Os que devem morreree devem morrer
A ciência prolonga a vida dos homens; a economia liberal recomenda que
morram a tempo de salvar os orçamentos. O Ministro das Finanças do
Japão, Taso Aro, deu um conselho aos idosos: tratem logo de morrer, a
fim de resolver o problema da previdência social.
Este é um dos paradoxos da vida moderna. Estamos vivendo mais, e, é
claro, com menos saúde nos anos finais da existência. Mas, nem por isso,
temos que ser levados à morte. Para resolver esse e outros desajustes
da vida moderna, teríamos que partir para outra forma de sociedade, e
substituir a razão do “êxito” e da riqueza pela ética da solidariedade.
Ocorre que nem era necessário que esse senhor Taso Aro – que, em outra
ocasião, ofereceu o Japão como território seguro para os judeus ricos do
mundo inteiro – expusesse essa apologia da morte. A civilização de
nosso tempo, baseada no egoísmo, com a economia servidora dos lucros e
dos ricos, e, sobretudo, dos banqueiros, é, em si mesma, suicida.
É claro que, ao convidar os velhos japoneses a que morram, Aro não se
refere aos milionários e multimilionários de seu país. Esses dispensam,
no dispendioso custeio de sua longevidade, os recursos da Previdência
Social e dos serviços oficiais de saúde de seu país. Todos eles têm a
sua velhice assegurada pelos infindáveis rendimentos de seu patrimônio.
Os que devem morrer são os outros, os que passaram a vida inteira
trabalhando para o enriquecimento das grandes empresas japonesas e
multinacionais. Na mentalidade dos poderosos e dos políticos ao seu
serviço, os homens não passam de máquinas, que só devem ser mantidos
enquanto produzem, de acordo com os manuais de desempenho ótimo. Aso, em
outra ocasião, disse que os idosos são senis, e que devem, eles mesmos,
de cuidar de sua saúde.
Não podemos, no entanto, ver esse desatino apenas no comportamento do
ministro japonês, nem em alguns de seus colegas, que têm espantado o
mundo com declarações estapafúrdias. O nível intelectual e ético dos
dirigentes do mundo moderno vem decaindo velozmente nas últimas décadas.
Não há mistério nisso. Os verdadeiros donos do mundo sabem escolher
seus serviçais e coloca-los no comando dos estados nacionais.
São eles, que, mediante o Clube de Bielderbeg e outros centros
internacionais desse mesmo poder, decidem como estabelecer suas
feitorias em todos os continentes, promovendo a ascensão dos melhores
vassalos, aos quais premiam, não só com o governo, mas, também, com as
sobras de seu banquete, em que são servidos, além do caviar e do
champanhe, o petróleo e os minérios, as concessões ferroviárias e nos
modernos e mais rendosos negócios, como os das telecomunicações.
A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo.
*comtextolivre
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