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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sábado, janeiro 26, 2013
A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo.
Os que devem morreree devem morrer
A ciência prolonga a vida dos homens; a economia liberal recomenda que
morram a tempo de salvar os orçamentos. O Ministro das Finanças do
Japão, Taso Aro, deu um conselho aos idosos: tratem logo de morrer, a
fim de resolver o problema da previdência social.
Este é um dos paradoxos da vida moderna. Estamos vivendo mais, e, é
claro, com menos saúde nos anos finais da existência. Mas, nem por isso,
temos que ser levados à morte. Para resolver esse e outros desajustes
da vida moderna, teríamos que partir para outra forma de sociedade, e
substituir a razão do “êxito” e da riqueza pela ética da solidariedade.
Ocorre que nem era necessário que esse senhor Taso Aro – que, em outra
ocasião, ofereceu o Japão como território seguro para os judeus ricos do
mundo inteiro – expusesse essa apologia da morte. A civilização de
nosso tempo, baseada no egoísmo, com a economia servidora dos lucros e
dos ricos, e, sobretudo, dos banqueiros, é, em si mesma, suicida.
É claro que, ao convidar os velhos japoneses a que morram, Aro não se
refere aos milionários e multimilionários de seu país. Esses dispensam,
no dispendioso custeio de sua longevidade, os recursos da Previdência
Social e dos serviços oficiais de saúde de seu país. Todos eles têm a
sua velhice assegurada pelos infindáveis rendimentos de seu patrimônio.
Os que devem morrer são os outros, os que passaram a vida inteira
trabalhando para o enriquecimento das grandes empresas japonesas e
multinacionais. Na mentalidade dos poderosos e dos políticos ao seu
serviço, os homens não passam de máquinas, que só devem ser mantidos
enquanto produzem, de acordo com os manuais de desempenho ótimo. Aso, em
outra ocasião, disse que os idosos são senis, e que devem, eles mesmos,
de cuidar de sua saúde.
Não podemos, no entanto, ver esse desatino apenas no comportamento do
ministro japonês, nem em alguns de seus colegas, que têm espantado o
mundo com declarações estapafúrdias. O nível intelectual e ético dos
dirigentes do mundo moderno vem decaindo velozmente nas últimas décadas.
Não há mistério nisso. Os verdadeiros donos do mundo sabem escolher
seus serviçais e coloca-los no comando dos estados nacionais.
São eles, que, mediante o Clube de Bielderbeg e outros centros
internacionais desse mesmo poder, decidem como estabelecer suas
feitorias em todos os continentes, promovendo a ascensão dos melhores
vassalos, aos quais premiam, não só com o governo, mas, também, com as
sobras de seu banquete, em que são servidos, além do caviar e do
champanhe, o petróleo e os minérios, as concessões ferroviárias e nos
modernos e mais rendosos negócios, como os das telecomunicações.
A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo.
*comtextolivre
Lewandowski mantém crédito extraordinário de R$ 42,5 bilhões para a União
Débora Zampier, Agência Brasil
“O presidente em exercício do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, decidiu hoje (25) manter
o crédito extraordinário de R$ 42,5 bilhões aprovado pelo Executivo no final do
ano passado. O valor foi estipulado em medida provisória, pois o Congresso
Nacional ainda não votou o Orçamento da União de 2013.
O ministro negou liminar em ação de
inconstitucionalidade proposta pelo PSDB e pelo DEM na última terça-feira (21).
Para Lewandowski, o Estado brasileiro poderia ter sérios prejuízos se o pedido
das legendas fosse acatado, ainda que haja motivo para questionamento legal.
Demotucanos corruptos sofrem mais um nocaute - Lewandowski: "Não se pode parar um país"
Lewandowski: "Não se pode parar um país"
Os demotucanos corruptos, com apoio do ministro lobista, queriam
paralisar o Brasil, mas o ministro mais lúcido do STF não deixou.
