Assentamento Milton Santos em risco de ser "pinheirinhado" pela polícia.
A terra é pouca, perto dos sete mil hectares que a cercam e que
pertencem à usina de cana. O movimento dos fazendeiros tem outro
endereço.
Canudos foi a mesma coisa. Era um punhado de sertanejos que dava seu jeito pra viver, de forma comunitária e sem propriedades, pois a terra era de todos. Não incomodava à recém nascida república, nem era assunto nacional, até que os fazendeiros ricos pressionaram pra acabar com aquilo. Afinal era um tremendo "mau exemplo" pra população miserável e explorada, vivendo comunitariamente, dividindo tudo, repartindo alimentos e medicinas, independentes dos poderosos da época. Aí eles viraram uma "ameaça à segurança nacional", "monarquistas reacionários", subversivos perigosos. Bueno, eles se provaram perigosos quando o exército foi mandado pra destruir aquela comunidade, resistindo e destruindo várias incursões, pondo a "segurança pública" da época pra correr com o rabo entre as pernas e produzindo montes de mortos e feridos. Até que a última tentativa, em imensa superioridade numérica e de armamentos (até canhões foram usados), teve êxito, à custa de milhares de mortos. A resistência durou até o fim. Sobraram dois velhos, um homem e duas crianças, se bem me lembro. Canudos não representava perigo direto, mas oferecia um exemplo que os poderosos locais não suportavam, em sua ânsia de predomínio e usufruto, de controle e exploração. O que fariam se seus empregados, miseráveis, se juntassem ao grupo? Independência dos pobres assusta os ricos e os torna criminosos em seu ódio. Em sua mentalidade torta, é muito atrevimento dos pobres quererem ser independentes, autônomos, ao invés de servis, dóceis e prestadores de serviços a troco de migalhas. Esse é um dos terrores das elites, que fazem pose mas são dependentes dos pobres pra tudo.
No Assentamento Milton Santos as práticas cotidianas assustam os patrões locais. Ameaçam os padrões sociais vigentes, de acumulação de riqueza e poder para alguns e espoliação e exploração da maioria. São apenas 140 hectares, insignificantes para a usina. Uma mixaria de terra, perto dos sete mil hectares. Não é a terra o que lhes interessa, embora sempre some mais um pouco. A intenção é acabar com o "mau exemplo", dessa vez muito mais abrangente. Afinal, em 2006, quando foram assentadas as famílias, a terra estava esgotada pela contínua plantação de cana, envenenada com fertilizantes químicos e resíduos tóxicos da fumigação de venenos contra pragas e ervas daninhas, a água era poluída. Mas com muito trabalho, muito suor, esforço e sacrifício, conseguiu-se tornar a terra novamente produtiva, sem uso de químicas nocivas tanto ao meio ambiente quanto à saúde dos agricultores. Hoje essa terrinha produz mais de trezentas toneladas de alimentos por ano, consumidas na região metropolitana de Campinas e entorno, com doações para entidades de assistência (asilos, orfanatos, ...) e mantendo uma existência digna, sem fome ou miséria. Encravados no meio de latifúndio, contrastam com a miséria da população circundante, explorada pelos fazendeiros da área. Daí o ódio dos exploradores, usufrutuários da miséria e dependentes dela. Daí as manobras pra desfazer esse embrião de reforma agrária. Ricos não suportam independência de pobres, não suportam pobres que se esclarecem e entendem os porquês da miséria, desde a manipulação econômica e midiática das marionetes políticas.
O que está em jogo não é um pedaço de terra. É uma forma de vida, de resistência com base na cooperação, na solidariedade e no compartilhamento. Tudo o que apavora o sistema imposto pelos mais ricos. Agricultura ecológica, livre de químicas nocivas, desagrada as multinacionais da transgenia e dos chamados defensivos agrícolas - que antes eram usados nas guerras químicas. O modo de vida comunitário desagrada os que exploram o trabalho dos outros.
O que move a tentativa de destruir o Assentamento Milton Santos é o medo. O medo que os ricos têm de pobres organizados, esclarecidos, solidários e insubmissos à sua exploração.
*observareabsorver
No dia 22 de janeiro de 2011, a PM de São Paulo investiu com fúria
contra os moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Bombas
de gás, tiros e pancadaria para expulsar as famílias que ocupavam a área
há vários anos. Tudo para defender os interesses do agiota Naji Nahas. A
ordem partiu diretamente do tucano Geraldo Alckmin. A repercussão das
cenas de violência foi imensa. O PSDB perdeu a prefeitura da cidade e o
governador foi forçado a fazer inúmeras promessas para os moradores do
Pinheirinho.
