua existindo e o enorme domínio do que ali se chama de Corporate Class (a classe dos proprietários e gestores do grande capital) sobre a vida, não só econômica, mas também cívica e cultural, explica que a história formal dos EUA que se ensina nas escolas e nas universidades seja muito distorcida, purificada de qualquer contaminação ideológica procedente do movimento operário, seja socialismo, comunismo ou anarquismo.
A grande maioria dos estudantes estadunidenses, inclusive das universidades mais prestigiadas e conhecidas, não sabe que a festa de 1º de Maio, celebrada mundialmente como o Dia Internacional do Trabalho, é uma festa em homenagem aos sindicalistas estadunidenses que morreram em defesa de trabalhar oito horas por dia (em lugar de doze), vitória que transformou tal reivindicação exitosa na maioria dos países do mundo.
Nos EUA, tal dia, o 1º de Maio, além de não ser festivo, é o dia da Lei e da Ordem — Law and Order Day — (ver o livro People’s History of the U.S., de Howard Zinn).
A história real dos EUA é muito diferente da história formal promovida pelas estruturas de poder estadunidenses.
As ignoradas e/ou escondidas simpatias de Lincoln
Já quando era membro da Câmara Legislativa de seu estado de Illinois, Lincoln simpatizou claramente com as demandas socialistas do movimento operário, não só dos EUA, mas também mundial.
Na realidade, Lincoln, tal como indiquei no começo do artigo, considerava como um Direito Humano o direito do mundo do trabalho de controlar o produto de seu trabalho, postura claramente revolucionária naquela época (e que continua sendo hoje) e que nem o filme nem a cultura dominante nos EUA lembram ou conhecem, sendo convenientemente esquecida pelos aparatos ideológicos do establishment estadunidense controlados pela Corporate Class.
Na realidade, Lincoln considerou que a escravidão era o domínio máximo do capital sobre o mundo do trabalho e sua oposição às estruturas de poder dos estados sulinos se devia precisamente a que percebia estas estruturas como sustentadoras de um regime econômico baseado na exploração absoluta do mundo do trabalho.
Daí que visse a abolição da escravidão como a liberação não só da população negra, mas de todo o mundo do trabalho, beneficiando também a classe trabalhadora branca, cujo racismo ele via ser contra seus próprios interesses.
Lincoln também indicou que “o mundo do trabalho antecede o capital. O capital é o fruto do trabalho, e não teria existido sem o mundo do trabalho, que o criou. O mundo do trabalho é superior ao mundo do capital e merece a maior consideração (…). Na situação atual o capital tem todo o poder e há que reverter este desequilíbrio”.
Leitores dos escritos de Karl Marx, contemporâneo de Abraham Lincoln, lembrarão que algumas destas frases eram muito semelhantes às utilizadas por tal analista do capitalismo em sua análise da relação capital/trabalho sob tal sistema econômico.
Será surpresa para um grande número de leitores saber que os escritos de Karl Marx influenciaram Abraham Lincoln, tal como documenta detalhadamente John Nichols em seu excelente artículo “Reading Karl Marx with Abraham Lincoln: Utopian socialists, Germam communists and other republicans” publicado em Political Affairs (27/11/12), e do qual extraio as citações, assim como a maioria dos dados publicados neste artigo.
Os escritos de Karl Marx eram conhecidos entre os grupos de intelectuais que estavam profundamente insatisfeitos com a situação política e econômica dos EUA, como era o caso de Lincoln.
Karl Marx escrevia regularmente no The New York Tribune, o rotativo intelectual mais influente nos Estados Unidos daquele período.
Seu diretor, Horace Greeley, se considerava um socialista e um grande admirador de Karl Marx, a quem convidou para ser colunista do jornal. Nas colunas de seu jornal, Horace incluiu grande número de ativistas alemães que haviam fugido das perseguições ocorridas na Alemanha daquele tempo, uma Alemanha altamente agitada, com um nascente movimento operário que questionava a ordem econômica existente.
Alguns destes imigrantes alemães (conhecidos no EUA daquele momento como os “Republicanos Vermelhos”) lutaram mais tarde com as tropas federais na Guerra Civil, dirigidos pelo presidente Lincoln.
Greeley e Lincoln eram amigos. Na realidade, Greeley e seu jornal apoiaram desde o princípio a carreira política de Lincoln, sendo Greeley quem lhe aconselhou a que disputasse a presidência do país. E toda a evidência aponta que Lincoln era um fervoroso leitor do The New York Tribune. Em sua campanha eleitoral para a presidência dos EUA Lincoln convidou vários “republicanos vermelhos” a integrarem-se à sua equipe.
Na realidade, já antes, como congressista, representante de Springfield, no estado de Illinois, Lincoln frequentemente apoiou os movimentos revolucionários que estavam acontecendo na Europa, e muito em especial na Hungria, assinando documentos em apoio a tais movimentos.
Lincoln, grande amigo do mundo do trabalho estadunidense e internacional
Seu conhecimento das tradições revolucionárias existentes naquele período não era casual, e sim fruto de suas simpatias com o movimento operário internacional e suas instituições. Incentivou os trabalhadores dos EUA a organizar e estabelecer sindicatos antes e durante sua presidência.
Foi nomeado membro honorário de vários sindicatos. Em sua resposta aos sindicatos de Nova York afirmou “vocês entenderam melhor que ninguém que a luta para terminar com a escravidão é a luta para libertar o mundo do trabalho, para libertar todos os trabalhadores. A libertação dos escravos no Sul é parte da mesma luta pela libertação dos trabalhadores no Norte”.
E, durante a campanha eleitoral, o presidente Lincoln promoveu a postura contra a escravidão afirmando explicitamente que a libertação dos escravos permitiria aos trabalhadores exigir os salários que lhes permitissem viver decentemente e com dignidade, ajudando com isso a aumentar os salários de todos os trabalhadores, tanto negros como brancos.
Marx, e também Engels, escreveram com entusiasmo sobre a campanha eleitoral de Lincoln, em um momento em que ambos estavam preparando a Primeira Internacional do Movimento Operário.
Em um momento das sessões, Marx e Engels propuseram à Internacional que enviasse uma carta ao presidente Lincoln felicitando-o por sua atitude e postura.
Na carta, a Primeira Internacional felicitava o povo dos EUA e seu presidente por, ao terminar com a escravidão, haver favorecido a liberação de toda a classe trabalhadora, não só estadunidense, mas também mundial.
O presidente Lincoln respondeu, agradecendo a nota e dizendo que valorizava o apoio dos trabalhadores do mundo a suas políticas, em um tom cordial, que certamente criou grande alarme entre os establishments econômicos, financeiros e políticos de ambos os lados do Atlântico.
Estava claro, a nível internacional que, como afirmou mais tarde o dirigente socialista estadunidense Eugene Victor Debs, em sua própria campanha eleitoral, “Lincoln havia sido um revolucionário e que, por paradoxal que pudesse parecer, o Partido Republicando havia tido, em suas origens, uma tonalidade vermelha”.
A revolução democrática que Lincoln começou e que nunca se desenvolveu