Ministro do STF rejeita ação direta de inconstitucionalidade que havia
sido proposta pelos presidentes do PSDB, Sergio Guerra, e do DEM,
Agripino Maia, contra medida provisória do governo Dilma que libera R$
42,5 bilhões para obras do PAC e demais gastos federais; impasse foi
criado quando o ministro Luiz Fux impediu votação do orçamento da União
em meio à polêmica dos royalties
O ministro Ricardo Lewandowski, que preside temporariamente o Supremo
Tribunal Federal, acaba de rejeitar a ação direta de
inconstitucionalidade que havia sido proposta pelos presidentes do PSDB,
Sergio Guerra, e do DEM, Agripino Maia, que contestavam a medida
provisória 598/12. Editada pela presidente Dilma Rousseff, ela liberou
R$ 42,5 bilhões para gastos do PAC e demais despesas do governo federal,
depois que uma decisão do ministro Luiz Fux impediu a votação do
orçamento federal, no fim do ano passado, no episódio dos royalties do
petróleo – Fux queria que o Congresso avaliasse antes todos os vetos da
presidente Dilma. "Não se pode parar um país", avaliou o ministro
Lewandowski, ao tomar sua decisão.
"Embora o Supremo Tribunal Federal, em mais de uma ocasião, tenha se
pronunciado sobre a necessidade de imposição de limites à atividade
legislativa excepcional do Poder Executivo, especialmente na edição de
medidas provisórias para abertura de crédito extraordinário, em
nenhum momento vedou, de forma peremptória, a utilização dessa
espécie de ato normativo em situações de relevância e urgência",
argumentou o ministro.
Em razão dessa situação emergencial, Lewandowski indeferiu o pedido
formulado pelos dois partidos. "Entendo, que a situação descrita nos
autos evidencia, à primeira vista, a ocorrência de periculum in mora
inverso, ou seja, a suspensão do ato poderia causar danos de difícil
reparação não apenas ao Estado brasileiro como também para a
própria sociedade, que se veria irremediavelmente prejudicada pela
paralisação de serviços públicos essenciais".
Abaixo, noticiário anterior do 247 sobre o caso, quando PSDB e DEM propuseram a Adin:
PSDB E DEM TENTAM BARRAR R$ 42 BI PARA OBRAS DO PAC
Os partidos de oposição presididos pelo deputado Sergio Guerra (PSDB-PE)
e o senador Agripino Maia (DEM-RN) entraram com ação direta de
inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a Medida
Provisória 598/12. A MP abre crédito extraordinário no valor de R$ 42,5
bilhões em favor de órgãos federais e empresas estatais, garantindo
recursos para obras do PAC e contornando o atraso na aprovação do
Orçamento da União para 2013
Brasília - O PSDB e o DEM entraram hoje (22) com ação direta de
inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a
Medida Provisória (MP) 598/12. A MP abre crédito extraordinário no valor
líquido de R$ 42,5 bilhões em favor de órgãos federais e empresas
estatais e garante recursos para obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), contornando o atraso na aprovação do Orçamento da
União para 2013.
"É uma invasão às prerrogativas do Congresso Nacional que vem sendo
praticada pelo Executivo, e essa trena para poder medir o limite de cada
Poder está muito bem definido pela Constituição brasileira. O que
ocorreu foi nada mais do que uma nova maquiagem do governo Dilma. Essa
medida provisória tem por objetivo maquiar o PIB do primeiro trimestre",
criticou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO)."
A MP foi editada porque, sem acordo para analisar os vetos da presidente
Dilma à Lei dos Royalties, o Congresso deixou para a volta do recesso,
em fevereiro, a votação do Orçamento da União de 2013. Ainda segundo
Caiado, o governo não será prejudicado pela não votação do orçamento de
2013, já que, até que isso aconteça, pode manter o custeio com 1/12 (um
doze avos) do valor total da peça orçamentária. Além disso, segundo o
deputado, há mais R$ 178 bilhões em restos a pagar.