Canudos foi a mesma coisa. Era um punhado de sertanejos que dava seu jeito pra viver, de forma comunitária e sem propriedades, pois a terra era de todos. Não incomodava à recém nascida república, nem era assunto nacional, até que os fazendeiros ricos pressionaram pra acabar com aquilo. Afinal era um tremendo "mau exemplo" pra população miserável e explorada, vivendo comunitariamente, dividindo tudo, repartindo alimentos e medicinas, independentes dos poderosos da época. Aí eles viraram uma "ameaça à segurança nacional", "monarquistas reacionários", subversivos perigosos. Bueno, eles se provaram perigosos quando o exército foi mandado pra destruir aquela comunidade, resistindo e destruindo várias incursões, pondo a "segurança pública" da época pra correr com o rabo entre as pernas e produzindo montes de mortos e feridos. Até que a última tentativa, em imensa superioridade numérica e de armamentos (até canhões foram usados), teve êxito, à custa de milhares de mortos. A resistência durou até o fim. Sobraram dois velhos, um homem e duas crianças, se bem me lembro. Canudos não representava perigo direto, mas oferecia um exemplo que os poderosos locais não suportavam, em sua ânsia de predomínio e usufruto, de controle e exploração. O que fariam se seus empregados, miseráveis, se juntassem ao grupo? Independência dos pobres assusta os ricos e os torna criminosos em seu ódio. Em sua mentalidade torta, é muito atrevimento dos pobres quererem ser independentes, autônomos, ao invés de servis, dóceis e prestadores de serviços a troco de migalhas. Esse é um dos terrores das elites, que fazem pose mas são dependentes dos pobres pra tudo.
No Assentamento Milton Santos as práticas cotidianas assustam os patrões locais. Ameaçam os padrões sociais vigentes, de acumulação de riqueza e poder para alguns e espoliação e exploração da maioria. São apenas 140 hectares, insignificantes para a usina. Uma mixaria de terra, perto dos sete mil hectares. Não é a terra o que lhes interessa, embora sempre some mais um pouco. A intenção é acabar com o "mau exemplo", dessa vez muito mais abrangente. Afinal, em 2006, quando foram assentadas as famílias, a terra estava esgotada pela contínua plantação de cana, envenenada com fertilizantes químicos e resíduos tóxicos da fumigação de venenos contra pragas e ervas daninhas, a água era poluída. Mas com muito trabalho, muito suor, esforço e sacrifício, conseguiu-se tornar a terra novamente produtiva, sem uso de químicas nocivas tanto ao meio ambiente quanto à saúde dos agricultores. Hoje essa terrinha produz mais de trezentas toneladas de alimentos por ano, consumidas na região metropolitana de Campinas e entorno, com doações para entidades de assistência (asilos, orfanatos, ...) e mantendo uma existência digna, sem fome ou miséria. Encravados no meio de latifúndio, contrastam com a miséria da população circundante, explorada pelos fazendeiros da área. Daí o ódio dos exploradores, usufrutuários da miséria e dependentes dela. Daí as manobras pra desfazer esse embrião de reforma agrária. Ricos não suportam independência de pobres, não suportam pobres que se esclarecem e entendem os porquês da miséria, desde a manipulação econômica e midiática das marionetes políticas.
O que está em jogo não é um pedaço de terra. É uma forma de vida, de resistência com base na cooperação, na solidariedade e no compartilhamento. Tudo o que apavora o sistema imposto pelos mais ricos. Agricultura ecológica, livre de químicas nocivas, desagrada as multinacionais da transgenia e dos chamados defensivos agrícolas - que antes eram usados nas guerras químicas. O modo de vida comunitário desagrada os que exploram o trabalho dos outros.
O que move a tentativa de destruir o Assentamento Milton Santos é o medo. O medo que os ricos têm de pobres organizados, esclarecidos, solidários e insubmissos à sua exploração.
*observareabsorver
Pinheirinho e as promessas de Alckmin
Passado
um ano, porém, nada foi cumprido. Reportagem de Willian Cardoso, no
jornal Estadão de ontem, mostra que o terreno está abandonado e que as
1,5 mil famílias expulsas do Pinheirinho estão abandonadas. “Hoje, a
área tem apenas mato, cercas e seguranças privados espalhados para
evitar nova invasão - a calçada do lado de fora virou uma
minicracolândia. O terreno foi devolvido à massa falida da empresa
Selecta, do investidor Naji Nahas, como ordenou a juíza Márcia Faria
Mathey Loureiro”.
Apesar de o jornalão conservador insistir em chamar os ocupantes de
“invasores” e o agiota de “investidor”, a reportagem comprova o absurdo
de uma das maiores operações de reintegração de posse no país, que
mobilizou mais de 2 mil policiais babando sangue. De um lado, o terreno
abandonado, servindo à especulação imobiliária. Do outro, as famílias
descartadas pelo poder público. A reportagem apresenta alguns relatos
das vítimas da ação truculenta do governador tucano Geraldo Alckmin.
“Entre elas, a do cabeleireiro Jaime Rocha do Prado, 62 anos,
ex-coordenador da capela que havia no local. Sem casa e sem emprego -
ele perdeu o salão dentro Pinheirinho -, Prado dormiu com a mulher e os
filhos no chão da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que recebeu
parte dos desabrigados. E ainda sofre com as lembranças. ‘Muitas pessoas
tiveram crises de ansiedade e depressão. Eu mesmo engordei 10 quilos’”,
relata ao jornalista.
O governo estadual não cumpriu a promessa de realocar os moradores
expulsos. Algumas famílias recebem auxílio-aluguel de R$ 500, “mas o
valor dos imóveis dobrou de preço nos bairros próximos ao Pinheirinho.
Muitos partiram para áreas de risco, vivendo em casas abandonadas no Rio
Comprido. Outros optaram pela zona rural, como a diarista Ana Paula
Pardo da Silva, de 35 anos. Ela se mudou para uma chácara com os quatro
filhos e o marido, Kleverton dos Santos, de 38 anos, que perdeu o
emprego de carpinteiro ao descobrirem que era ex-morador do Pinheirinho.
‘Tem muito preconceito. Ele tinha carteira assinada e tudo’”.
Altamiro Borges
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