Não é preciso dizer que nenhum destes dados aparece no filme Lincoln, nem são amplamente conhecidos nos EUA. Mas, como bem afirmam John Nichols e Robin Blackburn (outro autor que escreveu extensamente sobre Lincoln e Marx), para entender Lincoln tem que entender o período e o contexto nos quais ele viveu. Lincoln não era um marxista (termo sobreutilizado na literatura historiográfica e que o próprio Marx denunciou) e não era sua intenção eliminar o capitalismo, mas corrigir o enorme desequilíbrio existente nele, entre o capital e o trabalho.
Mas, não há dúvida de que foi altamente influenciado por Marx e outros pensadores socialistas, com os quais compartilhou seus desejos imediatos, claramente simpatizando com eles, levando sua postura a altos níveis de radicalismo em seu compromisso democrático. É uma tergiversação histórica ignorar tais fatos, como faz o filme Lincoln.
Não resta dúvida que Lincoln foi uma personalidade complexa, com muitos altos e baixos. Mas as simpatias estão escritas e bem definidas em seus discursos. E mais, os intensos debates que aconteciam nas esquerdas europeias se reproduziam também nos círculos progressistas dos EUA.
Na realidade, a maior influência sobre Lincoln foi a dos socialistas utópicos alemães, muitos dos quais se refugiaram em Illinois fugindo da repressão europeia.
O comunalismo que caracterizou tais socialistas influenciou a concepção democrática de Lincoln, interpretando democracia como a governança das instituições políticas por parte do povo, no qual as classes populares eram a maioria.
Sua famosa expressão, que se converteu no esplêndido slogan democrático mais conhecido no mundo – Democracy for the people, of the people and by the people — claramente afirma a impossibilidade de ter uma democracia do povo e para o povo sem que seja realizada e levada a cabo pelo próprio povo. Daí vem a libertação dos escravos e do mundo do trabalho como elementos essenciais de tal democratização.
Seu conceito de igualdade levava inevitavelmente a um conflito com o domínio de tais instituições políticas pelo capital. E a realidade existente hoje nos EUA e que detalho em meu artigo “O que não se disse nos meios de comunicação sobre as eleições nos EUA” (Público, 13.11.12) é uma prova disso.
Hoje a Corporate Class controla as instituições políticas do país.