Para o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), a Medida
Provisória 598 atende aos princípios da legalidade. "O governo tomou uma
medida responsável para não paralisar o país, garantido os
investimentos necessários e pagamento de salários até que o Orçamento
seja votado pelo Congresso", explicou.
Em 2008, o STF consid
erou ilegal a edição de créditos suplementares ao Orçamento Geral da
União por meio de medida provisória, só cabendo por meio de projeto de
lei. Mesmo assim, em 27 de dezembro do ano passado, quando a MP 598 foi
editada, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, lembrou que esta
não era a primeira vez que, sem Orçamento sancionado, o governo
utilizava esse instrumento para liberar crédito extraordinário.
A ministra lembrou que em 2006, quando o Orçamento só foi votado em
abril, o governo editou uma medida provisória para disciplinar os gastos
e "ninguém questionou". Belchior destacou ainda que, em 2010, o
governo editou uma MP porque o Congresso não havia conseguido votar a
tempo os créditos suplementares relativos ao Orçamento daquele ano.
"A AGU [Advocacia-Geral da União], a Casa Civil e a consultoria jurídica
do Ministério do Planejamento avaliaram que não há problema em lançar a
medida provisória. Não quero aqui interpretar um julgamento do Supremo,
mas o governo está confortável em editar o texto e a presidenta não
faria isso se não tivesse confiança", disse à época Miriam Belchior.
Procurado pela Agência Brasil, o relator-geral do Projeto de Lei
Orçamentária Anual, senador Romero Jucá (PMDB-RR), não retornou as
ligações para comentar o assunto. A assessoria de imprensa do Ministério
do Planejamento também não havia comentado a Adin até a publicação
desta reportagem.
Com informações do Brasil 247.
Fox demite Sarah Palin. A onda chega ao Brasil?
Canal de Rupert Murdoch, que foi
definido por Barack Obama como um partido político e inspirou a criação
do termo "Partido da Imprensa Golpista", demite Sarah Palin,
representante do neoconservadorismo americano e do chamado Tea Party;
fontes próximas a Fox apontaram um gelo nas relações explícitas entre
Murdoch e os republicanos; será que o corte pode inspirar movimentos
semelhantes em relação a jornalistas engajados como Reinaldo Azevedo,
Merval Pereira e Augusto Nunes?
247 - A partidarização da imprensa
americana sofreu um duro revés nesta sexta-feira. O canal Fox News, que
foi classificado por Barack Obama como um partido político e inspirou,
no Brasil, a criação da expressão "Partido da Imprensa Golpista",
abreviada como PIG, acaba de demitir a comentarista Sarah Palin.
Ex-governadora republicana do Alaska, Palin era representante máxima do
movimento neoconservador nos Estados Unidos e do chamado Tea Party, que
prega rígidos valores morais – ainda que, na prática, eles não sejam
seguidos com rigidez pela família Palin.
Fontes próximas à Fox enxergaram no movimento de Rupert
Murdoch, dono da News Corporation, uma tentativa de aproximação com
Obama, que acaba de tomar posse no seu segundo mandato. Murdoch estaria
cansado de dar murro em ponta de faca.
No Brasil, os grandes jornais também vivem um momento
inédito de partidarismo explícito, tendo como representantes máximos
desse movimento jornalistas como Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo, na
Abril, e Merval Pereira, no Globo – entre muitos outros. Miriam Leitão,
por exemplo, nesta sexta aponta paralelos entre a presidente Dilma e o
general Garrastazu Médici – por mais esdrúxula que pareça a comparação.
Nos Estados Unidos, o principal magnata da mídia começa a
constatar que, na era da internet e da informação livre, o poder de
manipulação da opinião já não é o mesmo do passado. E o ódio acaba de
perder uma tribuna na Fox News. A piada da hora é que Sarah Palin
poderá, agora, se candidatar ao "Obamacare", como é apelidado o
seguro-desemprego nos Estados Unidos.
*Saraiva
Reinaldo Rola Bosta - O Besouro da Veja
*Saraiva
Veja lamenta criação de 1,3 mi de empregos em 2012
“Isso é ou não ser do contra? Capa de
Veja.com noticia, como manchete, a informação de que a criação de empregos foi
a menor dos últimos três anos e que a "investida protecionista do governo
não foi capaz de gerar postos de trabalho". Detalhe: a taxa de desemprego
é a menor da história e o saldo positivo de vagas no ano passado foi de 1,3
milhão de pessoas; será que Roberto Civita, mais um corvo, ficará para
trás? (Estado, Globo e Folha também se juntaram aos corvos)
Às
vezes, dá até preguiça acompanhar a imprensa que tem merecido o rótulo de
"golpista" nos últimos anos. É o caso de Veja e de Veja.com, que
coloca como manchete de
seu site a seguinte informação: "Criação de emprego em
2012 é a pior dos últimos três anos". Subtítulo: "Investida
protecionista do governo não foi capaz de garantir postos de trabalho".
Cabo de fibra ótica submarino que une Cuba à Venezuela começa a funcionar
Retirado do Opera Mundi
O aparato serve para acabar com as limitações nas comunicações da ilha caribenha, devido ao embargo norte-americano
Um cabo submarino de fibra ótica ligando Venezuela a Cuba, que terminou de ser instalado há quase dois anos, começou a ser usado de forma experimental para chamadas telefônicas e conexões de internet, informou nesta quinta-feira (24/01) o monopólio estatal de telecomunicações cubano (Etecsa).
"Desde o dia 10 de janeiro começaram ser realizados os testes de qualidade de tráfego de Internet sobre o sistema. Eles foram realizados utilizando tráfego real desde e para Cuba", disse a empresa Etecsa em um comunicado, publicado no diário oficial Granma.
O aparato serve para acabar com as limitações nas comunicações da ilha caribenha, devido ao embargo norte-americano
Um cabo submarino de fibra ótica ligando Venezuela a Cuba, que terminou de ser instalado há quase dois anos, começou a ser usado de forma experimental para chamadas telefônicas e conexões de internet, informou nesta quinta-feira (24/01) o monopólio estatal de telecomunicações cubano (Etecsa).
"Desde o dia 10 de janeiro começaram ser realizados os testes de qualidade de tráfego de Internet sobre o sistema. Eles foram realizados utilizando tráfego real desde e para Cuba", disse a empresa Etecsa em um comunicado, publicado no diário oficial Granma.
O cabo de
1.600 km de cumprimento, que custou cerca de 70 milhões de dólares,
devia entrar em operação em meados de 2011 para acabar com as limitações
nas comunicações da ilha, devido ao embargo norte-americano.
O "cabo submarino de fibra ótica a Cuba com a Venezuela e Jamaica é operacional desde o mês de agosto de 2012, inicialmente com tráfego de voz correspondente à telefonia internacional" e desde 10 de janeiro, com conexões de internet, disse Etecsa.
O "cabo submarino de fibra ótica a Cuba com a Venezuela e Jamaica é operacional desde o mês de agosto de 2012, inicialmente com tráfego de voz correspondente à telefonia internacional" e desde 10 de janeiro, com conexões de internet, disse Etecsa.
Alerta
Contudo, a empresa alertou que "quando o processo de testes for concluído, o começo da operação do cabo submarino não significará que automaticamente sejam multiplicadas as possibilidades de acesso" à internet em Cuba.
"Será necessário executar investimentos em infraestrutura interna de telecomunicações e aumentar os recursos em divisas, destinados a pagar o tráfego de internet com o propósito de obter o crescimento paulatino de um serviço que oferecemos hoje, em sua maior parte, gratuitamente e com objetivos sociais", disse.