Últimas observações e um pedido
Repito que nenhuma destas realidades aparece no filme. Spielberg não é, afinal, nenhum Pontecorvo e o clima intelectual estadunidense ainda está estancado na Guerra Fria, que lhe empobrece intelectualmente. “Socialismo” continua sendo uma palavra mal vista nos círculos do establishment cultural daquele país.
E, na terra de Lincoln, aquele projeto democrático que ele sonhou nunca se realizou devido à enorme influência do poder do capital sobre as instituições democráticas, influência que diminuiu enormemente a expressão democrática naquele país. O paradoxo brutal da historia é que o Partido Republicano se tenha convertido no instrumento político mais agressivo hoje existente a serviço do capital.
Certamente, agradeceria que todas as pessoas que achem este artigo interessante o distribuam amplamente, incluindo, em sua distribuição os críticos de cinema, que em sua promoção do filme, seguramente não dirão nada do outro Lincoln desconhecido em seu próprio país (e em muitos outros).
Um dos fundadores do movimento revolucionário democrático nem sequer é reconhecido como tal.
Sua emancipação dos escravos é uma grande vitória, que deve ser celebrada. Mas Lincoln foi muito além. E disto nem se fala.



*Vicenç Navarro (Barcelona, 1937) é cientista social. Foi professor catedrático da Universidade de Barcelona e hoje dá aulas nas universidades Pompeu Fabra e Johns Hopkins. Por sua luta contra o franquismo, viveu anos exilado na Suécia.
*viomundo

Os caras que mandam no mundo


Charge foto e frase do dia









Militantes da TFP juram que apanharam de gays em Curitiba; veja o vídeo

Não se faz mais militantes de direita como antigamente. Veja essa, caro leitor. O movimento Tradição, Família e Propriedade (TFP), que na década de 60 apoiou o golpe e a ditadura militar, reclama que seus afiliados apanharam de homossexuais nas ruas de Curitiba.
Clique na imagem para ampliar.
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O blog “Sou conservador sim e daí”, de São Paulo, acusa Milton Alves, do PT, de participar de uma “magote de homossexuais, simpatizantes deles, abortistas, feministas, ateus, vândalos”. Eles classificam o petista de “ex-militante do movimento terrorista MR-8″. Gays e fascistas da TFP se enfrentam no centro de Curitiba no último dia 14.
Milton Alves, que também é blogueiro (www.miltonalves.com), acompanhou o enfrentamento no centro de Curitiba.
O militante petista conseguiu registrar em vídeo o quiproquó entre gays e fascistas. Segundo ele, “a coisa mais reacionária que se tem notícia”, protestou.
A TFP é uma entidade que na década de 60 apoiou o golpe militar no Brasil. Quarenta anos depois, a organização nazifascista se rebatizou como Instituto Plínio Corrêa de Oliveira.
Usando trajes do século XVIII que lembravam os militares, o grupo da TFP foi acuado e empurrado pela massa de gays e simpatizantes que se beijavam como forma de protesto.
Leia mais sobre isso:
Vídeo não recomendado pela Tradição, Família e Propriedade
Curitibanos travam guerra nas ruas e na internet contra movimento homofóbico da TFP; veja o vídeo
Gays e fascistas da TFP se enfrentam no centro de Curitiba; veja o vídeo
*esmaelmoraes