O governo cubano privilegia o uso da internet com fins sociais, por isso, atualmente, só há conexões em escolas, institutos científicos e centros de comunicação, mas em muito poucas casas.
Contudo, a empresa alertou que "quando o processo de testes for concluído, o começo da operação do cabo submarino não significará que automaticamente sejam multiplicadas as possibilidades de acesso" à internet em Cuba.
"Será necessário executar investimentos em infraestrutura interna de telecomunicações e aumentar os recursos em divisas, destinados a pagar o tráfego de internet com o propósito de obter o crescimento paulatino de um serviço que oferecemos hoje, em sua maior parte, gratuitamente e com objetivos sociais", disse.
O governo cubano privilegia o uso da internet com fins sociais, por isso, atualmente, só há conexões em escolas, institutos científicos e centros de comunicação, mas em muito poucas casas.
Neoconservadorismo religioso: fé, dinheiro e comunicação de massa
por Antonio Lassance*
03/10/2012
Há algo de novo por trás dos azarões
Os candidatos que surpreenderam por suas intenções de voto em algumas
cidades do país podem não ser apenas “azarões”. Talvez sejam a face mais
evidente de um fenômeno político que junta fé, dinheiro e comunicação
de massa.
Os casos mais gritantes têm sido, até o momento, Celso Russomano, em São
Paulo, e Ratinho Jr., em Curitiba. Mas eles não são os únicos. Ao
contrário, expressam uma fórmula que tem feito sucesso. Não é um
fenômeno que tende a tomar conta da política brasileira. Não representa
um setor social majoritário. Não se vincula a um rígido padrão de
classe. Mas se trata de uma maneira de se fazer política que tem ganhado
corpo paulatinamente.
Uma legião de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador será
eleita fazendo uso dessa receita. Estarão alinhados aos que já têm
assento federal. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (DIAP, 2011), a bancada evangélica eleita em 2010 mais que
dobrou em relação à de 2006, passando de 36 integrantes para 73
parlamentares.
A fórmula garante sucesso pessoal, financeiro e político. É um meio de
vida que tem na política um de seus braços; na comunicação, sua voz; na
religião, sua plataforma.
Embora retrógrado em vários sentidos, o neoconservadorismo religioso é
um fenômeno de novo tipo. Por sua relação umbilical com a religião e a
comunicação de massa, não se equipara a qualquer espécie anterior de
populismo. O neoconservadorismo também é uma novidade em relação ao
velho conservadorismo elitista, golpista e liberal. Aquele
conservadorismo da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, de 1964, e
que fez da Teologia da Libertação seu principal inimigo, nos anos 1970 e
1980, colhe agora o fruto do que plantou: o maior retrocesso do
catolicismo em todos os tempos, seu afastamento entre os mais pobres,
sua dificuldade em modernizar-se.
Segundo os dados do Censo de 2010, os evangélicos foram o segmento
religioso que mais cresceu no Brasil nos últimos 10 anos. Saltaram de
15,4% da população para 22,2%. Passaram de 26,2 milhões para 42,3
milhões de brasileiros. Em 1980, esse percentual era de apenas 6,6%.
(IBGE, 2010)
Os católicos, que em 2010 ostentaram um poderoso número de 64,6% da
população, coincidentemente têm seu menor percentual no Rio de Janeiro
(45,8%), estado onde o conservadorismo ortodoxo e o combate à Teologia
da Libertação tinha sua organização mais consistente e sua liderança
mais expressiva, Dom Eugênio Sales, arcebismo do Rio por 30 anos.
Não é na chamada “nova” classe média que o segmento evangélico mais
cresce. É entre mais pobres. Mais de 60% dos pentecostais recebem até 1
salário mínimo. A segunda maior proporção está entre os sem religião
(59,2% deles são pobres). Os católicos têm apenas a terceira maior
proporção nessa faixa de renda (55,8% ).
O neoconservadorismo gosta de Estado, de políticas sociais, da promoção
da igualdade. Talvez por razões cristãs, mas também porque se beneficiam
dos tempos de bonança. Podem obter retribuição crescente dos fiéis que
se julgam recompensados por alcançarem uma graça (emprego, pagamento de
dívidas, aumento de salário, um tratamento médico).
Demagogos modernos
As características socioeconômicas ajudam a entender, mas são
insuficientes para explicar o fenômeno por completo. Elas precisam ser
vistas à luz da montagem de uma poderosa máquina política a serviço do
neoconservadorismo religioso. Os nomes lançados à disputa municipal não
foram escolhidos por sua posição na hierarquia religiosa. Segundo o
Tribunal Superior Eleitoral, apenas 765 candidatos se declararam
"sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa", sendo apenas 37 os
candidatos a prefeito (apenas 0,24% do total), 39 vice-prefeitos (0,26%)
e 689 (0,16%) os candidatos a vereador nessa condição, incluindo todas
as denominações religiosas. (TSE, 2012)
A relação dos candidatos com suas igrejas é certamente um senhor
reforço, na medida em que estão colados aos pastores que fazem sua
pregação eleitoral de forma ostensiva, no púlpito e com o dinheiro dos
fiéis, e a siglas partidárias patrocinadas por tais igrejas. Mas, para
que os candidatos sejam competitivos, precisam de algo mais. Esse algo
mais atende pelo nome de comunicação de massa.
Em um sistema eleitoral no qual as campanhas são muito curtas, o eleitor
é cego diante de muitos candidatos, e o comunicador reina. O maior
problema de um candidato é se tornar conhecido. O segundo é evitar ser
rejeitado (conhecido negativamente).
O comunicador tem um horário eleitoral gratuito todo santo dia à sua
disposição, conquistado, é bem verdade, por dotes pessoais. Ele deve ter
talento na arte de atrair a atenção, de mobilizar paixões e ódios, de
mexer com o sentimento das pessoas. Quando isso envolve pregação
religiosa, a fidelidade tem tudo para ser bastante forte. O suficiente
para aguentar três meses de campanha sob fogo cruzado.
O neoconservadorismo religioso pode ser uma novidade também por colher
os frutos de um processo plantado desde 1997, quando se abriu espaço
para uma nova leva de emissoras de rádio e TV e à renovação de antigas
concessões. Em muitos casos, elas mudaram de dono e foram parar nas mãos
de organizações religiosas, a ponto de se ter formado uma grande rede
nacional de emissoras diretamente associada a uma dessas igrejas. Além
disso, se tornou prática costumeira o aluguel de tempo de TV para
programas de pregação religiosa. Algo aconteceu naquela época que
transformou os evangélicos em uma força de grande peso midiático, antes
mesmo de se tornarem uma força política e social de maior expressão.
Max Weber, no seu famoso texto em que distinguia os políticos que viviam
para a política daqueles que viviam da política, chamava a atenção para
o fato de que o jornalista havia se tornado o grande demagogo moderno.
Tomava a expressão em seu sentido clássico, ou seja, referindo-se a quem
tinha o talento especial de ser um mestre na arte de convencer o
público a tomar partido, a se decidir a favor ou contra uma opção.
A velha mídia tem feito um convite diário à demagogia por meio da
esculhambação do entendimento sobre a política. A disseminação da
descrença nas instituições faz grassar o moralismo rasteiro e a fé
ritualística que disputa o lugar do debate sobre propostas. O
neoconservadorismo agradece. Mesmo seus representantes mais toscos têm
muito mais a dizer do que os candidatos engomados e da predileção
indiscreta da mídia mais tradicional.
*Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As opiniões expressas neste artigo
não refletem necessariamente opiniões do Instituto.
*Opensadordaaldeia
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