Deleite - Carlos Lôbo


*Pry

Presidente do Uruguai rejeita residência oficial e vive sem regalias



Vários líderes mundiais vivem em palácios. Alguns gozam de regalias como ter um mordomo discreto, uma frota de iates ou uma adega com champanhes vintage.E há José Mujica, o ex-guerrilheiro que é presidente do Uruguai. - Matéria do jornal New York Times

Ele mora numa casa deteriorada na periferia de Montevidéu, sem empregado nenhum. Seu aparato de segurança: dois policiais à paisana estacionados em uma rua de terra.Em uma declaração deliberada a essa nação pecuarista de 3,3 milhões de pessoas, Mujica, 77, rejeitou a opulenta residência presidencial de Suárez y Reyes, com seus 42 empregados, preferindo permanecer na casa onde mora há anos com a mulher, num terreno onde eles cultivavam crisântemos para vender em mercados locais.

Seu patrimônio líquido ao assumir o cargo, em 2010, era equivalente a cerca de US$ 1.800 -o valor do Fusca 1987 estacionado na sua garagem.Ele nunca usa gravata e doa cerca de 90% do seu salário, principalmente para projetos de habitação popular.Seu radicalismo discreto -notavelmente diferente da época em que ele empunhava armas para tentar derrubar o governo- exemplifica a emergência do Uruguai como o país mais liberal da América Latina em questões sociais.

O governo Mujica chamou a atenção por tentar legalizar a maconha e o casamento homossexual, por colocar em vigor uma das mais abrangentes leis da região sobre o direito ao aborto e por ampliar fortemente o uso de recursos renováveis, como as energias eólicas e de biomassa.Para que a democracia funcione adequadamente, argumenta Mujica, os líderes eleitos deveriam ser postos um degrau abaixo. "Temos feito todo o possível para tornar a Presidência menos venerada", disse ele.

Poucos poderiam imaginar que Pepe, como é conhecido, chegaria a esse cargo. Ele foi líder da guerrilha urbana Tupamaros, responsável por sequestros e assaltos a bancos.A polícia o capturou em 1972, e ele passou 14 anos preso, sendo mais de uma década em confinamento solitário, às vezes num buraco no chão. Passava mais de um ano sem tomar banho, e seus companheiros, segundo conta, eram uma perereca e ratos com os quais ele partilhava migalhas de pão.

Mujica raramente fala sobre a sua época na prisão, que diz ter sido um tempo para refletir. "Aprendi que sempre se pode recomeçar."

Ele entrou para a política e, em 2009, ganhou a eleição por ampla margem.

As doações que faz o deixam com um salário em torno de US$ 800. Mujica disse que ele e a mulher, a senadora Lucía Topolansky, uma ex-guerrilheira que também esteve presa, não precisam de muito para viver.O Uruguai aparece consistentemente entre os países mais seguros, menos corruptos e menos desiguais da região. Sua economia continua crescendo confortavelmente, a uma taxa de 3,6% ao ano. Mas nem todos aprovam o estilo de Mujica.

As pesquisas mostram que a popularidade dele está em baixa. Mas Mujica diz "não estar nem aí para isso".

"Se eu me preocupasse com as pesquisas, não seria presidente", diz ele.

Mujica lamenta que tantas sociedades priorizem o crescimento econômico, o que vê como "um problema para a nossa civilização", devido à demanda sobre os recursos do planeta.

Os olhos de Mujica se iluminam ao evocar uma passagem de "Dom Quixote" em que o cavaleiro errante toma vinho de um chifre e come carne de cabra salgada com seus anfitriões pastores, fazendo uma arenga contra "a pestilência da galanteria".

"Os pastores de cabras eram as pessoas mais pobres da Espanha", disse Mujica.

"Provavelmente", acrescentou, "eram as mais ricas". 
*Osamigosdopresidentelula